Maracanã

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domingo, 5 de outubro de 2008

Loba, anja, guerreira, bruxa ou fada


Mulher: Loba, anja, guerreira, bruxa ou fada


Acordo com minha secretária doméstica me entregando uma rosa vermelha pelo dia da mulher. Como se não bastasse, ela, que ainda não tem 30 anos, demonstrando uma sensibilidade sem limites, me oferece uma canção, de um cd que trouxe especialmente para eu ouvir.
A música que ela faz deslizar nos meus ouvidos na voz da Alcione, chamada LOBA, segundo suas palavras : é a minha cara. Poderia ser ANJA, GUERREIRA, BRUXA ou FADA.
Agradeço sua manifestação de solidariedade feminina. Presto atenção no recado. Mulher decidida que não aceita a traição.
Talvez eu seja mesmo assim. Ela, pelo convívio diário comigo, deve ter observado esse lado meu intransigente. Pergunto-me por que exponho tanta fraqueza se no auge da maturidade não deveria dar o exemplo do perdão altivo diante das mentiras masculinas. Indago de mim o motivo desta atitude machista que me imponho ao não ter paciência com historinhas inventadas que justifiquem compactuar com os haréns em que os machos insistem em nos instalar, induzindo-nos a co-habitar com suas ex, atuais e futuras necessidades de auto-afirmação.
Para minha reflexão crescer mais ainda, leio o artigo do Jabor, me submetendo a um misto de admiração e desprezo. Homem que reconhece o mistério da fêmea maldita, da mulher que não lhe pertence, da criatura diferente, do seu antídoto, do seu contra-ponto, do ser incompreendido, que o circunda, atrai e persegue.
"Lá onde mora o outro, a diferença", ele diz. Ali mora o perigo. Ali está o mistério profundo. Não há como escapar da idéia de que justamente nesse ponto se alicerça o caminho que tenta desvendar o enigma. Como a esfinge a ser decifrada, cada mulher é mesmo única e múltipla, contracenando suas facetas em busca de caminhos infinitamente variados.
Começo a me produzir para mais um dia de trabalho. Quero estar bonita pra mim. Devo aproveitar cada minuto desse dia para aumentar em mim a solidariedade com as minhas companheiras de estrada, as que estão felizes e as que diluem uma tristeza compartilhada.
Vou aproveitar muito bem esse dia. Trabalho intenso e festas com as amigas de trabalho e de vida.
Para aumentar o mistério, não vamos chamar nenhum Homem ao nosso clube da Luluzinha, hoje.
Deixaremos que cada um deles se imagine como objeto obscuro e secreto das nossas conversas femininas e dos nossos desejos.
Para não perder a graça, nem desvendar nosso maior segredo, melhor que seja assim, até o fim dos tempos.
Cida Torneros, em 8 de março de 2005

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