Maracanã

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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Vem caminhar comigo! ( texto de 2002)





Vem caminhar comigo!

- Isso é um convite?
- É, mas não se assuste, é bem descompromissado. Você só precisa usar um par de tênis confortáveis, e convem levar um bonezinho para o caso do sol forte.
- Tudo bem, gosto da idéia, preciso mesmo exercitar as pernas, eu topo!
- Bem, eu preciso lhe dizer que é mais do que exercitar simplesmente as pernas. Na verdade, onde vamos, é como andar na corda bamba da vida, precisamos de postura.
- Postura? Acha que precisamos postura especial para ir um ao lado do outro, por uma pista como a Claudio Coutinho, dando a volta no morro do Pão de Açúcar, entre o mar e montanha?
- Acho, não.....tenho certeza...
- Imagina que aquele percurso é o nosso desafio. Um lugar especial como a Terra. Onde estamos e precisamos avançar cada quilômetro, em frente, capazes de vencer cada obstáculo.
- Mas o caminho tá livre.
- Quem te garante? Pode chover, desbarrancar, passar uma cobra venenosa, ter alguma pedra onde um de nós tropece.
- Você parece fazer tragédia. Menos, por favor. Tudo é muito simples.
- Me prove!
Aí, a jovem senhora, paciente e lúcida, falou assim:
" quando, no decorrer da caminhada, um de nós se cansar, ou tentar desistir, não tem problema, porque o outro segura, ampara, dá força, abraça, mostra o céu, o horizonte, o mar sem fim, aponta as flores das margens da estrada, faz silêncio para que se possa ouvir o canto dos pássaros, respira fundo e cheira o perfume das tardes calmas que nos esperam para que descansemos os pés de peregrinos. Quando, durante o percurso que fizermos lado a lado, um de nós, comovido ou decepcionado, julgar que tudo precisa ter um fim, o outro, num gesto supremo de amor sublime, apenas acaricia a fronte do companheiro, enxuga-lhe o suor, fixa-lhe a luz dos olhos e o convida a seguir mais um pouco."
- Então, ( ele retruca emocinado) vem caminhar comigo, qualquer dia desses, nessa vida! Cansei de caminhar sozinho.
- Com as mãos dadas?
- Sempre que for possível, por que não? ( ele insiste)
- Qualquer domingo desses, quem sabe? ( ela decide)

Aparecida Torneros

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