Maracanã

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domingo, 18 de janeiro de 2009

Férias para o analista..e pra mim!!!


Hora de rearrumar a casa "interior".
Justamente no momento em que as obras da casa antiga estão quase concluídas e voltarei a morar lá. Virou casa rearrumada, por dentro, de verdade. E pedi férias ao analista. Por uns dois a três meses, tempo que preciso para acomodar os sentimentos nas duas moradas, a física e a psíquica, ele compreendeu bem.
Os objetos passam a ter vida nova, nem me reconheço nessa nova fase de vida, ando me redescobrindo, me reinventando, me reorganizando, há tantos espaços a preencher dentro dos meus sonhos ainda tão adolescentes, por mais que isso possa parecer piegas.
Hoje, me peguei revivendo meu dezembro quarentão, de 68, quando eu era uma menina cheia de ideais de justiça e liberdade. Como quarenta anos podem ter passado tão depressa?
Combinadas as nossas férias, eu e Arruda teremos mais uma sessão antes do Natal e ficarei atenta ao meu conforto emocional nesse período. Um bom exercício : me auto-referenciar para o mimo que necessito, a alegria de me cuidar e o desafio de me auto-agradar.
Pequenas coisas, como por exemplo, ter terminado o tapete de crochet para o meu novo banheiro, quando me senti orgulhosa do trabalho manual e do presente que fiz para mim.
Há a necessidade intensa de compreender que a vida da minha mãe velhinha é mesmo só dela, e me dispensar de pretensas culpas para os oitenta e poucos anos dela, que reclama que já virei sua mãe e isso não lhe agrada nem um pouco. Quanto ao filho entrante na casa dos trinta, dá gosto de ver como é lutador e responsável. Tem a maturidade tão protetora que me surpreende, e já é hora de me desfazer daquelas roupinhas de bebê que guardei por esse tempo todo. Vou doá-las, afinal o meu menino cresceu e eu andei parando no tempo para não me desgrudar daquela sensação de mãe feliz, que amamentava o filhote por mais de 3 anos.
Hoje, o tempo é outro, ele é um homem e pode até me dar netos, quem sabe, se resolver enfrentar essa responsbilidade que é ser pai.
Pois que o analista, mais uma vez, me dá passagem para meu crescimento. Já não sou a jovem do dezembro de 68, nem a mãezinha do bebê traquinas, aprendo a ser a mulher inteira de quase 60 anos, que vê tanto a fazer e tanto a aprender.
Se, durante as férias da análise, o meu potencial de rearrumar as casas me proporcionar a chance da redescoberta do amor, talvez sábio amor já tenha me encontrado antes, e esteja à espera de que eu apenas o reconheça. Provavelmente o sentimento que chamo de amor é bem mais doce que um beijo, é mais temperado que um talharim e é mais denso que um vinho rascante.
Estou pronta para tirar as férias do analista e dar férias ao próprio, já que a vida começa todo dia, é hora de recomeçar a viver as novas vidas que novas casas me oferecem.
Abrindo janelas e cortinas, deixando entrar luz, ouvindo as saudações dos vizinhos, ofertando sorrisos de paz, buscando solidão e quietude, em doses certas, com calma, usufruindo o verão, enquanto o mundo gira, e de 40 em 40 anos, meninas se olham no espelho e se aceitam como verdadeiras, fiéis aos seus sentidos de viver com paciência cada período de férias e qualquer recomeço.
Aparecida Torneros

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