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sábado, 3 de julho de 2010

Realidade: a mulher brasileira mais de 40 depois


Realidade: a mulher brasileira mais de 40 depois


Raquel Piegas


Estagiária de Jornalismo


Quatro décadas após ser apreendida, a edição especial A mulher brasileira, hoje, da já extinta revista Realidade, é relançada pela Editora Abril. Além das 120 páginas do conteúdo original, a edição que já está nas bancas traz um suplemento sobre a importância da Realidade no jornalismo brasileiro.
Para o doutor em Comunicação Antônio Fausto Neto, professor da Unisinos, a revista Realidade tinha um estilo próprio e muito forte. Fausto foi leitor da publicação e avalia a revista como inovadora. “Realidade uniu o fotojornalismo da revista O Cruzeiro com o texto investigativo, oriundo dos jornalistas que ouviam as fontes e acompanhavam as pessoas. Na Realidade, os repórteres eram atores sociais”.


Com período de circulação curto – sua última edição chegou às bancas em janeiro de 1976 –, Realidade abordava temas comportamentais que eclodiam na época. “Era uma revista experimental e cara, com uma equipe de jornalistas jovens. Ela antecedeu a fase de interesse puramente mercadológico da editora Abril”, avalia Fausto.

A história da edição apreendida
Foram seis meses de reportagens para fazer um raio-X da mulher brasileira na década de 60: suas conquistas, seus desejos e seus medos.


As chamadas da capa da edição nº 10 da revista mensal anunciavam o impacto que aquele exemplar iria causar. Confissões de uma moça livre, Eu me orgulho de ser mãe solteira e Porque a mulher é superior eram matérias que davam voz à mulher que aos poucos se desvencilhava de rótulos e conquistava seu espaço.


No entanto, poucas horas depois da distribuição da metade dos mais de 400 mil exemplares, Realidade começou a ser recolhida das bancas com o apoio da Delegacia de Costumes de São Paulo. Os volumes restantes, que ainda estavam na gráfica, foram confiscados para serem triturados logo após. O motivo para a apreensão? Um juiz de menores entendeu que a revista tinha caráter obsceno e feria a dignidade e honra da mulher.


Na opinião de Fausto Neto, a apreensão se deu em um contexto no qual grandes paradigmas morais estavam sendo questionados. “O ano de 1967 foi a antessala da crise de comportamento que ocorreu no final daquela década. O discurso vanguardista da Realidade falava dessas mudanças e das ansiedades femininas, que dialogavam com as ansiedades políticas”.


A edição relançada da revista Realidade traz um panorama sobre a vida da mulher brasileira de 1967 a 2010. Realidade – Edição Especial Mulher custa R$ 20 e já está nas bancas.

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