A notícia parece até uma piada ao estilo galhofeiro, já que é comum chamar-se de operação "tartaruga" o prenúncio de greves em aeroportos. Tudo passa a se conduzir com a cautela pachorrenta comum a estes répteis milenares, misteriosos e resistentes espécimes que atravessam eras e nos surpreendem com seus relógios biológicos perfeitos.
Pois não é a primeira vez que as tartarugas que habitam as regiões pantanosas que circundam o aeroporto J. Kennedy decidem, em bando,retomar seu ponto de desova e invadem as pistas de aviação, provocando a perplexidade dos controladores de vôo, a paciência dos pilotos e passageiros e a reflexão oportuna por parte dos estudiosos da vida no planeta terra.
As tartarugas marinhas são animais solitários e possuem a audição, a visão e o olfato desenvolvidos, além de uma grande capacidade de orientação. Podem chegar a medira até dois metros de comprimento e atingir um peso em torno de 600 kg. Elas podem ser vegetarianas, carnívoras e onívoras. Costumam se alimentar de águas-vivas e de sua fauna acompanhante. Infelizmente, muitas vezes elas confundem sacos plásticos ou celofane com águas-vivas e morrem por indigestão. Sua boca não possui dentes, somente mandíbulas com bordas afiadas. Podem dormir na superfície quando estão em águas profundas ou no fundo do mar, sob rochas, em áreas próximas à costa.
As Tartarugas Marinhas surgiram há aproximadamente 90 milhões de anos, a partir de ancestrais terrestres, surgidos provavelmente na Era Paleozóica, no final do Período Permiano, há cerca de 250 milhões de anos.
Com a seqüência de mudanças na Terra, os dinossauros acabaram por desaparecer, dando lugar para outros grupos de animais surgirem e se desenvolverem. As tartarugas sobreviveram, o que prova o quanto são resistentes e bem programadas geneticamente.
Espalhando-se por todos os oceanos, se diferenciaram em várias espécies.
Todas, porém, mantiveram sua característica principal de fusão de costelas e vértebras para formar um casco protetor.
O acasalamento começa com a fêmea escolhendo o macho para namorar e inicia-se com mordidas no pescoço e nos ombros. Uma fêmea pode realizar em média de três a cinco desovas para uma mesma temporada de reprodução, com intervalos médios de 10 a 16 dias. Sua característica principal de determinação quanto ao local de desova, impressiona pela precisão em número de anos nos quais cumprem o ritual de volta ao ponto escolhido, viajando milhares de quilômetros e decididas a realizar sua tarefa biológica, ultrapassando até os impecilhos criados pelos humanos que muitas vezes constróem condomínios residenciais, aeroportos, portos de navegação etc, sem se darem conta do processo que a natureza estabeleceu para esses animais de sobrevida resistente e tenaz desempenho na busca de perpetuação de sua espécie.
Se há uma invasão de tartarugas num aeroporto como o de Nova York onde a corrida é imperativa e o mundo se encontra com a velocidade multiplicada a todo instante, nada como uma bela e inusitada passeata de tartarugas, destemidas, desfilando sua procisão em natural caminhada rumo ao seu destino pré estabelecido,
Manter a vida dos seus pares, exigindo o respeito dos humanos, deve ser esse o recado que elas passam aos mesmos humanos que se rendem e esperam pela solução pacífica diante do protesto destas criaturas tão especiais e tão mais viajantes que todos nós, elas atravessam oceanos e dão lição de vida, esbanjam disciplina e nos fazem parar enquanto deslizam vagarosamente ante as gigantescas aeronaves estacionadas às quais só resta esperar autorização para subirem ou descerem sem molestar a marcha tranquila das tartarugas invasoras.
Aparecida Torneros
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