Maracanã

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terça-feira, 14 de abril de 2009

O beijo...








“O beijo implica, ao mesmo tempo, acesso ao corpo do outro e uma entrega talvez maior do que a da transa”, avalia o psicanalista e escritor Contardo Calligaris. “Nele, o amor está quase sempre misturado.” Tanto que, quando o desgaste contamina um relacionamento, o contato labial vai ficando cada vez mais diplomático, até chegar a um selinho, no máximo.


Beijo perdido no aeroporto


Procura-se um beijo perdido,
na pracinha em frente ao Aeroporto,
era de estimação,
seus donos gratificam,
a quem encontrá-lo.

Procura-se um elo rompido,
e, como recompensa, daremos conforto,
de muita oração,
aos que intensificam
a busca de achá-lo.

O beijo que se perdeu,
era de até logo, era um afago,
de duas almas valentes,
era mesmo a praga de um mago,
que os uniu e os separou,
mas que os ungiu de sementes,
com adubo de Paz e a eles deu
o encanto dos vôos ascendentes.

Procura-se esse carinho,
porque ele guardou em síntese,
a esperança do reencontro,
que não houve, ficou escondidinho,
no coração dos que o trocaram.
Foi a despedida dos que se apaixonaram,
foi o momento roubado no tempo,
e representou tanto, foi lindinho.

Quem o encontrar, por favor, devolva,
Coloque-o em caixa dourada, envolva,
com reverência, com zelo, com respeito,
é um beijo solene, tem muita história.
Merece ser resgatado, porque está confuso,
imaginem, perdido, na multidão que viaja,
e ele tenta rever seus donos, para que haja,
entre os dois o alívio de guardá-lo,
em lugar inacessível a terceiros,
em reduto adequado onde os beijos repousam,
dignamente, com a calma dos que não ousam,
em hipótese alguma desfazer sua magia.

Esse beijo que se perdeu tem a glória
de ter sido dado com as almas de dois seres
tão inebriados da paixão e da memória,
que irão reavê-lo, com tais poderes,
eles se acalmarão, se apaziguarão,
se completarão, se perdoarão,
e pra sempre um grande Amor viverão...


Quinta-feira, abril de 2009
Beijos inesquecíveis


Beijos inesquecíveis
Maria Aparecida Torneros da Silva
Publicado em: 22/04/2008

A cena final da película Cinema Paradiso tem como tema uma sucessão de beijos inesquecíveis pinçados de histórias fortes que a sétima arte trouxe ao público no século XX.

O personagem, que quando menino, nao pudera se deliciar com as imagens, que eram cortadas pela censura moralista de uma Itália provinciana, senta-se, já grisalho, imbuído de nostalgia, e assiste, embevecido, aos beijos dos astros que enfeitiçaram gerações.

Um colar de beijos. Contas coloridas de paixão, brilhantes expressões da entrega de enredos que fizeram sonhar tantos homens e mulheres, ávidos de auto-identificar-se com os sentidos daqueles lábios quentes, entregues, ofertando carícias através de bocas sensuais.

Beijos, todos desejados, alguns roubados, outros adiados, sonhados, perdidos.

Nossos beijos, por toda a vida, refletem os momentos em que nos envolvemos com a sedução, a animalidade ou a ternura infinita.

Beijar a testa de crianças, de velhos, de filhos, nada mais gratificante do que passar, pela delicadeza do gesto, um mundo de proteção, uma plêiade de doações desinteressadas onde se oferece o bem-querer, simplesmente.

Beijar as mãos de mulheres ou de homens pode representar reverência e respeito, mas nos dá o sabor do culto à imagem de deusas e deuses dignos de manifestação tão singela.

Beijar a nuca dos amantes, mais do que arrepio, causa uma doce sensação de submissão ao prazer que se inicia na base do pensamento lógico, diminuindo a tensão de uma cabeça pensante, necessitada do relaxamento que por certo, começa ali mesmo.

Beijar as orelhas, os olhos, o rosto inteiro de alguém que esteve muito longe por muito tempo, diminui a saudade como se precisássemos conferir cada pedacinho daquele semblante, buscando preencher com beijos os espaços antes carentes de carinho.

Beijar o corpo inteiro, quando se está empreendendo a grande viagem ao prazer carnal, não só é a glória da conquista amorosa, como também é o caminho trilhado para que se alcance o êxtase da biologia humana, fazendo deslizar lingua amestrada em cada nicho desejado do parceiro sexual.

Beijar a boca de alguém, no momento do orgasmo, é momento que sintoniza o homem ao universo da criação misteriosa, elevando almas inebriadas pelo gozo etéreo aos píncaros do indescritível.

Beijos de amor, ou de posse, beijos de paixão ou de reencontro, beijos de despedida, molhados de lágrimas, beijos de saudade, dados nas costas da própria mão, de olhos fechados, lembrando beijos antigos que já não serão repetidos.

Motivos para beijar, todos devem ter. Motivos para fugir dos beijos, alguns cultivam nos seus medos, porque o inexorável da vulnerabilidade assusta a quem se deixa surpreender pelo mais inesquecível que aquele minuto poderá deixar fluir.

Se listássemos, cada um, nossos melhores beijos, nossas mentes provavelmente iriam questionar histórias de amores passados ou presentes, e nos depararíamos com os beijos que nunca demos em pessoas que nem atrevemos a abordar.

O sonho de cada beijo dado ou sonhado, é maior que o próprio beijo em si.

A aura de magia que cerca um beijo de amor, cinematográfico, nos torna prisioneiros de uma eterna ilusão. Beijar com a alma, com os olhos, com a voz embargada, com o coração aos pulos, com os braços envolvendo um ser que, por instantes, nos doa seu sentido de vida e sua respiração.

Beijar o beijo que não te dei, no dia em que não te encontrei, na noite em que não te abracei, pode ser a loucura semelhante a receber o beijo virtual que me mandaste na despedida ou que me acenaste por trás da cortina de fumaça com que o tempo cobriu a nossa história de beijoqueiros contumazes.

Beijos para ti, no dia do beijo!
Beijos de amizade e de amor, ainda que apenas idealizados, mas irremediavelmente necessários à nossa sobrevivência emocional.

Cida Torneros

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