Maracanã

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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

"Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel" (crônica de 2005)

"Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel"



Aparecida Torneros






Quem pensou isso e imortalizou esse verso na canção, foi o conmpositor carioca Assis Valente, que nos legou a tal letrinha que relembra a desigualdade que campeia, de há muito, na humanidade.






Ao conviver, nesse país de realidades tão díspares com pessoas de vivências extremamente diferenciadas, há algumas semanas, fui abordada por uma colega de trabalho, me pedindo a intercessão, na área médica, junto a um hospital famoso da rede pública carioca, para um melhor atendimento a uma senhora que é mãe de um funcionário que me atende no setor de xerox.






Como característica personalíssima, ele, às vezes não consegue vir ao trabalho, por ser morador lá do alto do morro da Rocinha, sendo impedido, nos dias de tiroteio forte ou de tensão que o prende no exílio forçado, junto justamente da senhora com quem mora, sua mãe, que quebrou o braço.






Ela foi operada de emergência, mas a cirurgia, depois que voltou para casa, apresentou problemas, deixando-a noites sem dormir, com dores lancinantes.


Tentou ser reavaliada, mas, o intenso movimento do dito hospital programou que seria examinada num prazo de 30 dias.






Evidentemente, para quem está acostumado a se valer de assistência médica normal, fica difícil imaginar-se com dores num braço operado, engessado, sem dinheiro para ir a um consultório particular, morando na comunidade famosa da Rocinha, tendo um único filho, rapaz trabalhador, mas detentor de salário contado para pagar a sobrevivência de ambos.






Peguei o telefone e fiz alguns contatos, Finalmente, consegui falar com a direção do hospital, e, na secretária da diretora, encontrei o Anjo de Natal que atendeu a pobre senhora, nas palavras do seu filho, com tratamento "vip", porque foi constatado que havia infecção pós- operatória e ela poderia , se não fosse vista logo , perder o braço.






Ontem, ao passar pela sala em que o jovem trabalha, perguntei por ela. O sorriso dele me contando que ela está bem, feliz, porque vai passar o Natal sem dores. Ele não me disse que vão passar o Natal com presentes, com peru ou pernil, com vinhos ou champanhas, mas apenas, me comoveu, se referindo à felicidade de não sentir dores.






Entendi que o Natal Feliz é saúde, é paz ( tomara que na noite de Natal o tráfico e polícia assinem trégua de paz na Rocinha), é amor de filho e mãe, é esperança de mudar o que é tão difícil de mudar. Natal Feliz não é o dos balsos cheios dos homens do Congresso, recebendo seus extras pelo trabalho de repensar o país tão injusto. Há um Natal mais forte nos lares de milhares de sitiados pela desigualdade nesse Brasil do Oiapoc ao Chuí, com certeza.






Mas, ainda bem, há o espírito de Natal e sempre encontraremos Anjos de Guarda capazes de se sensibilizar com as dores dos seus irmãos brasileiros, vítimas do egoísmo desenfreado que acomete os poderosos, há séculos.






Isso me fez lembrar a canção, cuja letra vou transcrever, desejando a todos um Natal, com felicidade!






Anoiteceu, o sino gemeu,


A gente ficou feliz a rezar.


Papai Noel, vê se você tem,


a felicidade pra você me dar.


Eu pensei que todo mundo


fosse filho de Papai Noel,


bem assim felicidade,


eu pensei que fosse uma brincadeira de papel.


Anoiteceu...


Já faz tempo que eu pedi


mas o meu Papai Noel não vem,


com certeza já morreu,


ou então felicidade é brinquedo que não tem.


Anoiteceu...


Aparecida Torneros

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