Maracanã

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domingo, 27 de setembro de 2009

Marie e a carta do front ( alusão à musica de Jonhy Holiday)




Aquela carta em forma de canção que Marie recebeu do soldado amado era um libelo.
Seu coração pulou ao mesmo tempo em que sua alma chorou. Nem eram os olhos que demonstravam as dores, nem as lágrimas que vertessem seriam suficientes para mostrar o quanto a apreensão e a saudade a torturavam. Mas a ele, também, era dado o sacrifício, envolto no terror, de estar ali, no front de uma sucessão de batalhas, como um soldado cumpridor de ordens.


Seus sentimentos, de Marie e do seu guerreiro distante, eram tão profundos e bem mais confusos do que se poderia imaginar. A instabilidade de emoções os inundava. Amor , esperança, lamento e até ódio se alternavam em dias e noites de sonhos com um amanhã que viria, mas que era uma incógnita constante.


Marie apertou a carta contra o peito. Sentiu seu cheiro de sangue derramado pelos compatriotas, pelos companheiros do seu amor, e sentiu, sobretudo, a dor do seu amado imerso em questionamentos infelizes.


Na mesma noite em que ela se confortava com as palavras que lhe alcançavam os olhos, vindas de alguém que precisava da lembrança dela para manter-se vivo, ela também percebeu que a guerra estava dentro de si própria, era seu único reduto e morada.


Marie morava na guerra. Porque o amor é a própria luta pela esperança de cada reencontro, seja ontem, hoje ou amanhã, cada amante enfrenta em si mesmo o combate entre a razão e a emoção, buscando o aconchego de uma paz prazerosa, ainda que isso lhe custe quase a vida inteira.
Cida Torneros

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