A comunicação via satélite invadiu por muitas madrugadas aqueles sentidos virtuais do casal enamorado.
Uma vez, fizeram um pacto, porque sabiam que a impermanência das coisas não era somente um conceito budista, mas sim uma possibilidade estatisticamente provável. Se algum dia deixassem de se encontrar no mundo da internet, e se perdessem um do outro, levariam consigo a voz de Rod Stewart interpretando canções que falassem de amor.
O tempo correu e a vida pregou-lhes peças. Viram-se tão apaixonados e ambos fugiram por mecanismos inconscientes quando engendraram desentendimentos e cenas de ciúmes, fatos capazes de provocar um rompimento entre eles.
Era como se não pudessem suportar a força com que aquela paixão os tinha atolado. Necessitavam desprender-se e respirar. Afastaram-se. Sofreram. Choraram. Cada qual ,no seu íntimo, tentou esquecer do outro, mas isso era impossível.
Então, nas madrugadas em que a saudade os domina agora, recorrem às músicas que se prometeram. Ouvem horas a fio a voz do cantor da rouquidão romântica e se imaginam ainda como naquelas memoráveis sessões de aconchego e prazer que souberam compartilhar mas que não conseguiram manter.
Ela resgata a voz dele como se pudesse trazê-la no vento.
Ele retoma a imagem dela e a revê em seus braços em mágica alucinação.
Ainda conseguem ser felizes, mesmo distantes, quando se encontram, através do pensamento, nas noites longas em que suas almas trocam mensagens que o mundo real não pode decodificar e nem lhe é dado o direito de compreender.
Através da voz de um intérprete, ele e ela sabem que seu amor sobrevive.
Cida Torneros
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