Maracanã

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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Elza Soares, a brasileira...agora é cidadã de Salvador!







Elza, a baiana, a carioca, a brasileira...

Cida Torneros

Já assisti a Elza "dura na queda", ao vivo, umas 4 ou 5 vezes na vida, em shows. O encanto, a vê-la cantar, é repetido.

Em abril, em São Paulo, no tradicional Bar Bhrama, lá estava ela novamente, fechando uma temporada. Fui com uma amiga paulistana, de origem gaúcha, que nunca tinha tido a chance de ouvir Elzinha in persona.

Sua arte sobrepuja as mazelas da própria vida e ela segue nos fazendo superar expectativas, recomeçando sempre. Inigualável cantora, voz de jazz e de samba, ou vice-versa, mulher de energia, dura na queda, vida de baixos e altos, aquela que dá a volta por cima, veio da comunidade, desceu o morro, subiu os mais altos prédios do mundo, esteve por Nova York, onde viveu algum tempo. Minha amiga deslumbrou-se.

Quem pode passar imune por Elza Soares, essa carioca pequena e forte, e agora, a mais nova baiana, cuja interpretação do Hino Nacional brasileiro, na abertura dos Jogos Panamericanos, cantando à capela num Maracanã repleto de gente do mundo inteiro, era ela a verdadeira síntese do seu povo, arrepiando sua gente e se oferendo inteira para a Pátria Amada Brasil. Um ocasião, eu a assisti no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, num show intitulado Do cocxi até o pescoço, também inesquecível.

Dessa vez, na noite paulista, como das outras anteriores, estive flutuando na sua magia, e com ela até cantei Feitiço da Vila, samba do Noel em homenagem à Vila Isabel, bairro em que moro no Rio de Janeiro.

Tanto faz que ela se apresente no Rio, em Sampa, em Salvador, ou qualquer outra cidade do nosso país, ou no exterior, sua graça e talento sobressaem, ela fez escola, história e marca sua presença como ninguém no cenário da música popular brasileira.

Só consegui sussurrar no seu ouvido um "Deus te abençoe", enquanto pude ficar pertinho dela, e no nosso dueto de 5 segundos, seu carinho ao me oferecer o microfone para cantar um samba de Noel, é o mesmo sentimento que ela passa para cada público que tem a oportunidade de vê-la e ouvi-la, ao vivo.

Filha de uma lavadeira e de um operário, foi criada na favela de Água Santa, subúrbio de Engenho de Dentro. Cantava, desde criança, com a voz rouca e a cadência ritimada dos sambistas do morro. Aos 12 anos, já era mãe e aos 18, viúva. Trabalhou como lavadeira e operária numa fábrica de sabão e, com 20 anos, aproximadamente, fez seu primeiro teste como cantora, na academia do professor Joaquim Negli, sendo contratada para cantar na Orquestra de Bailes Garan e a seguir no Teatro João Caetano.

Em 1958, foi à Argentina com Mercedes Batista para uma temporada de oito meses, cantando na peça Jou-jou frou-frou. Quando voltou, fez um teste para a Rádio Mauá, passando a se apresentar depois em muitas outras emissoras, e por intermédio de Moreira da Silva, foi parar na Rádio Tupi e depois começou a trabalhar como crooner da boate carioca Texas, em Copacabana, onde conheceu Silvia Teles e Aluisio de Oliveira que a convidou para gravar. No seu primeiro disco, gravado em 1960, pela Odeon, cantou "Se acaso você chegasse" ( Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins), alcançando logo grande sucesso.

Em seguida foi para São Paulo, participou do primeiro festival de Bossa Nova no teatro Record e na boate Oásis, gravando seu segundo LP , A bossa negra.

Em 1962, apresentou-se ao lado de Louis Armstrong, como artista representante do Brasil na Copa do Mundo, em Santiago , no Chile. Nessa época conheceu Garrincha, com quem se casou.

Elza gravou centenas de músicas, fez inúmeras apresentações pelo Brasil e no exterior, interpretou os compositores mais famosos e expressivos desde Dorival Caymi a Vinicius, Tom, João Donato, e Ataulfo Alves, de quem eternizou Mulata assanhada.

Quem não lembra sua performance em Estatuto da Gafieira, de Bili Blanco, ou do Tributo a Martin Luther King, de Simonal e Ronaldo Bôscoli?

Sua carreira foi marcada por muitos sucessos e sua vida pessoal passou por revezes que a fizeram enfrentar dores e ter que seguir em frente. A partir de 1986, depois da morte de Garrinchinha, seu filho com o jogador de futebol Garrincha ( 1933-1983), ela passou nove anos na Europa e nos EUA.

De volta ao Brasil, gravou em 1997 o CD Trajetória, com músicas de Zeca Pagodinho, Guinga e Aldir Blanc, Chico Buarque, Noca da Portela e Nei Lopes. Ainda em 97 lançou o livro "Cantando para não elouquecer", biografia escrita por José Louzeiro ( Editora Globo).

Elzinha é essa Diva da música brasileira, cheia de gás, tem o canto nas veias e o tom no balanço do corpo, brinca com a voz e com seu público e a minha sorte foi poder revê-la ali, na esquina da Ipiranga com São João, há poucos meses.

A mulher e a artista se confundiam com a garra e o talento, tudo misturado na noite paulista, ao som da voz de uma Elza, uma brasileira, uma lutadora, melhor dizendo, uma vencedora, que é referência de vontade de viver, encantando a nós, que somos seus fãs, e àqueles que ela arrebata e faz se apaixonarem pela energia que dela emana. E ainda pude ter a "canja" de me atrever a cantar com ela. Agora, que ela acaba de "virar' oficialmente baiana, ninguém segura mais a nossa Elza Soares, ela segue, "tirando o sossego da gente", oh Elzinha assanhada!!!





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