aqui tem música, poesia, reflexões, homenagens, lembranças, imagens, saudades, paixões, palavras,muitas palavras, e entre elas, tem cada um de vocês, junto comigo... Cida Torneros
Maracanã
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Dedicado a quem procura um amor...tá combinado...
Procura-se... Gratifica-se bem, com felicidade estampada em brilho de olhares infinitos...
Procura-se um amor, daqueles que se sonha ou se espera, em algum lugar do mundo imenso, ele deve estar a esperar por ser encontrado... muitas vezes ele pode até se encontrar mais perto do que se imagina, basta perceber os detalhes do que nos envolve, do que nos circunda, do que sobrevive ao nosso lado, em termos de pessoas presentes ou figuras misteriosas. Há que desvendar segredos dos seres passantes, é preciso descobrir seus desejos, atinar para seus sonhos, observar seus envolventes suspiros, quem sabe até, ouvir seus profundos silêncios?
Amores estão por aí, nas vielas das cidadelas, nos corredores dos aeroportos, nos bancos das praças, nas areias das praias, no escurinho dos cinemas, nas almas contidas e nas risadas escancaradas.
Deixemos de lado tantos preconceitos, nem sequer devemos considerar as diferenças de cores, de crenças, de torcidas, de religiões, de idades ou de mundos onde vivamos nossas mazelas humanas, pois o amor, para ser pinçado na sua plenitude, é bem mais complexo e interativo do que um simples prontuário de possibilidades. O amor, de verdade, se faz presente onde a lógica é ausente. Aí, nesse lugar excuso e inconsequente, é que ele sobrevive, emerge, se enraíza, surpreende e se engrandece. Amor se entope de paradoxos, se farta de senões, se move ao sabor dos pseudo desencontros, amor se enfraquece nas inseguranças e se fortalece nas esperas.
Busquemos o amor, e pode ser até que ele já esteja em nós, há muito tempo, como diz a música "só sexo e amizade"...
Para os que o procuram, saibam, todos, de per si, que o encontrarão, no momento certo, na curva perfeita do corpo a ser moldado ao espírito que precisa ser amante da eternidade, pactuando com deuses das esferas superiores ou com demônios travessos dos inferiores sentidos da existência. Sem rotular o amor, porque ele é assim mesmo, um lado avesso do melhor padrão de raciocínio, amor é para ser procurado, e muito. Boa sorte, aos que o buscam, parabéns aos que sabem que ele os preenche para sempre, com seu mágico e delicioso, melhor dizendo, inquietante modo de se esconder no fundo de emoções indecifráveis. Eis que numa hora qualquer ele apareça e nos atropele...
Assim, o combinado é deixar que ele floresça, nos invada e nos enlouqueça, para sempre...
Cida Torneros
A comissão da verdade...a lição dos filhos do Simonal, feliz 2010, Brasil!
A comissão da verdade...a lição dos filhos do Simonal, feliz 2010, Brasil!
O tempo mente, a história esclarece, quem conta um conto, aumenta um ponto, o mundo se faz de lendas e muitas versões dos fatos, os livros e registros estão repletos de nuances personalistas e à mercê dos interesses de quem os relata e os produz.
Isto é apenas a contatação do quanto a humanidade é facciosa com o seu próprio caminhar no tempo e no espaço, buscando nos envolver com épicos e heróicos feitos, depoimentos fantasiosos de impérios e batalhas, conquistas de mares e povos, supremacia de ideologias, quedas de blocos ou muros, prisões injustas de dissidentes de regimes autoritários, massacres de seres indefesos e comandados, podridão afundada em porões fétidos onde sangues e lágrimas devem ter lavado tanto almas de incautos e sádicos torturadores quanto os sofrimentos de acusados e perseguidos injustamente.
Rever aquilo que é recente ou reviver o que ainda dói muito, pode ser uma viagem sem volta. Ou nos enlouquece ou nos atordoa, tanto pode ser objetivamente sólido, quanto pode ser subjetivamente evaporante.
Freud neles, de todos os jeitos, nas veias e nas memórias, em lugar de muito discurso, em vez de muita mágoa, em prol de muita paz, em remissão de muitos pecados, em sensatez de muitos crescimentos, pelo resgate em homenagem aos que são capazes de superar.
Foi isso que senti quando assisti a dois dvds, recentemente. Um documentário excelente sobre a trajetória de Wilson Simonal, e ainda, a gravação de um show intitulado "o baile do Simonal", onde os filhos dele comandaram um tributo maravilhoso, apresentando cantores que interpretaram seus maiores sucessos, em tom de "alegria, alegria", exorcizando os demônios e trazendo para as almas apaziguadas, a grande lição da sabedoria de uma geração jovem que representa um Brasil realmente novo, onde é possível recomeçar deixando pra trás tantos dissabores.
O documentário é forte, profundo, traz depoimentos importantes onde intelectuais, artistas, desportitas, entre os quais se ouve Nelson Motta, Pelé, Chico Anísio, Boni, Bárbara Heliodora, Miele, Jaguar, além de muitos outros, a discorrer sobre a "mea culpa" sobre o episódio que levou o Simona a amargar seus dias finais entre porres e dores, a tentar provar que nunca tinha sido informante de nenhuma organização de direita e muito menos pertencera, por isso não teve a tal "rede de proteção", à esquerda resistente.
O que ele fez, e isso fica bem claro na fala do Toni Tornado, por exemplo, foi causar inveja, o negão que veio de baixo, cantou, comandou massas, fez sucesso e chegou a ter 3 mercedões na garagem, mas que , por certo, não tinha consciência política, mas tinha a arte nata dos que são sensíveis a necessidade do seu povo, a tal "alegria, alegria" que ele pregou e ofereceu como nenhum outro.
Seus filhos, Max de Castro e Simoninha, nos dão um exemplo digno de conciliadores e superadores, mostram que é possível homenagear o pai e ídolo, sem trazer para a atualidade o que não tem mais sentido, na verdade, dão uma aula de política social, de avanço num mundo tão marcado e tão sofrido por rancores que só os seres capazes de um olhar mais desprendido e detentores de uma altivez premiada, possuem a grandeza de exprimir.
Viva o Simona, viva o Martin Luther King, viva o novo mundo, das Américas que devem e precisam superar as mágoas cujas verdades são superáveis, e as dores cujas marcas se apagam com a depuração de um exemplo tão tácito, de uma paz conquistada através da maturidade.
Essa mesma maturidade é que desejo inunde os corações dos políticos brasileiros, na nova década, que se inicia, em grande estilo, trazendo na comissão de frente, a bandeira branca, uma imensa proposta de "nem vem que não tem", nem vem de passado azedo que hoje é dia de presente doce, saboroso, degustável, na mesa de um povo cujo país finalmente, saltou para um futuro. Os filhos do novo Brasil somos todos nós que além de perdoarmos, fazemos a lição de casa, ao estilo Freud, curamos os traumas e seguimos em frente.
Feliz 2010, para o Brasil dos filhos do Simonal, o Brasil dos meninos e meninas das Olimpíadas, o Brasil dos irmãos de cor, o Brasil que é um país tropical, "um pa tropi, abençoa por De..."
Aparecida Torneros, jornalista, carioca, 60 anos
O tempo mente, a história esclarece, quem conta um conto, aumenta um ponto, o mundo se faz de lendas e muitas versões dos fatos, os livros e registros estão repletos de nuances personalistas e à mercê dos interesses de quem os relata e os produz.
Isto é apenas a contatação do quanto a humanidade é facciosa com o seu próprio caminhar no tempo e no espaço, buscando nos envolver com épicos e heróicos feitos, depoimentos fantasiosos de impérios e batalhas, conquistas de mares e povos, supremacia de ideologias, quedas de blocos ou muros, prisões injustas de dissidentes de regimes autoritários, massacres de seres indefesos e comandados, podridão afundada em porões fétidos onde sangues e lágrimas devem ter lavado tanto almas de incautos e sádicos torturadores quanto os sofrimentos de acusados e perseguidos injustamente.
Rever aquilo que é recente ou reviver o que ainda dói muito, pode ser uma viagem sem volta. Ou nos enlouquece ou nos atordoa, tanto pode ser objetivamente sólido, quanto pode ser subjetivamente evaporante.
Freud neles, de todos os jeitos, nas veias e nas memórias, em lugar de muito discurso, em vez de muita mágoa, em prol de muita paz, em remissão de muitos pecados, em sensatez de muitos crescimentos, pelo resgate em homenagem aos que são capazes de superar.
Foi isso que senti quando assisti a dois dvds, recentemente. Um documentário excelente sobre a trajetória de Wilson Simonal, e ainda, a gravação de um show intitulado "o baile do Simonal", onde os filhos dele comandaram um tributo maravilhoso, apresentando cantores que interpretaram seus maiores sucessos, em tom de "alegria, alegria", exorcizando os demônios e trazendo para as almas apaziguadas, a grande lição da sabedoria de uma geração jovem que representa um Brasil realmente novo, onde é possível recomeçar deixando pra trás tantos dissabores.
O documentário é forte, profundo, traz depoimentos importantes onde intelectuais, artistas, desportitas, entre os quais se ouve Nelson Motta, Pelé, Chico Anísio, Boni, Bárbara Heliodora, Miele, Jaguar, além de muitos outros, a discorrer sobre a "mea culpa" sobre o episódio que levou o Simona a amargar seus dias finais entre porres e dores, a tentar provar que nunca tinha sido informante de nenhuma organização de direita e muito menos pertencera, por isso não teve a tal "rede de proteção", à esquerda resistente.
O que ele fez, e isso fica bem claro na fala do Toni Tornado, por exemplo, foi causar inveja, o negão que veio de baixo, cantou, comandou massas, fez sucesso e chegou a ter 3 mercedões na garagem, mas que , por certo, não tinha consciência política, mas tinha a arte nata dos que são sensíveis a necessidade do seu povo, a tal "alegria, alegria" que ele pregou e ofereceu como nenhum outro.
Seus filhos, Max de Castro e Simoninha, nos dão um exemplo digno de conciliadores e superadores, mostram que é possível homenagear o pai e ídolo, sem trazer para a atualidade o que não tem mais sentido, na verdade, dão uma aula de política social, de avanço num mundo tão marcado e tão sofrido por rancores que só os seres capazes de um olhar mais desprendido e detentores de uma altivez premiada, possuem a grandeza de exprimir.
Viva o Simona, viva o Martin Luther King, viva o novo mundo, das Américas que devem e precisam superar as mágoas cujas verdades são superáveis, e as dores cujas marcas se apagam com a depuração de um exemplo tão tácito, de uma paz conquistada através da maturidade.
Essa mesma maturidade é que desejo inunde os corações dos políticos brasileiros, na nova década, que se inicia, em grande estilo, trazendo na comissão de frente, a bandeira branca, uma imensa proposta de "nem vem que não tem", nem vem de passado azedo que hoje é dia de presente doce, saboroso, degustável, na mesa de um povo cujo país finalmente, saltou para um futuro. Os filhos do novo Brasil somos todos nós que além de perdoarmos, fazemos a lição de casa, ao estilo Freud, curamos os traumas e seguimos em frente.
Feliz 2010, para o Brasil dos filhos do Simonal, o Brasil dos meninos e meninas das Olimpíadas, o Brasil dos irmãos de cor, o Brasil que é um país tropical, "um pa tropi, abençoa por De..."
Aparecida Torneros, jornalista, carioca, 60 anos
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Feliz 2010 Sustentável!!! TSUNAMI ( A SÓS)
Tsunami ( a sós) por Maria Aparecida Torneros da Silva dezembro de 2004
antes da grande onda
por favor, me ame a mim
ame a humanidade toda
ame a mulher songa-monga
a criança down, o velho coxo
o pedinte sujo e o pivete esperto
ame o inimigo tolo, o macaco rhesus,
a flor entreaberta, a porta fechada
dos corações endurecidos,
antes da grande onda
por favor, me beije assim
como se fosse próximo o fim
do nosso amor e dos tempos
e se compadeça do ser humano
do pobre bicho pensante e ignorante...
antes que a água nos invada
me inunde de paixão acesa
me resplandeça
sim, me aqueça
me enterneça
e jamais se esqueça
que haverá um dia
em que a terra-mãe
acolherá nossos restos de paixão...
antes dos tsunamis
invoque os bhamas, os deuses, os avatares,
peça perdão pelos desvalidos seu desvios
seus erros de avaliação, pelas bombas atômicas
pelas criaturas atônitas
convoque a onu, dos homens nus, dos sem destino,
e entoe pra mim, um lindo hino
de paz na terra, em meio ao luto, distribua afeto
pelos desconhecidos, pelos nossos mares revoltos...
antes da grande onda,
por favor, me diga onde está seu abraço,
onde posso apaziguar meu corpo no seu cansaço
de ser quem sou, um nada a mais, uma gioconda
sem sorriso, talvez uma alma sem corpo...
mesmo assim, querido , um último pedido lhe faço:
venha para mim, antes da onda gigante,
e me faça morrer no seu calor como uma flor...
me deixe sucumbir na sua dor como um final feliz...
me veja conformar o povo do mundo com a doçura da meretriz
e não me abandone ao tsunami feroz
sem antes me sussurrar que me quer um bem abstrato
um bem sem medidas, um bem além de nós
um bem super-humano, um bem capaz de engolir o fato
de ser quem sou, pequena e frágil, se estou assim:
como meus irmãos da Ásia : a sós...
Recomeçar...
Recomeçar... pegar a mão que posso apertar, sentir seus dedos entrelaçados aos meus e ouvir aquela respiração animal tão profunda, bem no pescoço com a cabeça aturdida pelo sentido de existir e sobreviver ao impulso do recomeço... é sempre um ato de coragem...recomeçar a crer que ainda é possível amar alguém de algum jeito novo, de uma forma inesperada, com uma disposição renovada, e até impregnada de grande surpresa. Amar alguém que seja eu mesma, através do outro, daquele que me abraça, que me volteia, que me anima, que me sorri na tarde chuvosa, que me fala de algum sonho meio louco que tenha tido comigo, ou mesmo que nem me diga quase nada, mas se expresse com a prece dos que se colocam tão próximos que nem precisem dizer coisa alguma...basta que respirem...basta que que existam, só é preciso que emitam a luz de um olhar amigo ou de um carinho amoroso...
Recomeçar é próprio para um final de ano assim, quando se põe na balança tudo o que se fez para o bem ou para o lado mais abaixo do estômago, quando alguma dor de paixão traída pode ter machucado um coração cansado...nada disso conta mais, cicatrizes são pequenas marcas depois de algum tempo e são praticamente uma antiga linha invisível quando a gente esquece os detalhes e põe no lugar da mágoa, um grande sorriso de recomeço...
Recomeçar é encontrar com o príncipe das marés, na esquina da vida, deitá-lo em lençóis brancos de cetim macio, afagar seu ego, dominar seu corpo, penetrar sua alma, aconchegar sua necessidade de ser amado, e deixar que corra solta a imaginação que cabe em todo o recomeço...
Feliz 2010, felizes dias e noites para que se reiniciem sonhos perdidos ao serem reencontrados, se façam viagens encantadoras pelas nuvens das paixões avassaladoras ou se empreendam caminhadas gratificantes pelas sendas da reconfortante paz interior de cada um de nós...
Recomeçar, assim, na afeição da palavra que atrai e do abraço que acalma. Do beijo que sela o reencontro, da carícia que ajeita o pensamento revolto, do desejo que se abate com a brandura tempestuosa da conquista advinda da calmaria depois que as marés atendem ao chamado do Príncipe...
Recomecemos pois, nessa passagem de década, a olhar os espelhos, é preciso coragem para nos vermos através deles, realmente como podemos ser, a partir de tantas transformações e de inúmeros recomeços. Façamos então o pacto do recomeço...recomecemos, sim, mas, bem juntinhos, afinal!
Cida Torneros
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
The prince of Tides
The Prince of Tides
Directed by Barbra Streisand
Produced by Andrew S. Karsch & Barbra Streisand
Written by Pat Conroy (book)
Becky Johnston & Pat Conroy (screenplay)
Starring Barbra Streisand
Nick Nolte
Kate Nelligan
Music by James Newton Howard
Cinematography Stephen Goldblatt
Editing by Don Zimmerman
Distributed by Columbia Pictures
Release date(s) December 25, 1991 (1991-12-25)
The Prince of Tides is a 1991 American film based on the 1986 novel of the same name by Pat Conroy. It tells the story of the narrator's struggle to overcome the psychological damage inflicted by his dysfunctional childhood in South Carolina. The film was created by producer/director Barbra Streisand from a screenplay by Conroy and Becky Johnston.
The Prince of Tides tells the story of Tom Wingo, a teacher and football coach who is reluctant to help his twin sister's psychiatrist unlock their dysfunctional family's secrets. When the sister, famous New York poet Savannah Wingo, attempts suicide again, Tom is torn from his safe and dull world and travels to New York to help her. Savannah, though, is in such a dissociated state that she is unable to help her psychiatrist, Susan Lowenstein, understand the extent of her problems. Susan asks Tom to act as his twin's memory and help her uncover the subconscious painful events that contributed to her emotional collapse and loss of identity. Tom and Susan fall in love as they work together to help Savannah, and Tom is healed from his emotional numbness as he realizes it results from the severe traumas that he endured with his mother and siblings.
While the film was a box office hit and raised Streisand's reputation as a director, its numerous changes from the original novel upset some Conroy purists. Streisand jettisoned most of the novel's flashback scenes. The character she plays in the film, a psychiatrist, appears only in the present, not in any of these flashbacks. They describe Tom Wingo's (Nick Nolte) relationship with his siblings in great detail. In the novel, these flashbacks form the main plot and take up more of the novel than the romance between Streisand's character, Dr. Lowenstein, and Tom Wingo. The jettisoning of the flashbacks makes the relationship between Wingo and Lowenstein the central story in the film, whereas in the novel, it is not.
Another character in the novel - the second Wingo brother, Luke, who appears only in flashbacks - is vitally important to the novel, and his death is a major plot point. Luke barely appears at all in the film, and his death is only alluded to.
Directed by Barbra Streisand
Produced by Andrew S. Karsch & Barbra Streisand
Written by Pat Conroy (book)
Becky Johnston & Pat Conroy (screenplay)
Starring Barbra Streisand
Nick Nolte
Kate Nelligan
Music by James Newton Howard
Cinematography Stephen Goldblatt
Editing by Don Zimmerman
Distributed by Columbia Pictures
Release date(s) December 25, 1991 (1991-12-25)
The Prince of Tides is a 1991 American film based on the 1986 novel of the same name by Pat Conroy. It tells the story of the narrator's struggle to overcome the psychological damage inflicted by his dysfunctional childhood in South Carolina. The film was created by producer/director Barbra Streisand from a screenplay by Conroy and Becky Johnston.
The Prince of Tides tells the story of Tom Wingo, a teacher and football coach who is reluctant to help his twin sister's psychiatrist unlock their dysfunctional family's secrets. When the sister, famous New York poet Savannah Wingo, attempts suicide again, Tom is torn from his safe and dull world and travels to New York to help her. Savannah, though, is in such a dissociated state that she is unable to help her psychiatrist, Susan Lowenstein, understand the extent of her problems. Susan asks Tom to act as his twin's memory and help her uncover the subconscious painful events that contributed to her emotional collapse and loss of identity. Tom and Susan fall in love as they work together to help Savannah, and Tom is healed from his emotional numbness as he realizes it results from the severe traumas that he endured with his mother and siblings.
While the film was a box office hit and raised Streisand's reputation as a director, its numerous changes from the original novel upset some Conroy purists. Streisand jettisoned most of the novel's flashback scenes. The character she plays in the film, a psychiatrist, appears only in the present, not in any of these flashbacks. They describe Tom Wingo's (Nick Nolte) relationship with his siblings in great detail. In the novel, these flashbacks form the main plot and take up more of the novel than the romance between Streisand's character, Dr. Lowenstein, and Tom Wingo. The jettisoning of the flashbacks makes the relationship between Wingo and Lowenstein the central story in the film, whereas in the novel, it is not.
Another character in the novel - the second Wingo brother, Luke, who appears only in flashbacks - is vitally important to the novel, and his death is a major plot point. Luke barely appears at all in the film, and his death is only alluded to.
Recomeçar... é tudo que precisamos todos nós... sempreeeeeeeeeeee....
Recomeçar... pegar a mão que posso apertar, sentir seus dedos entrelaçados aos meus e ouvir aquela respiração animal tão profunda, bem no pescoço com a cabeça aturdida pelo sentido de existir e sobreviver ao impulso do recomeço... é sempre um ato de coragem...recomeçar a crer que ainda é possível amar alguém de algum jeito novo, de uma forma inesperada, com uma disposição renovada, e até impregnada de grande surpresa. Amar alguém que seja eu mesma, através do outro, daquele que me abraça, que me volteia, que me anima, que me sorri na tarde chuvosa, que me fala de algum sonho meio louco que tenha tido comigo, ou mesmo que nem me diga quase nada, mas se expresse com a prece dos que se colocam tão próximos que nem precisem dizer coisa alguma...basta que respirem...basta que que existam, só é preciso que emitam a luz de um olhar amigo ou de um carinho amoroso...
Recomeçar é próprio para um final de ano assim, quando se põe na balança tudo o que se fez para o bem ou para o lado mais abaixo do estômago, quando alguma dor de paixão traída pode ter machucado um coração cansado...nada disso conta mais, cicatrizes são pequenas marcas depois de algum tempo e são praticamente uma antiga linha invisível quando a gente esquece os detalhes e põe no lugar da mágoa, um grande sorriso de recomeço...
Recomeçar é encontrar com o príncipe das marés, na esquina da vida, deitá-lo em lençóis brancos de cetim macio, afagar seu ego, dominar seu corpo, penetrar sua alma, aconchegar sua necessidade de ser amado, e deixar que corra solta a imaginação que cabe em todo o recomeço...
Feliz 2010, felizes dias e noites para que se reiniciem sonhos perdidos ao serem reencontrados, se façam viagens encantadoras pelas nuvens das paixões avassaladoras ou se empreendam caminhadas gratificantes pelas sendas da reconfortante paz interior de cada um de nós...
Recomeçar, assim, na afeição da palavra que atrai e do abraço que acalma. Do beijo que sela o reencontro, da carícia que ajeita o pensamento revolto, do desejo que se abate com a brandura tempestuosa da conquista advinda da calmaria depois que as marés atendem ao chamado do Príncipe...
Recomecemos pois, nessa passagem de década, a olhar os espelhos, é preciso coragem para nos vermos através deles, realmente como podemos ser, a partir de tantas transformações e de inúmeros recomeços. Façamos então o pacto do recomeço...recomecemos, sim, mas, bem juntinhos, afinal!
Cida Torneros
Os "franciscanos" Lucas e Tobias
Os "franciscanos" Lucas e Tobias
Cruzei com eles em Búzios. Um andava descalço, me disse que sua vida anterior fora em Belo Horizonte, antes de abraçar a missão de se dedicar aos pobres. Adotou o nome de Tobias, usa o corte de cabelo igual aos primeiros seguidores de Chico de Assis, o santo católico italiano que desafiou os poderosos, ao defender pessoas abandonadas e animais, há séculos atrás.
O outro, que me perguntou se podia brincar, fazendo uma caretra alegre na foto que tiramos, chama-se Lucas, veio das bandas de São Paulo. Contaram-me que vivem na cidade praiana fluminense, numa casa de acolhida a gente que é recolhida nas ruas de cidades como o Rio de Janeiro, entre outras.
Quando perguntei como são essas criaturas que eles cuidam, sua expressão era de compaixão e amizade. Tobias definiu: "nossos irmãozinhos que vem das ruas, em sua maioria, sofreram muito e alguns precisam lutar contra o vício do álcool. Na casa, temos recebido homens entre 40 e 70 anos e vivemos somente de doações. Aceitamos roupas e alimentos, além de medicamentos, concluiu".
Conversamos sobre outras coisas mundanas, como por exemplo o hábito de andar descalço nas ruas, ou a fuga das suas vidas anteriores, ou ainda sobre o resgate da causa dos degredados, dos excluídos, dos chamados "zeros" à esquerda. Os dois jovens sorriam mansamente enquanto me respondiam. Olhares plácidos, simpáticos, atenciosos, me pediram que indicasse nomes para que incluissem nas suas orações.
Agradeci. Dei alguns nomes. Senti-me pequenina diante da grandeza do seu gesto de enfrentar as agruras do seculo XXI como instrumentos da paz cristã. Seguem à risca a oração famosa do Mestre, consolam onde há desespero e onde há ódio, levam amor aos corações. Imagino que todos os dias devem reforçar suas crenças nos exemplos de Franciso, Antônio e Clara, entre tantos, que fundaram alicerces de dedicação ao próximo na era moderna.
Os filhos de S.Francisco seguiriam a pé. Podiam pegar um ônibus em direção à casa onde vivem e trabalham, mas não levam dinheiro e se precisam de algo, pedem, são pedintes da caridade alheia.
Quando ofereci o dinheiro para que pegassem um transporte, só aceitaram a quantia exata correspondente ao valor das passagens. Mas, como eu não dispunha de dinheiro trocado, e teriam que ficar com o troco, foi mesmo muito difícil convencê-los que eu não queria a sobra. Podiam levar, eu argumentei.
Entretanto, os meigos rapazes foram comigo ao jornaleiro e a um bar na tentativa de trocar a nota de 10 reais. Alegavam que só precisavam tres reais e 60 centavos e que não era certo ficarem com o resto.
Em dado momento, tive a luz. E o pão? Não tinham que comprar pão para os habitantes da casa? Pois que passassem numa padaria e gastassem o restante da quantia em pães para os irmãos. Que retornassem à casa levando aproximadamente seis reais de pão. Era uma doação que eu estaria fazendo, falei.
Lucas e Tobias me beijaram as mãos e o rosto. Foram-se com seu passo lento. Agradeceram. Legaram-me uma profunda lição. Deixaram-me a lembrança da foto do nosso encontro. Muito mais, me exemplificaram sobre a renúncia ao mundo consumista.
Despedimo-nos e segui para encontrar minhas amigas que me esperavam no restaurante. Ao entrar e sentar para almoçar, agradeci o prato de comida, repensei sobre o dinheiro, revi conceitos sobre o amor e a missão que damos às nossas vidas. Alimentei o corpo, embora a alma já tivesse se alimentado de sabedoria e desprendimento.
Aparecida Torneros
Cruzei com eles em Búzios. Um andava descalço, me disse que sua vida anterior fora em Belo Horizonte, antes de abraçar a missão de se dedicar aos pobres. Adotou o nome de Tobias, usa o corte de cabelo igual aos primeiros seguidores de Chico de Assis, o santo católico italiano que desafiou os poderosos, ao defender pessoas abandonadas e animais, há séculos atrás.
O outro, que me perguntou se podia brincar, fazendo uma caretra alegre na foto que tiramos, chama-se Lucas, veio das bandas de São Paulo. Contaram-me que vivem na cidade praiana fluminense, numa casa de acolhida a gente que é recolhida nas ruas de cidades como o Rio de Janeiro, entre outras.
Quando perguntei como são essas criaturas que eles cuidam, sua expressão era de compaixão e amizade. Tobias definiu: "nossos irmãozinhos que vem das ruas, em sua maioria, sofreram muito e alguns precisam lutar contra o vício do álcool. Na casa, temos recebido homens entre 40 e 70 anos e vivemos somente de doações. Aceitamos roupas e alimentos, além de medicamentos, concluiu".
Conversamos sobre outras coisas mundanas, como por exemplo o hábito de andar descalço nas ruas, ou a fuga das suas vidas anteriores, ou ainda sobre o resgate da causa dos degredados, dos excluídos, dos chamados "zeros" à esquerda. Os dois jovens sorriam mansamente enquanto me respondiam. Olhares plácidos, simpáticos, atenciosos, me pediram que indicasse nomes para que incluissem nas suas orações.
Agradeci. Dei alguns nomes. Senti-me pequenina diante da grandeza do seu gesto de enfrentar as agruras do seculo XXI como instrumentos da paz cristã. Seguem à risca a oração famosa do Mestre, consolam onde há desespero e onde há ódio, levam amor aos corações. Imagino que todos os dias devem reforçar suas crenças nos exemplos de Franciso, Antônio e Clara, entre tantos, que fundaram alicerces de dedicação ao próximo na era moderna.
Os filhos de S.Francisco seguiriam a pé. Podiam pegar um ônibus em direção à casa onde vivem e trabalham, mas não levam dinheiro e se precisam de algo, pedem, são pedintes da caridade alheia.
Quando ofereci o dinheiro para que pegassem um transporte, só aceitaram a quantia exata correspondente ao valor das passagens. Mas, como eu não dispunha de dinheiro trocado, e teriam que ficar com o troco, foi mesmo muito difícil convencê-los que eu não queria a sobra. Podiam levar, eu argumentei.
Entretanto, os meigos rapazes foram comigo ao jornaleiro e a um bar na tentativa de trocar a nota de 10 reais. Alegavam que só precisavam tres reais e 60 centavos e que não era certo ficarem com o resto.
Em dado momento, tive a luz. E o pão? Não tinham que comprar pão para os habitantes da casa? Pois que passassem numa padaria e gastassem o restante da quantia em pães para os irmãos. Que retornassem à casa levando aproximadamente seis reais de pão. Era uma doação que eu estaria fazendo, falei.
Lucas e Tobias me beijaram as mãos e o rosto. Foram-se com seu passo lento. Agradeceram. Legaram-me uma profunda lição. Deixaram-me a lembrança da foto do nosso encontro. Muito mais, me exemplificaram sobre a renúncia ao mundo consumista.
Despedimo-nos e segui para encontrar minhas amigas que me esperavam no restaurante. Ao entrar e sentar para almoçar, agradeci o prato de comida, repensei sobre o dinheiro, revi conceitos sobre o amor e a missão que damos às nossas vidas. Alimentei o corpo, embora a alma já tivesse se alimentado de sabedoria e desprendimento.
Aparecida Torneros
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
A Toca de Assis ( texto para reflexão de fim de ano!)
A Toca de Assis
Marcia Bitencourt *
A casa amarela – ampla e recém-pintada – é limpa e parece nova. Na entrada, os internos tomam sol. Alheios à minha presença, nem respondem ao meu “bom dia”. Só um acena com a cabeça. Alguns estão em cadeira de rodas. Pela janela, vejo um homem numa cama cirúrgica, ligado ao soro. Mais conhecida como Toca de Assis, a unidade feminina Mooca do Instituto de Filhos e Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento é uma espécie de refúgio para ex-mendigos enfermos, alguns deles em fase terminal.
São três da tarde. Vai começar a adoração da sexta-feira. O culto faz parte da rotina, mas só para as religiosas que moram ali e cuidam dos doentes: cinco consagradas (freiras), sendo que uma delas é a guardiã, responsável pela casa, e mais 11 postulantes (aspirantes à freira). A capela fica no andar de cima, uma mini-igreja com imagens de padres nas paredes: “O papa, o bispo da Mooca e o padre Roberto Lettieri, fundador do instituto”, diz a postulante Ana Paula, uma jovem de vinte e poucos anos com uniforme da Toca: cabelo curto, túnica marrom e sandálias havaianas. “A santa do altar é Nossa Senhora de Guadalupe.”
Recebo um apoio para os joelhos e as sandálias na porta indicam que devo tirar os sapatos. Entro numa saleta junto à capela, com uma das paredes de pedra, tudo bem conservado. No centro do altar há uma espécie de ampulheta dourada com uma hóstia no meio – o Santíssimo Sacramento, iluminado por seis castiçais vermelhos com velas acesas, três de cada lado. Na frente do altar, duas consagradas com a cabeça coberta estão ajoelhadas em genuflexórios (apoios para os joelhos) de madeira. No espaço central do cubículo, postulantes espremidas, uma ao lado da outra, estão ajoelhadas no chão adorando o Santíssimo. Irmã Maria José, a guardiã, me cumprimenta com um sorriso. Ela e mais três consagradas estão sentadas em cadeiras encostadas na parede oposta ao altar, contemplando o objeto dourado que – segundo elas – é o Cristo. O que diferencia as consagradas das postulantes são o véu de pano na cabeça e o hábito bege e marrom. As aspirantes usam “vestes”, uma espécie de túnica, sempre marrom.
De quinze em quinze minutos, a freira do genuflexório à direita, voltada para o altar, lê passagens da Via-Crúcis e conduz a oração. As demais, respondem em prece. Algumas postulantes pedem à guardiã para ir ao banheiro. Outras, quando se cansam, ficam em pé, depois, voltam a se ajoelhar, mas não deixam de mirar o Santíssimo. Uma delas, em minha frente, parece estar muito gripada, tosse regularmente. Observo que algumas às vezes dão uma cochilada, outras permanecem estáticas, durante as três horas, sem se levantar nenhuma vez. Para quem não está acostumada, a prática é maçante. Sentia tudo, sono, vontade de sair correndo, mas esperei; afinal, aceitara o convite e precisava saber o que levaria essas moças a passar tanto tempo orando. O que as faria abrir mão de suas vidas? Deixar amigos, família, faculdade, roupas, sapatos e até o direito de namorar, por amor a Deus?
A escolha sacerdotal
A guardiã, Irmã Maria José, 27 anos, coordena a casa. É a única que dirige a kombi, quando necessário. Começou como pobre de Deus, passou a vocacionada, foi postulante por dois anos e em seguida cumpriu um ano de noviciado e mais três de consagrada, quando assumiu os votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência. Maria José não é o seu nome de batismo. Após dez anos de trabalho e penitência, ganhou a nova identidade com a aliança dourada na mão esquerda: hoje é esposa de Jesus.
Dedicamos nosso tempo ao trabalho de limpeza da casa, compras, cozinha, administração e cuidado com os internos e, também, à nossa vida de adoração e oração pelos sacerdotes do mundo inteiro, o que para nós é prioridade. Encontramos no Filho de Deus e no altar a nossa alegria de viver. Escolhemos servi-Lo pela adoração perpétua com os miseráveis e abandonados de rua.
A paraense Miriã tem cara de desconfiada, dificilmente sorri. Ela conta que recebeu o chamado aos 12 anos, quando já frequentava assiduamente a igreja – queria dar algo mais para Deus. Anos depois, passou a ir regularmente à Toca no acompanhamento vocacional. Aparentemente segura de sua decisão, diz que tem saudades da família, que é um ser humano, mas saber que os pais entendem o chamamento – nunca se opuseram – a deixa com mais liberdade para seguir o caminho que escolheu. Nunca teve namorado e não sente falta.
Desde a adolescência, sempre senti a vontade e o desejo de seguir a vida religiosa. Deixei tudo e sou bem ciente disso. Muitos que estão de fora não veem assim. É que a gente vive uma comunhão com Deus – a gente é carne, é humana, sente vontade, mas é uma escolha e o desejo tem de morrer, você precisa ser de Deus e isso é possível, amadurece, vamos crescendo na confiança em Deus, na pureza, no amor. Não é uma abnegação, é uma escolha que se faz por amor. É algo sobrenatural, quem está de fora não entende.
A postulante Patrícia, 23 anos, veio de Campinas. Esguia, de óculos, tem expressão apagada, tristonha. Conta que, ao escolher a vida religiosa, desapontou seus pais – queriam que ela fosse uma atleta profissional. Desde pequena, viajava bastante para competir e pretendia fazer uma faculdade ligada aos esportes. Passou a frequentar a igreja na adolescência. Um irmão religioso da Toca a convidou para visitar as casas. Ia escondida dos pais, fugia.
O chamado foi numa santa missa, quando eu comunguei Jesus. Ele me falou ao coração quando pedi um sinal. Ficava sete dias numa Toca, depois noutra e ajudava nas pastorais de rua com os irmãos, quanto mais eu conhecia, percebia que ali era o meu lugar. Largar a família e os sonhos é uma oferta de amor porque sei que é a vontade de Deus. Meus pais sentem saudades. Eles não me apoiaram, mas hoje respeitam. Vou de férias uma vez por ano, mas são 15 dias em que sinto falta da Toca, dos pobres da casa. Percebo que na casa de meus pais não sou totalmente feliz, quero viver a vida cotidiana da Toca, de oração, com os pobres”.
Carioca da Ilha do Governador, Cíntia, 19 anos, se destaca pela simpatia. É pequena, usa óculos e parece prestativa. Na hora da adoração, ouvi um interno, no andar de baixo, chamar por ela: “Cíntiaaaaaaaaaaaa”. Mesmo rezando, achou graça, sorriu. Ela começou cedo, aos 15 anos. Fez o colegial morando na Toca, em escolas próximas. Hoje isso não é mais permitido – é preciso terminar o Ensino Médio para iniciar o acompanhamento vocacional. Cíntia já esteve em casas de Brasília, Jaú e Embu das Artes.
Quando entrei pra Toca, meu pai disse: “Filha, sei que é difícil a vida nessa caminhada, mas se você sente o chamado, não quero que fique em casa, quero ver você perseverar nisso que Deus te deu porque vocação é dom de Deus”. Eles me apoiam, ligam pra mim e, uma vez por ano, vou pra casa. A minha mãe vem sempre no Dia das Mães. Meu chamado tem se confirmado a cada dia. Pretendo me consagrar daqui a três anos. O meu coração deseja muito, tenho mais nove anos para me decidir. Se eu quiser posso sair agora, na consagração não dá para sair, quando você faz os votos perpétuos não pode sair mais.
Anne, 22 anos, de Curitiba, ouviu falar da Toca pela primeira vez pela TV Canção Nova. Branca, forte, de estatura média – o cabelo castanho bem curto e a cara lavada a deixam com aparência meio andrógina, moleca. Para ela, o mais difícil foi largar a família. Deixar o namorado e a faculdade de Serviço Social, nem tanto. Quando fala das férias dali a uma semana fica animada. Na casa dos pais terá que usar as vestes direto e ir à missa todos os dias. O que faz de mais extraordinário nas férias é sair para comer pizza e dormir um pouco mais. A missão continua a mesma, “adorar ao Senhor e manter a castidade, tudo que se vive na Toca”.
Sempre gostei dos pobres. Admirava Madre Teresa. Com 10 anos, cuidava de dois vizinhos, criancinhas carentes mesmo; então eu levava eles pra casa, dava banho neles, mas não esperava virar freira. As pessoas pensam que freira é a pessoa mais frustrada do mundo, não pode casar, ter filhos, não pode sair, fazer o que quer. Não é isso, o que nos faz feliz é Jesus mesmo. Hoje penso mais na consagração. Os votos perpétuos e o novo nome são uma coisa divina. Por exemplo, gosto de Maria Clara, mas não é assim, tem todo um mistério de Santa Clara com Nosso Senhor.
“Irmão Sol, Irmã Lua”
O Instituto de Filhos e Filhas da Pobreza foi fundado em São Paulo, em 1994, pelo padre Roberto José Lettieri, que na época ainda era seminarista, e mais três jovens que desejavam viver o modelo franciscano. Nascia a Fraternidade de Aliança Toca de Assis. Dois anos depois, quando ordenado sacerdote, a obra – espelhada nos exemplos de pobreza, obediência, castidade e gratuidade do Poverello de Assis, Itália –, já contava com 80 jovens. Começaram a pastoral de rua e abriram a primeira casa de acolhimento para atender os sofredores de rua. Hoje são 50 casas no Brasil – 33 só no Estado de São Paulo e outras em países como Portugal, Colômbia e Equador.
Além das vestes marrons e das sandálias havaianas, outra marca dos toqueiros são os cabelos: curtos, à la homme – para as aspirantes – e o véu de pano na cabeça, para as consagradas. Os homens (nas casas masculinas) têm cabelos máquina zero até o noviciado e a tonsura – corte circular na parte mais alta da cabeça –, para os consagrados, tudo bem ao estilo franciscano, como no filme “Irmão Sol, Irmã Lua”, de Zeffirelli. “Uma corta o cabelo da outra. Aprendi com uma religiosa e peguei prática no cabelo dos irmãos, na pastoral de rua. A gente também faz as mãos e a barba dos irmãos da rua”, diz Cíntia.
À pergunta: E se um religioso gostar de uma religiosa? Cíntia responde: “Não posso dizer que não vai acontecer porque somos humanos. Soube de irmãos que saíram da Toca e estão juntos hoje. Mas eles saíram primeiro, não estamos na Toca com esse intuito”.
Os nomes que as consagradas recebem nos votos perpétuos têm significados religiosos: Maria da Paz, Maria Jacinta, Maria Olívia, Irmã Seráfica. Mesmo depois de tanta entrega, elas mantêm o senso de humor: “O nome Olívia é por causa da Olívia Palito do Popeye”, brinca irmã Maria Jacinta. Ela conta que foram doar sangue e quando a atendente perguntou se elas fumavam ou bebiam, disse: “Só um copinho de vodca”.
Sobre a convivência de 16 religiosas na mesma casa, Maria Jacinta explica: “Não brigamos. Somos de culturas diferentes, lugares diferentes, jovens, mas o convívio é um aprendizado, uma oportunidade de colocar em prática o que aprendemos nos evangelhos”.
Filhos e filhas da pobreza
Os quartos dos irmãos enfermos são limpos e espaçosos, as colchas das camas de hospital, coloridas. Na porta, onde se lê “Clausura”, os visitantes não entram. É ali que as meninas dormem “em colchões no chão” e guardam seus objetos pessoais.
A Casa Nossa Senhora das Dores abriga onze irmãos enfermos, a maioria completamente dependente, com AVC, câncer, Alzheimer, alguns em fase terminal. “Damos banho, comida na boca, trocamos fraldas e medicamos, de acordo com a prescrição de médicos voluntários”, diz irmã Maria José. Só dois comem sem ajuda: Neguinho e Seu Humberto. “Mesmo assim se sujam muito, vai mais comida no chão do que na boca.”
Os irmãos são pessoas sofridas, acabadas. “Jovem”, ou Florisvaldo, o mais novo da casa, tem 30 anos, mas parece ser bem mais velho. A maioria deles não fala, estão em cadeiras de rodas. Estavam em outras casas da Toca e foram regredindo em sua saúde. “A realidade das ruas, somada à fome, sol e chuva, faz com que eles tenham a saúde muito debilitada”, diz Maria José.
Terça-feira é de dia assistir à missa das 18 horas na catedral e depois ajudar na distribuição de macarronada na Praça da Sé. Chego no horário combinado e entro pela cozinha, ao lado de um dos quartos dos irmãos doentes. São 5 horas da tarde e eles dormem, deitam depois do almoço e vão levantar-se às 6 para trocar de fralda e jantar.
A cozinha é limpa, espaçosa; tem um forninho de micro-ondas em bom estado, filtro soft com água gelada e natural e algumas garrafas térmicas sobre a mesa. Nas prateleiras da despensa há formas, panelas grandes, sacos de arroz Tio João, bacias de plástico e óleo de comida. “É tudo doação,” - frutas e legumes em bom estado nos cestos, caixotes e engradados plásticos. Pimentões, laranjas, cebolas, abacaxis, maçãs, ervilhas, bananas e maracujás, engradados com ovos, latas de leite Ninho e Sustagem. Na mesa, uma cesta cheia de bombons embrulhados em papel colorido – além de cuidar da casa, dos internos e das práticas religiosas, as meninas fazem trufas de chocolate e rosários de sementes para vender e ajudar nas despesas da casa.
Só três irmãs vão para a Praça da Sé: Patrícia, Miriã e Cíntia. Elas fazem um lanche rápido de salada, bolacha, suco, miojo e pão. Enquanto espero, ouço a reza que vem da capela. Elas assistem a uma missa por dia, geralmente na igreja São Rafael, ao lado da casa, às 17 horas, todas se reúnem para a Sublime Hora Fraterna, com cânticos, oração e leitura da Liturgia das Horas, um livro usado por freiras e padres do mundo inteiro. Das 12 às 19 horas, cada uma escolhe o seu momento de oração individual e estudo da Bíblia.
Ajudo a levar as sacolas de remédios. Serão entregues para os irmãos da Toca Campos Elísios, que vamos encontrar na Sé. A Vila de Assis é a maior casa em São Paulo, acolhe 150 pobres de rua, consagrados e postulantes (homens).
Missa na catedral, terço e macarronada
Na missa das 18 horas na Catedral da Sé encontramos religiosos de Osasco, Butantã, Embu das Artes, Cotia e Campos Elísios. Cíntia e Miriã ajudam o padre na leitura dos evangelhos. Finda a celebração, vamos para o Terço na praça. “Esse trabalho é para irmãos que não moram nas casas, geralmente lotadas, pois só acolhemos os mais necessitados. A macarronada é uma forma de chamar pra missa o pessoal que fica na rua”, diz Cíntia.
Quem organiza o Terço é a Vila de Assis, o pessoal das outras casas ajuda, transporta em suas kombis as panelas de macarrão e os irmãos para servir a comida e distribuir os pratinhos e garfinhos.
Todas as semanas, o frei Romero (consagrado) transporta a estátua de Nossa Senhora em seu carrinho de mão, aquele dos catadores de papel, só que novo e pintado de bege. Ele puxa a carroça da Rua Conselheiro Nébias, nos Campos Elísios, até a Praça da Sé. “Talvez seja difícil, mas ele gosta. É para chamar a atenção dos irmãozinhos. Eles veem que ele não é orgulhoso e não têm aquela dificuldade de se aproximar, vão se achegar, confiar”, afirma Miriã.
São 19 horas e – em plena praça – as caixas de som estão ligadas e já se ouvem os primeiros acordes do violão. “Meu coração explode quando estou na rua com os irmãos”, vibra o postulante Edivaldo, de Cotia. Magrinho e moreno, de óculos, cabelos e roupa de franciscano bem surrada, frei Romero começa a chamar o pessoal: “Vamos irmãos, vamos chegar mais pra frente, vai começar o Terço. Toqueiros e toqueiras, venham, vamos fazer a roda direitinho aqui ó, fazer o círculo em volta de Nossa Senhora. Fecha aí gente, em volta do carrinho, vamos fazer o círculo se aproximar mais da Nossa Senhora”.
Na roda, Patrícia me mostra um pratinho de bolo com o símbolo do Corinthians que ganhou de um irmão da praça. “Ele perguntou: pra que time você torce, eu, pro Corinthians, e ele me deu de presente.”
Depois que irmão Romero distribui alguns rosários, começa a reunião. Entre Ave-Marias, Pai-Nossos e cânticos de louvor, há demonstrações de dança de alguns irmãozinhos de rua com direito a goles de pinga e insistentes pedidos de “respeito”, por parte de outros mendigos. O dirigente continua. Às vezes, coloca o microfone na boca dos irmãos – eles tentam rezar e cantar, mas nem sempre se lembram da letra.
De repente – assim que acaba a reunião – aparece muito mais gente de todos os cantos da praça, vira um formigueiro. Os toqueiros formam três filas de pessoas que já têm um pratinho e um garfinho de festa (descartáveis), na mão. Embaixo da escadaria da igreja, três panelas enormes, cheias de macarrão com carne moída, são distribuídas para dezenas de homens e mulheres famintos.
José Renato Alves, o Zé da Sé, diz que é católico apostólico romano e assiste ao Terço todas as terças-feiras. “Aqui é o meu lugar, moro na praça há 16 anos, desde que puseram fogo em minha casa, em Passos, Minas Gerais. Esse trabalho é importante, não só pela macarronada. A Toca pra mim é tudo, eles vêm nos fortalecer um pouco, amenizar o nosso sofrimento, tentam se fazer como a gente.”
“Benza a Deus, tá gostosa a macarronada, muito boa”, diz o desempregado Walter, morador de Santo Amaro. “Venho quando dá, sabe como é, às vezes não tem comida em casa.”
“A Toca existe por causa deles”, diz Miriã, emocionada. “Começou com a pastoral de rua, visitando e conhecendo esses irmãozinhos, depois foram se juntando outros jovens para fazer grupos de oração, como o Terço de hoje. Assim nasceu a Toca, que cresceu e está em outros países, com todo o carisma, a adoração, a reza pelos sacerdotes. A gente se alegra com isso, não tem como fugir disso.”
* Jornalista e pós-graduanda em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário (www.abjl.org.br), turma São Paulo 2009.
Marcia Bitencourt *
A casa amarela – ampla e recém-pintada – é limpa e parece nova. Na entrada, os internos tomam sol. Alheios à minha presença, nem respondem ao meu “bom dia”. Só um acena com a cabeça. Alguns estão em cadeira de rodas. Pela janela, vejo um homem numa cama cirúrgica, ligado ao soro. Mais conhecida como Toca de Assis, a unidade feminina Mooca do Instituto de Filhos e Filhas da Pobreza do Santíssimo Sacramento é uma espécie de refúgio para ex-mendigos enfermos, alguns deles em fase terminal.
São três da tarde. Vai começar a adoração da sexta-feira. O culto faz parte da rotina, mas só para as religiosas que moram ali e cuidam dos doentes: cinco consagradas (freiras), sendo que uma delas é a guardiã, responsável pela casa, e mais 11 postulantes (aspirantes à freira). A capela fica no andar de cima, uma mini-igreja com imagens de padres nas paredes: “O papa, o bispo da Mooca e o padre Roberto Lettieri, fundador do instituto”, diz a postulante Ana Paula, uma jovem de vinte e poucos anos com uniforme da Toca: cabelo curto, túnica marrom e sandálias havaianas. “A santa do altar é Nossa Senhora de Guadalupe.”
Recebo um apoio para os joelhos e as sandálias na porta indicam que devo tirar os sapatos. Entro numa saleta junto à capela, com uma das paredes de pedra, tudo bem conservado. No centro do altar há uma espécie de ampulheta dourada com uma hóstia no meio – o Santíssimo Sacramento, iluminado por seis castiçais vermelhos com velas acesas, três de cada lado. Na frente do altar, duas consagradas com a cabeça coberta estão ajoelhadas em genuflexórios (apoios para os joelhos) de madeira. No espaço central do cubículo, postulantes espremidas, uma ao lado da outra, estão ajoelhadas no chão adorando o Santíssimo. Irmã Maria José, a guardiã, me cumprimenta com um sorriso. Ela e mais três consagradas estão sentadas em cadeiras encostadas na parede oposta ao altar, contemplando o objeto dourado que – segundo elas – é o Cristo. O que diferencia as consagradas das postulantes são o véu de pano na cabeça e o hábito bege e marrom. As aspirantes usam “vestes”, uma espécie de túnica, sempre marrom.
De quinze em quinze minutos, a freira do genuflexório à direita, voltada para o altar, lê passagens da Via-Crúcis e conduz a oração. As demais, respondem em prece. Algumas postulantes pedem à guardiã para ir ao banheiro. Outras, quando se cansam, ficam em pé, depois, voltam a se ajoelhar, mas não deixam de mirar o Santíssimo. Uma delas, em minha frente, parece estar muito gripada, tosse regularmente. Observo que algumas às vezes dão uma cochilada, outras permanecem estáticas, durante as três horas, sem se levantar nenhuma vez. Para quem não está acostumada, a prática é maçante. Sentia tudo, sono, vontade de sair correndo, mas esperei; afinal, aceitara o convite e precisava saber o que levaria essas moças a passar tanto tempo orando. O que as faria abrir mão de suas vidas? Deixar amigos, família, faculdade, roupas, sapatos e até o direito de namorar, por amor a Deus?
A escolha sacerdotal
A guardiã, Irmã Maria José, 27 anos, coordena a casa. É a única que dirige a kombi, quando necessário. Começou como pobre de Deus, passou a vocacionada, foi postulante por dois anos e em seguida cumpriu um ano de noviciado e mais três de consagrada, quando assumiu os votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência. Maria José não é o seu nome de batismo. Após dez anos de trabalho e penitência, ganhou a nova identidade com a aliança dourada na mão esquerda: hoje é esposa de Jesus.
Dedicamos nosso tempo ao trabalho de limpeza da casa, compras, cozinha, administração e cuidado com os internos e, também, à nossa vida de adoração e oração pelos sacerdotes do mundo inteiro, o que para nós é prioridade. Encontramos no Filho de Deus e no altar a nossa alegria de viver. Escolhemos servi-Lo pela adoração perpétua com os miseráveis e abandonados de rua.
A paraense Miriã tem cara de desconfiada, dificilmente sorri. Ela conta que recebeu o chamado aos 12 anos, quando já frequentava assiduamente a igreja – queria dar algo mais para Deus. Anos depois, passou a ir regularmente à Toca no acompanhamento vocacional. Aparentemente segura de sua decisão, diz que tem saudades da família, que é um ser humano, mas saber que os pais entendem o chamamento – nunca se opuseram – a deixa com mais liberdade para seguir o caminho que escolheu. Nunca teve namorado e não sente falta.
Desde a adolescência, sempre senti a vontade e o desejo de seguir a vida religiosa. Deixei tudo e sou bem ciente disso. Muitos que estão de fora não veem assim. É que a gente vive uma comunhão com Deus – a gente é carne, é humana, sente vontade, mas é uma escolha e o desejo tem de morrer, você precisa ser de Deus e isso é possível, amadurece, vamos crescendo na confiança em Deus, na pureza, no amor. Não é uma abnegação, é uma escolha que se faz por amor. É algo sobrenatural, quem está de fora não entende.
A postulante Patrícia, 23 anos, veio de Campinas. Esguia, de óculos, tem expressão apagada, tristonha. Conta que, ao escolher a vida religiosa, desapontou seus pais – queriam que ela fosse uma atleta profissional. Desde pequena, viajava bastante para competir e pretendia fazer uma faculdade ligada aos esportes. Passou a frequentar a igreja na adolescência. Um irmão religioso da Toca a convidou para visitar as casas. Ia escondida dos pais, fugia.
O chamado foi numa santa missa, quando eu comunguei Jesus. Ele me falou ao coração quando pedi um sinal. Ficava sete dias numa Toca, depois noutra e ajudava nas pastorais de rua com os irmãos, quanto mais eu conhecia, percebia que ali era o meu lugar. Largar a família e os sonhos é uma oferta de amor porque sei que é a vontade de Deus. Meus pais sentem saudades. Eles não me apoiaram, mas hoje respeitam. Vou de férias uma vez por ano, mas são 15 dias em que sinto falta da Toca, dos pobres da casa. Percebo que na casa de meus pais não sou totalmente feliz, quero viver a vida cotidiana da Toca, de oração, com os pobres”.
Carioca da Ilha do Governador, Cíntia, 19 anos, se destaca pela simpatia. É pequena, usa óculos e parece prestativa. Na hora da adoração, ouvi um interno, no andar de baixo, chamar por ela: “Cíntiaaaaaaaaaaaa”. Mesmo rezando, achou graça, sorriu. Ela começou cedo, aos 15 anos. Fez o colegial morando na Toca, em escolas próximas. Hoje isso não é mais permitido – é preciso terminar o Ensino Médio para iniciar o acompanhamento vocacional. Cíntia já esteve em casas de Brasília, Jaú e Embu das Artes.
Quando entrei pra Toca, meu pai disse: “Filha, sei que é difícil a vida nessa caminhada, mas se você sente o chamado, não quero que fique em casa, quero ver você perseverar nisso que Deus te deu porque vocação é dom de Deus”. Eles me apoiam, ligam pra mim e, uma vez por ano, vou pra casa. A minha mãe vem sempre no Dia das Mães. Meu chamado tem se confirmado a cada dia. Pretendo me consagrar daqui a três anos. O meu coração deseja muito, tenho mais nove anos para me decidir. Se eu quiser posso sair agora, na consagração não dá para sair, quando você faz os votos perpétuos não pode sair mais.
Anne, 22 anos, de Curitiba, ouviu falar da Toca pela primeira vez pela TV Canção Nova. Branca, forte, de estatura média – o cabelo castanho bem curto e a cara lavada a deixam com aparência meio andrógina, moleca. Para ela, o mais difícil foi largar a família. Deixar o namorado e a faculdade de Serviço Social, nem tanto. Quando fala das férias dali a uma semana fica animada. Na casa dos pais terá que usar as vestes direto e ir à missa todos os dias. O que faz de mais extraordinário nas férias é sair para comer pizza e dormir um pouco mais. A missão continua a mesma, “adorar ao Senhor e manter a castidade, tudo que se vive na Toca”.
Sempre gostei dos pobres. Admirava Madre Teresa. Com 10 anos, cuidava de dois vizinhos, criancinhas carentes mesmo; então eu levava eles pra casa, dava banho neles, mas não esperava virar freira. As pessoas pensam que freira é a pessoa mais frustrada do mundo, não pode casar, ter filhos, não pode sair, fazer o que quer. Não é isso, o que nos faz feliz é Jesus mesmo. Hoje penso mais na consagração. Os votos perpétuos e o novo nome são uma coisa divina. Por exemplo, gosto de Maria Clara, mas não é assim, tem todo um mistério de Santa Clara com Nosso Senhor.
“Irmão Sol, Irmã Lua”
O Instituto de Filhos e Filhas da Pobreza foi fundado em São Paulo, em 1994, pelo padre Roberto José Lettieri, que na época ainda era seminarista, e mais três jovens que desejavam viver o modelo franciscano. Nascia a Fraternidade de Aliança Toca de Assis. Dois anos depois, quando ordenado sacerdote, a obra – espelhada nos exemplos de pobreza, obediência, castidade e gratuidade do Poverello de Assis, Itália –, já contava com 80 jovens. Começaram a pastoral de rua e abriram a primeira casa de acolhimento para atender os sofredores de rua. Hoje são 50 casas no Brasil – 33 só no Estado de São Paulo e outras em países como Portugal, Colômbia e Equador.
Além das vestes marrons e das sandálias havaianas, outra marca dos toqueiros são os cabelos: curtos, à la homme – para as aspirantes – e o véu de pano na cabeça, para as consagradas. Os homens (nas casas masculinas) têm cabelos máquina zero até o noviciado e a tonsura – corte circular na parte mais alta da cabeça –, para os consagrados, tudo bem ao estilo franciscano, como no filme “Irmão Sol, Irmã Lua”, de Zeffirelli. “Uma corta o cabelo da outra. Aprendi com uma religiosa e peguei prática no cabelo dos irmãos, na pastoral de rua. A gente também faz as mãos e a barba dos irmãos da rua”, diz Cíntia.
À pergunta: E se um religioso gostar de uma religiosa? Cíntia responde: “Não posso dizer que não vai acontecer porque somos humanos. Soube de irmãos que saíram da Toca e estão juntos hoje. Mas eles saíram primeiro, não estamos na Toca com esse intuito”.
Os nomes que as consagradas recebem nos votos perpétuos têm significados religiosos: Maria da Paz, Maria Jacinta, Maria Olívia, Irmã Seráfica. Mesmo depois de tanta entrega, elas mantêm o senso de humor: “O nome Olívia é por causa da Olívia Palito do Popeye”, brinca irmã Maria Jacinta. Ela conta que foram doar sangue e quando a atendente perguntou se elas fumavam ou bebiam, disse: “Só um copinho de vodca”.
Sobre a convivência de 16 religiosas na mesma casa, Maria Jacinta explica: “Não brigamos. Somos de culturas diferentes, lugares diferentes, jovens, mas o convívio é um aprendizado, uma oportunidade de colocar em prática o que aprendemos nos evangelhos”.
Filhos e filhas da pobreza
Os quartos dos irmãos enfermos são limpos e espaçosos, as colchas das camas de hospital, coloridas. Na porta, onde se lê “Clausura”, os visitantes não entram. É ali que as meninas dormem “em colchões no chão” e guardam seus objetos pessoais.
A Casa Nossa Senhora das Dores abriga onze irmãos enfermos, a maioria completamente dependente, com AVC, câncer, Alzheimer, alguns em fase terminal. “Damos banho, comida na boca, trocamos fraldas e medicamos, de acordo com a prescrição de médicos voluntários”, diz irmã Maria José. Só dois comem sem ajuda: Neguinho e Seu Humberto. “Mesmo assim se sujam muito, vai mais comida no chão do que na boca.”
Os irmãos são pessoas sofridas, acabadas. “Jovem”, ou Florisvaldo, o mais novo da casa, tem 30 anos, mas parece ser bem mais velho. A maioria deles não fala, estão em cadeiras de rodas. Estavam em outras casas da Toca e foram regredindo em sua saúde. “A realidade das ruas, somada à fome, sol e chuva, faz com que eles tenham a saúde muito debilitada”, diz Maria José.
Terça-feira é de dia assistir à missa das 18 horas na catedral e depois ajudar na distribuição de macarronada na Praça da Sé. Chego no horário combinado e entro pela cozinha, ao lado de um dos quartos dos irmãos doentes. São 5 horas da tarde e eles dormem, deitam depois do almoço e vão levantar-se às 6 para trocar de fralda e jantar.
A cozinha é limpa, espaçosa; tem um forninho de micro-ondas em bom estado, filtro soft com água gelada e natural e algumas garrafas térmicas sobre a mesa. Nas prateleiras da despensa há formas, panelas grandes, sacos de arroz Tio João, bacias de plástico e óleo de comida. “É tudo doação,” - frutas e legumes em bom estado nos cestos, caixotes e engradados plásticos. Pimentões, laranjas, cebolas, abacaxis, maçãs, ervilhas, bananas e maracujás, engradados com ovos, latas de leite Ninho e Sustagem. Na mesa, uma cesta cheia de bombons embrulhados em papel colorido – além de cuidar da casa, dos internos e das práticas religiosas, as meninas fazem trufas de chocolate e rosários de sementes para vender e ajudar nas despesas da casa.
Só três irmãs vão para a Praça da Sé: Patrícia, Miriã e Cíntia. Elas fazem um lanche rápido de salada, bolacha, suco, miojo e pão. Enquanto espero, ouço a reza que vem da capela. Elas assistem a uma missa por dia, geralmente na igreja São Rafael, ao lado da casa, às 17 horas, todas se reúnem para a Sublime Hora Fraterna, com cânticos, oração e leitura da Liturgia das Horas, um livro usado por freiras e padres do mundo inteiro. Das 12 às 19 horas, cada uma escolhe o seu momento de oração individual e estudo da Bíblia.
Ajudo a levar as sacolas de remédios. Serão entregues para os irmãos da Toca Campos Elísios, que vamos encontrar na Sé. A Vila de Assis é a maior casa em São Paulo, acolhe 150 pobres de rua, consagrados e postulantes (homens).
Missa na catedral, terço e macarronada
Na missa das 18 horas na Catedral da Sé encontramos religiosos de Osasco, Butantã, Embu das Artes, Cotia e Campos Elísios. Cíntia e Miriã ajudam o padre na leitura dos evangelhos. Finda a celebração, vamos para o Terço na praça. “Esse trabalho é para irmãos que não moram nas casas, geralmente lotadas, pois só acolhemos os mais necessitados. A macarronada é uma forma de chamar pra missa o pessoal que fica na rua”, diz Cíntia.
Quem organiza o Terço é a Vila de Assis, o pessoal das outras casas ajuda, transporta em suas kombis as panelas de macarrão e os irmãos para servir a comida e distribuir os pratinhos e garfinhos.
Todas as semanas, o frei Romero (consagrado) transporta a estátua de Nossa Senhora em seu carrinho de mão, aquele dos catadores de papel, só que novo e pintado de bege. Ele puxa a carroça da Rua Conselheiro Nébias, nos Campos Elísios, até a Praça da Sé. “Talvez seja difícil, mas ele gosta. É para chamar a atenção dos irmãozinhos. Eles veem que ele não é orgulhoso e não têm aquela dificuldade de se aproximar, vão se achegar, confiar”, afirma Miriã.
São 19 horas e – em plena praça – as caixas de som estão ligadas e já se ouvem os primeiros acordes do violão. “Meu coração explode quando estou na rua com os irmãos”, vibra o postulante Edivaldo, de Cotia. Magrinho e moreno, de óculos, cabelos e roupa de franciscano bem surrada, frei Romero começa a chamar o pessoal: “Vamos irmãos, vamos chegar mais pra frente, vai começar o Terço. Toqueiros e toqueiras, venham, vamos fazer a roda direitinho aqui ó, fazer o círculo em volta de Nossa Senhora. Fecha aí gente, em volta do carrinho, vamos fazer o círculo se aproximar mais da Nossa Senhora”.
Na roda, Patrícia me mostra um pratinho de bolo com o símbolo do Corinthians que ganhou de um irmão da praça. “Ele perguntou: pra que time você torce, eu, pro Corinthians, e ele me deu de presente.”
Depois que irmão Romero distribui alguns rosários, começa a reunião. Entre Ave-Marias, Pai-Nossos e cânticos de louvor, há demonstrações de dança de alguns irmãozinhos de rua com direito a goles de pinga e insistentes pedidos de “respeito”, por parte de outros mendigos. O dirigente continua. Às vezes, coloca o microfone na boca dos irmãos – eles tentam rezar e cantar, mas nem sempre se lembram da letra.
De repente – assim que acaba a reunião – aparece muito mais gente de todos os cantos da praça, vira um formigueiro. Os toqueiros formam três filas de pessoas que já têm um pratinho e um garfinho de festa (descartáveis), na mão. Embaixo da escadaria da igreja, três panelas enormes, cheias de macarrão com carne moída, são distribuídas para dezenas de homens e mulheres famintos.
José Renato Alves, o Zé da Sé, diz que é católico apostólico romano e assiste ao Terço todas as terças-feiras. “Aqui é o meu lugar, moro na praça há 16 anos, desde que puseram fogo em minha casa, em Passos, Minas Gerais. Esse trabalho é importante, não só pela macarronada. A Toca pra mim é tudo, eles vêm nos fortalecer um pouco, amenizar o nosso sofrimento, tentam se fazer como a gente.”
“Benza a Deus, tá gostosa a macarronada, muito boa”, diz o desempregado Walter, morador de Santo Amaro. “Venho quando dá, sabe como é, às vezes não tem comida em casa.”
“A Toca existe por causa deles”, diz Miriã, emocionada. “Começou com a pastoral de rua, visitando e conhecendo esses irmãozinhos, depois foram se juntando outros jovens para fazer grupos de oração, como o Terço de hoje. Assim nasceu a Toca, que cresceu e está em outros países, com todo o carisma, a adoração, a reza pelos sacerdotes. A gente se alegra com isso, não tem como fugir disso.”
* Jornalista e pós-graduanda em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário (www.abjl.org.br), turma São Paulo 2009.
Mais um Fado no Fado
MAIS UM FADO NO FADO....CAMANÉ E ELAS....
QUANDO TU ME ESPERAS POR MIM
NÃO HÁ PORQUE DEIXAR DE IR AO TEU ENCONTRO...
MAIS DIA MENOS DIA, ESTAREMOS NOS AMANDO,
AINDA QUE SEJA EM SONHOS...
CIDA TORNEROSdomingo, 27 de dezembro de 2009
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Poema para o Natal!
Feliz Natal e um grande ano de 2010!
Apesar das perdas, a vida vale a pena!!
bjs
Aparecida Torneros
Poema para o Natal
http://www.paralerepensar.com.br/aparecidatorneros.htm
POEMA PARA O NATAL
Por Aparecida Torneros
Poema para o Natal
Quero os mansos...nesta Noite quero-os todos
ao meu redor, como pequenos seres de aconchego
a eles darei meu testemunho da fé que ainda cultivo
pela humanidade inteira, quase toda em rebuliço...
Quero os mansos de pés descalços, os de pele curtida,
junto de mim espero que repousem suas almas plácidas,
seus ares de conformação, sua compreensão pelos fracos,
seu perdão pelos maus comandantes, sua carícia desprendida...
Quero os mansos de voz melodiosa, os de canção que embala,
aqueles de abençoada passagem pela terra, sem a mancha da ambição,
quero-os, melhor dizendo, dentro de mim, para que me aperfeiçoem...
que me façam aceitar as diferenças cruéis e me clareiem a comunhão...
Quero os mansos... por esta madrugada inteira, com a paz que me ofertarem
com a aura do amor dadivoso, com a certeza do sublime, com a magia da culpa desfeita...
preciso deles para combater a solidão do meu pensamento infestado de abandonos...
Mas, se os mansos não me visitarem na noite de Natal, eu prometo, irei ter com eles...
porque preciso ser humilde, buscar as esquinas da periferia, dar um pão a quem tem fome,
vinho a quem tem sede, abraçar um corpo magro e abandonado, olhar nos olhos um irmão
que me espera, por aí, sem sequer saber meu nome, mas confiante em que o farei feliz...
Pelo menos nesta noite de Natal, com cada manso que puder encontrar,
partilharei minhas dores, apertarei suas mãos entre as minhas, e cantarei
... então é Natal... com lágrimas nos olhos e coração em festa...
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Cuando me enamoro / Dezembro, no dia em que o mes recomeçou...
Cuando me enamoro / Dezembro, no dia em que o mes recomeçou...
Dezembro chegou ao meio e um estado indiferente, morno, pleno de pasmaceira, havia me tomado de assalto, por duas semanas. O esforço repetido de me fazer compreender num mundo tão incompreensível. Kopenhagem fracassada, o clima indo pra cucuia, o mundo em clima de "salve-se quem puder", meu umbigo pedindo isolamento, o computador desligado, a ausência de inspiração para escrever, a solidão disfarçada pelas aulas de francês, um desgosto estranho que tem sabor de "esse filme eu já vi e morro no final, tô fora", a saudade da infância, a saudade de risadas ecoando na memória dos dias em que eu nem imaginava que a vida podia ser finita, e também nem questionava a pequenez da sombria face dos egoístas ou dos que desrespeitam seres e natureza, sentimentos e confianças, achei que ia percorrer este dezembro, fugindo de mim mesma, como na música do Roberto, a 200 km por hora. Nenhuma chance de ir ao shopping e fazer compras natalinas, o desânimo de enfeitar a casa para as festas, uma única vontade, fechar-me em copas, enclausurada no ninho da própria solidão de um final de 2009, pensativo e desconfortante, após perder tios idosos, cansar-me de tantas esperas, decepcionar-me com os conceitos de amor e amizade.
A gota dágua, um telefonema, de longe, na quase madrugada de uma manhã enevoada. A voz disse "buon jour", mas o tom era de discórdia, talvez a disputa mais infantil de um triângulo amoroso tãos extemporâneo quanto a mediocridade que permeia a história de amores mal resolvidos. O silêncio me invadiu, internamente. Pra que responder, se qualquer palavrinha em nada ia modificar o acontecido
Melhor me "desenamorar", não da vida, pois desta e por esta, estou em constante enamoramento, aliás crescente, no dia após dia... Refiro-me ao desencantamento por criaturas humanas e falhas, como eu, pessoas que são previsíveis e desconcertantes, que fazem parte de um inúmero e retumbante eco dos sonhos não vividos, dos tempos que nem chegam a chegar afinal.
Mas, o destino prega peças, tripudia previsões, oferece saídas, janelas, abre portas, ilumina caminhos, põe na casa ao lado um olhar de carinho, o de alguém que me fez recomeçar o dezembro, bem no meio, acelerando um repentino estágio de "quero tudo" para a segunda quinzena. Peguei-me sorrindo, internamente, redescobri a canção que fala de se enamorar e dar a alguém o melhor que se tem para dar, sonhos e olhares brilhantes. Como um renascimento pré-vivencial, reconheço a alegria que volta ao meu coração, não posso desperdiçar o resto do ano, com lamúrias e tristezas. Estou pronta para refazer projetos, vejo que o tempo me dá um sobressalto, vou correr atrás do prejuízo, vou enfeitar minha vida, com detalhes de luz e cores.
Então, eis que o mundo se colore de novo, vou a alguma festa com urgência, compro logo uma bolsa cor de cenoura, não posso fazer por menos, sou personagem do sonho de quem me confessa que me acha "charmosa", acho que um vulcão me sacode em tempo de corre-corre, imagino-me recuperando o fôlego, acendendo as luzes da casa inteira, o sol renova minha sede de viver, o que terá sido pior do que ter perdido 15 dias sem perpectivas de festejar dezembro?
Foram dias para refletir sobre escolhas infundadas, momentos que ficaram para trás, e daqui pra frente, lá vem o Roberto de novo, "tudo vai ser diferente", preciso recomeçar o mês, tenho dias para preencher com música, festa, carinho, amizade, bem naquele tradicional "clima" de um dezembro freneticamente solucionado em termos de esperanças renovadas.
Lá vou eu, Papai Noel, me aguarde que baixo na sua chaminé e lhe dou de presente um sorriso tao grande que serei capaz de incendiar o futuro de um 2010 bem mais feliz ainda. Boas Festas, feliz resto de dezembro, e obrigada por ter a chance de recomeçar a ser feliz.
Cida Torneros
Dezembro chegou ao meio e um estado indiferente, morno, pleno de pasmaceira, havia me tomado de assalto, por duas semanas. O esforço repetido de me fazer compreender num mundo tão incompreensível. Kopenhagem fracassada, o clima indo pra cucuia, o mundo em clima de "salve-se quem puder", meu umbigo pedindo isolamento, o computador desligado, a ausência de inspiração para escrever, a solidão disfarçada pelas aulas de francês, um desgosto estranho que tem sabor de "esse filme eu já vi e morro no final, tô fora", a saudade da infância, a saudade de risadas ecoando na memória dos dias em que eu nem imaginava que a vida podia ser finita, e também nem questionava a pequenez da sombria face dos egoístas ou dos que desrespeitam seres e natureza, sentimentos e confianças, achei que ia percorrer este dezembro, fugindo de mim mesma, como na música do Roberto, a 200 km por hora. Nenhuma chance de ir ao shopping e fazer compras natalinas, o desânimo de enfeitar a casa para as festas, uma única vontade, fechar-me em copas, enclausurada no ninho da própria solidão de um final de 2009, pensativo e desconfortante, após perder tios idosos, cansar-me de tantas esperas, decepcionar-me com os conceitos de amor e amizade.
A gota dágua, um telefonema, de longe, na quase madrugada de uma manhã enevoada. A voz disse "buon jour", mas o tom era de discórdia, talvez a disputa mais infantil de um triângulo amoroso tãos extemporâneo quanto a mediocridade que permeia a história de amores mal resolvidos. O silêncio me invadiu, internamente. Pra que responder, se qualquer palavrinha em nada ia modificar o acontecido
Melhor me "desenamorar", não da vida, pois desta e por esta, estou em constante enamoramento, aliás crescente, no dia após dia... Refiro-me ao desencantamento por criaturas humanas e falhas, como eu, pessoas que são previsíveis e desconcertantes, que fazem parte de um inúmero e retumbante eco dos sonhos não vividos, dos tempos que nem chegam a chegar afinal.
Mas, o destino prega peças, tripudia previsões, oferece saídas, janelas, abre portas, ilumina caminhos, põe na casa ao lado um olhar de carinho, o de alguém que me fez recomeçar o dezembro, bem no meio, acelerando um repentino estágio de "quero tudo" para a segunda quinzena. Peguei-me sorrindo, internamente, redescobri a canção que fala de se enamorar e dar a alguém o melhor que se tem para dar, sonhos e olhares brilhantes. Como um renascimento pré-vivencial, reconheço a alegria que volta ao meu coração, não posso desperdiçar o resto do ano, com lamúrias e tristezas. Estou pronta para refazer projetos, vejo que o tempo me dá um sobressalto, vou correr atrás do prejuízo, vou enfeitar minha vida, com detalhes de luz e cores.
Então, eis que o mundo se colore de novo, vou a alguma festa com urgência, compro logo uma bolsa cor de cenoura, não posso fazer por menos, sou personagem do sonho de quem me confessa que me acha "charmosa", acho que um vulcão me sacode em tempo de corre-corre, imagino-me recuperando o fôlego, acendendo as luzes da casa inteira, o sol renova minha sede de viver, o que terá sido pior do que ter perdido 15 dias sem perpectivas de festejar dezembro?
Foram dias para refletir sobre escolhas infundadas, momentos que ficaram para trás, e daqui pra frente, lá vem o Roberto de novo, "tudo vai ser diferente", preciso recomeçar o mês, tenho dias para preencher com música, festa, carinho, amizade, bem naquele tradicional "clima" de um dezembro freneticamente solucionado em termos de esperanças renovadas.
Lá vou eu, Papai Noel, me aguarde que baixo na sua chaminé e lhe dou de presente um sorriso tao grande que serei capaz de incendiar o futuro de um 2010 bem mais feliz ainda. Boas Festas, feliz resto de dezembro, e obrigada por ter a chance de recomeçar a ser feliz.
Cida Torneros
Assinar:
Postagens (Atom)