aqui tem música, poesia, reflexões, homenagens, lembranças, imagens, saudades, paixões, palavras,muitas palavras, e entre elas, tem cada um de vocês, junto comigo... Cida Torneros
quinta-feira, 30 de abril de 2009
A mãe do mestre ( crônica publicada no meu livro A mulher necessária)
A mãe do mestre
( meu filho me pediu que não mencione ou alardeie por aí que sou sua mãe...então, liguei para o editor, o livro estava no prelo, cheguei a pedir para excluir)
Mas, meu coração ficou pequeno, eu tinha escrito esta crônica em homenagem ao professor responsável e capaz que ele é, e também com muito orgulho de quanto é honesto e trabalhador.
Aí, fiz algumas modificações,pois o fato de tê-lo como filho já é uma grande sorte que tenho nesta vida, o resto, é torcer para que ele siga sendo muito feliz, sempre.
Quem é esse homem que passa sempre correndo, cheio de atividades, de uma inteligência apregoada pelos que convivem com ele, sendo chamado, carinhosamente, desde pequeno, de "cientista"?
Pra mim, até parece que ele ainda é um menino. Muitas vezes me lembro daquele guri alegre e curioso que me alegrava e continua alegrando os dias desde que nasceu.
Um ser estranhamente sintonizado com a natureza, assim, o meu gurizinho risonho, ao completar 9 anos me pediu de presente um microscópio, e dali pra cá, foi um tal de colecionar asas de borboleta, besouros coloridos, mosquinhas infelizes, baratas capturadas, para desespero das empregadas da casa.
Fui percebendo sua sede de saber e pesquisar a cada momento novo durante sua infância. Houve um dia, em que tive certeza do seu ateísmo, de cunho científico, quando li o texto adolescente que ele produzira sobre o pensamento de um cientista, seu compromisso com a verdade.
Poderia ter ficado muito preocupada, mas não fiquei. Apenas me preparei ainda mais para o que veio depois. Aprendi a conviver com a sua imagem no Fantástico, nos jornais como O Globo ou como o Diário do Vale do Rio Preto, nas revistas como Veja, e em programas de TV, como uma vez, no SBT, em que falou sobre a não existência de vida depois desta nossa.
Um pesquisador, um cientista, um estudante eterno da Física, um profissional da Ciência da Computação, um professor.
Coisa de mãe coruja, pode até parecer, mas é o que ouço o pessoal do seu convívio sempre repetir. Claro que me orgulho. Claro que torço todos os dias para que ele seja só feliz... Que continue descobrindo da vida os segredos das asas das borboletas, assim como a felicidade de amar e ser muito amado.
Como ele mesmo diz: a vida é uma só e é preciso fazer dela a melhor coisa, pois só temos essa chance. E sei que ele saberá preservar seu caminho de luta em busca dos seus ideais.
Rogo aos deuses (sou contaminada por este conceito) a bem-aventurança de protegê-lo, para que escreva seus livros de cunho científico .
Porque um filho como ele é, tão cheio de energia, me renova a crença numa humanidade mais justa, me faz reaprender a viver como ser humano sintonizada com os novos tempos. Esse homem que ele é hoje, o professor respeitado, o cientista solicitado, o mestre, assim chamado carinhosamente por seu bando de alunos e ex-alunos, dando-me a oportunidade de ressaltar o meu respeito por ele.
Mais ainda, um professor que me desperta a sede de aprender mais e mais, toda a vida.
Agora, descubro que a emoção do amor, definido por ele pra mim um dia, como "sentimento necessário para a perpetuação da espécie", perpetua, em mim, a razão de ser feliz, por ser sua mãe, eternamente.
Dentre as suas expressões mais marcantes, lembro de uma, eu em Brasília, trabalhando, liguei pra casa no Rio, ele devia ter uns 8 anos, perguntei se estava tudo bem, ele me descreveu seu dia, as coisas que fizera, e antes de desligar, me bombardeou com ares de cobrança: - Mãe, posso te perguntar uma coisa? Por que você não é só minha mãe e mais nada?
Senti a culpa da mãe moderna, da jornalista viajante que o deixava na casa da avó e nas escolas, tantos cursos, que só dividia com ele, as noites e parte das férias em passeios inesquecíveis por lugares de alegria. Naquele momento, eu ainda não tinha a resposta.
Agora, tenho: porque sou a mãe do mestre, e, para um mestre, uma mãe é sempre muito pequena... se é apenas sua mãe...tem que ser múltipla, e isso é o que tento ser todos os dias, confiando no seu discernimento e aprendendo com ele sobre o sentimento mais puro de repassar conhecimentos e incentivar pessoas a crescerem em suas vidas.
Um verdadeiro mestre se sente honrado quando um discípulo atinge objetivos subindo na escala social, a partir da semente que ele planta. E isso, vejo que o meu filho faz com grandeza de espírito e caráter altruísta. Mesmo assim, peço desculpas pela imodéstia, característica defeituosa da mãe do mestre.
Maria Aparecida Torneros
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