Maracanã

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sábado, 1 de agosto de 2009

Woodstock, 40 anos de Paz, Amor e Reflexão !




Conheci Maggio, um hyppie argentino remanescente, que vive no litoral paranaense, há cerca de três anos. Saudei-o na sua resistência, pois permanece fiel aos ideais de não se curvar ao way of life americano ou ao jeito consumista de ser, como pregaram os seus companheiros nos anos 60 e 70. Encontrei-o no dia 30 de agosto de 2006, vivendo num carro-casa, em Antonina, no Paraná. Comprei dele um colar de contas, do seu artesanato, e conversamos por uns cinco minutos.

Somos da mesma geração, eu, como simpatizante do movimento hippie, em determinada fase da minha juventude, cultuei hábitos de usar objetos que não pertencessem à grande indústria. Bolsas e cintos, os confeccionados pela Lucia Ritto, saudosa amiga jornalista que estudou comigo na universidade. Saias, as indianas, feitas à mão. Colares , aos milhares, brincos, idem, bandanas na cabeça, tudo da feira deles, em Ipanema e também na praça da República, de São Paulo, onde fui em 1969 e vivi uma experiência inusitada. Um hippie alemão, de repente, disse que estava apaixonado por mim, que, aos 19 anos, ria muito da situação, mas quando o ônibus da faculdade ia partir de volta ao Rio... os colegas me puxavam pra entrar no veículo por um braço e o tal hippie louro dos olhos azuis me puxava pelo outro braço, falando um espanhol carregado de expressões de sofrimento. Ele dizia....vem comigo, vamos pra Bahia e vamos ser felizes...eu não fui...deixei para trás, naquele momento a grande chance que tive de cair na estrada...como era comum naqueles tempos...

Então, quando conheci o Maggio, me deu aquela nostalgia... e ao nos despedirmos, ele disse "que Dios te bendiga", retribuí, desejei-lhe felicidades, e senti que ele parou nos anos 70, mas está bem... é o que quer...renunciou a toda a vida capitalista... optou pela solidão das noites nas estradas, mostrou-me o violão, o chimarrão que toma... continua sonhando...em paz e amor... é um sobrevivente do movimento...

Em sua homenagem, vou rememorar Woodstock.

Durante três dias, em agosto de 1969, cerca de quase 500 mil jovens acamparam na fazenda do leiteiro Max Yasgur, a 80 quilômetros de Woodstock, no estado de Nova York e promoveram, em clima de Paz e Amor, com muita música e liberdade vivenciada, o festival que entraria para a história do homem ocidental, como o momento culminante da geração que pregou o fim da industrialização desenfreada, a revolução dos costumes e a fantasia de se repensar o caminho que o mundo frenético havia tomado até ali, com seus conceitos ultrapassados e suas posturas necessitando reavaliação.

Filmes, imagens em fotos, gravações de músicas e shows, marcam até hoje, a passagem daqueles dias na lembrança de quem testemunhou, compareceu, assistiu, acompanhou ou só ouviu falar. Famílias de hyppies, grupos de roqueiros, adeptos de novas moralidades, idealizadores de comunidades modernas, curiosos, religiosos em fase de reflexão profunda, gêneros de seres descompromissados com o stablesshement, todos se multiplicaram em sensações que redimensionaram a juventude planetária a partir do seu grito de protesto, que coube em encontro e congrassamento, música e união em torno de uma aura de bem aventurança ou de mal olhado por parte dos conservadores atentos em sufocar tal insurreição nascente capaz de desestabilizar o status quo vigente...

Passados 40 anos, eis que na memória é possível trazer de volta os expoentes de Woodstock e seus legados. Através do tempo, observo que aquela gente teve um papel relevante na estrada, pois foi caindo nela que bandos de jovens impuseram novos modos de se compreender o planeta e de se viver os sentimentos humanos. Hair, a ópera rock, depois reproduzida em filme, mostrou que havia um misto de poderio e prepotência, na guerra do Vietnam, massacrando, além de envenenar sonhos ou mesmo de mutilá-los.

Recordo as noites em que dancei e cantei "não confie em ninguém com mais de 30 anos", no final dos anos 60, imaginando que minha geração podia reformar o mundo e consertar o que estivesse torto na humanidade. Além da militância política, havia na causa hippie, pregando Paz e Amor, um bando de sonhadores, lutadores, corajosos jovens que se conscientizavam da necessidade de lutar, protestar e concorrer para a mudança social, conquista de liberdade democrática, sede de justiça, e um arrazoado sem fim de propostas voltadas para uma sociedade mais justa e igualitária.

Foi-se o tempo, foram-se muitos anéis, mas sobraram muitos dedos, e ainda estamos aí, de alguma forma, protestando.Os que tombaram em prol desses ideais, não o fizeram em vão. Alguns sucumbiram prisioneiros das drogas, outros, das alucinações extemporâneas, muitos, vítimas das guerras insanas, e, todos, sem exceção carregaram e carregam, o estigma do seu laço com aquele momento ímpar, de grito da juventude mundial. As barricadas dos estudantes em 68, na França, antecederam o boom anti-convencional acontecido em Woodstock, em 69.

Nada ocorreu em vão. Há, por parte das gerações seguintes, um furor tecnológico e consumista capaz de impulsionar novos sonhos. Guardadas as devidas proporções, é possível hoje, juntar muitos fenômenos musicais, culturais e políticos, nessas 4 décadas, em torno de uma chama que permanece acesa no coração dos que ainda se indignam com a acomodação diante das injustiças e da sede capitalista torrencial.

Uma vez Woodstock, sempre Paz, Amor e Reflexão! Obrigada , Maggio, pela sua resistência de tantos anos!!
Cida Torneros

Um comentário:

AB disse...

Olá, Cida!
que bela crônica essa sua, me fez voltar uns 40 anos atrás, pareci rever as cenas, as vozes, os cheiros que haviam no ar naquela época. Os "hippies" de 60-70 que vivem até hoje dentro da mesma filosofia são os mais puros, os que já nasceram "drop-out" no espírito. Woodstock foi um ideal para os que lá estiveram. E tbm uma grande fonte de renda para os que souberam capitalizar o evento. Mas valeu, foi mesmo um barato ter visto Hendrix e Joplin, nem que pela última vez!

Obrigado pelas visitas e por suas palavras sempre tão carinhosas. Adorei aquele seu texto, inspirado de um dos meus tanka, já o guardei até.
Um beijo do amigo,
André