Vick Cristina Barcelona (Vick Cristina Barcelona,EUA,Espanha- 2007) - Duas jovens amigas americanas chegam de férias em Barcelona e conhecem um pintor anarquista e sedutor, por quem ambas se apaixonam.
Acima está um dos muitos resumos que os sites trazem sobre o filme de Woody Allen...
Na verdade, ao assistir Vick Cristina Barcelona, o que nos absorve, além da belíssima fotografia, destacando as imagens da linda Barcelona e da misteriosa Oviedo, passando pela arte de Gaudí e Miró, pela busca das americanas em viver a emoção nas terras do sangue e areia, é um bem estruturado roteiro do diretor americano cuja sensibilidade questiona os preconceitos e desejos humanos diante do amor e da vida a dois ou a três, como proposta de resolução dos seus conflitos intensos e passionais.
Interpretações magníficas dos protagonistas apontam para questionamentos da vida moderna tanto na Europa quanto no estereótipo do casamento médio americano, como forma pre-estabelecida de futuro e acordo morno entre um homem e uma mulher que certamente se empenharão em construir um patrimônio e investir em obras de arte.
O casal conflituado, vivido por Penélope Cruz e Javier, representa o lado louco dos artistas que buscam complementar-se em criação , através da sua pintura, e na vida íntima, onde parece sempre estar faltando algo, até que Cristina, jovem aventureira em férias de verão, entra no jogo amoroso e vive uma experiência que acaba abandonando, em momento de crise existencial.
Por outro lado, a paixão lasciva da comedida Vick pelo mesmo homem que atrai as três mulheres, resulta em renúncia da sua parte, ao ver que há desequilíbrio demais no relacionamento do casal de pintores espanhóis.
Allen joga com os sentimentos de maneira perfeita e intrigante. Faz com que seu público também se auto analise diante de um mundo extremamente empacotado, e revolve, a cada diálogo perfeito, o que se poderia chamar de pensamentos vagando que tentam compreender o que falta a cada criatura que tenta e quer ser feliz, e que segue buscando, em si e nos outros, alguma forma de sentir-se completo.
Vick Cristina Barcelona faz pensar mas demonstra o quanto uma história pode ser apenas fadada a ser vivida em férias de verão. Depois, volta-se ao dia-a-dia e carrega-se a lembrança múltipla de sonhos que permanecerão na incompletude, mas que certamente se manifestarão em obras de arte, nas fotografias, nas poesias, na literatura, na moda, na cultura consumista que se encarregará de torná-la vendável, com requintes de realização pessoal ou de vida vivida sem muitos atropelos ou sob controle das próprias aventuras.
Woody Allen, como um gênio da direção, conduz roteiro empolgante ao passo que, mais uma vez, mostra o quanto homens e mulheres contemporâneos se adaptam ao aceitar seus destinos médios e pré fabricados.
Aparecida Torneros.
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