Maracanã

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quinta-feira, 18 de março de 2010

Elis Regina, homenagem, ela faria 65 anos, hoje, 17 de março




CRÕNICA: UMA MULHER

Ells Regina:a vida sem ela

Os anos 70 me revisitaram, repentinamente, quando li, no Blog Bahia em Pauta, sobre os 28 anos sem a voz ao vivo, de Elis Regina, aquela pimentinha pequenina de arte possante, interpretações magistrais, aquela figurinha risonha e ao mesmo tempo intempestiva, braba e desafiadora, a mesma Elis que nos deixou atrás de uma porta que se fechou pra sempre, sob a viagem de uma droga traiçoeira, que nos roubou de cena criatura tão talentosa, mulher brasileira sintonizada com seu tempo, a Elis que nos ensinou a cantarolar sobre o falso brilhante.



Fomos meninas de “falsos brilhantes” nos dedos, sim, imitação da vida, sonhos hollywoodianos de amores felizes para sempre, atropelando-se na crueza de uma ditadura militar plena de injustiças e freios, escapando-se pelo viés dos festivais da canção, a ponte do respiradouro que as composições musicais representaram diante da repressão, e aquela voz de veludo que se transformava em grito de protesto, o grito dos acorrentados, a nossa Elis nos apontando os neguinhos da estrada, os passos da dança em ritmo de dois pra lá e dois pra cá, o canto dos desesperados por amor verdadeiro, a mesma voz que nos falou como nenhuma outra das águas de março, e nos pôs à prova, com o bêbado e o equilibrista.


Porta-voz de um período de constentação e proclamação dos direitos de ser livre e viver essa liberdade à frente do seu próprio tempo, lá se foi Elis para o trono dos deuses, em dia em que nos doemos nas entranhas, nos sentimos perdidos, e a tarde que caiu sobre nós, se fez noite, nos tornamos bêbados trajando luto, sofrendo não só a sua perda, mas sobretudo, o quanto dali por diante seria a vida sem ela presente.

Dela, ainda bem, ficaram as canções, as gravações, os filmes agora em dvd, e os filhos, por obra e graça, todos ligados à música, e bem talentosos, honrando seu dna e sua memória.



Elis é magestade, ela me deixou mesmo louca e ainda me deixa, quando me ponho a re-ouvir, na sua versão inconfundível, o clássico Fascinação, e é esta interpretação, de 1978, que me traz de volta a menina que fui , como ela, com aqueles cabelos cortados ao estilo Jane Fonda, protestando contra a guerra do Vietnam, sonhando os sonhos mais lindos, na transversal do tempo, emocionada e gravemente atenta a cada nota que sua garganta emite, no milagre da tecnologia que me permite sentir novamente o quanto Elis me fascina ainda, e certamente, o faz com todos os que tem a chance de se deixarem seduzir pelo seu brilho verdadeiro.

De falso, só o brilhante do dedo da menina que dançou nos bailes de formatura, quando era bom imaginar que um dia, quem sabe, ela nos mandaria um recado do tipo :”alô alô, terráqueo, aqui quem fala é Elis Regina, estou morando em Marte, pra varia vocês estão em guerra?”


Pois é, Elizinha, o ser humano tá cada vez mais down no high society, e você tá cada vez mais fascinante no céu das estrelas cujo brilho não se apagará nunca, sabia?

Cida Torneros, jornalista e escritora, mora no Rio de Janeiro, edita o Blog da Mulher Necessária, onde o texto foi originalmente publicado.


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Mariana Soares on 20 janeiro, 2010 at 10:32 # Lindo, lindo, lindo, Cida!!! Você me trouxe Elis de volta nestas tuas tão verdadeiras e deliciosas palavras! Elis era tudo isso que você “cantou” em palavras…Quanta saudade!!! Também tenho toda a obra musical dela em cd e dvd e curto seus filhos, especialmente a Maria Rita, com muita intensidade…Elis vive dentro de mim e, através da sua voz, dou voz a muitos dos sentimentos que latejam dentro do meu coração.

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