aqui tem música, poesia, reflexões, homenagens, lembranças, imagens, saudades, paixões, palavras,muitas palavras, e entre elas, tem cada um de vocês, junto comigo... Cida Torneros
Maracanã
domingo, 14 de junho de 2009
Avenue Montaigne ( o filme Um lugar na platéia)
Um Lugar na Platéia / Fauteuils d’Orchestre
De: Danièle Thompson, França, 2006 ( crítica do site 50 anos de filmes)
Delícia de filme, que virou cult imediatamente, primeiro no Rio, e depois também em São Paulo, apenas por causa da propaganda boca-a-boca. É, muito possivelmente, o filme francês mais inventivo, gostoso e simpático desde Amélie Poulain.
A diretora Danièle Thompson, nascida no Mônaco, em 1942, é autora também de Três Irmãs/La Bûche, de 1999, outro belo filme que vi na mesma época, com uma visão de mundo muito amarga e ao mesmo tempo carinhosa, suave e doce. Este filme aqui é a terceira parceria da diretora com seu filho Christopher Thompson, que também trabalha como ator; eles assinam juntos o roteiro - como já haviam feito em Três Irmãs e Fuso Horário do Amor/Décalage Horaire, de 2002.
E o roteiro é uma maravilha, um primor. Ele entrelaça diversas histórias, diversos personagens, três acontecimentos que estão para ocorrer num mesmo dia e no mesmo local, a Avenue Montaigne - um concerto, um leilão de obras de arte e a estréia de uma peça teatral. No meio disso tudo está uma garota recém chegada a Paris, Jessica, não Djéssica, é claro, mas Jessicá - interpretada com charme, graça e brilho por Cécile de France, essa gracinha de atriz da mesma geração de Audrey Tautou, de Amélie Poulin.
Jessica é órfã, foi criada pela avó (a veterana Suzanne Flon), e ouviu mil vezes a história que ela conta na abertura do filme, antes mesmo dos créditos iniciais: “Adoro jóias. Um belo dia fez as malas e fui para Paris. Como não tinha qualificação, acabei no Ritz, como atendente de banheiro. Eu sempre adorei o luxo. Como não tinha condições de viver no luxo, resolvi trabalhar no meio dele”.
Como a avó, Jessica chega a Paris sem qualificação, mas com muita sorte: logo arranja emprego como garçonete no Café des Theatres, na elegantérrima Avenue Montaigne, entre o Sena, diante da Pont de l’Alma, e a Champs-Elysées. Pelo pequeno restaurante, situado junto de um teatro, uma sala de concertos e uma casa de leilões, circularão nossos personagens.
A atriz Catherine Versen (Valérie Lemercier, excelente, ela também diretora de cinema) parece estar sempre à beira de um ataque de nervos; trabalha numa novela de TV, está nos ensaios finais para a estréia de uma peça, um clássico de Feydeau (1821-1873), e fará de tudo para conseguir um papel na nova produção de um diretor americano famoso, Brian Sobinski (interpretado por Sydney Pollack, esse diretor que adorava trabalhar como ator). O novo filme de Sobinski será sobre Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, e ele está neste momento em Paris, hospedado no Plaza, também ali na Avenue Montaigne, à procura da atriz que interpretará a grande escritora.
(Aliás, o título do filme nos Estados Unidos foi Avenue Montaigne. Em Portugal, foi O Lugar Ideal.)
O pianista Jean-François Lefort (Albert Dupontel, ótimo) também está ensaiando; dará dentro de poucos dias um concerto ali ao lado do teatro e do restaurante. Famoso, aclamado, paparicado, com todos os seis meses seguintes tomados por apresentações já marcadas por sua empresária e mulher Valentine (Laura Morante), ele está num momento de profunda crise: cansou-se daquilo tudo, das elegantes salas de concerto, da obrigação de usar smoking; quer viver a vida, livrar-se das turnês, talvez tocar para o povo, em apresentações gratuitas.
O milionário Jacques Grumberg (Claude Brasseur) também tem urgência em viver os meses ou semanas que lhe restam; viúvo, muito doente - doença que esconde de todos, em especial do filho, Frédéric (Christopher Thompson), com quem tem uma relação conturbada, problemática -, resolveu leiloar a riquíssima coleção de arte que acumulou ao longo da vida inteira, para gastar dinheiro sem culpas com a amante que tem metade de sua idade.
E ainda tem Claudie (interpretada por Dani, ótima, maravilhosa), que trabalhou durante décadas no meio artístico como arrumadeira, concièrge, faz-tudo, passou pelo Olympia, conheceu Gilbert Bécaud - de quem ouve velhas canções durante o tempo todo -, trabalha agora na sala de concertos e está prestes a se aposentar.
Jessica vai conhecer todos esses personagens, cujos caminhos se cruzarão diante dela.
Quando o filme termina, o espectador se sente mais leve, flutuando, a uns cinco centímetros do chão.
Um Lugar na Platéia/Fauteuils d’Orchestre
De Danièle Thompson, França, 2006.
Com Cécile De France, Suzanne Flon, Valérie Lemercier, Albert Dupontel, Claude Brasseur, Christopher Thompson, Sydney Pollack, Dani, Laura Morante
Música Nicola Piovani
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