Ando triste. Não posso negar. A perda de Antonieta, há cerca de um mês, no roldao de tantas outras perdas, levaram-me a um processo interrogativo interior. Pena que a vida de aposentada, com tão pouco poder aquisitivo e o surgimento de probleminhas de saúde, ultimamente, não me permitam sair como gostaria, principalmente, para visitar e rever pessoas como a Cris Dias, que mora em Búzios, mas que conheci em Campos dos Goytacases, há uns anos atrás.
Ela me traz à memória, a história de um chapéu, aliás dois, o meu, cinza, que ousei tirar agora do armário e fotografar. O dela, igualzinho, mas em cor de rosa. Acabaramos de nos conhecer, eu tinha ido trabalhar na feira agro pecuária da regiao norte do Estado do Rio, e ela, nesta época, estava prestando serviços à nossa regional da Serla, superintendência de rios e lagoas, foi amizade e irmandade à primeira vista. Logo, fui conhecer sua mãe Zezé e pernoitei na casa delas, como se nos tivéssemos conhecido a vida inteira.
Para selar o encontro compramos os exemplares de chapéu de vaqueiro e desfilamos, feluzes, pela feira, na certeza de que afinidades são dádivas, e, com o tempo, fomos estreitando laços.
Por muitas vezes, pude ir ao seu encontro, tanto em Campos, como em Búzios, e vice versa, ela veio ao Rio e trocamos figurinhas.
Há cerca de um ano e meio, não temos conseguido estar juntas, apesar de promessas e tentativas. Alguns emails e conversas telefonicas nos aliviam as saudades, quando nos prometemos coisas, como por exemplo, irmos juntas a Buenos Aires.
Mas, obstáculos surgem e adiamos planos e aumentamos as saudades.
Quando olho o chapéu, lembro da cumplicidade que desenvolvemos. Cantar para que o seu velho fusca pegasse, entre outras brincadeiras, são parte da nossa história.
Idas nas praias paradisíacas de Buzios, passeios em Campos, histórias e canções, o mico do dueto que cantamos num bar em noite cheia de colegas de trabalho, a busca de paisagens e o humor esperançoso em nossos momentosmais dificeis.
Uma tarde cigana, fotogradas em poses, diversao pura. Os alentos, palavras de incentivo, as preocupações divididas, as vitorias comemoradas e as idéias pululando, com sentimento de amor à vida, como novela que vamos interpretando, à espera sempre, do proximo capítulo. Sonhamos ir juntas a Buenos Aires, onde vive seu namorado, também um querido amigo meu, o Andres.
Nesta segunda, em que amanheci colhendo sangue para novos exames e me preparo para radiografias e fisioterapia, como me conforta ter comigo este chapéu, sentir a presença da minha amiga irmã, a Cris, criatura que adoro, cuja voz ressoa no meu coração, sempre!
Cida Torneros