segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Agora eu entendo a canção "cry me a river"...

Sempre me emocionei com as várias interpretações da canção american "Cry Me a River", mas alguma coisa nela fazia pouco sentido em  mim, era como se chorar um rio inteiro não fosse coisa humana, um feito improvável e impossível, metáfora permitida ao jazz, ao romance, à fantasia dos apaixonados, era como eu encarava seu conteúdo. 

Apesar de sentir arrepios com as versões que nos chegaram ao longo de décadas nas vozes de  cantores e cantoras maravilhosas, no meu universo sonoro, ficava o espaço vazio para o sentimento pleno do que seria chorar um rio...

Mas agora, quando tenho acompanhado  os dados, imagens e histórias sobre a catástrofe da região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, um misto de certeza e constatação me inundou como as cheias inundaram os vales, as lágrimas da natureza se misturaram aos prantos  humanos, minhas muitas lamúrias, minhas dores compartilhadas, meus parcos estudos e alguma experiência com gestão ambiental, os anos em que trabalhei na SERLA (superintentência de rios e lagoas do RJ), tudo se direcionou para o grande curso caudaloso da fúria  que o desespero fez descer das montanhas.

Todos estamos chorando um imenso rio de devastação e de incompetência, entre os corpos vemos que vão deslizando os feitos e construções que os homens consideravam seguros, desrespeitando as leis da geomorfologia, que tentam proteger o ambiente.

Assim, operação de resgate  em clima de guerra, uma guerra travada pela força do elemento natural, na sua majestosa grandeza e sapiência, a despeito da ocupação desordenada e flagrantemente devastadora das enconstas e áreas pretensamente inabitáveis, por sua própria condição geográfica, para a qual se fez ouvidos de mercador, fecharam-se os olhos das autoridades competentes, acomodaram-se os legisladores locais, os fiscalizadores dos poderes públicos, coniventes estiveram com o "deixa pra lá" acomodativo e garimpador de votos ou benesses a um povo que desconhece tecnologia ou geografia, mas que pressente e vive sua pobreza e sua condição de habitante das encostas, das áreas de risco, com apego aos seus pequenos pertences, e o amor à vida, à luta pela sobrevivência, imbuído de uma generosidade intensa mesmo nos momentos trágicos que sua história registra.

Bombeiros, voluntários, desalojados, desabrigados, órfãos da catástrofe, equipes de resgate, as forças armadas, os médicos e para médicos, as doações em toneladas, a solidária mão dos irmãos que choram o mesmo rio que escorre engrossado  pelas chuvas, carregando tudo o que encontra pela frente. Choramos um rio que transborda emoções represadas, angústias recorrentes, esperanças realimentadas, choramos um rio que requer respeito às suas faixas marginais de proteção, um rio de porte inesperadamente  avassalador que carrega construções, automóveis,pontes, destrói avenidas, abre fendas em estradas, desafia o homem que desafiou a natureza sem observar tantos senões e regras que poderiam minimizar ou até evitar tamanho espetáculo digno de filme de terror, daqueles de efeitos tecnicistas típicos do cinema dantesco norte-americano.

Entretanto, o filme é real, a dor é verdadeira, as histórias são concretas, as soluções urgem, os planejamentos precisam ser refeitos, os governos necessitam repensar suas ações, a população deve  ser conscientizada, os mortos dignamente enterrados e em sua homenagem, precisamos evitar  a repetição sistemática de fatos assim, todos os verões tropicais nas serras brasileiras, nas tais serras  que atraem turistas para suas pousadas e seu clima ameno.

Seu desenvolvimento não é e  não tem sido rigidamente acompanhado, um pecado de  todos, tanto os que comandam, como os  que são comandados, porque ao nos  omitirmos, também lavamos as mãos e deixamos correr frouxo o que pode eclodir em  dilúvio, tragédia, catástrofe, fazendo-nos literalmente chorar um rio de lágrimas, e chorar junto com a natureza, pois ela é que abriu o berreiro, agredida e aviltada, sulcada em sua entranha, desvirtuada  em seu desenho nem tão misterioso. Os solos são objeto de estudo de vários profissionais brasileiros, temos tecnologia e dominamos a engenharia de ponta, sabemos que o Brasil tem capacidade para gerenciar sua terra, seus rios, suas montanhas, e  por que estamos chorando nosso rio nesses últimos dias?

Volto ao conteúdo da canção, ouço a Mãe Natureza dizer que chora agora porque nós a fizemos chorar... antes... Quando pudermos enxugar as lágrimas da Região Serrana, será a  hora de recomeçar um novo tempo,  uma frente técnica e política seriamente envolvida com a dignidade humana, muito mais do que com o descaso não mais fechando os   olhos para as condições seguras de habitação que o nosso povo merece alcançar,   para  não chorar  tantos rios assim, em águas de  janeiro, fevereiro ou março, nunca mais...
                                Cida Torneros   


En


Cry Me a River



Now you say you're lonely


You cry the whole night through


Well, you can cry me a river, cry me a river


I cried a river over you






Now you say you're sorry


For bein' so untrue


Well, you can cry me a river, cry me a river


I cried a river over you





You drove me, nearly drove me out of my head


While you never shed a tear


Remember, I remember all that you said


Told me love was too plebeian


Told me you were through with me and


Now you say you love me


Well, just to prove you do


Come on and cry me a river, cry me a river


I cried a river over you




I cried a river over you


I cried a river over you


I cried a river over you




Cry Me a River (Tradução)


Agora você diz que está solitário


Você chora a noite inteira


Bem, você pode chorar-me um rio, chorar-me um rio


Eu chorei um rio sobre você






Agora você diz que sente muito


Por ter sido tão falso


Bem, você pode chorar-me um rio, chorar-me um rio


Eu chorei um rio sobre você




Você me levou, quase me levou à loucura


E você sequer derramou uma lágrima


Lembre-se, lembre-se de tudo que você disse


Disse-me que o amor era plebeu demais


Disse-me que estava cansado de mim


Agora você diz que me ama


Bem, para provar que sim


Venha e chore-me um rio, chore-me um rio


Eu chorei um rio sobre você






Eu chorei um rio sobre você...


Eu chorei um rio sobre você...


Eu chorei um rio sobre você...

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