Maracanã

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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

De Mary Quant a Geisy Arruda, a longa história da mini-saia....


Surgida nos anos 60, em modelitos revolucionários, a mini saia chegou e fez morada nos corpos femininos e nos olhos apreciadores da desenvoltura que a modernidade conquistou para as damas capazes de usufruirem da sua liberdade de ser , vestir, falar e lutar, numa sociedade mista, multifacetada, onde raças, crenças, ideais e valores diversos e até conflitantes convivem ou tentam conviver, respeitando as tais diferenças.
A inglesa Mary Quant a concebeu, o mulherio aderiu, em décadas, o traje se incorporou ao guarda-roupa ocidental, em quase todos os lugares do mundo, e nos acostumamos a coexistir com o desfile das pernas de fora, sem que isso pudesse se constituir em tamanha agressão, uma vez que o preconceito, se houver,  está dentro de cada um e não tem o direito de ultrapassar o raio do olhar censurador ou do olhar agressor.
Pois foi assim que aconteceu com a estudante Geisy, brasileira, 20 anos, alvo de um episódio lamentável que aconteceu numa universidade, onde se imagina ou se espera que os estudantes ali estejam envolvidos com o futuro e o aprendizado, e não impregnados de passado repressor e práticas desrespeitosas, em grupo, em bloco, sem educação ou sem controle.
Uma jovem atacada por apedrejadores, como os de Maria Madalena, seria esse o exemplo bíblico mais contundente. Mas, se pedras não jogaram na Geisy, de fato, o desdobramento do fato foi de pior envergadura. A Universidade a expulsou em nome da moral e bons costumes e voltou atrás, em nome da lei que tinha sido ferida, evidentemente.
Tudo extremamente grosseiro, tudo muito xulo, verdadeira síndrome da Geni, a personagem da música do Chico Buarque,  aquela que uma cidade inteira condenava pelo comportamento dito vulgar. Mas, a quantas anda o nível de escolaridade dos alunos da Uniban? Supõe-se que deva ser altíssimo, de extrema pesquisa, de grande mérito educativo, com lauréis e prêmios,  talvez devesse mesmo era se colocar no "hanking" das instituições exemplares de ensino e aprimoramento profissionais. Não sei, não pesquisei, seria leviandade minha apontar como causa de tal embroglio o tipo de pensamento dominante ou permeável que ali se congrassa entre estudantes de professores.  Sob o ponto de vista da média universitária brasileira, tanto em torno de entidades públicas quanto privadas, temos uma masssa considerável de alunos e alunas cujo preparo deixa a desejar para o exercício da profissão,  ficando claro que grande percentual obtém o diploma e busca depois os cursos de pós para complementar falas básicas do seu trajeto estudantil.  
Talvez,  a aluna Geizy, que estuda turismo, esteja se sentindo como declarou, como uma vítima do sistema, e o é, sim, uma vez que há um hipócrita estado de coisas que encobre o grande buraco negro que é a educação no Brasil. 
Não importa muito se Mary Quant inventou uma roupa que liberte as mulheres dos preconceitos, que as faça sentir-se como desafiando os velhos e rígidos princípios de culto ao corpo, porque na verdade,  desde a malhação até os desfiles, desde as novelas até as performances dos shows, a profusão de pernas expostas não impede que se assimile os talentos das bailarinas, dos escritores, das recepcionistas, dos professores,  das jornalistas, ou de quem quer que as use ou as aprecie. O nó da questão está em outra esfera. Encontra-se na capacidade de se construir uma sociedade mais organizada no tocante ao respeito a leis, aos direitos básicos de ir e vir, na minimização de padrões castradores, e até na aceitação da mudança de hábitos, aliás, em mais de 40 anos, quem não se acostumou com a mini saia? Gostaria de ouvir a opinião da Mary Quant sobre esse episódio, ela acaba de completar 75 anos e afinal, por sua causa, as bainhas subiram mas os juízos nem sempre acompanharam esse movimento feminino.  
Cida Torneros                     





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