aqui tem música, poesia, reflexões, homenagens, lembranças, imagens, saudades, paixões, palavras,muitas palavras, e entre elas, tem cada um de vocês, junto comigo... Cida Torneros
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Namorados públicos
Namorados públicos
Vinícius de Moraes
Da mesma forma que os monumentos históricos ou artísticos, as belezas naturais, os bailes e cafés, os parques e jardins - os casais de namorados são coisa que pertencem ao patrimônio de uma cidade. Uma cidade sem namorados públicos não é uma verdadeira cidade. Os cicerones de Paris costumam mostrá-los aos turistas, inteiramente despreocupados em suas ternuras, como típicas curiosidades locais. No Hyde Park, em Londres, é possível vê-los às centenas, sobre o gramado esmeralda desse parque inexcedível como se estivessem em casa. O transeunte margeia beijos intermináveis, abraços infinitos, olhares abissais, namorados que lêem romances, namorados que dormem, namorados que brigam, a um passo uns dos outros, perfeitamente indiferentes ao que lhes vai em torno, - e o que é formidável - guardados da curiosidade, ou malícia alheias, por um passante constable, cuja função é zelar pela perfeita consecução de seus carinhos, com uma imparticipação e fidelidade dignas de todos os aplausos. É claro que os namorados não abusam. Mas nessa questão de carinhos de superfície eles se permitem um uso inumerável. Estrafegam-se em beijos que fariam a inveja de John Gilbert ao tempo da sua paixão por Greta Garbo. Dão-se abraços de não se saber mais quem é o outro. Fazem-se cafunés maravilhosos, esfregam-se os narizes, acarinham-se os rostos, enfim: tudo isso que faz a deliciosa cozinha dos que se amam e que vem sendo a mesma desde os tempos mais recuados no tempo.
Ninguém pode dizer que o Rio não seja uma cidade de namorados: ela o é. Seria difícil, aliás, compreender-se uma cidade tão pródiga em beleza, sem namorados. Mas são namorados, meu Deus, ou tão ousados ou tão tímidos que parecem uma contrafação da natureza humana diante da Natureza. Grande culpada disso foi, até certo tempo, a nossa polícia de costumes, que arrolava todas as carícias de namorados dentro de um mesmo código moral, chegando até ao abuso de prender gente casada que saía para namorar fora de casa. Não. Há carícias e carícias. Que mal existe em se beijarem os namorados em praça pública ou nos cantos de rua? Em que uma coisa dessas ofende a moral? Por que não se poderão eles abraçar ternamente, quando tiverem vontade? Pois parece incrível: outro dia um amigo meu contou que foi "apitado" várias vezes por um guarda do Jardim Botânico, por estar dando um "peguinha" na namorada. De fato: é justo, mais do que justo, que se moralizem os costumes. Nada mais certo. Mas perseguir os namorados, da mesma forma que arrancar as plantas dos parques, ou maltratar os animais, é indício de mau caráter. Que os namorados se beijem à vontade nesta linda Rio de Janeiro. Nada há de mal no beijo dos namorados, como no amor dos pássaros. Deixai-os nos seus parques, nas suas ruas escuras, nos seus portões de casa. Deixai-os namorar, Senhor Prefeito, Senhor Diretor do Jardim Botânico, deixai-os namorar, porque eles têm cada dia menos lugares onde ir esconder seus anseios. Deixai-os se beijarem à vontade, porque o que em seus beijos irrita os burgueses moralizantes é justamente essa liberdade, essa beleza, essa poesia, esse vôo que há num beijo de amor. Tréguas aos namorados!
in Para viver um grande amor (crônicas e poemas)
in Poesia completa e prosa: "Para viver um grande amor"
A mãe do mestre ( crônica publicada no meu livro A mulher necessária)
A mãe do mestre
( meu filho me pediu que não mencione ou alardeie por aí que sou sua mãe...então, liguei para o editor, o livro estava no prelo, cheguei a pedir para excluir)
Mas, meu coração ficou pequeno, eu tinha escrito esta crônica em homenagem ao professor responsável e capaz que ele é, e também com muito orgulho de quanto é honesto e trabalhador.
Aí, fiz algumas modificações,pois o fato de tê-lo como filho já é uma grande sorte que tenho nesta vida, o resto, é torcer para que ele siga sendo muito feliz, sempre.
Quem é esse homem que passa sempre correndo, cheio de atividades, de uma inteligência apregoada pelos que convivem com ele, sendo chamado, carinhosamente, desde pequeno, de "cientista"?
Pra mim, até parece que ele ainda é um menino. Muitas vezes me lembro daquele guri alegre e curioso que me alegrava e continua alegrando os dias desde que nasceu.
Um ser estranhamente sintonizado com a natureza, assim, o meu gurizinho risonho, ao completar 9 anos me pediu de presente um microscópio, e dali pra cá, foi um tal de colecionar asas de borboleta, besouros coloridos, mosquinhas infelizes, baratas capturadas, para desespero das empregadas da casa.
Fui percebendo sua sede de saber e pesquisar a cada momento novo durante sua infância. Houve um dia, em que tive certeza do seu ateísmo, de cunho científico, quando li o texto adolescente que ele produzira sobre o pensamento de um cientista, seu compromisso com a verdade.
Poderia ter ficado muito preocupada, mas não fiquei. Apenas me preparei ainda mais para o que veio depois. Aprendi a conviver com a sua imagem no Fantástico, nos jornais como O Globo ou como o Diário do Vale do Rio Preto, nas revistas como Veja, e em programas de TV, como uma vez, no SBT, em que falou sobre a não existência de vida depois desta nossa.
Um pesquisador, um cientista, um estudante eterno da Física, um profissional da Ciência da Computação, um professor.
Coisa de mãe coruja, pode até parecer, mas é o que ouço o pessoal do seu convívio sempre repetir. Claro que me orgulho. Claro que torço todos os dias para que ele seja só feliz... Que continue descobrindo da vida os segredos das asas das borboletas, assim como a felicidade de amar e ser muito amado.
Como ele mesmo diz: a vida é uma só e é preciso fazer dela a melhor coisa, pois só temos essa chance. E sei que ele saberá preservar seu caminho de luta em busca dos seus ideais.
Rogo aos deuses (sou contaminada por este conceito) a bem-aventurança de protegê-lo, para que escreva seus livros de cunho científico .
Porque um filho como ele é, tão cheio de energia, me renova a crença numa humanidade mais justa, me faz reaprender a viver como ser humano sintonizada com os novos tempos. Esse homem que ele é hoje, o professor respeitado, o cientista solicitado, o mestre, assim chamado carinhosamente por seu bando de alunos e ex-alunos, dando-me a oportunidade de ressaltar o meu respeito por ele.
Mais ainda, um professor que me desperta a sede de aprender mais e mais, toda a vida.
Agora, descubro que a emoção do amor, definido por ele pra mim um dia, como "sentimento necessário para a perpetuação da espécie", perpetua, em mim, a razão de ser feliz, por ser sua mãe, eternamente.
Dentre as suas expressões mais marcantes, lembro de uma, eu em Brasília, trabalhando, liguei pra casa no Rio, ele devia ter uns 8 anos, perguntei se estava tudo bem, ele me descreveu seu dia, as coisas que fizera, e antes de desligar, me bombardeou com ares de cobrança: - Mãe, posso te perguntar uma coisa? Por que você não é só minha mãe e mais nada?
Senti a culpa da mãe moderna, da jornalista viajante que o deixava na casa da avó e nas escolas, tantos cursos, que só dividia com ele, as noites e parte das férias em passeios inesquecíveis por lugares de alegria. Naquele momento, eu ainda não tinha a resposta.
Agora, tenho: porque sou a mãe do mestre, e, para um mestre, uma mãe é sempre muito pequena... se é apenas sua mãe...tem que ser múltipla, e isso é o que tento ser todos os dias, confiando no seu discernimento e aprendendo com ele sobre o sentimento mais puro de repassar conhecimentos e incentivar pessoas a crescerem em suas vidas.
Um verdadeiro mestre se sente honrado quando um discípulo atinge objetivos subindo na escala social, a partir da semente que ele planta. E isso, vejo que o meu filho faz com grandeza de espírito e caráter altruísta. Mesmo assim, peço desculpas pela imodéstia, característica defeituosa da mãe do mestre.
Maria Aparecida Torneros
quarta-feira, 29 de abril de 2009
terça-feira, 28 de abril de 2009
Suas orelhas ainda queimam!
Suas orelhas ainda queimam
por Maria Aparecida Torneros da Silva
Publicada em 04/05/2005
Um dia, ela pensou que, na velhice, iria descansar de tanta luta. Tinha tido, durante toda a vida, muita lida, com a dureza do dia a dia, os serviços de casa, a cozinha, as crianças crescendo, o marido reclamativo, a louça se acumulando na pia.
Bem, por que lembrar disso agora, passados tantos anos? Tudo tinha ficado para trás. Os filhos já são quase avós agora, com sua prole em torno dos 20 anos, menos o temporão, o Tavinho, seu netinho mais encantador.
Como ela poderia imaginar que veria seus próprios netos na mocidade, tentando entender seus comportamentos incrivelmente estranhos para os conceitos de vida que ela aprendera a valorizar? Ela tenta se adaptar aos novos tempos e procura não ser uma avó desagradável, com incompreensões.
Clarinha, por exemplo, sua netinha de 15, está infestada de peircings. Pelas orelhas, nariz, língua, umbigo, e , só Deus sabe, onde mais.
O Bruno, um rapaz de aparência forte e dentes lindos, enfeitou-se com tatuagem no braço, como aqueles antigos marinheiros, e sapecou uma robusta serpente de língua comprida pronta para o bote.
Mas, a doce Luana, essa sim, lembra as meninas do passado, tem olhos tranqüilos e gestos calmos. Toca piano, é plácida, romântica e só tem 12 anos. Talvez mude, e disso ela tem medo. Como proteger a frágil menina do mundo agressivo que tem pela frente?
Hoje, morando sozinha, ela, com seus 70, se acha vigorosa ainda. Tem fôlego para ouvir os filhos, tantas queixas e lamúrias. São os telefonemas noturnos, quando eles se lamentam e ela ouve, consola, tenta fazê-los sorrir um pouco. Dá força e convida sempre, filhos e netos para comerem seu bolo de chocolate. Não há tristeza deles que ela não cure com a sua especialidade coberta de calda. Seu maior prazer é ver quando eles vão se acalmando, enquanto saboreiam a gulodice saciando de doçura seus corações inquietos.
Também, nas manhãs de sol, ela caminha para desenferrujar as juntas e aproveita o tempo para rezar por filhos e netos. Ora com freqüência e com saudades, pela alma do marido "reclamão". Se ainda o tivesse por perto, teria, pelo menos, um ombro amigo, na calada da noite, para recostar, quando as orelhas estivessem quentes.
Um dia, ela tinha sonhado com isso, reuniria toda a família em torno de um grande bolo de chocolate para o seu "bota-fora". Era chegada a hora da viagem dos seus sonhos: ia à Grécia, depois de economizar a vida inteira.
Finalmente esse dia chegou. Luzia está bonita, produzida, os cabelos alinhados em coque, o terninho bem cortado a transforma em senhora elegante. Prepara-se para a tal viagem. O bolo foi providenciado pelo telefone. Permitiu-se encomendar a goluseima e dispensar-se do forno desta vez.
Os preparativos foram tantos, os filhos e netos se sucederam na fila das encomendas, das recomendações, dos pedidos. Ela iria de táxi, combinou com todos que não queria ninguém no aeroporto. Seu grito de liberdade. Uma mulher vivida e sozinha que parte para a viagem sonhada. Muitos beijos, abraços, promessas de telefonemas, Luzia seca as lágrimas e parte.
Horas mais tarde, a bordo do avião, com a cabeça recostada, tentando acomodar-se à nova realidade, suas orelhas ainda queimam.
Tavinho, o neto caçula, não pediu nada, nem um brinquedinho, mas encostou sua boquinha melada de menino de três anos bem no ouvido direito da avó e disse assim, em tom pedinte e choroso:
- Vó, o bolo de chocolate que você me deu agora tá muito ruim Tudo bem ,eu entendo, você tava com pressa de viajar, não é? Volta logo dessa tal de "Gréchia" e aprende de novo a fazer aquele bolo que eu adoro!
Aparecida Torneros
Os "fenômenos" sob a luz da teoria ( Observatório da Imprensa)
MÍDIA & SÍMBOLOS
Os "fenômenos" sob a luz da teoria
Por Aparecida Torneros em 28/4/2009 ( Jornalista-RJ)
Já nos idos dos anos 1970, quando nos debruçávamos sobre os textos dos teóricos precursores da teoria da informação e da comunicação, como Saussure, Chomsky, Charles Sanders Peirce, Abraham Moles, Umberto Eco, Roland Barthes ou McLuhan, tanto durante o curso de graduação em Comunicação/Jornalismo (UFF), como na pós, aspirando o mestrado em Sistemas de Significação (UFRJ), um inquieto estado de intangibilidade fluida, entre o postulado teórico e a prática industrial que representa da cultura de massas, foi sempre o fator mais questionável entre professores, alunos, orientadores, graduandos e pós-graduandos.
Sempre foi e será difícil tentar explicar por vias matemáticas e lógicas a montanha russa da formação dos tais mitos "vendáveis" como produtos ditos mercantilizados na fome a ser saciada pelos diversos públicos das diversas mídias, e o que é possível se resume, quase sempre, à constatação óbvia de que há uma via de mão dupla, entre sociedade e notícias, explicada muito bem num texto-conferência do publicitário Rafael Sampaio, do qual destaco o seguinte trecho:
"O século 19 foi dominado pelo conceito dos enciclopedistas. Toda a cultura, a universidade, como a conhecemos hoje, ainda é extremamente dependente dessa cultura enciclopédica: `Sim, eu tenho toda a informação e vou conceder o favor de passar isso adiante.´ Isso foi uma tremenda evolução na história da humanidade. O grande problema é que ela tende a um certo assexuamento, ou seja, ela não produz informação, não gera conhecimento pela quantidade de informações que se recolhe, porque a conectividade entre as informações que estão na enciclopédia é baixa. E só há produção de conhecimento quando há conectividade, quando existe até mesmo conflito entre idéias diferentes, entre conceitos diferentes, aplicáveis a ramos diferentes.
Receptividade constatada
No caso da sociedade de comunicação de massas, qual foi a grande cultura? A cultura pop. Num certo sentido, houve um empobrecimento da cultura, porque a cultura fica mais esquemática. Pega-se uma ópera para transformá-la num musical. Pega-se uma ária que precisa de artistas com 20 anos de formação, às vezes, para poder cantá-la bem, que demanda um ambiente todo sofisticado como cenário, e transforma-se isso numa música popular, numa música country, numa música caipira daqui. Então, o que se faz?
Na comunicação de massas, em benefício de se falar com mais pessoas, em benefício de se ter uma mercadoria, em benefício da democratização, da amplificação, abre-se mão de qualidades artísticas, abre-se mão da profundidade porque não tem outro jeito. Inclusive porque não dá mais para qualquer um de nós saber tudo que acontece no mundo. Não conseguiremos jamais, nenhum ser humano poderá apreender tudo que existe sobre todas as áreas porque o volume de conhecimento é tão grande que é impossível adquiri-lo e trabalhar sobre ele."
Com base em parte de uma conferência do publicitário Rafael Sampaio, voltemos a falar dos "fenômenos" que a mídia, ou melhor, as várias mídias, sustentam, aos nossos olhos atentos, por razões de receptividade constatada, evidentemente.
Um oceano de idéias
Não seria plausível considerar que o noticiário voltasse seus holofotes para figuras nacionais ou internacionais, num mix interativo que reúne "olimpianos" (conceito de Edgard Morin) como Madonna, Maradona, Lula, Zé Dirceu, Ronaldo, jogador do Corinthians, Lady Diana, Dilma Rousseff, Hillary Clinton, Barack Obama ou John Kennedy, não importando se estão entre os vivos ou mortos.
Na medida em que voltam às primeiras páginas e são alvo de manchetes, permanecem fontes intensas de informação decodificada, são a representatividade efetiva da cadeia que une interesses sólidos de consumidores por um produto chamado "ser humano", tanto quanto se busca as marcas de automóveis, geladeiras, os roteiros turísticos ou as indicações de best sellers.
Os lados obscuros e ocultos da vida dessas criaturas que se tornam "fenômenos" cultuados pelas mídias atuais revelam e vão de encontro ao grande interesse do público em geral e nem adianta questionar a quem interessa tal jogo em torno da manutenção dos seus nomes no noticiário, como se fora uma orquestração que venha de cima, pura e simplesmente.
A coisa ocorre com muito mais sutileza e tem profundidade científica, para os teóricos da cultura de massas, que ora se engajam no entendimento da pós-modernidade e na cultura cibernética, esta sim, nova faceta de um leque de possibilidades ainda a ser assimilado por trazer a questão da instantaneidade, on line, para o diálogo direto entre emissores e receptores, o que cria um imenso oceano de idéias a serem trocadas e difundidas na velocidade, espaço e tempo nunca antes imaginados.
Assunto voltará como conteúdo esmiuçado
Se a massificação impõe nomes e fatos, alguns por longo tempo, sobre nossas cabeças e ouvidos, é porque ela obtém resultados para os seus propósitos, sejam comerciais ou institucionais, sejam baseados em campanhas publicitárias ou políticas, sejam em função de propostas duvidosas que objetivam denegrir ou mesmo formatar imagens de determinados expoentes da vida política, artística, esportiva ou religiosa, e muitas mais.
Em casos específicos, como os citados em artigo recente no Observatório da Imprensa, referindo-se ao jogador de futebol Ronaldo e ao político, ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, é pertinente observar que há conteúdos variados que despertam interesse em quem divulga e por parte de quem consome tal noticiário, daí que seus nomes permanecem na linha de frente, e seria infantil e inútil, sob o ponto de vista teórico, indagar-se um motivo para que isso se suceda. Já que há em cada história humana, ao ser trabalhada pelas diversas mídias, em termos de cultura industrializada da informação, um elemento básico, direto, objetivo, isto é, o assunto "vende", atrai, suscita desdobramentos.
A entrevista concedida pela ministra Dilma, potencial candidata ao cargo de presidente da República em 2010, para divulgar o surgimento de uma doença grave que a obrigará a um tratamento quimioterápico, confirma o suporte teórico para a repercussão do fato e, certamente, durante longos meses ou até anos, o assunto voltará como conteúdo esmiuçado ao vaivém da mídia, sedenta por detalhes de toda ordem.
Elementos para pensar e refletir
Muitas vezes, com certeza, este ir e vir constante de exposição midiática deve incomodar muito mais a eles próprios, ao se verem manipulados em suas vidas pessoais por tanto bombardeio noticioso, do que à massa ávida de ler, ouvir e acompanhar fatos e informações que também podem ser especulações, ilações e até mesmo, com raridade, mentiras ou notícias plantadas, como costumamos dizer nas redações, ao analisarmos as inúmeras notas mal intencionadas, que, ao fim e ao cabo, também fazem parte das jogadas praticadas pelo "fenômeno mídia".
Mas, fiquemos e nos restrinjamos ao fato de que há ainda gente séria a editar nossos jornais, revistas, telejornais e rádio reportagens, sendo possível filtrar, através da experiência e com a devida atenção, o percentual de boa ou má intenção que o poder das mídias modernas dispõe para conduzir e formar opinião pública, descontando-se, todavia, que o imponderável e o incontrolável, ainda são, infelizmente, ingredientes falhos a serviço da prática.
Isto confirma a teoria, nos alertando para a responsabilidade que representa entrevistar, escrever ou especular sobre alguém ou sobre algum fato, eximindo-se do critério opinativo personalizado o melhor que se consiga, para oferecer elementos suficientes e deixar que os públicos pensem, reflitam , aprofundem conclusões, aperfeiçoando o processo democrático que a cultura de massas bem poderia e pode ensejar.
Solteirice explícita...
Solteirice explícita...
Ambos estavam solteiros. Depois de seus casamentos longos, filhos criados, namoros intensos e alguns recomeços, falaram sobre o tema da solteirice explícita. Lugar comum para cinquentões libertos de tantas amarras anteriores. Decisões personalistas, escolhas resolvidas entre mil e uma possibilidades, a opção de sairem sozinhos aos lugares públicos, desfrutando de si mesmos, da própria companhia, tanto nas salas de cinema como nas mesas dos restaurantes.
Tinham, finalmente até, o direito de recusar parceiros que não lhes interessavam, preferindo a solidão reflexiva e pródiga de maturidade conquistada.
Estavam solteiros, mas não tinham assinado nenhum documento que os obrigasse a permanecer nesse estado de intenso livre arbítrio, entremeado da inconsciente busca de alguém que os motivasse a voltar a amar.
Se bem que sempre se reconheciam amando a vida, a si mesmos, suas famílias, tantos amigos e amigas. Esse tipo de amor lhes inundava os dias. Mas o amor de casal acasalado, amor de busca entre macho e fêmea, lhes sufocava as madrugadas.
Sabiam o quanto era difícil garimpar alguém que lhes encaixasse em desejos, hábitos e expectativas de vida. Confidenciaram-se. Aliás, o tempo, nos dois últimos anos de constantes encontros profissionais, lhes fora favorável, lhes oferecendo uma dose respeitável de confiança mútua e amizade crescente.
Seus abraços eram tão carinhosos quanto aconchegantes.
Suas confissões eram desmascaradas, e, de tão sinceras, remetiam a capítulos de novela romântica ou trágica, dependendo do humor em suas sessões semanais.
Os olhos se encontraram depois de dois meses afastados. Havia satisfação e segurança na troca desse olhar questionador que os tornava caçador e caça, faces opostas de uma mesma moeda, como signos cuja dualidade é a fonte do seu status sólido.
Como um mágico que tira um coelho branquinho da cartola, ele a surpreendeu com jeito de pedinte do amor. Ela, por sua vez, mudou o foco e o viu, pela primeira vez como um homem, apenas como um homem, não mais como um amigo profissional com quem se reunia todas as semanas.
Então, num gesto impensado e impulsivo, ele segurou as mãos dela, juntas, de uma só vez, a uma distância menor que um metro, puxando-a para aconchegar-se no seu peito.
Ela fechou os olhos. Deixou-se levar pelo sentimento pleno. Era só isso. O carinho do homem solitário, lhe oferecendo segurança emocional e vontade de ficar ali pelo resto da vida.
Mas, em seguida, meio envergonhados, despediram-se.
Marcharam em busca de alguns sonhos realizáveis. Viagens, escrita de livros, camaradagem humana, e um ponto contou a seu favor para que se tornassem um novo casal de namorados.
Ele , o psicanalista, ela, a paciente, ambos, solteiros, cinquentões, com filhos criados, sede de viver um novo amor, talvez até um novo casamento.
Quando chegou em casa, ela pensou em agradecer a ele pela sessão que acabava de ter com ele. Esclarecedora, cada palavra dita por ele, soara como um libelo para o caminho dela, que o achava sem rumo, sentindo-se perdida como uma vaca solta num imenso pasto.
Compreendeu então que estava livre para escolher que espécie de capim devia comer, onde devia se proteger do verão intenso e talvez pular alguma cerca que ainda a separava da vida lá fora.
Agradeceu a ele, via recado no celular. Ainda assim, esperou por ele por muitas noites e orou por ele, nas manhãs ensolaradas e nos dias nublados.
Ambos estavam solteiros, continuaram a cruzar seus olhares, perdoaram seus arrepios constantes, expuseram-se então, e num dia de sábado, ele a convidou para jantar.
Fundiram-se em um único olhar durante todo o encontro. Ainda permaneceram solteiros distanciados por um bom período. Suficiente foi esse tempo que se permitiram, para refletir sobre o que sentiam e o que esperavam um do outro. Resumiram numa palavra pequena, gasta, corriqueira, mas plena de significados. Amor... essa palavra pôs fim ao seu longo tempo de solteiros, e dali em diante, passaram a ter duas casas, duas camas, dois endereços, duas chances individuais de replantar seu jardim e colher flores para enfeitar seus domicílios. A partir desse dia, buscaram estar juntos, sempre que fosse possível, necessário e prazeroso. E abandonaram o estado "civil"izado, em cerimônia íntima e simbólica, concorrida por familiares e amigos.
A partir de então seriam solteiros aconchegados e próximos. Continuaram a morar em suas casas anteriores e a preservar a tal intimidade tão violada nos dias de hoje. Assim, seriam eternamente visitas na casa um do outro, e brindariam para sempre, juntos, o tal Valentine's Day, a cada fevereiro, numa promessa gratificante, enquanto pudessem ficar assim, solteiros, amigos, amantes, presentes, carinhosos e saudosos um do outro, explicitando um novo modus vivendi, entre os novos solteiros do século XXI. Se realmente viriam a contrair matrimônio, nem eles mesmos sabiam responder. Apenas tinham uma certeza, sua solteirice era compartilhada entre si, e seus sentimentos os entrelaçavam em rituais de carinho e sensualidade, com salutar distância das suas intimidades. Tinham encontrado um modo de viver que os agradava, e seu amor era tão real quanto suas almas podiam alcançar, pois se descobriram felizes e se amando verdadeiramente. Mesmo assim, preferiram continuar solteiros, inteiros, parceiros, amigos, amantes e admiradores um do outro pelo resto de suas vidas. Seriam como dois pássaros a voarem para se bicarem e beijarem todas as vezes que necessitassem um do outro.
Aparecida Torneros
A equação da vida
A equação da vida
Maria Aparecida Torneros da Silva
Ela ainda não encontrara o grande amor da sua vida... parecia ter certeza disso, pois os homens se sucediam com seus defeitos e qualidades, ora entusiasmando-a, ora decepcionando-a . Bem, provavelmente, ela tinha provocado neles as mesmas reações, pois, lembrava, muitas vezes do seu semblante questionador e perplexo diante das histórias de paixão e abandono que lhe relatara. Tiveram momentos de profunda sintonia, mas, como tudo na vida passa, aqueles instantes se perderam no passado, acrescidos de imagens embaçadas e saudades anestesiadas. Certa vez, cruzaram-se, por acaso num aeroporto. O destino se encarregou de fazer com que as pedras do jogo de xadrez se esbarrassem em dado segundo, para surpresa de ambos. Mantiveram a lucidez, portaram-se civilizadamente, com educados cumprimentos , apertos de mãos, olhares inquisidores sobre sorrisos de emoção contida. Havia tempo para um cafezinho no balcão, e aquele seria um encontro ímpar em suas vidas, tal e qual era única cada lembrança que traziam de tempos distantes, quando se amaram com intensa paixão. Enquanto saborearam o café com gosto de saudade desvanecida, um e outro se alternou em frases ainda desconexas. Não conseguiram manter um diálogo coerente, confundiram-se atordoados pelo desejo de saldar uma dívida de olhares que se deviam há tantos anos. Olhando-se nos olhos, ele e ela evitaram deixar que a hipnose os retivesse para sempre um dentro do outro. Despediram-se, também com civilidade. Afastaram-se com aparente desejo de se evaporar cada um no seu próprio éter, tentando solucionar a equação da vida. Ela pensou: um amor que não deu certo, ele nunca foi meu de verdade. Ele concluiu: um amor que podia ter dado certo, ela nunca soube me compreender. Acho que até hoje não sabe o quanto a amei.
Que diferença faz um dia?
Que diferença faz um dia?
Que diferença faz um dia se não é possível ver a sombra de seus olhos na penumbra da tarde? Seria o sonho antigo a repassar a história da vida que pulsa no rascunho do tempo, enquanto o mundo gira e a lua renasce em algum céu de qualquer continente perdido na história dos que não se esquecem do amor... Talvez nem tanto...Quem sabe apenas se deva saldar o sol dos caminhos dos viajantes ao passo que há esperanças na marcha dos que levam seus pés à frente em busca do horizonte reencontrado...Um lugar para descansar os ossos, um fim de tarde à beira do lago enquanto um coração bate emocionado vislumbrando sentimentos de aconhego...desde o nascer do dia até o cair da noite, à espreita de uma possível reconciliação com a ternura perdida, faz da alma curiosa o próprio gotejar das lágrimas cuja maior emoção é o reencontro...não há pesadelo se é possível abraçar o eterno sabor do alcançável reconhecimento de sentidos através da existência dos elos refeitos...
Que diferença faz um dia se é compreensível a doçura dos seus lábios nunca esquecidos a sorrir do vento e gargalhar das brincadeiras infantis que propiciam fugidias passagens nos níveis sensoriais a zombar das artimanhas de ciclos temporais ultrapassados? Nem se pode falar em saudade quando o amor permanece presente e vivo além do universo conhecido. Nem se deve duvidar da força que emana do divino e mítico sonho do amor eterno. Um dia , um momento, um segundo, nada é maior ou menor que a profundeza do carinho experimentado através do espírito pacificado pela serenidade plena que desvenda o mistério do tempo infinito.
Faz diferença somente para os que não crêem ou sentem o quanto é imenso o universo espetacular dos planos que ultrapassam o sentido das peles e dos olhos. Há um outro lugar para se ofertar e receber a grandeza do infindável ser vivente. O maior e melhor estará sempre por vir, e nada é mais maravilhoso que sentir além da vida, o quanto a vida é um prêmio e seu trajeto um atalho para eternos êxtases de amor...
Aparecida Torneros
O silêncio da mulher que se foi
O silêncio da mulher que se foi
A mulher que morava na minha casa tinha alegria, ela sorria ... Eu gostava da sua gargalhada sonora porque me induzia a acreditar que era mesmo feliz... Ela até dançava enquanto arrumava os pertences dispersos, tantos lenços coloridos, brincos de alegorias fulgurantes, anéis de pedras faiscantes e colares tao compridos... Aquela mulher fazia um barulho estranho quando suas saias roçavam pelas pernas... dava uma reaçao meio nervosa em mim... como quando se roça um fio de lâmina, e repercute nos dentes um estado indefinido ... A menina que vivia dentro dela, essa entao, era mais doidinha, pulava como cabrita, bailava a salsa, a rumba e o merengue, perdia o controle dos quadrizinhos que rodopiavam como mola adestrada, e da cintura eu podia ver um zigue-zague digno de tomada de desenho de Walt Disney... Mas a mulher que morava na minha emoçao, ela se foi... um dia... e nem me preparou... quando percebi, lá ia a pobre, já bem longe, a passos largos, corria mesmo... parecia fugir de mim, da minha morada... carregou a felicidade com ela, a ingrata, roubou-me a sensualidade dos gestos, deixou-me a língua sem gosto e os braços sem atitude de afeto... Ainda vociferei um grito enorme, chamei seu nome, bradei : Volte minha Alma de Fada Feliz, volte pra mim! Berrei: não me abandone assim, criatura, que nao saberei viver sem as ilusões dos momentos de deliciosas loucuras e festas que me induziste a viver... Ela sequer respondeu, apressou a caminhada, nem me ligou, estava mesmo dissociada da minha morada, nãao mais habitaria meu lugar, abrindo mão de ser uma bruxinha encantadora... Resolvi silenciar e nunca mais chamar por ela... meu silêncio ( junto ao dela ) é mesmo um adeus ao passado que apenas representou tentativas... Ela tentou me apresentar um plano irreal onde os duendes cantam enquanto os seres humanos fazem amor... nesses poucos dias, sob feitiço dos brabos, meu corpo confundiu-se em gozos absurdos, maravilhosos... ela partiu carregando o dom de me fazer parar o tempo... Nao me falem mais dessa mulher, ela se foi pra sempre.. e só me dói saber que tenho dela ainda um dos lenços coloridos, o vermelho de rosas estampadas, com o qual cubro meu rosto para que ninguém leia nos meus olhos minha inquietante sede de amor...
Aparecida Torneros
A lógica do acaso
A lógica do acaso
"busco simplesmente viver aceitando o acaso como o grande formador de toda história" A lógica do acaso Deve ter sido mesmo por acaso que Manoelita percebeu certo sentido de enveredar pelo corpo dele, como um bólido de amor, um fogo fátuo, um cometa gasoso, buscando o beijo e o cheiro. Casualmente, ele chegou voando na vida dela. Vinha de um tempo longínquo, um extra-terrestre, talvez, ela refletiu, seria um espírito brincalhão tomando formas de parceiro disponível? Fato é que se encontraram. Se perderam...Tornaram a se ver. Aí, um carinho especial aconteceu entre eles. Havia certa cumplicidade a dizer:- não me prenda, mas também não me solte... coisa esquisita, passível de confundir qualquer cabeça pensante...mas, ela e ele souberam logo que tudo era um acaso, e não deviam complicar nada... De repente, um olhar para o alto, lá estava Manoelita, na sacada antiga, como uma donzela de filme romântico, a acenar para ele, que seguia ... adentrando num carro, dando até logo... Voltaria? Ela não soube responder... Afinal, deixariam com o acaso..teriam ou não um caso? Por via das dúvidas, ela buscou qualquer coisa pra fazer, pegou a agulha de crochê, teceu pontos de trancinha... danou a fazer laços desenhando arabescos, desenhando flores onde antes só havia linha. Mãos ágeis, pensamento solto, ela foi se acalmando. Por acaso, nas ruas, milhares de pessoas caminhavam se cruzando sem nunca se terem visto de verdade. Achá-lo, já tinha sido um grande acaso... Perdê-lo, entretanto, concluiu, dando um nó na renda que crescia em suas mãos, seria, agora, um grande azar... Voltou-se para si mesma, não ia complicar as coisas, afinal, não eram nada um do outro...parecia que fugiam mesmo do que se podia chamar de laços fortes... Pegou de novo o artesanato.....Puxou a linha verde como a esperança das florestas...Desmanchou ...Precisava tecer com menos aperto... Pontos largos, respirantes, soltos... Duas teimosas lágrimas insistiram em brotar no canto dos olhos maduros... Queria mesmo que ele, qualquer hora dessas, voltasse aos seus beijos e abraços... Aí, chorou copiosamente, mas não de tristeza...era emoção pura... Ele estava tão dentro dela ainda...a voz dele era tão evidente nos seus ouvidos... ecoava, reverberando a ternura com que a presenteara horas antes... Já não importava muito se voltasse... agora...o que contava, no fundo, era o mistério do acaso no mundo... Ela se deixou adormecer no sofá onde ele a beijara tanto. Dormiu profundamente. Entregou os pontos...Aceitou a lógica do acaso...Por acaso, sonhou com ele...
Aparecida Torneros
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Um novo amor...
Um novo Amor...
Eles nem se conheciam até pouco tempo... Talvez tivessem cruzado alguma vez, em lugar incerto. Como podiam não ter visto um ao outro, antes? Na memória, de ambos, pairava a sensação enevoada de que já teriam se falado, ou será que isso acontecera nos seus sonhos? Eles se atraíram repentinamente, como coisa que surgiu do nada, e lá estão suas mãozinhas se entrelaçando pelo caminho. Coça daqui, beija dali, olha bem no fundo dos olhinhos, sorri à-toa, o casal de pombinhos se mostra sob o encanto. Eles se desejam a cada momento novo. Parece arte de feiticeira do além. Juntou os dois como se junta pedras de um jogo, andam se abraçando para prolongar o efeito do calor delicioso que seus corpos emanam. Nada quebra a magia das suas falas recheadas de ternura, quando se tratam por apelidos carinhosos, e sussurram frases nos ouvidos atentos. Quando adormecem, grudam as peles, enroscam as pernas, beijam estalando os lábios cada pedacinho, lambendo o gosto um do outro. Quando acordam, constatam que ainda estão colados, respiração soprada no pequeno espaço que se abre entre suas presenças. Estas, confundidas entre os lençóis, se aconchegam na querência de não mais se afastarem um do outro, dizem baixinho, nunca, jamais. Então, se ao menor despontar do medo absurdo de se perderem, detectam a efemeridade sempre ameaçadora que se instaura nos corações apaixonados, perseguem a razão que os conforta com a certeza de que esse novo amor, finalmente, é o eterno. Prometem voltar. Juram esperar-se um ao outro, todos os dias, enquanto puderem viver. Nos seus semblantes, denunciam o brilho da paixão sem motivo certo, como também deixam entrever a luz do encontro resplandescente. Estão em estado de graça. Isso custa muito mais que uma simples explicação científica, muito mais ainda que uma compensação emocional, muito mais, indubitavelmente, que qualquer adeus acenado em aeroporto de uma cidade distante. Mesmo viajando, voando ao encontro de afazeres, eles retornam e matam as saudades, com a grandeza dos seres plenos. Eles voltam. Aprendem, todos os dias, a esperar. Sabem que o novo amor é tudo. Vão a todos os lugares carregando a lembrança dos seus momentos, até que descobrem o exato instante em que já não é mais possível desfazer o laço. Resolvem isso, de estalo, em tão pouco tempo.Ou melhor, não tiveram outra escolha. Teleguiados pelo novo amor, um dia, acordam de manhã e suas escovas de dentes ali estão: juntinhas...Como puderam viver antes, sem ter se conhecido?
Aparecida Torneros
O creme da juventude
O creme da juventude
A vendedora insistiu. Veio entregar o creme para rejuvenescimento da pele, marca famosa, encomendado pela minha eterna vaidade, para rostos com mais de 45 anos, em pleno fim de tarde de um domingo preguiçoso e extemporâneo.
Descobri que precisava me aprontar e rapidinho. Estava abandonada, caseira e largadona. Vesti depressa uma pantalona estampada e a blusinha amarela.Um par de argolas enormes, o rabo de cavalo, nenhum batom. Cara lavada, desci para pegar e pagar o santo remédio que cura o tempo.
Subi o elevador, com o pote mágico na mão, vitoriosa por fazer parte da legião feminina que se cuida para ser bonita apesar da idade que avança. Larguei o creme da juventude na bancada do banheiro, depois eu uso. Quando tiver saco.
Naquela horinha certa, quando sobreviverem em mim as certezas excusas de que preciso estar linda para agradar os outros. Sub-entende-se nesses outros, os homens , os companheiros, os amigos, os candidatos a namorados, os \"ex\", para quem não se deve deixar cair a peteca nunca, por conta de lamentarem nos ter perdido algum dia.
Mas, francamente, nada fiz nesse domingo que não fosse refestelar-me assistindo filmes, lendo livros e jornais, ouvindo boa música, escrevendo alguns trabalhos, cozinhando o trivial na base do engordiet... E, o ato de receber a tal encomenda, própria para maiores de 45, me inoculou uma ponta de \"deprê\" que preciso expulsar com energia.
Sozinha, se buscar as rugas no espelho, encontro. Sozinha, se procurar lembranças tristes, descubro-as, infelizmente. Sozinha, se questionar as razões do isolamento consentido, será fácil ler as respostas de múltipla escolha.
Agora, que já disponho de uma nova arma para encobrir as rugas, preciso ainda sepultar amargas recordações, abrir uma janela na torre onde me encastelo nas noites de domingo e sair por aí.
Quero dançar de novo o \"paso double\", justo aquele compasso a dois, que, em algum lugar do meu coração deva estar ensaiando atribular-se com os quesitos da soma de sentimentos humanos, menos egoístas e mais compartilhados. Talvez eu acabe com esse arremedo depressivo, no instante em que tiver o gesto nobre de aceitar o amor, de novo, no meu coração. Deixar que ele entre e me absolva.
Considerar que nada vale uma pele bem cuidada num rosto que esconde a fuga das paixões profundas. A pele por mais linda que seja, é superfície. Vou ligar de novo para a simpática representante comercial dos comésticos. Preciso perguntar pelo produto revolucionário: - Vocês têm algo especial para amaciar as entranhas, limpar as impurezas da alma e apagar as marcas de quebradeira do coração, que fomos adquirindo, e teimam em aparecer tão fortes, principalmente nas noites de domingo?
Maria Aparecida Torneros
domingo, 26 de abril de 2009
Aguaviva, 36 años despues...
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Aguaviva hizo una reunión en La Granja de san Ildefonso (Segovia),36 años después de su fundación en el año 1970.Por allí pasaron todos los músicos y cantantes que lo formaron.Entre ellos Manolo Dí...
Poetas Andaluces (Aquaviva- no orignal e completo)
¿Qué cantan los poetas andaluces de ahora?
¿Qué miran los poetas andaluces de ahora?
¿Qué sienten los poetas andaluces de ahora?
Cantan con voz de hombre,
¿pero donde están los hombres?
con ojos de hombre miran,
¿pero donde los hombres?
con pecho de hombre sienten,
¿pero donde los hombres?
Cantan, y cuando cantan parece que están solos.
Miran, y cuando miran parece que están solos.
Sienten, y cuando sienten parecen que están solos.
¿Es que ya Andalucia se ha quedado sin nadie?
¿Es que acaso en los montes andaluces no hay nadie?
¿Qué en los mares y campos andaluces no hay nadie?
¿No habrá ya quien responda a la voz del poeta?
¿Quién mire al corazón sin muros del poeta?
¿Tantas cosas han muerto que no hay más que el poeta?
Cantad alto.
Oireis que oyen otros oidos.
Mirad alto.
Veréis que miran otros ojos.
Latid alto.
Sabreis que palpita otra sangre.
No es más hondo el poeta en su oscuro subsuelo.
encerrado.
su canto asciende a más profundocuando,
abierto en el aire,
ya es de todos los hombres.
Aguaviva hizo una reunión en La Granja de san Ildefonso (Segovia),36 años después de su fundación en el año 1970.Por allí pasaron todos los músicos y cantantes que lo formaron.Entre ellos Manolo Dí...
Poetas Andaluces (Aquaviva- no orignal e completo)
¿Qué cantan los poetas andaluces de ahora?
¿Qué miran los poetas andaluces de ahora?
¿Qué sienten los poetas andaluces de ahora?
Cantan con voz de hombre,
¿pero donde están los hombres?
con ojos de hombre miran,
¿pero donde los hombres?
con pecho de hombre sienten,
¿pero donde los hombres?
Cantan, y cuando cantan parece que están solos.
Miran, y cuando miran parece que están solos.
Sienten, y cuando sienten parecen que están solos.
¿Es que ya Andalucia se ha quedado sin nadie?
¿Es que acaso en los montes andaluces no hay nadie?
¿Qué en los mares y campos andaluces no hay nadie?
¿No habrá ya quien responda a la voz del poeta?
¿Quién mire al corazón sin muros del poeta?
¿Tantas cosas han muerto que no hay más que el poeta?
Cantad alto.
Oireis que oyen otros oidos.
Mirad alto.
Veréis que miran otros ojos.
Latid alto.
Sabreis que palpita otra sangre.
No es más hondo el poeta en su oscuro subsuelo.
encerrado.
su canto asciende a más profundocuando,
abierto en el aire,
ya es de todos los hombres.
O amor me pediu uma poesia...
O amor me pediu uma poesia
Maria Aparecida Torneros da Silva
O amor me pediu uma poesia
ele a queria forte, profunda, incisiva e clara...
mas a poesia escondeu-se nas palavras,
veio mansa, fugidia, elevada e vadia...
o amor equivocou-se no pedido, pensei...
porque uma poesia para viver o amor, é postulante...
uma poesia, para externar o amor, é redundante...
uma poesia, para homenagear o amor, é estonteante...
uma poesia, para camuflar o amor, é extenuante...
o amor pensou que a poesia era múltipla e abrangente,
achou que por causa dele toda poesia seria alucinante,
supervalorizou sua ação na alma da poeta vagante,
e, sem mais nem menos, solicitou poesia planejada..
A poesia, mais experta que ele, veio bem organizada...
A poesia chegou plena de si, com cabeça erguida,
não se deixou dominar pela métrica do amor, tão vivida,
nem se encantou com sua falta de lógica, esmaecida,
ela abraçou o sonho, pôs em si mesma um tempero,
de mágico brilho sobre olhos encantados, o esmero,
a poesia resplandeceu entre raios de luz tão faiscantes,
eu tentei responder ao amor pra explicar os impasses,
quis dizer a ele que a poesia tem mil formas e faces,
deixei-o imaginar a razão do poema amoroso e significativo
aquele em que me ponho de expectadora com certo motivo
para aprisionar o mel do amor, e resposta ao seu pedido.
O amor não tendo mais o que fazer, quis esse poema comprido,
bateu-me o coração em descompasso apressado e sôfrego,
fez-me produzir um texto doido quase que de um só fôlego,
e, ao concluir o feito, eis-me aqui, sem poder dara a ele um jeito,
de poesia de amor, para o amor que ma pediu, e ma tirou-a do peito..
Aparecida Torneros
Maria Aparecida Torneros da Silva
O amor me pediu uma poesia
ele a queria forte, profunda, incisiva e clara...
mas a poesia escondeu-se nas palavras,
veio mansa, fugidia, elevada e vadia...
o amor equivocou-se no pedido, pensei...
porque uma poesia para viver o amor, é postulante...
uma poesia, para externar o amor, é redundante...
uma poesia, para homenagear o amor, é estonteante...
uma poesia, para camuflar o amor, é extenuante...
o amor pensou que a poesia era múltipla e abrangente,
achou que por causa dele toda poesia seria alucinante,
supervalorizou sua ação na alma da poeta vagante,
e, sem mais nem menos, solicitou poesia planejada..
A poesia, mais experta que ele, veio bem organizada...
A poesia chegou plena de si, com cabeça erguida,
não se deixou dominar pela métrica do amor, tão vivida,
nem se encantou com sua falta de lógica, esmaecida,
ela abraçou o sonho, pôs em si mesma um tempero,
de mágico brilho sobre olhos encantados, o esmero,
a poesia resplandeceu entre raios de luz tão faiscantes,
eu tentei responder ao amor pra explicar os impasses,
quis dizer a ele que a poesia tem mil formas e faces,
deixei-o imaginar a razão do poema amoroso e significativo
aquele em que me ponho de expectadora com certo motivo
para aprisionar o mel do amor, e resposta ao seu pedido.
O amor não tendo mais o que fazer, quis esse poema comprido,
bateu-me o coração em descompasso apressado e sôfrego,
fez-me produzir um texto doido quase que de um só fôlego,
e, ao concluir o feito, eis-me aqui, sem poder dara a ele um jeito,
de poesia de amor, para o amor que ma pediu, e ma tirou-a do peito..
Aparecida Torneros
Conde, o amigo, o homem público, o pai de família...
Conhecer e conviver com o Conde é privilégio inenarrável. Ou quase. Tentarei contar um pouco do ele nos inspira.
Figura apaixonável por suas risadas diante da vida, seu jeito bonachão de ser, o modo como adota os adultos que passam pelo seu caminho. Nele, confundem-se dons humanos de profundidade que beiram o ar professoral daqueles que esbanjam sapiência na vida.
No sábado, 25 de abril, ele e sua esposa, a também arquiteta Rizza Conde, comemoraram bodas de ouro, junto da linda família que plantaram e cercados de amigos que consquistaram ao longo da vida, pública e privada.
O lugar não poderia ter sido melhor escolhido. No Outeiro da Glória, pedacinho carioca que ele não cansa de elogiar e de onde sempre me contou tantas histórias. Por exemplo, a subida de um piano para a casa onde morou com seus pais e irmãos, num tempo em que a mãe era professora de música e recebia seus alunos, assim como gosta de falar no tio, o maestro Oscar Lorenzo Fernández, expoente da música clássica, que nos legou obras reconhecidas.
Conde é figura carismática, não resta dúvida. Sua paixão pela cidade do Rio de Janeiro, fez dele um prefeito capaz de atrair crianças de tal modo que ao acompanhá-lo nas rotineiras visitas às comunidades carentes onde desenvolveu o Programa Favela-Bairro, e ainda nas muitas inaugurações de creches que ele se criou para atender em escala crescente, meninos e meninas cariocas, foi comum, que ao seu redor, se fizesse sempre grande roda infantil, risonha, pegando sua mão, agarrando suas pernas, até deitando nas suas costas, quando ele se sentava. Uma vez, a fotógrafa da nossa equipe flagrou um gurizinho que simplesmente adormeceu, em pé, recostado nos ombros do Conde, enquanto este dava uma entrevista para os repórteres curiosos sobre seus atos na Prefeitura.
A foto para mim é inesquecível. Um Conde explicando a vida da cidade e um anjinho dorminhoco entregue ao seu calor humano, sentindo o quanto um homem pode ultrapassar o status do poder e ser somente um ser que irradia aconchego e proteção.
Assim é o Luiz Paulo que conheço. O Conde da Rizza, ele mesmo já declarou várias vezes que foi ela, durante o curso de Arquitetura, onde se conheceram e casaram , ainda estudantes, que o carimbou chamando pelo sobrenome espanhol. Ela, mulher inteligente e bonita, o acompanha e, juntos, formaram uma família linda com três filhos e muitos netos.
Na singela festa das Bodas de Ouro, o clima foi de muita felicidade e paz, havia em cada olhar dos presentes a sensação do premiado encontro que é a passagem de alguém pela nossa vida, do porte humanitário do prefeito Luiz Paulo Conde.
Durante a missa, a emoção de ver tantas sementes germinadas, tantas flores do carinho exalando o perfume da amizade e respeito. Também, era possível sentir a presença do imenso buquê de gratião que todos traziam ali, ao compartilhar com o casal, da felicidade de viver o lado bom da vida.
Conde é essa criatura que lembra um condutor plácido de rebanho heterogêneo, quando é preciso ter o melhor chamado interior para conservar o grupo em caminho objetivamente traçado. Nas vezes em que tive oportunidade de trabalhar ao seu lado, não bastava a alegria do dia-a-dia, havia a tensão do dever a ser cumprido, e acima de qualquer dúvida, ele nos incutia a fé no quanto era possível construir pelo povo na nossa cidade do Rio de Janeiro. Em inúmeros episódios, tanto administrativos, como políticos, principalmente nos momentos de campanha, seu sorriso nos revelava um dom de incentivar para que prosseguíssemos sem titubear, buscando fazer o melhor e dar o melhor de nós pela causa da sociedade tão desigual.
Muita coisa há para se contar a seu respeito, entretanto, nesta pequena homenagem- registro da comemoração das suas Bodas de Ouro, ratifico sua capacidade de entendimento com a linguagem infantil. Observando seus netos, que o cercaram durante a recepção,foi fácil detectar a referência sólida que ele é para as novas gerações de seus descendentes. Um deles, menino dos seus 11 anos, a todo instante, vinha no seu ouvido e perguntava quem era este ou aquele fulano que o cumprimentara. Ele, enconstando a boca no ouvido do pequenino, dava lá suas explicações, em segredo de avô, ensinando talvez a melhor das políticas humanas, o exemplo de ser querido e acarinhado por senhores, senhoras, jovens e crianças, enquanto o mundo girava e
a cidade resplandescia um sol de um brilho magnífico. Para completar, a paisagem do céu carioca nos brindava com um azul digno de um dia de festa nas almas dos que estão do lado do Conde, o lado bom dos seres que amam a vida, a família, os amigos, a cidade, o país e de modo infinito, a fé num mundo que reencontre a paz.
Maria Aparecida Torneros
jornalista- Rio de Janeiro
sábado, 25 de abril de 2009
Elza, a brasileira...
Elza, a brasileira
Aparecida Torneros
Já assisti ela cantar, umas 4 ou 5 vezes na vida, em shows. O encanto é repetido.
Na semana passada, em São Paulo, no tradicional Bar Bhrama, lá estava novamente,fechando uma temporada,a brasileira Elza Soares.
Inigualável cantora, voz de jazz e de samba, ou vice-versa, mulher de energia, dura na queda, vida de baixos e altos, aquela que dá a volta por cima, veio da comunidade, desceu o morro, subiu os mais altos prédios do mundo, esteve por Nova York, onde viveu algum tempo.
Sua arte sobrepuja as mazelas da própria vida e ela segue nos fazendo superar expectativas, recomeçando sempre.
Quem pode passar imune por Elza Soares, essa carioca pequena e forte, cuja interpretação do Hino Nacional brasileiro, na abertura dos Jogos Panamericanos, cantando à capela num Maracanã repleto de gente do mundo inteiro, era ela a verdadeira síntese do seu povo, arrepiando sua gente e se oferendo inteira para a Pátria Amada Brasil.
Desta vez, como das outras, estive flutuando na sua magia, e com ela até cantei Feitiço da Vila, samba do Noel em homenagem à Vila Isabel, bairro em que moro no Rio de Janeiro. Fui com minha amiga Dal, gaúcha radicada em São Paulo, ela fez as fotos em que eu e a Elzinha aparecemos juntas. Em retribuição à sua agradabilíssima companhia, também reproduzo uma imagem da alegria contagiante da Dal , ao lado da nossa Diva carioca.
Tanto faz que ela se apresente no Rio, em Sampa, em qualquer outra cidade do nosso país, ou no exterior, sua graça e talento sobressaem, ela fez escola, história e marca sua presença como ninguém no cenário da música popular brasileira.
Só consegui sussurrar no seu ouvido um "Deus te abençoe", enquanto pude ficar pertinho dela, e no nosso dueto de 5 segundos, seu carinho ao me oferecer
o microfone para cantar um samba de Noel, é o mesmo sentimento que ela passa para cada público que tem a oportunidade de vê-la e ouvi-la, ao vivo.
Ali, na esquina da Ipiranga com São João, a mulher e a artista se confundiam com a
garra e o talento, tudo misturado na noite paulista, ao som da voz de uma Elza, uma brasileira, uma lutadora, melhor dizendo, uma vencedora, que é referência de vontade de viver, encantando a nós, que somos seus fãs, e àqueles que ela arrebata e faz se apaixonarem pela energia que dela emana.
Se buscarmos sua biografia, encontraremos:
Elza Soares nasceu em 23 de Junho de 1937 no Rio de Janeiro. Filha de uma lavadeira e de um operário, foi criada na favela de Água Santa, subúrbio de Engenho de Dentro. Cantava, desde criança, com a voz rouca e o ritmo sincopado dos sambistas de morro. Aos 12 anos, já era mãe e aos 18, viúva. Foi lavadeira e operária numa fabrica de sabão e, com 20 anos aproximadamente, fez seu primeiro teste como cantora, na academia do professor Joaquim Negli, sendo contratada para cantar na Orquestra de Bailes Garan e a seguir no Teatro João Caetano. Em 1958, foi a Argentina com Mercedes Batista, para uma temporada de oito meses, cantando na peça Jou-jou frou-frou. Quando voltou, fez um teste para a Rádio Mauá, passando a se apresentar de graça no programa de Hélio Ricardo. Por intermédio de Moreira da Silva, que a ouviu nesse programa, foi para a Rádio Tupi e depois começou a trabalhar como crooner da boate carioca Texas, no bairro de Copacabana, onde conheceu Silvia Teles e Aluísio de Oliveira, que a convidou para gravar. No seu primeiro disco, gravado em 1960, pela Odeon, cantou Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins), alcançando logo grande sucesso. Esse samba fez parte de seu primeiro LP, com o mesmo titulo da música. A seguir, foi para São Paulo SP, para trabalhar no show Primeiro festival nacional de bossa nova, no Teatro Record e na boate Oásis, gravando depois seu segundo LP, A bossa negra. Em 1962, como artista representante do Brasil na Copa do Mundo, que se realizava em Santiago, Chile, cantou ao lado do representante norte-americano, Louis Armstrong. Nessa época ficou conhecendo o futebolista Garrincha, com quem casaria mais tarde. No ano seguinte, gravou pela Odeon o LP Sambossa, tendo como destaque as músicas Rosa morena (Dorival Caymmi) e Só danço samba (Tom Jobim e Vinícius de Moraes); e, em 1964, lançou pela Odeon Na roda do samba (Orlandivo e Helton Meneses), faixa-título do LP. Realizando inúmeras apresentações pelo Brasil e nas emissoras de televisão, os LPs se sucederam: em 1965, foi a vez de Um show de beleza, pela Odeon, com, entre outras, Sambou, sambou (João Melo e João Donato), e Mulata assanhada (Ataulfo Alves); em 1966, saiu pela mesma gravadora o LP Com a bola branca, onde cantou Estatuto de gafieira (Billy Blanco) e Deixa a nega gingar (Luís Cláudio). Apresentou-se, em 1967, no Teatro Santa Rosa, no show Elza de todos os sambas, e, novamente pela Odeon, gravou em 1969, o LP Elza, Carnaval & Samba, cantando sambas-enredo, como Bahia de todos os deuses (João Nicolau Carneiro Firmo, o Bala, e Manuel Rosa) e Heróis da liberdade (Silas de Oliveira, Mano Décio da Viola e Manuel Ferreira). Em 1970 foi para a Itália, apresentando-se no Teatro Sistina, em Roma, e gravando Que maravilha (Jorge Ben e Toquinho) e Mascara negra (Zé Kéti). Nesse mesmo ano, gravou o LP Sambas e mais sambas, pela Odeon, interpretando músicas como Maior é Deus (Fernando Martins e Felisberto Martins) e Tributo a Martin Luther King (Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli). De volta ao Brasil, em 1972, lançou, pela mesma etiqueta, o LP Elza pede passagem, onde interpretou Saltei de banda (Zé Rodrix e Luís Carlos Sá) e Maria-vai-com-as-outras (Toquinho e Vinícius de Morais), e apresentou-se no teatro carioca Opinião, no show Elza em dia de graça. Ainda nesse ano, passou uma temporada realizando um show no navio italiano Eugênio C, fez um espetáculo de duas semanas na boate carioca Number One, cantou no Brasil Export Show, realizado na cervejaria Canecão, do Rio de Janeiro, e recebeu o diploma de Embaixatriz do Samba, do conselho de música popular do Museu da Imagem e do Som, do Rio de Janeiro. Em 1973, gravou o LP Elza Soares, pela Odeon, cantando Aquarela brasileira (Silas de Oliveira) e Pranto de poeta (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito); e apresentou-se no show Viva Elza, que estreou no T.B.C., na capital paulista, e que depois foi levado em vários Estados. Nos dois anos seguintes, lançou pela Tapecar mais dois LPs, Elza Soares, com Bom-dia, Portela (Davi Correia e Bebeto de São João) e Chamego da crioula (Zé Di); e Nos braços do samba, com faixa-título de Neoci Dias e Dida. Gravou ainda Pilão+Raça=Elza (1977), Somos todos iguais (1986) e Voltei (1988). A partir de 1986, com a morte de Garrinchinha, seu filho com o jogador de futebol Garrincha (1933 – 1983), passou nove anos na Europa e nos EUA De volta ao Brasil, gravou em 1997 o CD Trajetória, só de sambas, com músicas de Zeca Pagodinho, Guinga e Aldir Blanc, Chico Buarque, Noca da Portela, Nei Lopes e outros. Nesse mesmo ano, saiu o livro Cantando para não enlouquecer, biografia escrita por José Louzeiro (Editora Globo).
I love Susan Boyle ( escrito por Contardo Calligaris)
23 Abril 2009
I love Susan Boyle
O vídeo tem a qualidade de um exemplo moral: sonhar pede coragem, resistência e seriedade
NA TERÇA-FEIRA, eu estava com minha coluna pronta (escrevo entre domingo e segunda) e, ao abrir o jornal, descobri que João Pereira Coutinho, neste mesmo espaço, também tinha-se apaixonado por Susan Boyle.
Tudo bem, não sou ciumento. Mesmo assim, por um momento, pensei escrever, na última hora, outra coluna. Mas, lendo Coutinho, percebi que a gente pode se apaixonar pela mesma pessoa por razões diferentes. Aqui vai.
Em poucos dias, dezenas de milhões de pessoas, pelo mundo afora, assistiram ao vídeo de Susan Boyle cantando "I Dreamed a Dream" (eu sonhei um sonho). Assistiram e choraram lágrimas comovidas.
Acesse a internet e veja uma das versões (por exemplo, www.youtube.com/watch?v=8OcQ9A-5noM). Se quiser mais, assista à entrevista de Susan Boyle à rede americana CBS, durante a qual Boyle canta um trecho da música a capela (watching-tv.ew.com/2009/04/susan-boyle-cbs.html).
Provavelmente, Susan Boyle gravará um CD, e o comprarei. Talvez, um dia, ela venha ao Brasil, e estarei no show, mesmo a preço de cambista. Mas nada disso se comparará com o momento extraordinário registrado no vídeo que está hoje no YouTube. Por quê?
Vamos com calma. Susan Boyle se qualificou nas preliminares para participar de "Britain's Got Talent" (a Grã-Bretanha tem talento), que é mais uma versão (inglesa) de "American Idol", o programa de televisão que começou nos EUA e foi repetido em vários países -no Brasil, "Ídolos", na TV Record. Trata-se, a cada ano, de premiar um cantor ou uma cantora, descobrindo novos talentos.
Na verdade, a seleção para chegar até à final talvez seja o que mais diverte as plateias, nos teatros de gravação ou em casa: o vexame da maioria dos concorrentes funciona como um bálsamo para todas as covardias que nos impedem de correr atrás de nossos sonhos. Algo assim: "Olhe o que aconteceu com quem ousou. Ainda bem que eu não fui!".
Susan Boyle entrou no palco como uma espécie de anticlímax; ela era tudo o que não se espera de uma aspirante a estrela: quase 48 anos, solteirona, desempregada, vestida (disse um amigo estilista) como a rainha Elizabeth se ela fosse pobre, "gordinha" e "feinha". Os diminutivos indicam que sua aparência não era extraordinária nem negativamente, mas a tornava transparente: aquela figura papel de parede, de quem ninguém se lembra se ela estava na festa ou não. Para completar, respondendo às perguntas de Simon Cowell (que preside o júri), ela pareceu quase tola e um tanto vulgar, balançando os quadris para dar mostra de sua juventude de espírito.
Quando Susan Boyle anunciou que seu sonho era ser cantora como Elaine Page (a inesquecível Grizabella de "Cats", em Londres, em 1981), o júri e a plateia não esconderam seu desdém.
Aí Susan Boyle começou a cantar. A performance foi propriamente incrível; por um instante, pensei que Boyle estivesse apenas mexendo os lábios enquanto tocava uma gravação: uma voz forte, limpa, segura e expressiva, fiel às emoções que se alternam ao longo das letras.
Também a música que Susan Boyle escolheu (letras de Alain Boublil) contribuiu para transformar sua performance numa espécie de exemplo moral: fala de um sonho antigo, sonhado quando "a esperança falava alto e a vida valia a pena", na época em que "os sonhos são criados, usados e desperdiçados"; mas há "tempestades" que "transformam nossos sonhos em vergonha", e, no fim, em regra, a vida massacra os sonhos que sonhamos. Então, qual é a moral da performance?
Para Coutinho, a moral é que, na vida, não basta se esforçar: é preciso ter sorte. Entendo assim: Susan, até aqui, não teve sorte, a gente se comove porque é tarde demais ou porque, enfim, o destino a encontrou em sua aldeia perdida.
Para mim, a moral é outra. Não sei se Susan teve sorte ou não. Cuidar longamente da mãe doente e cantar com os amigos no karaokê da vila é uma vida que pode valer a pena, talvez mais do que uma vida nas luzes da ribalta. O que me comoveu tem mais a ver com a coragem e a resistência de seu sonho.
Os entrevistadores da CBS perguntaram a Susan Boyle como ela conseguiu se concentrar e cantar, embora percebesse que o júri e a plateia não a levavam a sério e já estavam antecipando a zombaria. Ela respondeu, com simplicidade: "É a gente que tem de se levar à sério".
às 02:20
I love Susan Boyle
O vídeo tem a qualidade de um exemplo moral: sonhar pede coragem, resistência e seriedade
NA TERÇA-FEIRA, eu estava com minha coluna pronta (escrevo entre domingo e segunda) e, ao abrir o jornal, descobri que João Pereira Coutinho, neste mesmo espaço, também tinha-se apaixonado por Susan Boyle.
Tudo bem, não sou ciumento. Mesmo assim, por um momento, pensei escrever, na última hora, outra coluna. Mas, lendo Coutinho, percebi que a gente pode se apaixonar pela mesma pessoa por razões diferentes. Aqui vai.
Em poucos dias, dezenas de milhões de pessoas, pelo mundo afora, assistiram ao vídeo de Susan Boyle cantando "I Dreamed a Dream" (eu sonhei um sonho). Assistiram e choraram lágrimas comovidas.
Acesse a internet e veja uma das versões (por exemplo, www.youtube.com/watch?v=8OcQ9A-5noM). Se quiser mais, assista à entrevista de Susan Boyle à rede americana CBS, durante a qual Boyle canta um trecho da música a capela (watching-tv.ew.com/2009/04/susan-boyle-cbs.html).
Provavelmente, Susan Boyle gravará um CD, e o comprarei. Talvez, um dia, ela venha ao Brasil, e estarei no show, mesmo a preço de cambista. Mas nada disso se comparará com o momento extraordinário registrado no vídeo que está hoje no YouTube. Por quê?
Vamos com calma. Susan Boyle se qualificou nas preliminares para participar de "Britain's Got Talent" (a Grã-Bretanha tem talento), que é mais uma versão (inglesa) de "American Idol", o programa de televisão que começou nos EUA e foi repetido em vários países -no Brasil, "Ídolos", na TV Record. Trata-se, a cada ano, de premiar um cantor ou uma cantora, descobrindo novos talentos.
Na verdade, a seleção para chegar até à final talvez seja o que mais diverte as plateias, nos teatros de gravação ou em casa: o vexame da maioria dos concorrentes funciona como um bálsamo para todas as covardias que nos impedem de correr atrás de nossos sonhos. Algo assim: "Olhe o que aconteceu com quem ousou. Ainda bem que eu não fui!".
Susan Boyle entrou no palco como uma espécie de anticlímax; ela era tudo o que não se espera de uma aspirante a estrela: quase 48 anos, solteirona, desempregada, vestida (disse um amigo estilista) como a rainha Elizabeth se ela fosse pobre, "gordinha" e "feinha". Os diminutivos indicam que sua aparência não era extraordinária nem negativamente, mas a tornava transparente: aquela figura papel de parede, de quem ninguém se lembra se ela estava na festa ou não. Para completar, respondendo às perguntas de Simon Cowell (que preside o júri), ela pareceu quase tola e um tanto vulgar, balançando os quadris para dar mostra de sua juventude de espírito.
Quando Susan Boyle anunciou que seu sonho era ser cantora como Elaine Page (a inesquecível Grizabella de "Cats", em Londres, em 1981), o júri e a plateia não esconderam seu desdém.
Aí Susan Boyle começou a cantar. A performance foi propriamente incrível; por um instante, pensei que Boyle estivesse apenas mexendo os lábios enquanto tocava uma gravação: uma voz forte, limpa, segura e expressiva, fiel às emoções que se alternam ao longo das letras.
Também a música que Susan Boyle escolheu (letras de Alain Boublil) contribuiu para transformar sua performance numa espécie de exemplo moral: fala de um sonho antigo, sonhado quando "a esperança falava alto e a vida valia a pena", na época em que "os sonhos são criados, usados e desperdiçados"; mas há "tempestades" que "transformam nossos sonhos em vergonha", e, no fim, em regra, a vida massacra os sonhos que sonhamos. Então, qual é a moral da performance?
Para Coutinho, a moral é que, na vida, não basta se esforçar: é preciso ter sorte. Entendo assim: Susan, até aqui, não teve sorte, a gente se comove porque é tarde demais ou porque, enfim, o destino a encontrou em sua aldeia perdida.
Para mim, a moral é outra. Não sei se Susan teve sorte ou não. Cuidar longamente da mãe doente e cantar com os amigos no karaokê da vila é uma vida que pode valer a pena, talvez mais do que uma vida nas luzes da ribalta. O que me comoveu tem mais a ver com a coragem e a resistência de seu sonho.
Os entrevistadores da CBS perguntaram a Susan Boyle como ela conseguiu se concentrar e cantar, embora percebesse que o júri e a plateia não a levavam a sério e já estavam antecipando a zombaria. Ela respondeu, com simplicidade: "É a gente que tem de se levar à sério".
às 02:20
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Veja como foi o IV Seminário Médico/Mídia
Seminário reúne no Rio médicos e jornalistas de todo o país
Foto: Alexandre Vieira
Evento realizado pela FENAM teve como objetivo fortalecer o entrosamento entre a categoria médica e a mídia
20/04/2009
Médicos e jornalistas de todas as regiões do país participaram, nos dias 16 e 17/04, do IV Seminário Nacional Médico/Mídia, realizado pela FENAM com o objetivo de fortalecer o entrosamento entre a categoria médica e a mídia. O seminário aconteceu no Hotel Windsor Plaza Copacabana, no Rio de Janeiro, e reuniu renomados profissionais da área médica, da grande imprensa, do meio político e especialistas do setor de tecnologia da informação. A visão do médico sobre a mídia, a mídia como prestadora de serviços, como dar uma boa entrevista e virar fonte, a geração de pautas, a mídia e as novas tecnologias, direito de resposta, o poder e a mídia, e pautas de grande repercussão foram os temas abordados no evento.
Entre os palestrantes estavam a repórter Mariana Gross, da TV Globo, a editora da TV Bandeirantes, Eleida de Góis, a repórter Pâmela Oliveira, do Jornal O Dia, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e diretor da Faperj, Marcos Cavalcanti, o deputado federal e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, os jornalistas Chico Carlos, de Pernambuco, Mônica Salomão, de Minas Gerais, Patrícia Comunello, do Rio Grande do Sul e Keyth Washington, do Pará, o presidente da FENAM, Paulo de Argollo Mendes, e Cid Carvalhaes, diretor da Federação e presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo. Encerrando o evento, o jornalista Maurício Menezes apresentou o espetáculo "Plantão de Notícias", que há 18 anos faz sucesso em teatros e eventos em diversas cidades do Brasil.
O público do IV Seminário Nacional Médico/Mídia este ano também pode participar do sorteio de dois prêmios, oferecidos pela Associação dos Profissionais Liberais Universitários do Brasil (APLUB). Foram sorteados um porta-retratos digital e um home theater com DVD karaokê. Duas jornalistas do Rio de Janeiro levaram os prêmios, entregues pelo gerente nacional da APLUB, Samuel Costa Soares, e pelo gerente da regional/Rio da entidade, Marcelo Guedes Lopes.
O IV Seminário Nacional Médico/Mídia foi organizado pela Secretaria de Comunicação da FENAM. Em sua quarta edição, o seminário já integra o calendário permanente de eventos da Federação e visa ainda colaborar com os profissionais de saúde no que se refere ao seu relacionamento com a mídia e também simplificar o trabalho da imprensa, ajudando os jornalistas a entenderem melhor o setor.
Entrosamento
Para o presidente da FENAM, que fez palestra sobre "A visão do Médico sobre a Mídia", Paulo de Argollo Mendes, o seminário foi muito importante no sentido de fortalecer o entrosamento entre a categoria médica e a mídia, para que a sociedade possa obter informações de uma maneira mais clara e objetiva. "A preocupação dos médicos não é só com a saúde de seus pacientes dentro das quatro paredes do seu consultório, é com a saúde pública e com a clareza que a população pode obter através das informações que recebe. Por isso, é fundamental que possamos criar um excelente entrosamento com a mídia para que o nosso trabalho também possa render na comunidade," apontou o dirigente.
Argollo também disse que a relação do médico com a mídia ainda é de um certo receio e que o seminário ajuda a aproximar as duas categorias. "O médico é treinado para um trabalho extremamente recluso, na intimidade do paciente, com muito cuidado a respeito do sigilo, exatamente o contrário do que espera o jornalista quando entrevista o médico. Assim, normalmente o médico tem muito medo de lidar com a mídia, por isso é importante que a gente faça essa aproximação, a fim de que os jornalistas conheçam melhor a maneira de pensar e a atuação dos médicos e também para que os médicos entendam melhor o trabalho dos jornalistas, principalmente para que possam perder o medo".
Palestras
O presidente da FENAM, Paulo Argollo, abriu o evento junto com o secretário de Comunicação da entidade, Waldir Cardoso, dando as boas-vindas aos participantes. Em seguida, a jornalista Pâmela Oliveira, repórter da editoria de saúde do Jornal O Dia, falou sobre "A mídia como prestadora de serviços". Depois, Paulo Argollo abordou o tema "A visão do médico sobre a mídia".
O primeiro tema da tarde do dia 16 foi "Direito de resposta ou retratação - quando e como usar", tendo como palestrantes Cid Carvalhaes, médico, advogado, diretor da FENAM e presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo, e Mônica Salomão, jornalista, assessora de imprensa do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais. Depois, encerrando a quinta-feira, a repórter Mariana Gross, da TV Globo, falou sobre "Como dar uma boa entrevista, transmitindo a informação objetiva e eficiente, e virar fonte"
A geração de pautas - o que é uma pauta, o que pode ou não se transformar em notícia" foi o tema abordado pela jornalista Eleida de Góis, editora-chefe do Jornal do Rio, telejornal da TV Bandeirantes que abriu os trabalhos no segundo dia de seminário. Depois, o tema foi "As experiências de assessorias de imprensa de sindicatos médicos em pautas de grande repercussão na mídia - fatores positivos e negativos, que teve como palestrantes os jornalistas Chico Carlos, assessor de imprensa do Sindicato dos Médicos de Pernambuco, e Patrícia Comunello, assessora de comunicação do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul. A assessora de imprensa do Sindicato dos Médicos do Pará, Keyth Washington, fez uma participação falando sobre um fato que teve repercussão no Brasil inteiro: a morte de bebês na Santa Casa de Misericórdia de Belém.
O palestrante Marcos Cavalcanti, doutor em Informática pela Université de Paris, professor da Universidade Federal do Rio (UFRJ), diretor de tecnologia da Fundação de Amparo a Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj) e editor da Revista Inteligência Empresarial abriu os trabalhos na tarde do dia 17/04 abordando o tema "A mídia e as novas tecnologias. Para onde caminhamos?"
A última palestra do evento ficou sob a responsabilidade do deputado federal e ex-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, que falou sobre "O poder e a mídia".
O show do jornalista Maurício Menezes, que há 18 anos apresenta o espetáculo "Plantão de Notícias" em teatros de diversas cidades do Brasil, encerrou o IV Seminário Nacional Médico/Mídia, que foi apresentado pela jornalista, escritora, mestre de cerimônias, professora universitária e assessora de imprensa Aparecida Torneros.
Fonte : Denise Teixeira
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Sexo ( poema )
Sexo
por Maria Aparecida Torneros da Silva Publicada em 04/05/2005
que coisa é essa...estranha coisa...
impulso cruel acima da razão
tormento animal essa pulsão
que busca o gozo , incauto prazer...
que doidice é essa... esse refazer
de sedução e abandono, buraco negro
onde somem as defesas e se plantam híbridas sementes...
se, pelo sexo, tu mentes...
se, por ele, tu te afogas...
se, em nome dele, tu me buscas
se, por causa dele, tu me sentes...
que loucura é essa... esse desperdiçado sentimento
esse bota-fora de hormônios renascentes,
essa expedição de mensagens biológicas,
tantas explicações, todas ilógicas,
por serem tão somente,
pura e simplesmente,
o lugar da neutralidade física,
do desejo de matar a fome de amor,
a sede de acariciar, a necessidade de ser querido...
que maluquice é essa... esse gesto tão dolorido
de prender-se à fantasia, quando tudo passa, levando a dor
pra bem longe de cada história, mandando embora
pros confins, todos os fins...
sexo é amplexo
é falta de nexo
é tu e eu sem acordo
é o meu solitário fardo
carregado nas entranhas
nas lembranças estranhas
das noites cujo sono é sonho
e cujo sonho é abandono...
sexo tem preço
tem fim no ápice
tem começo
no beijo
tem gosto no cálice
do líquido espesso
tem cheiro no hálito
da boca ávida
de sorver o encanto
de encontro atávico
se eu me despir do sexo
sou apenas o sonho
sou a alma
sou a chama leve
para que alguém me eleve
ao cume em breve
onde pousa a águia
e se renova a pele
para se tornar outro ser
e, até poderia ser
somente um cântico
que soasse prático
ensinando a quem quisesse
a transformar-se em gente...
sexo faz gente nascer...
sexo faz gente morrer...
sexo faz a gente compreender
o incompreensível
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por Maria Aparecida Torneros da Silva Publicada em 04/05/2005
que coisa é essa...estranha coisa...
impulso cruel acima da razão
tormento animal essa pulsão
que busca o gozo , incauto prazer...
que doidice é essa... esse refazer
de sedução e abandono, buraco negro
onde somem as defesas e se plantam híbridas sementes...
se, pelo sexo, tu mentes...
se, por ele, tu te afogas...
se, em nome dele, tu me buscas
se, por causa dele, tu me sentes...
que loucura é essa... esse desperdiçado sentimento
esse bota-fora de hormônios renascentes,
essa expedição de mensagens biológicas,
tantas explicações, todas ilógicas,
por serem tão somente,
pura e simplesmente,
o lugar da neutralidade física,
do desejo de matar a fome de amor,
a sede de acariciar, a necessidade de ser querido...
que maluquice é essa... esse gesto tão dolorido
de prender-se à fantasia, quando tudo passa, levando a dor
pra bem longe de cada história, mandando embora
pros confins, todos os fins...
sexo é amplexo
é falta de nexo
é tu e eu sem acordo
é o meu solitário fardo
carregado nas entranhas
nas lembranças estranhas
das noites cujo sono é sonho
e cujo sonho é abandono...
sexo tem preço
tem fim no ápice
tem começo
no beijo
tem gosto no cálice
do líquido espesso
tem cheiro no hálito
da boca ávida
de sorver o encanto
de encontro atávico
se eu me despir do sexo
sou apenas o sonho
sou a alma
sou a chama leve
para que alguém me eleve
ao cume em breve
onde pousa a águia
e se renova a pele
para se tornar outro ser
e, até poderia ser
somente um cântico
que soasse prático
ensinando a quem quisesse
a transformar-se em gente...
sexo faz gente nascer...
sexo faz gente morrer...
sexo faz a gente compreender
o incompreensível
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