Maracanã

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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Espanha ( poesia)

Epanha, cuida de mim







Espanha, me chama, me canta, me espanta


me encanta e me pranteia, na canção e na saudade


tua misteriosa magia me entontence e invade,


Espanha, me apanha na curva do mar da Galícia,


me embarca no porto rumo a Barcelona, me esvazia


do pote de euforia e me faz dançar em Andaluzia...


Espanha, me puxa e me prende, me fascina e ilumina,


me engana e me mostra teu lado mais duro, tuas dores


que toureias nas praças dos milhares de amores


que se vão, se superam, se matam e renascem, qual sina


dos navegantes buscadores de terras, de mundos distantes,


Espanha, me põe um sinal de bruxaria na testa, me empresta


tua poesia, tua arte, teus pintores, tuas infinitas cores,


me traz de volta ao céu, e me deixes provar do inferno


que tua força maior, terror dos temores, das bombas,


das guerras, os ditadores de mierda, injustiças e abandonos...


Espanha, cuida de mim, de ti mesma, dos teus muitos donos.


Aparecida Torneros






España en el Corazón


A Espanha é uma coisa de tripa.


Por que "Espanha no coração"?


Por essa víscer é que vieram


São Franco e o séquito de Sãos.






A Espanha é uma coisa de tripa.


O coração é só uma parte


da tripa que faz o espanhol:


é a que bate o alerta e o alarme.






A Espanha é uma coisa de tripa,


do que mais abaixo do estômago;


a Espanha está na cintura


que o toureiro oferece ao touro,






é que é de donde o andaluz sabe


fazer subir seu cantar tenso,


a expressão, explosão, de tudo


que sa faz na beira do extremo.






Das tripas fundas, das de abaixo


do que se chama o baixo-ventre,


que põem os homens de pé,


e o espanhol especialmente.






Dessa tripa de mais abaixo,


como escrever sem palavrão?


A espanha é cosia de colhão,


o que o saburrento Neruda


não entendeu, pois preferiu


coração, sentimental e puta.






A Espanha não teme essa tripa;


dela é a linguagem que ela quer,


toda Espanha ( não sei é como


chamar o colhão da mulher).


João Cabral de Melo Neto

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