A comissão da verdade...a lição dos filhos do Simonal, feliz 2010, Brasil!
O tempo mente, a história esclarece, quem conta um conto, aumenta um ponto, o mundo se faz de lendas e muitas versões dos fatos, os livros e registros estão repletos de nuances personalistas e à mercê dos interesses de quem os relata e os produz.
Isto é apenas a contatação do quanto a humanidade é facciosa com o seu próprio caminhar no tempo e no espaço, buscando nos envolver com épicos e heróicos feitos, depoimentos fantasiosos de impérios e batalhas, conquistas de mares e povos, supremacia de ideologias, quedas de blocos ou muros, prisões injustas de dissidentes de regimes autoritários, massacres de seres indefesos e comandados, podridão afundada em porões fétidos onde sangues e lágrimas devem ter lavado tanto almas de incautos e sádicos torturadores quanto os sofrimentos de acusados e perseguidos injustamente.
Rever aquilo que é recente ou reviver o que ainda dói muito, pode ser uma viagem sem volta. Ou nos enlouquece ou nos atordoa, tanto pode ser objetivamente sólido, quanto pode ser subjetivamente evaporante.
Freud neles, de todos os jeitos, nas veias e nas memórias, em lugar de muito discurso, em vez de muita mágoa, em prol de muita paz, em remissão de muitos pecados, em sensatez de muitos crescimentos, pelo resgate em homenagem aos que são capazes de superar.
Foi isso que senti quando assisti a dois dvds, recentemente. Um documentário excelente sobre a trajetória de Wilson Simonal, e ainda, a gravação de um show intitulado "o baile do Simonal", onde os filhos dele comandaram um tributo maravilhoso, apresentando cantores que interpretaram seus maiores sucessos, em tom de "alegria, alegria", exorcizando os demônios e trazendo para as almas apaziguadas, a grande lição da sabedoria de uma geração jovem que representa um Brasil realmente novo, onde é possível recomeçar deixando pra trás tantos dissabores.
O documentário é forte, profundo, traz depoimentos importantes onde intelectuais, artistas, desportitas, entre os quais se ouve Nelson Motta, Pelé, Chico Anísio, Boni, Bárbara Heliodora, Miele, Jaguar, além de muitos outros, a discorrer sobre a "mea culpa" sobre o episódio que levou o Simona a amargar seus dias finais entre porres e dores, a tentar provar que nunca tinha sido informante de nenhuma organização de direita e muito menos pertencera, por isso não teve a tal "rede de proteção", à esquerda resistente.
O que ele fez, e isso fica bem claro na fala do Toni Tornado, por exemplo, foi causar inveja, o negão que veio de baixo, cantou, comandou massas, fez sucesso e chegou a ter 3 mercedões na garagem, mas que , por certo, não tinha consciência política, mas tinha a arte nata dos que são sensíveis a necessidade do seu povo, a tal "alegria, alegria" que ele pregou e ofereceu como nenhum outro.
Seus filhos, Max de Castro e Simoninha, nos dão um exemplo digno de conciliadores e superadores, mostram que é possível homenagear o pai e ídolo, sem trazer para a atualidade o que não tem mais sentido, na verdade, dão uma aula de política social, de avanço num mundo tão marcado e tão sofrido por rancores que só os seres capazes de um olhar mais desprendido e detentores de uma altivez premiada, possuem a grandeza de exprimir.
Viva o Simona, viva o Martin Luther King, viva o novo mundo, das Américas que devem e precisam superar as mágoas cujas verdades são superáveis, e as dores cujas marcas se apagam com a depuração de um exemplo tão tácito, de uma paz conquistada através da maturidade.
Essa mesma maturidade é que desejo inunde os corações dos políticos brasileiros, na nova década, que se inicia, em grande estilo, trazendo na comissão de frente, a bandeira branca, uma imensa proposta de "nem vem que não tem", nem vem de passado azedo que hoje é dia de presente doce, saboroso, degustável, na mesa de um povo cujo país finalmente, saltou para um futuro. Os filhos do novo Brasil somos todos nós que além de perdoarmos, fazemos a lição de casa, ao estilo Freud, curamos os traumas e seguimos em frente.
Feliz 2010, para o Brasil dos filhos do Simonal, o Brasil dos meninos e meninas das Olimpíadas, o Brasil dos irmãos de cor, o Brasil que é um país tropical, "um pa tropi, abençoa por De..."
Aparecida Torneros, jornalista, carioca, 60 anos
Um comentário:
Lindo isso! Aparecida, nada a acrescentar, você disse tudo. Agora, o negócio é virar a página e apresentar a arte do negão à garotada. S'imbora!
Salve Simooooona!
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