aqui tem música, poesia, reflexões, homenagens, lembranças, imagens, saudades, paixões, palavras,muitas palavras, e entre elas, tem cada um de vocês, junto comigo... Cida Torneros
Maracanã
terça-feira, 30 de novembro de 2010
A voz do povo é a voz do Deus Disque-denúncia
Sempre achei que o paraíso fica dentro de cada um de nós, mas parece intangível, se faz misterioso e dá sinais em momentos fugazes.
No fim de semana da reconquista de território carioca, em plena guerra contra os traficantes do complexo do Alemão, fui a Búzios, encontrar com amigas, decidida a relaxar e rezar, pois estando em fase semi-aposentada na profissão de jornalista, meus pendores de escritora precisam de respirar fundo e em paz para que eu produza textos e deixe fluir sentimentos.
Não foi em vão, fui ver de novo Brigitte, o ícone do cinema francês que notabilizou a vila de pescadores que se transformou em point internacional, onde sua estátua vela o mar brasileiro, apontando um paraíso que atrai milhares de pessoas todos os anos, em busca de momentos inesquecíveis, tal a sua variada paisagem marinha e seu gosto pela vida solta que proporciona aquela viagem que nos transporta à dimensão do fio indelével que nos liga a uma vida além...
Sabíamos, eu e minhas amigas, o quanto é importante nos reabastecermos de esperança e bons fluidos, temos a nossa "guru" ambiental, a Cris, bicho-da-terra, moradora da cidade, desde os tempos da sua formação como município, defensora das posturas ecologicamente corretas para o desenvolvimento da região de península que é Búzios, coalhada de praias paradisíacas, de matas peculiares, de tesouros naturais a serem respeitados e preservados, apesar do avanço imobiliário sedento de crescimento invasor.
Levei comigo a Katia, esta com vontade de rever o lugar, ao qual não ia há muitos anos, e lá, encontramos também a nossa Angelina Jolie brasileira, Carol, 22 anos, estudante de engenharia de produção, grávida do já estimado João Pedro, que virá no verão tórrido, para a a alegria de tantas tias e avós, prontas para festejá-lo com carinho, na chegada de 2011.
O que desejamos para o nosso Joãozinho é a paz de um país próspero. Desejamos-lhe a reconquista do paraíso, e nas nossas falas sobre a guerra contra o tráfico, injetamos esperança de vitória, apreço pela luta dos militares, dos policiais, dos governos sérios, da população sofrida, a futura mamãe esboça até um velado e tímido desejo: - Bem que João Pedro poderia ser militar!
A noite de sábado foi reservada para assistirmos um lançamento do festival de cinema da cidade, e no cine Bardot, assistimos "além da vida", filme surpreendente, produzido pelo talentoso e veterano Clint Estwood.
Mas, na noite do domingo, tivemos um encontro marcado com Brigitte. Ela estava lá, nos esperando, eram mais de 22 horas, estava soprando uma brisa fria, o que fez com que Cris a cobrisse com chale aquecedor. Festival de fotos, conversas doidas com Brigitte. Falamos a ela sobre as novidades no front. Explicamos que tudo ia acabar bem na terra que ela revelou para o mundo. Dissemos sobre o quanto era importante torcermos para que o mal vencesse o bem. Ela ouviu tudo com jeito passivo, mas nos perguntou pelos animais. Sua preocupação com a preservação deles. Alguns símbolos de Búzios lhe fazem lembrar da riqueza biológica daquela região, tartarugas, golfinhos, peixes em abundância...
Nada era mais sério para nós naquela noite do que vivenciarmos o paraíso interior de estar com ela, estarmos juntas, torcer pelo sol que garante a praia lotada, e mergulharmos num mar de paz, muito azul, esverdejando de quando em vez, com sabor de retomada de caminho, de luz no fim de túnel.
Há uma real esperança na chegada de um tórrido verão, que nos trará João Pedro, para reinventar o amor, a amizade, o sorriso puro dos que acreditam na virada, exatamente como nós, que retornamos na segunda cedo, a um Rio de Janeiro, vibrante, tremulando a bandeira do Brasil no alto de mais um morro pacificado, apesar das novas batalhas que sabemos que terão que ser travadas.
A vitória conseguida nesta fase inicial do combate deveu-se a uma tropa que é realmente de grande elite: a voz do povo é a voz do Deus Disque-denúncia, e este não poupou luz e mostrou caminhos para a luta prosseguir no rumo certo.
As tropas se uniram, a população colaborou, Brigitte manteve-se informada, nós somamos forças interiores para seguir em frente. E voltamos ao nosso dia-a-dia, esta semana, com a força de criaturas renovadas, trouxemos conosco a energia dos mares de Búzios, e a paz dos corações que amam os seres e natureza, que desejam um Rio de Janeiro próspero e pacificado, num verdadeiro paraíso chamado Brasil. como sonhou Brigitte!
Cida Torneros
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Um mundo todo novo, no universo da música e da dança
Um mundo todo novo, no universo da música e da dança
Noutro dia, tentei enlaçar um amigo para que dançasse alguns passos comigo, numa festa. Ele endureceu, esquivou-se, explicou que não tinha o menor jeito para dançar, que embora trabalhasse com educação física, suas atividades não se ligavam à música. Eu fiz de conta que não liguei. Mas, na verdade, para mim, foi uma grande decepção. Explicando melhor, eu não sou exímia dançarina, nunca frequentei aulas, danço conforme a musicalidade do meu corpo, deixo-me soltar e envolver pelo mundo novo que a música proporciona. É o tal mundo mágico, aquele que nos faz mudar de dimensão, nos enleva em sonhos de leveza, delicadeza, paz, harmonia, conjunção de sentimentos nobres, atenção ao compasso, respeito ao olhar do parceiro, acompanhamento dos passos, volteios sensíveis, entrega momentânea ao conforto de corpos que flutuam no ar, como estrelas orquestradas em céu cintilante.
Percebi o quanto é importante bailar como se baila na vida, com alguém que nos conduza e seja conduzido com graça e afeto, soltando amarras, doando-se ainda que momentaneamente, por ser canal de movimentos e de vida. Um corpo duro, preso, parado, engessado, por sua vez, também aprisiona um cérebro, impede os vôos de sonhos mais altos, aqueles que atravessam oceanos, invadem países e cidades distantes, alcançam lugares de alegria, prazer, felicidade, onde se vai para desfrutar sabores e culturas diferenciadas. Um corpo que se detem num chão específico, como se fôssemos árvores fincadas em raízes irremovíveis, é o avesso da disposição de buscar e trilhar novos caminhos e desbravar a vida em suas misteriosas cavernas que podem nos oferecer a luz no fim do túnel.
O universo da dança é mágico, e talvez o seja mais ainda, porque há um feitiço intenso nos movimentos que pairam quando os bailarinos se expõem ao seu talento, quando os casais se encontram nas pistas de dança e se oferecem como parceiros para navegar no mar do encantamento, amolecendo corpos, aquietando corações e libertando almas...
Cida Torneros
Noutro dia, tentei enlaçar um amigo para que dançasse alguns passos comigo, numa festa. Ele endureceu, esquivou-se, explicou que não tinha o menor jeito para dançar, que embora trabalhasse com educação física, suas atividades não se ligavam à música. Eu fiz de conta que não liguei. Mas, na verdade, para mim, foi uma grande decepção. Explicando melhor, eu não sou exímia dançarina, nunca frequentei aulas, danço conforme a musicalidade do meu corpo, deixo-me soltar e envolver pelo mundo novo que a música proporciona. É o tal mundo mágico, aquele que nos faz mudar de dimensão, nos enleva em sonhos de leveza, delicadeza, paz, harmonia, conjunção de sentimentos nobres, atenção ao compasso, respeito ao olhar do parceiro, acompanhamento dos passos, volteios sensíveis, entrega momentânea ao conforto de corpos que flutuam no ar, como estrelas orquestradas em céu cintilante.
Percebi o quanto é importante bailar como se baila na vida, com alguém que nos conduza e seja conduzido com graça e afeto, soltando amarras, doando-se ainda que momentaneamente, por ser canal de movimentos e de vida. Um corpo duro, preso, parado, engessado, por sua vez, também aprisiona um cérebro, impede os vôos de sonhos mais altos, aqueles que atravessam oceanos, invadem países e cidades distantes, alcançam lugares de alegria, prazer, felicidade, onde se vai para desfrutar sabores e culturas diferenciadas. Um corpo que se detem num chão específico, como se fôssemos árvores fincadas em raízes irremovíveis, é o avesso da disposição de buscar e trilhar novos caminhos e desbravar a vida em suas misteriosas cavernas que podem nos oferecer a luz no fim do túnel.
O universo da dança é mágico, e talvez o seja mais ainda, porque há um feitiço intenso nos movimentos que pairam quando os bailarinos se expõem ao seu talento, quando os casais se encontram nas pistas de dança e se oferecem como parceiros para navegar no mar do encantamento, amolecendo corpos, aquietando corações e libertando almas...
Cida Torneros
A Whole New World
I can show you the world
Shinning, shimmering, splendid
Tell me, princess, now when did
You last let your heart decide?
I can open your eyes
Take you wonder by wonder
Over, sideways and under
On a magic carpet ride.
A whole new world
A new fantastic point of view
No one to tell us no
Or where to go
Or say we're only dreaming.
A whole new world
A dazzling place I never knew
But when I'm way up here
It's crystal clear
That now I'm in a whole new world with you.
Unbelievable sights
Indescribable feeling
Soaring, tumbling, freewheeling
Through an endless diamond sky.
A whole new world
Don't you dare close your eyes
A hundred thousand things to see
Hold your breath - it gets better
I'm like a shooting star
I've come so far
I can't go back to where I used to be.
A whole new world
With new horizons to pursue
I'll chase them anywhere
There's time to spare
Let me share this whole new world with you.
A whole new world
A new fantastic point of view
No one to tell us no
Or where to go
Or say we're only dreaming.
A whole new world
Every turn a surprise
With new horizons to pursue
Every moment red-letter
I'll chase them anywhere
There's time to spare
Let me share this whole new world with you.
A whole new world
That's where we'll be
A thrilling chase
A wondrous place
For you and me.
Mundo Todo Novo
Eu posso te mostrar o mundo
Brilhando, piscando, explêndido
Me diz, princesa, quando foi
A última vez que você deixou seu coração decidir?
Posso abrir os seus olhos
Te mostrar as maravilhas uma por uma
De cima, dos lados e embaixo
Numa volta num tapete mágico
Um mundo todo novo
Um novo ponto de vista fantástico
Ninguém para nos dizer não
Ou para onde ir
Ou que estamos apenas sonhando
Um mundo todo novo
Um lugar estonteante que eu não conhecia
Mas quando estou aqui
É claro como cristal
Que agora estou num mundo todo novo com você
Sinais inacreditáveis
Sentimentos indescritíveis
Subindo, descendo, rodando
Por um céu de diamantes infinitos
Um mundo todo novo
Não ouse fechar os olhos
Há 100.000 coisas pra ver
Segure seu fôlego - vai melhorar
Sou como uma estrela cadente
Vim de muito longe
Não posso voltar de onde eu era
Um mundo todo novo
Com novos horizontes pra se perseguir
Vou caçá-los em qualquer lugar
Há tempo pra isso
Me deixa dividir esse mundo todo novo com você
Um mundo todo novo
Um novo ponto de vista fantástico
Ninguém para nos dizer não
Ou para onde ir
Ou que estamos apenas sonhando
Um mundo todo novo
Cada hora uma surpresa
Com novos horizontes pra se perseguir
A todo momento
Vou caçá-los em qualquer lugar
Há tempo pra isso
Me deixa dividir esse mundo todo novo com você
Um mundo todo novo
É onde estaremos
Uma perseguição excitante
Um lugar maravilhoso
Pra você e eu
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
domingo, 21 de novembro de 2010
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Saudades e "solidões" que voam ...( dedicada ao Paulo Faya, parceiro do Guinga)
Saudades e "solidões" que voam...
Ontem, peguei-me amargurada, depois que, por email, recebi a notícia da morte de um grande amigo, com quem troquei, nos últimos 15 anos, muitas vezes, a sensação de um futuro que teríamos juntos e que nunca aconteceu. Estivemos próximos e distantes, por inúmeros momentos. O tempo se encarregou de nos povoar de uma saudade estranha.
Houve ocasiões em que éramos tão cúmplices das nossas histórias de perdas e desenganos pessoais, que bastava uma conversa de cinco minutos, via telefone, e direcionávamos nossos sentimentos para a construção do grande pilar familiar. Podíamos dividir as preocupações com filhos e com seu neto, por exemplo, com seu futuro. Partilhávamos as dores físicas, as necessidades cirúrgicas, o passar dos anos, minhas dores de coluna, suas dificuldades de locomoção, a tal velhice que iniciava em nós um processo lento de despedida da vida.
Faz alguns meses, aconteceu a última vez em que nos falamos, também por telefone, depois de um ano, talvez, meio perdidos um do outro, senti sua voz embargada do outro lado da linha, perguntei o que acontecia, e ele apenas justificou-se estar emocionado por ouvir-me de novo, após tanto tempo.
Contou-me das mudanças de vida nesse período, falou-me que finalmente estava andando sem as muletas que o perseguiram por causa dos problemas no joelho, fora operado e estava recuperado.
Disse-me que mudara de casa e de bairro, que estava bem feliz, com nova companheira, deixara de morar sozinho, já que era viúvo há muito tempo.
Procurei conter também, por minha parte, a emoção de senti-lo de novo, tão próximo pela voz e tão distante, pelos descaminhos da vida. Mesmo assim, nos prometemos, tirar um dia para sairmos e comemorar, em família, com sua filha e neto, o menino que o orgulhava tanto e que ele não cansava de idolatrar. Prometemos nos encontrar para comermos novamente, juntos, aquele peixinho especial que servem num restaurante localizado nas imediações da minha casa. Este almoço, ficamos nos devendo, então, sei agora, pra sempre.
Quando era possível, ele vinha, depois de atravessar a cidade, da Barra da Tijuca até Vila Isabel, para compartilharmos o sabor dos mares, peixes e camarões, o gosto dos oceanos, a face de alguma saudade que voava sobre nós, de vez em quando.
No fundo, nos recentes meses, comecei a me dar conta dos inúmeros familiares, amigos e amigas que tenho perdido e de como vou acrescendo a lista de saudades destas pessoas em mim e das consequentes solidões que elas me provocam.
O meu amigo se foi, preparo-me para ir assistir a missa em sua homenagem. Lembro-me dele em diversas ocasiões, trabalhando ainda como médico em consultório ou hospital, lembro-me dos nossos almoços, das nossas batalhas políticas, das longas reflexões sobre nossos filhos e das muitas confissões sobre nossas angústias de vida.
Houve ainda, momentos de descontração. Ele cantava algum trecho de canção antiga, no telefone. Ríamos, ele tinha sido compositor-estudante no tempo de universitário. Parceiro do famoso Guinga. Uma composição dos dois intitulada - "sou só solidão", fora finalista e premiada na primeira eliminatória do inesquecível festival da canção de 1967.
Gostava de me relembrar aquela época de jovem romântico compondo músicas em festivais. Uma vez, fui ao google e o avisei que ele estava lá como compositor de uma canção vencedora em algum desses festivais.
Talvez pudéssemos ter aprofundado o convívio, mas não foi o caso. Tivemos aquele bom viver baseado em admiração, respeito e carinho. Era bom sermos referências mútuas de vidas dedicadas ao trabalho e à família.
Sua admiração pelos filhos, a intensa e dolorosa recordação do filho que perdera, ainda adolescente, o orgulho pelo outro filho fotógrafo de moda, a paixão pela filha advogada, que lhe deu o "netão", sua felicidade em acompanhar o nascimento e crescimento do menino.
Entre muitas declarações de amizade, pudemos construir uma base para sentirmos imensa saudade, daquelas que voam, que permanecem, além da vida, que flutuam no nosso interior, estejamos em corpo ou em alma, em presença ou ausência, em palavras ou silêncio.
Atualmente, sinto que isto pouco importa, meu amigo está aqui, apesar da sua passagem para o outro lado, ele consegue me trazer a lembrança viva da sua voz embargada, concluo que talvez fosse mesmo o prenúncio da nossa despedida que o tivesse levado às lágrimas, enquanto eu não percebi isso, naquele dia.
O que me deixa amargurada não é o nosso adeus nesta Terra, nem tampouco algum medo de um fim que sei não é eterno, pois creio no encontro espiritual, possível e etéreo.
O que me deixa amargurada, na verdade, tem a interface da proposta de sua velha canção premiada, a idéia da "solidão" como uma premissa infame e constante na vida. Penso que podemos sentir saudades do que nunca aconteceu, do que cultivamos somente em sonhos, do que foi fantasia quando projetamos futuros incertos, das realidades que não alcançamos, e dos desejos que não realizamos.
Penso que estas saudades tão marcantes, refletem o vôo dos pássaros sobre os mares, das gaivotas que buscam os peixes para seu alimento.
Meu amigo e eu, ocasionalmente, baixávamos sobre a linha dágua e engolíamos os tais peixinhos, trocando olhares de satisfação e palavras de esperança, como tento encontrar agora, as mesmas palavras carregadas de emoção e agradecimento por ter podido conhecê-lo e ter dividido com ele tantas boas recordações, e ainda, receber esta herança sem preço... carregar comigo as saudades dele, pairando, voando, sobre meu coração solitário e sobre minha cabeça de "mulher mais inteligente que eu conheço" - era como ele se referia a mim, numa confissão quase infantil, tão sincera e tão inconsistente...
Como eu sempre rebatia...- se eu fosse mesmo tão inteligente assim, teria sabido preencher com mais alegria o coração daquele ser que me legou esta saudade estranha, que agora me invade, dando voltas ao meu redor, alada, voejante, insistente, que me faz chorar e rir ao mesmo tempo, que me confunde entre o sonho e a realidade.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
SENEGAL
Volto aos anos 60, a menina aluna do curso ginasial que tinha um trabalho de geografia para fazer. Devia escolher um país qualquer, do mundo inteiro. Escolhi, aos 12 anos, o Senegal. Nem me perguntem porque, eu não saberia explicar.
Na classe, foi um festival de apresentações sobre França, Portugal, Inglaterra, Itália, Estados Unidos e por aí... O professor e a turma se espantaram quando mostrei o pouco que meu pai conseguiu para que eu tivesse material, correndo consulados africanos e a pequena representação diplomática do Senegal.
Eu quis entender aquele continente, ou tentar entender... afinal, dele vieram tantos brasileiros afro-descendentes, de tribos que na América se tornaram escravas. Ali, não foi difícil perceber, havia e ainda há, muita riqueza mineral, e a colonização baseada na exploração dos mais fortes sobre os mais fracos, começava a diminuir naquela década, com a independência de alguns povos e a instabilidade civil que se traduziu em guerras cruentas nos anos seguintes.
Ontem, revi esse filme antigo, sobre a África e a vida de uma dinamarquesa que para lá foi nos anos 20, interpretada pela atriz Meryl Streep, contracenando com o ator Robert Redford.
Intitulado em português como "entre dois amores" , o enredo onde me situei pelo menos há vinte anos atrás, quando vi o mesmo filme pela primeira vez. A bela e selvagem África.
Sentindo o continente negro dentro da minha alma, mais uma vez, me reportei ao Senegal, ao Kenia, a Moçambique, a Angola, a Africa do Sul, passeei nas savanas, busquei o cheiro animal do selvagem encontro da vida com a procriação...
Pude me ver projetada em algum lugar mais hospitaleiro, talvez uma cabana perdida na imensidão do mundo, onde o pôr do sol seja de um encanto tamanho que me faça reencontrar o amor, o mesmo que levo dentro de mim, onde quer que eu vá...
Sei que a gente daquele Continente fica , permanece, no meu coração, como tantas permanecem, e transcendem o tempo, transcendem a história... tudo está certo, é parte de um contexto maior, na nossa história...
Mandela e o apartheid. A alegria de fênix, daquela gente explorada, apesar de tudo, sua lição de felicidade interior, ou da busca incessante de escolher como no filme, "entre muitos amores"...
Ou se ama a vida e se luta por ela, ou se entrega os pontos e se deixa explorar pelos desbravadores que lhes levam, ou tentam usurpar, a dignidade de serem os donos da terra, os habitantes originais de lugares ricos e lindos, que pertencem a uma raça chamada humana... afinal...
No filme, revisto e revivido, redescobri a África, e sei porque a tal Copa do Mundo tão colorida e vibrante, oscilou entre muitos amores, não apenas dois, mas nos milhares de amores que norteiam nacionalidade, guerra, poder, rivalidade, posse, hegemonia, multinacionalidade, exploração de minas , pedras preciosas, petróleo, num mundo ainda tão dividido, tão desigual, tão variado em camisas de times de futebol, hinos, bandeiras, apegado a fronteiras e disputas.
Salve a África! salve o Senegal, Angola , Moçambique, Nigéria, Marrocos, Egito, África do Sul, etc.etc...
Cida Torneros
Livro Contra-Ataque do Amor desvenda segredos e mistérios do universo feminino
Livro Contra-Ataque do Amor desvenda segredos e mistérios do universo feminino
Desvendar os segredos e mistérios do universo feminino, essa é a proposta do livro "Contra-Ataque do Amor", da jornalista e professora universitária Maria Aparecida Torneros. A coletânea de 30 contos e memórias é um verdadeiro tabuleiro de xadrez repleto de sentimentos, emoções, atos irracionais e suas consequências. Um guia para mulheres de todas as idades aprenderem a montar e desmontar todas as peças desse quebra-cabeça chamado amor.
Os instintos amorosos femininos dão o tom dos contos da escritora. A mulher necessária se torna presente nas histórias baseadas ou não em fatos reais na vida de Maria Aparecida Torneros retratando o complexo universo feminino. O livro é leitura obrigatória para os homens e mulheres que se amam. Nele, o leitor apresenderá sobre si, sobre o sexo oposto e como estar sempre disponível para o infalível xeque-mate.
Os instintos amorosos femininos dão o tom dos contos da escritora. A mulher necessária se torna presente nas histórias baseadas ou não em fatos reais na vida de Maria Aparecida Torneros retratando o complexo universo feminino. O livro é leitura obrigatória para os homens e mulheres que se amam. Nele, o leitor apresenderá sobre si, sobre o sexo oposto e como estar sempre disponível para o infalível xeque-mate.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Cida Torneros: “Buscando pares novos para velhos desejos de sermos felizes”…
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CRÔNICA
DETALHES
Maria Aparecida Torneros
Como profetizou o Rei Roberto, o tempo pode até transformar todo o amor em quase nada, mas um dia , muitos anos depois, você acorda e não é que lembra dele, por um detalhe, um movimento qualquer do dia-a-dia que faz com que sua lembrança volte, de repente, mesmo que o sentimento tenha se escafedido, o cara reaparece por uma frase que alguém disse, ressuscitado pela magia da memória que devolve o encanto por algum milésimo de segundo. E você se pergunta: onde ficou aquela criatura que me despertou a tal paixão avassaladora daqueles dias da minha mocidade?
Aliás, em tempos de tanto botox, tanta cirurgia plástica, tanta academia, haja “curves”, para conter o avanço da velhice sobre a juventude que se torna objeto de cultivo raro… por seu bom humor e inconsequencia, muito mais do que por sua contaminação de beleza, leveza, soltura de gestos, falta de dores musculares, ou coisa que o valha, pensemos, em contrição e com certa compaixão por nossa caminhada em mundo tão visual, onde parece até que ter peitos e coxas, bundas e faces, etc, etc, conservados em formol, daria a chave para abrir as portas do paraíso…
Como não se curvar diante daquele pequeno detalhe que alguém nos legou para florescer, exatamente, 20, 30, 40 anos depois, como se fora um feitiço virando contra o enfeitiçado? Aí, o som daquela voz antiga volta como num filme, o brilho de certo olhar insistente e pedinte ressurge das cinzas, o desenho de uma boca, de um nariz e até o contorno dos dedos dos pés podem oferecer registro póstumo para um amor que já morreu, uma daqueles transformado em “quase nada”, que, como diz a própria canção , o próprio “quase também é mais um detalhe…
Aí, melhor embarcar na sucessão de “quases”, deixar-se levar pela emoção revivida, anunciar ao velho coração que “tá tudo bem”, que pode se permitir reviver, rememorar, talvez o gosto de um velho beijo, quem sabe o calor de um abraço que virou nada, até a sensação da presença de alguém que a vida já levou para o outro lado, e a gargalhada, seu eco, sua marca, suas piadas, a luz da sua passagem em nossas vidas, pode ser de gente que está viva, nos deu momentos sublimes, e saiu por aí, casando e descasando, como todos nós, buscando pares novos para velhos desejos de sermos felizes…
E estar feliz é exatamente isso, é ter boas recordações, viver intensos encontros, continuar na luta em função de armazenar detalhes tão pequenos que um dia, ora, pode ser hoje e agora, nos tornam pessoas grandes, profundas, maduras, agradecidas por termos lembrancinhas de amores passados, pérolas de brilhos rejuvenescidos, tesouros interiores.
São tantass coisinhas miúdas, patrimônio nosso de cada dia, como o “pão nosso”, como o detalhe nosso, aquele que deixamos marcado em gente que nos ama ou já amou, nos recorda, e até nos reaparece numa manhã de terça-feira, como um presente que o correio deixou de entregar, levou anos na prateleira, e lá vem ele, exatamente no instante em que a gente descobre que estar vivo para reviver, é uma chance única, só nos resta agradecer…
Cida Torneros, jornalista e escritora, mora no Rio de Janeiro, onde edita o Blog da Mulher necessária
CRÔNICA
DETALHES
Maria Aparecida Torneros
Como profetizou o Rei Roberto, o tempo pode até transformar todo o amor em quase nada, mas um dia , muitos anos depois, você acorda e não é que lembra dele, por um detalhe, um movimento qualquer do dia-a-dia que faz com que sua lembrança volte, de repente, mesmo que o sentimento tenha se escafedido, o cara reaparece por uma frase que alguém disse, ressuscitado pela magia da memória que devolve o encanto por algum milésimo de segundo. E você se pergunta: onde ficou aquela criatura que me despertou a tal paixão avassaladora daqueles dias da minha mocidade?
Aliás, em tempos de tanto botox, tanta cirurgia plástica, tanta academia, haja “curves”, para conter o avanço da velhice sobre a juventude que se torna objeto de cultivo raro… por seu bom humor e inconsequencia, muito mais do que por sua contaminação de beleza, leveza, soltura de gestos, falta de dores musculares, ou coisa que o valha, pensemos, em contrição e com certa compaixão por nossa caminhada em mundo tão visual, onde parece até que ter peitos e coxas, bundas e faces, etc, etc, conservados em formol, daria a chave para abrir as portas do paraíso…
Como não se curvar diante daquele pequeno detalhe que alguém nos legou para florescer, exatamente, 20, 30, 40 anos depois, como se fora um feitiço virando contra o enfeitiçado? Aí, o som daquela voz antiga volta como num filme, o brilho de certo olhar insistente e pedinte ressurge das cinzas, o desenho de uma boca, de um nariz e até o contorno dos dedos dos pés podem oferecer registro póstumo para um amor que já morreu, uma daqueles transformado em “quase nada”, que, como diz a própria canção , o próprio “quase também é mais um detalhe…
Aí, melhor embarcar na sucessão de “quases”, deixar-se levar pela emoção revivida, anunciar ao velho coração que “tá tudo bem”, que pode se permitir reviver, rememorar, talvez o gosto de um velho beijo, quem sabe o calor de um abraço que virou nada, até a sensação da presença de alguém que a vida já levou para o outro lado, e a gargalhada, seu eco, sua marca, suas piadas, a luz da sua passagem em nossas vidas, pode ser de gente que está viva, nos deu momentos sublimes, e saiu por aí, casando e descasando, como todos nós, buscando pares novos para velhos desejos de sermos felizes…
E estar feliz é exatamente isso, é ter boas recordações, viver intensos encontros, continuar na luta em função de armazenar detalhes tão pequenos que um dia, ora, pode ser hoje e agora, nos tornam pessoas grandes, profundas, maduras, agradecidas por termos lembrancinhas de amores passados, pérolas de brilhos rejuvenescidos, tesouros interiores.
São tantass coisinhas miúdas, patrimônio nosso de cada dia, como o “pão nosso”, como o detalhe nosso, aquele que deixamos marcado em gente que nos ama ou já amou, nos recorda, e até nos reaparece numa manhã de terça-feira, como um presente que o correio deixou de entregar, levou anos na prateleira, e lá vem ele, exatamente no instante em que a gente descobre que estar vivo para reviver, é uma chance única, só nos resta agradecer…
Cida Torneros, jornalista e escritora, mora no Rio de Janeiro, onde edita o Blog da Mulher necessária
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
domingo, 14 de novembro de 2010
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Cartas de Paris ( reproduzido do blog do Noblat)
cartas de paris
Coisa de cinema
De repente a câmera abre a grande objetiva e a carruagem que traz Maria Antonieta se perde nos jardins de Versailles, com o monumental castelo ao fundo.
Ou então é Quasímodo, o corcunda de Notre Dame, então em primeiro plano, que faz um movimento de corpo deixando aparecer, ao fundo, as torres da igreja que lhe vale de sobrenome.
Mesmo quem nunca veio a Paris já a viu, muitas vezes, pela tela do cinema.
Seus prédios centenários já serviram tantas vezes de cenário que o Centro de Monumentos Nacionais da França inaugurou este mês na Conciergerie uma exposição dedicada exclusivamente ao casamento dos monumentos franceses com a sétima arte.
Com posteres, projeções e objetos selecionados de cenários e figurinos, a exposição faz uma retrospectiva (volumosa) dos monumentos franceses que serviram de inspiração e de cenário para filmes de todos os tipos, de todas as épocas.
Além dos prédios históricos que protagonizam filmes épicos – a Conciergerie em Danton, de 1983, o Arco do Triunfo, em Napoleão, de Sacha Guitry, o castelo de Versalhes no filme de Sofia Coppolla – a exposição revela também os diversos prédios e castelos que, anonimamente, emprestaram sua arquitetura para contextualizar enredos medievais.
É assim, por exemplo, que o visitante fica sabendo que foi nos estudos feitos pelo arquiteto Viollet-Le-Duc para a restauração de vários castelos franceses que se inspiraram os artistas dos estúdios Disney para desenhar os cenários de A Bela e a Fera, de 1991, ou ainda de Rapunzel, que será lançado este ano.
Os adoradores da sétima arte vão se divertir também com as anedotas de filmagem, que revelam a operação de guerra necessária para fazer caber todo o aparato cinematográficodentro de espaços projetados na Idade Média – com o cuidado de não permitir danos ao patrimônio.
A pena é que, como se trata apenas dos monumentos franceses, a exposição não abrange produções que pegaram emprestadas a paisagem parisiense banal: as ruas, os restaurantes, as pontes e margens do Sena – que são tão fotogênicos quanto os prédios históricos.
Morar em Paris é se habituar aos caminhões de filmagem espalhados em toda parte. No caminho de casa, a ponte de Bir-Hakeim quase nunca está livre de refletores, modelos, atores, produtores de todo tipo.
Ela ficou famosa pelo Último Tango em Paris, mas recentemente esteve nas telas de novo, numa das grandes produções do ano. Será que alguém aí adivinha qual?
Carolina Nogueira e jornalista e mora em Paris há três anos, de onde escreve o blog Le Croissant.
Coisa de cinema
De repente a câmera abre a grande objetiva e a carruagem que traz Maria Antonieta se perde nos jardins de Versailles, com o monumental castelo ao fundo.
Ou então é Quasímodo, o corcunda de Notre Dame, então em primeiro plano, que faz um movimento de corpo deixando aparecer, ao fundo, as torres da igreja que lhe vale de sobrenome.
Mesmo quem nunca veio a Paris já a viu, muitas vezes, pela tela do cinema.
Seus prédios centenários já serviram tantas vezes de cenário que o Centro de Monumentos Nacionais da França inaugurou este mês na Conciergerie uma exposição dedicada exclusivamente ao casamento dos monumentos franceses com a sétima arte.
Com posteres, projeções e objetos selecionados de cenários e figurinos, a exposição faz uma retrospectiva (volumosa) dos monumentos franceses que serviram de inspiração e de cenário para filmes de todos os tipos, de todas as épocas.
Além dos prédios históricos que protagonizam filmes épicos – a Conciergerie em Danton, de 1983, o Arco do Triunfo, em Napoleão, de Sacha Guitry, o castelo de Versalhes no filme de Sofia Coppolla – a exposição revela também os diversos prédios e castelos que, anonimamente, emprestaram sua arquitetura para contextualizar enredos medievais.
É assim, por exemplo, que o visitante fica sabendo que foi nos estudos feitos pelo arquiteto Viollet-Le-Duc para a restauração de vários castelos franceses que se inspiraram os artistas dos estúdios Disney para desenhar os cenários de A Bela e a Fera, de 1991, ou ainda de Rapunzel, que será lançado este ano.
Os adoradores da sétima arte vão se divertir também com as anedotas de filmagem, que revelam a operação de guerra necessária para fazer caber todo o aparato cinematográficodentro de espaços projetados na Idade Média – com o cuidado de não permitir danos ao patrimônio.
A pena é que, como se trata apenas dos monumentos franceses, a exposição não abrange produções que pegaram emprestadas a paisagem parisiense banal: as ruas, os restaurantes, as pontes e margens do Sena – que são tão fotogênicos quanto os prédios históricos.
Morar em Paris é se habituar aos caminhões de filmagem espalhados em toda parte. No caminho de casa, a ponte de Bir-Hakeim quase nunca está livre de refletores, modelos, atores, produtores de todo tipo.
Ela ficou famosa pelo Último Tango em Paris, mas recentemente esteve nas telas de novo, numa das grandes produções do ano. Será que alguém aí adivinha qual?
Carolina Nogueira e jornalista e mora em Paris há três anos, de onde escreve o blog Le Croissant.
O amor é uma armadilha
O amor é uma armadilha
Marie acordou pensativa naquela segunda-feira. Tinha lido um artigo dominical sobre a tese de um psiquiatra, Flavio Gikovate, especialista em relações amorosas, que fala da necessidade de saber ser feliz sozinho. Ela sempre pensou nisso, pois estava só, e feliz, há muitos anos. Sabia que o amor, preconizado como ainda romântico, tende a mudar de cara, nos tempos modernos. Marie lembrou de tantos momentos em que chegou a imaginar que pudesse existir amor verdadeiro entre um homem e uma mulher. Destacou um trecho da reportagem:
"O psiquiatra percebeu que a maior parte dos casais é formada por um generoso e um egoísta, numa confirmação do ditado que diz que opostos se atraem. Em seguida, embaralhou, a exemplo de Nietzsche, os juízos de valor contidos nessas duas categorias: “O egoísta não tolera frustrações, é mais estourado e procura sempre arrumar um jeito de levar vantagem, porque a vida dura não é parte de seu psiquismo. O generoso, por sua vez, não consegue dizer ?não? quando solicitado porque não sabe lidar com a culpa, sentindo-se envaidecido e superior por conseguir dar mais do que recebe”. Para superar essa armadilha em que “um reforça a pior parte da alma do outro”, diz Gikovate, é preciso ir além da generosidade. É a atitude do “justo”, cuja característica é dar e receber de maneira equilibrada. Ocupar-se de seus interesses sem se descuidar do outro. Ser compreensivo, sem passar a mão na cabeça de quem erra. Uma sutileza descrita na máxima de Nelson Rodrigues: “Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe”. Diante dos dilemas do amor moderno, em vez da ideia ultrapassada das “caras-metades”, Gikovate prefere a de “almas gêmeas”. Gêmeas bivitelinas, bem entendido. “Se tiver que optar entre o amor e a individualidade, fico com a individualidade.” Para esse entusiasmado defensor da independência entre os casais, no século 21, estar inteiro e feliz é uma condição anterior ao encontro amoroso.
Marie engendrou então sua armadilha e pegou o rato na ratoeira. Conseguiu se disfarçar para fazer seu namorado cair na sedução de um personagem que ela mesma criou. E se arrependeu. Mas já era tarde.
A doce e madura Marie conhecia bem os homens, pelo menos, vários lados deles, e os aceitava como eram. Não ia mudá-los mesmo, uma cultura milenar ocidental fez dos machos seres conquistadores, caçadores, infantis e enganosos. Como abrir mão dos seus pedidos de perdão quando pegos nos deslizes e traições? Foi assim que Marie começou a semana, lembrando que o amor é armadilha.
O mundo é palco de um jogo de encenação, os personagens andam soltos por aí, e os felizes, estes, como Marie, são criaturas que prezam seus sentimentos, correm atrás dos seus prejuízos, até caem de vez em quando nos alçapões da paixão, mas se levantam na preciosidade dos sonhos e dos perdões e seguem correndo em busca de dias e noites melhores, madrugadas afetuosas, manhãs de reencontros, abraços de aconchego e agradecimentos de doçura.
Marie tinha lados egoístas e um só lado generoso, concluiu. Era generosa consigo própria, e se dava chance de amar e ser amada, ainda que obedecendo regras culturais e sociais ultrapassadas, vivenciando compatível ciúmes da pessoa amada, mas, sem abrir mão jamais do seu amor próprio e do seu espaço individual.
Num piscar de olhos, ela se viu cercada por energia sólida, positiva, fez-se altiva, senhora de si, sabia que era pessoa inteira, com objetivos definidos, sabia-se racional, embora, e disso ela não escapou, ao sentir a dorzinha em seu coração ao perceber que poderia perder o sonho do amor, se não o perdoasse. Tal atitude lhe mostrou, de novo, que é preciso se emocionar com a vida, com as pessoas, com os fatos, e perceber que o amor, enquanto armadilha, prende e solta, num movimento infinito e inevitável de encontros e separações.
Marie entrou no táxi, e se viu pedindo que o motorista a levasse para bem longe, como se pudesse atravessar o oceano, como se cruzasse a ruas do seu bairro, em direção ao endereço onde a ilusão insiste em viver, bem ali, na beira do rio, ouvindo cantar os pássaros e vendo singrar os barcos mansos.
O coração de Marie, que pulava desde que ela se levantou, como se fosse explodir, então, repentinamente, se aquietou. A mulher compreendeu o quanto a vida a presenteava e fazia com que os amores novos floresçam a cada primavera. Marie parou de chorar, entendeu melhor a reportagem do psiquiatra. Ela seria sempre uma solitária feliz, capaz de amar alguém, mesmo que esse alguém não estivesse maduro. Talvez ela encarnasse no teatro da vida a tal generosa da história, e não a egoísta, como sempre achara que fosse.
Aparecida Torneros
Rio, 15 de junho de 2009
Quando recomeceil.Dezembro de 2010, boa lembrança!
Recomeçar... pegar a mão que posso apertar, sentir seus dedos entrelaçados aos meus e ouvir aquela respiração animal tão profunda, bem no pescoço com a cabeça aturdida pelo sentido de existir e sobreviver ao impulso do recomeço... é sempre um ato de coragem...recomeçar a crer que ainda é possível amar alguém de algum jeito novo, de uma forma inesperada, com uma disposição renovada, e até impregnada de grande surpresa. Amar alguém que seja eu mesma, através do outro, daquele que me abraça, que me volteia, que me anima, que me sorri na tarde chuvosa, que me fala de algum sonho meio louco que tenha tido comigo, ou mesmo que nem me diga quase nada, mas se expresse com a prece dos que se colocam tão próximos que nem precisem dizer coisa alguma...basta que respirem...basta que que existam, só é preciso que emitam a luz de um olhar amigo ou de um carinho amoroso...
Recomeçar é próprio para um final de ano assim, quando se põe na balança tudo o que se fez para o bem ou para o lado mais abaixo do estômago, quando alguma dor de paixão traída pode ter machucado um coração cansado...nada disso conta mais, cicatrizes são pequenas marcas depois de algum tempo e são praticamente uma antiga linha invisível quando a gente esquece os detalhes e põe no lugar da mágoa, um grande sorriso de recomeço...
Recomeçar é encontrar com o príncipe das marés, na esquina da vida, deitá-lo em lençóis brancos de cetim macio, afagar seu ego, dominar seu corpo, penetrar sua alma, aconchegar sua necessidade de ser amado, e deixar que corra solta a imaginação que cabe em todo o recomeço...
Feliz 2010, felizes dias e noites para que se reiniciem sonhos perdidos ao serem reencontrados, se façam viagens encantadoras pelas nuvens das paixões avassaladoras ou se empreendam caminhadas gratificantes pelas sendas da reconfortante paz interior de cada um de nós...
Recomeçar, assim, na afeição da palavra que atrai e do abraço que acalma. Do beijo que sela o reencontro, da carícia que ajeita o pensamento revolto, do desejo que se abate com a brandura tempestuosa da conquista advinda da calmaria depois que as marés atendem ao chamado do Príncipe...
Recomecemos pois, nessa passagem de década, a olhar os espelhos, é preciso coragem para nos vermos através deles, realmente como podemos ser, a partir de tantas transformações e de inúmeros recomeços. Façamos então o pacto do recomeço...recomecemos, sim, mas, bem juntinhos, afinal!
Cida Torneros
terça-feira, 9 de novembro de 2010
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