Assim, o analista definiu o estado da alma que embora triste, consegue ter o prazer de viver, sem que a melancolia ou a amargura tomem conta do seu dia a dia.
Apesar da perda do amor, a paciente apresentou uma inclinação lógica para a sequencia da vida, ciente do quanto é patrimônio adquirido cada momento feliz que sua história lhe proporciona...
Entre uma crise de choro e outra, ela ainda sorri, pois sabe que seu interior é de felicidade por estar viva e poder amar...
A pérda, uma viuvez forçada, apenas lhe dão a dimensão do quanto tem como potencial para sonhar e reviver os sentimentos de doação e de exuberãncia que o mundo pode lhe apresentar...
Irá seguindo pelo caminho, acolhendo saudades, mas nunca será prioseira do lamento absoluto...
Guardará lembranças e souvernirs...
Vale a pena até reviver e sonhar de novo..
Tudo´foi lindo demais , nao pode jogar fora agora...
Acolherá a dor e não deixará que ela a invada, porque há alegria na proposta de viver que carrega...
A menina Marie sobrevive com sorriso e olhar feliz, apesar de tudo...
Cida Torneros
aqui tem música, poesia, reflexões, homenagens, lembranças, imagens, saudades, paixões, palavras,muitas palavras, e entre elas, tem cada um de vocês, junto comigo... Cida Torneros
sexta-feira, 31 de julho de 2009
quinta-feira, 30 de julho de 2009
De 2006 a 2046 : um trem parte em busca do amor
De 2006 a 2046 : um trem parte em busca do amor
Aparecida Torneros
O filme é expressivo. Exprime alma e corpo, ao passo que o trem 2046 corre em busca do amor que se perdeu nas mil lembranças. Li a crônica do Jabor ( colada aí embaixo) e me interessei por assistir a arte chinesa, em forma de imagens entremeadas com a canção ocidental.
Melosa, cada mulher do enredo, tem a sedução do oriente misterioso não só no olhar, nos gestos e nas palavras anasaladas mas cada uma delas traz em si, a busca do amor universal, humano, protótipo de abandonos, desencontros, no limiar do proibido e do prazeroso, do sadio que precisa da loucura para ser completo.
O trem parte e o personagem do livro é o único a voltar de 2046, ele ainda quer reaver seu amor, o amor que permanece vivo na memória de todo aquele amante que fixou momentos cuja mortalidade não se deu no espaço e no tempo. Um registro qualquer iludiu as retinas e o cérebro , quando se guardou o gosto de um beijo ou o calor de um abraço, terá sido no futuro que se plsamou a necessidade da perpetuação da espécie. E daí, de lá do tempo que virá, antecipou-se a saudade de todos os amores do mundo.
A língua e a cultura japonesas aparecem na história, trazendo a rivalidade do passado entre hineses e japoneses, aqueles povos que fascinam por suas histórias, que detêm a ancestralidade milenar do amor impossível.
Sim, de tão impossível, sua busca atravessa e atravessará todos os séculos de existência da humanidade.
Como se estivesse viajando num trem bala, expresso que parte em direção ao amor, o homem-personagem superdimensiona sua animalidade, relaciona-se com mulheres andróides , desprovidas de sentimentos, tenta passar-lhes um segredo, dilui-se como um metal derretido na intangibilidade do amor.
O buraco por onde deve entrar o mistério soprado de seu segredo, na árvore que se põe no alto da montanha irreal, nada mais é, que o lugar do seu pensamento limitado, da sua impontência constatada, diante da razão que jamais explicará a emoção com a clareza isenta de barbitúricos, neurolépticos ou drogas mais pesadas.
Em 2046, no quarto de hotel simboliza o lugar de passagem de todos nós pelo amor. O amor passeia de trem, dorme em manhã de cansaço, se embebeda de ilusão no álcool, escamoteia sua vulnerabilidade no dia a dia cultural, disfarça-se de casamento e vida a dois.
Também, esbanja vitalidade nas camas de hotéis, recupera-se da má fama entre perdões e galanteios, provoca assassinatos ao perder o próprio rumo, acalma paixões com pagamentos prostitutos, e ainda, para projeção que volta no tempo, desabrocha nas telas de cinema, em 2006.
O amor se traveste de paixões sucessivas, quando se percebe passível de eternidade, trocando de corpos e de almas, numa ressurreição inconstante.
Depois de ler a crônica do colunista do Globo e de assistir ao filme, saibamos todos que no expresso 2046 da Central do Amor Eterno, só há lugar para os que se dispõem a viajar sem destino certo, em busca da própria história de amor.
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O amor é uma droga pesada
Arnaldo Jabor
Overdadeiro amor é impossível, logo só o amor impossível é o verdadeiro amor. Saí do cinema onde fui ver “2046”, do chinês Wong Kar Wai, pensando nisso. Saí do cinema como de um sonho barroco, manchado, molhado por uma grande massa de cores e sons, de rostos, gestos, mãos, gemidos, dores e gozos. Saí como um drogado, viajando ainda num LSD, uma mescalina da pesada, saí de um milagre alucinado. Vi uma coisa rara: um filme que é o que ele conta. Explico: 2046 seria, no filme, o ano futuro onde tudo seria imutável, lembrado. E agora, quando escrevo, vejo que o tal lugar em 2046 é a própria obra. Entramos neste filme como numa utopia, um lugar úmido, denso, esfumado, chuvoso, cambiante, onde estaríamos no lugar, na terra da paixão. Kar Wai é um grande artista que faz uma súmula de influências do melhor cinema ocidental e realiza um filme híbrido como Hong Kong, oriental para o ocidente, diferente do que esperamos de um filme chinês. E por ele, como pelo primeiro Zhang Ymou, vemos que a cultura erótica chinesa atravessou cinco mil anos incólume, mesmo depois das revoluções maoístas e da China recente dos escravos globalizados. Muito mais sofisticado que europeus e americanos.
É um filme fragmentário sobre o fragmentário das emoções de hoje. Ali estão pedaços de “Blade Runner”, ecos dos Krells do “Planeta proibido” (lembram, cinéfilos?), ali está Jupiter de “2001”, ali estão emblemas e ícones dos filmes noir da Warner, ali está Godard na descontinuidade narrativa, ali estão confusos cacos de Ocidente e Oriente, uma Hong Kong da alma, músicas tropicais, Nat King Cole e ópera, “Siboney” e a “Norma” de Bellini. Que banho... que cineasta admirável!
Em “2046”, tema e matéria se misturam numa massa indissolúvel.
Tudo neste filme é uma exposição da “parcialidade” do erotismo contemporâneo. (Exemplo brasileiro: a bunda substituindo a mulher inteira) A primeira vista parece uma louvação da perversão, do fetichismo, do erotismo das “partes”, do “amor em pedaçõs”. No entanto, Kar Wai está além do fetichismo, além da perversão. Ele retrata (sem teses, claro) a imagerie do erotismo contemporâneo que “esquarteja” o corpo humano. Vejam as artes gráficas, fotos de revistas de arte, como “Photo” (ou em Tarantino), onde tudo é (reparem) decepado, dividido, pés, sapatos, escarpins negros, unhas pintadas, bocas vermelhas, paus, seios, corpos imitando coisas, tudo solto como num abstrato painel. Tudo evoca a impossibilidade saudosa de um “objeto total”, da pessoa inteira..
Uma das marcas do século XXI é o fim da crença na plenitude, na inteireza, seja no sexo, no amor ou na política.
Aí, chega o Kar Wai e, poeticamente, intui esse novo mundo afetivo e sexual.
Kar Wai não sofre por um tempo sem amor, como nos filmes que “acabam mal”, sem happy end . “2046” não lamenta a impossibilidade do amor. Não, ele a celebra. Para Kar Wai (e para muitos de nós), só o parcial é gozoso. Só o parcial nos excita, como a saudade de uma plenitude que não chega nunca. Kar Wai assume essa parcialidade, a incompletude como única possibilidade humana. E acha isso bom. E, num filme romântico, nostálgico e dolente, goza com isso. Nada mais delicioso que o amor impossível. E, como canta o samba, “quem quiser conhecer a plenitude, vai ter de sofrer, vai ter de chorar...”. Ou, “O amor é uma droga pesada”, título de livro de Maria Rita Khel.
Kar Wai nos apresenta a droga pesada do século XXI: a paixão.
Ele é o quê? Um romântico-punk, um pierrô pos-utópico? É por aí... um chinês neurótico dando aula para ocidentais.
O amor em Kar Wai, para ser eterno, tem de ficar eternamente irrealizado. A droga não pode parar de fazer efeito e, para isso, a prise não pode passar. Aí, a dor vem como prazer; a saudade, como misticismo; a parte, como o todo; o instante, como eterno. E, atenção, não falo de masoquismo: falo de um espirito do tempo.
Hoje em dia, não há mais uma explícita, uma clara noção do que seria felicidade, como antigamente. O que é ser feliz? Onde está a felicidade no amor e sexo? No casamento? Em 2046, o ano mítico do filme?
Kar Wai não lamenta o fim da felicidade, mas o saúda. Como diz a musica do Vinicius, “é melhor viver do que ser feliz...”, coisa que muito careta não entende.
Este filme mostra que hoje, sem sabermos com clareza, achamos que é bom ansiar por um gozo desconhecido, é bom sofrer numa metafisica passional, é bom a saudade, a perda, tudo, menos a insuportável felicidade. Assim, o amor vira uma maravilhosa aventura de utopia, uma experiência religiosa, como a fé, que resiste a todos os massacres e terremotos e guerras. Em vez da felicidade, o gozo, o gozo rápido do sexo ou o longo sofrimento gozoso do amor. Como no filme, não há mais felicidade, só as fortes emoções, a deliciosa dor, as lágrimas, hotéis desertos, luzes mortiças, a chuva, o nada.
Como esse filme aponta, o amor hoje é um cultivo da “intensidade” contra a “eternidade”. Toda a cultura do cinema tende para a idéia de redenção, esperança, mas “2046” não lamenta o fim do happy end . Não. É bom que acabe esta mentira do idealismo romântico americano, para animar o otimismo familiar e produtivo, pois na verdade tudo acaba mal na vida. Não se chega a lugar nenhum porque não há aonde chegar.
Tudo bem buscarmos paz e sossego, tudo bem nos contentarmos com o calmo amor, com um “agapê”, uma doce amizade dolorida e nostálgica do tesão, tudo bem... Mas a chama da droga pesada amor só vem com o impalpável. E isso é bom. Temos que acabar com a idéia de felicidade fácil. Enquanto sonharmos com a plenitude, seremos infelizes. Só o amor impossível nos põe em contato com um arco-íris de sentimentos desconhecidos. A felicidade não é sair do mundo, como privilegiados seres, como estrelas de cinema, mas é entrar em contato com a trágica substância de tudo, com o não-sentido, das galáxias até o orgasmo.
E tem mais... este artigo não é pessimista. Temos de ser felizes sem esperanças.
Aparecida Torneros
O filme é expressivo. Exprime alma e corpo, ao passo que o trem 2046 corre em busca do amor que se perdeu nas mil lembranças. Li a crônica do Jabor ( colada aí embaixo) e me interessei por assistir a arte chinesa, em forma de imagens entremeadas com a canção ocidental.
Melosa, cada mulher do enredo, tem a sedução do oriente misterioso não só no olhar, nos gestos e nas palavras anasaladas mas cada uma delas traz em si, a busca do amor universal, humano, protótipo de abandonos, desencontros, no limiar do proibido e do prazeroso, do sadio que precisa da loucura para ser completo.
O trem parte e o personagem do livro é o único a voltar de 2046, ele ainda quer reaver seu amor, o amor que permanece vivo na memória de todo aquele amante que fixou momentos cuja mortalidade não se deu no espaço e no tempo. Um registro qualquer iludiu as retinas e o cérebro , quando se guardou o gosto de um beijo ou o calor de um abraço, terá sido no futuro que se plsamou a necessidade da perpetuação da espécie. E daí, de lá do tempo que virá, antecipou-se a saudade de todos os amores do mundo.
A língua e a cultura japonesas aparecem na história, trazendo a rivalidade do passado entre hineses e japoneses, aqueles povos que fascinam por suas histórias, que detêm a ancestralidade milenar do amor impossível.
Sim, de tão impossível, sua busca atravessa e atravessará todos os séculos de existência da humanidade.
Como se estivesse viajando num trem bala, expresso que parte em direção ao amor, o homem-personagem superdimensiona sua animalidade, relaciona-se com mulheres andróides , desprovidas de sentimentos, tenta passar-lhes um segredo, dilui-se como um metal derretido na intangibilidade do amor.
O buraco por onde deve entrar o mistério soprado de seu segredo, na árvore que se põe no alto da montanha irreal, nada mais é, que o lugar do seu pensamento limitado, da sua impontência constatada, diante da razão que jamais explicará a emoção com a clareza isenta de barbitúricos, neurolépticos ou drogas mais pesadas.
Em 2046, no quarto de hotel simboliza o lugar de passagem de todos nós pelo amor. O amor passeia de trem, dorme em manhã de cansaço, se embebeda de ilusão no álcool, escamoteia sua vulnerabilidade no dia a dia cultural, disfarça-se de casamento e vida a dois.
Também, esbanja vitalidade nas camas de hotéis, recupera-se da má fama entre perdões e galanteios, provoca assassinatos ao perder o próprio rumo, acalma paixões com pagamentos prostitutos, e ainda, para projeção que volta no tempo, desabrocha nas telas de cinema, em 2006.
O amor se traveste de paixões sucessivas, quando se percebe passível de eternidade, trocando de corpos e de almas, numa ressurreição inconstante.
Depois de ler a crônica do colunista do Globo e de assistir ao filme, saibamos todos que no expresso 2046 da Central do Amor Eterno, só há lugar para os que se dispõem a viajar sem destino certo, em busca da própria história de amor.
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O amor é uma droga pesada
Arnaldo Jabor
Overdadeiro amor é impossível, logo só o amor impossível é o verdadeiro amor. Saí do cinema onde fui ver “2046”, do chinês Wong Kar Wai, pensando nisso. Saí do cinema como de um sonho barroco, manchado, molhado por uma grande massa de cores e sons, de rostos, gestos, mãos, gemidos, dores e gozos. Saí como um drogado, viajando ainda num LSD, uma mescalina da pesada, saí de um milagre alucinado. Vi uma coisa rara: um filme que é o que ele conta. Explico: 2046 seria, no filme, o ano futuro onde tudo seria imutável, lembrado. E agora, quando escrevo, vejo que o tal lugar em 2046 é a própria obra. Entramos neste filme como numa utopia, um lugar úmido, denso, esfumado, chuvoso, cambiante, onde estaríamos no lugar, na terra da paixão. Kar Wai é um grande artista que faz uma súmula de influências do melhor cinema ocidental e realiza um filme híbrido como Hong Kong, oriental para o ocidente, diferente do que esperamos de um filme chinês. E por ele, como pelo primeiro Zhang Ymou, vemos que a cultura erótica chinesa atravessou cinco mil anos incólume, mesmo depois das revoluções maoístas e da China recente dos escravos globalizados. Muito mais sofisticado que europeus e americanos.
É um filme fragmentário sobre o fragmentário das emoções de hoje. Ali estão pedaços de “Blade Runner”, ecos dos Krells do “Planeta proibido” (lembram, cinéfilos?), ali está Jupiter de “2001”, ali estão emblemas e ícones dos filmes noir da Warner, ali está Godard na descontinuidade narrativa, ali estão confusos cacos de Ocidente e Oriente, uma Hong Kong da alma, músicas tropicais, Nat King Cole e ópera, “Siboney” e a “Norma” de Bellini. Que banho... que cineasta admirável!
Em “2046”, tema e matéria se misturam numa massa indissolúvel.
Tudo neste filme é uma exposição da “parcialidade” do erotismo contemporâneo. (Exemplo brasileiro: a bunda substituindo a mulher inteira) A primeira vista parece uma louvação da perversão, do fetichismo, do erotismo das “partes”, do “amor em pedaçõs”. No entanto, Kar Wai está além do fetichismo, além da perversão. Ele retrata (sem teses, claro) a imagerie do erotismo contemporâneo que “esquarteja” o corpo humano. Vejam as artes gráficas, fotos de revistas de arte, como “Photo” (ou em Tarantino), onde tudo é (reparem) decepado, dividido, pés, sapatos, escarpins negros, unhas pintadas, bocas vermelhas, paus, seios, corpos imitando coisas, tudo solto como num abstrato painel. Tudo evoca a impossibilidade saudosa de um “objeto total”, da pessoa inteira..
Uma das marcas do século XXI é o fim da crença na plenitude, na inteireza, seja no sexo, no amor ou na política.
Aí, chega o Kar Wai e, poeticamente, intui esse novo mundo afetivo e sexual.
Kar Wai não sofre por um tempo sem amor, como nos filmes que “acabam mal”, sem happy end . “2046” não lamenta a impossibilidade do amor. Não, ele a celebra. Para Kar Wai (e para muitos de nós), só o parcial é gozoso. Só o parcial nos excita, como a saudade de uma plenitude que não chega nunca. Kar Wai assume essa parcialidade, a incompletude como única possibilidade humana. E acha isso bom. E, num filme romântico, nostálgico e dolente, goza com isso. Nada mais delicioso que o amor impossível. E, como canta o samba, “quem quiser conhecer a plenitude, vai ter de sofrer, vai ter de chorar...”. Ou, “O amor é uma droga pesada”, título de livro de Maria Rita Khel.
Kar Wai nos apresenta a droga pesada do século XXI: a paixão.
Ele é o quê? Um romântico-punk, um pierrô pos-utópico? É por aí... um chinês neurótico dando aula para ocidentais.
O amor em Kar Wai, para ser eterno, tem de ficar eternamente irrealizado. A droga não pode parar de fazer efeito e, para isso, a prise não pode passar. Aí, a dor vem como prazer; a saudade, como misticismo; a parte, como o todo; o instante, como eterno. E, atenção, não falo de masoquismo: falo de um espirito do tempo.
Hoje em dia, não há mais uma explícita, uma clara noção do que seria felicidade, como antigamente. O que é ser feliz? Onde está a felicidade no amor e sexo? No casamento? Em 2046, o ano mítico do filme?
Kar Wai não lamenta o fim da felicidade, mas o saúda. Como diz a musica do Vinicius, “é melhor viver do que ser feliz...”, coisa que muito careta não entende.
Este filme mostra que hoje, sem sabermos com clareza, achamos que é bom ansiar por um gozo desconhecido, é bom sofrer numa metafisica passional, é bom a saudade, a perda, tudo, menos a insuportável felicidade. Assim, o amor vira uma maravilhosa aventura de utopia, uma experiência religiosa, como a fé, que resiste a todos os massacres e terremotos e guerras. Em vez da felicidade, o gozo, o gozo rápido do sexo ou o longo sofrimento gozoso do amor. Como no filme, não há mais felicidade, só as fortes emoções, a deliciosa dor, as lágrimas, hotéis desertos, luzes mortiças, a chuva, o nada.
Como esse filme aponta, o amor hoje é um cultivo da “intensidade” contra a “eternidade”. Toda a cultura do cinema tende para a idéia de redenção, esperança, mas “2046” não lamenta o fim do happy end . Não. É bom que acabe esta mentira do idealismo romântico americano, para animar o otimismo familiar e produtivo, pois na verdade tudo acaba mal na vida. Não se chega a lugar nenhum porque não há aonde chegar.
Tudo bem buscarmos paz e sossego, tudo bem nos contentarmos com o calmo amor, com um “agapê”, uma doce amizade dolorida e nostálgica do tesão, tudo bem... Mas a chama da droga pesada amor só vem com o impalpável. E isso é bom. Temos que acabar com a idéia de felicidade fácil. Enquanto sonharmos com a plenitude, seremos infelizes. Só o amor impossível nos põe em contato com um arco-íris de sentimentos desconhecidos. A felicidade não é sair do mundo, como privilegiados seres, como estrelas de cinema, mas é entrar em contato com a trágica substância de tudo, com o não-sentido, das galáxias até o orgasmo.
E tem mais... este artigo não é pessimista. Temos de ser felizes sem esperanças.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
LA PALOMA, muitas versões...
A pomba que vem à minha janela...
Se uma pomba chega na minha janela, eu a trato com carinho. Conto a ela sobre meus amores, principalmente falo daquele que se foi numa embarcação, naquele dia distante, a quem dei meu coração como se entrega o tesouro maior, e por quem esperarei até o último dia da minha vida. Sei que ele voltará, prometeu-me, pediu que o aguardasse, e me avisou que mandaria muitas vezes, pequenas aves para lembrar-me que ele voaria ao meu encontro, na volta da sua grande viagem...
Observo os arrulhos tremidos da avezinha, são como pequenos soluços das noites de amor que tivemos, soam como quase música aos meus ouvidos, pois em mim reverberam suas frases apaixonadas, seus gritos de prazer, os sussurros de desejo, suas carícias em forma de sorrisos e beijos, nunca esqueço dos seus estreitados abraços, aqueles laços de aconchego, em que me vi presa numa redoma de carinho, para sempre...
Se o pássaro pousa no parapeito da minha varanda, corro ao seu encalço, dou-lhe grãos e inicio uma conversa de amigos, às vezes, de amantes saudosos, vamos nos entendendo como se entendem os enamorados, a ele digo que o tempo não o apagou da minha lembrança, explico-lhe a força de um grande amor, faço-lhe um relato dos meus dias vazios, do quanto olho para o horizonte, sobre o mar azul, tentando enxergar seu barco que logo apontará lá no fundo, e virá, trazendo-o para mim, definitivamente.
Se uma pomba voa até meu quarto, seu bico batendo no vidro da janela em alguma manhã enevoada, eu a recebo com festa, abro-lhe caminho, dou-lhe de beber, acaricio sua plumagem, aguardo que sua respiração se aquiete, percebo que veio de longe trazendo a energia inesquecível do homem amado.
Aí, quando ela parte para novos vôos e some no céu nublado, até que seja um ponto que já não consigo distinguir, rezo as palavrinhas mágicas, soletro-as, emito um gemido gutural, consigo repetir "eu te amo", porque sei que ele me ouve, onde quer que se encontre.
A cada vez que ele me manda a avezinha para me visitar, compreendo que o amor entre nós permanece vivo, como ele me prometeu... e faz tantos anos, que até meus cabelos embranqueceram, eu sei, mas sei também que ele me vela, me recorda, e me ama, sabendo que estou aqui, de onde nunca saí, no lugar em que me deixou um dia, e cumpro o que prometi...Seus recados vem e vão nas asas da pombinha branca, os meus versos de amor o alcançam do outro lado do oceano, e ele um dia virá me encontrar, como prometeu...para nos amarmos sem mais despedidas...
Cida Torneros
terça-feira, 28 de julho de 2009
Viajante... pra mim, a melhor interpretação do Ney!!!
Eu dirigia meu carro, numa noite e liguei o rádio, nos anos 80, estava em Botafogo, a enseada, as luzes, a minha solidão, e entrou essa canção por dentro de mim, pra me emocionar, de um jeito, que nunca esqueci...
Talvez esperando desse viajante algo que ele espera talvez receber...
Quebrar as cercas com que insistimos em nos defender...
Demais....
Ao ouvir agora, passados mais de 20 anos, a emoção se renova, ainda me sinto uma viajante bem tolinha, precisando enfrentar vôos, mesmo sem asas...
Cida Torneros
Dot. com, um dos melhores filmes que vi ultimamente...
Salvem nosso site ( e nos conservem assim aldeões felizes)
Salvem nosso site! as faixas com a campanha deflagrada na aldeota portuguesa, espalhadas entre o casario montanhês, diziam muito mais do que estas pequenas palavrinhas. O que estava a ser salvo, e quem assistir o belíssimo filme, de fotografia impecável, o saberá, é mesmo a vida feliz de uma aldeia chamada Águas Altas cuja melhor altitude é a da sapiência de viver. Um roteiro bem conduzido e engendrado ligando o tempo dos que nem sabiam o que seria a internet ao mundo globalizado de brigas por marca publicitária. Figuras emblemáticas da população, o chefe do povoado, o padre, o doutor engenheiro que projetava a nova estrada, o casal que briga e se divorcia no auge da confusão, a repórter da televisão da capital Lisboa que abandona o amor do engenheiro, a espanhola enviada pela multinacional que vem para oferecer dinheiro e comprar o site. Em meio a uma paisagem bucólica extasiante, o mundo pára e vê o povo de Águas Altas engalanando-se para defender seu direito de ter um site.
Uma delicadeza com pitadas de muita graça. A negociação que envolve até o primeiro ministro português, em plena campanha política, culminando na votação decidida pelos poucos habitantes que chegam a um acordo inusitado para o impasse criado em torno do nome Águas Altas.
Delicioso de ver, envolvente e leve, DOT.com, nos revela uma faceta moderna do cinema português, e nos identifica modos de viver à moda antiga que por ali ainda imperam em costumes de pessoas simples, incluindo até o pastor de ovelhas e o simpático bom dia que todos trocam na sua vida pacata.
A cidadezinha ferve quando a internet lhe chega com a disputa travada junto à multinacional espanhola. O mundo passa a conhecer aquele povoado. Mas, sua maneira de ser é mesmo tão peculiar e prazerosa, que a preciosidade do seu tesouro está justamente no isolamento sem a tal estrada nova.
Salvem o nosso site, e nos conservem aldeões felizes!
Assim foi melhor para todos, mas, só vendo o filme é que poderão tirar suas conclusões. Eu, já tirei as minhas, mas não vou contar aqui.
Aparecida Torneros
Primavera em Portugal ( conto fictício)
Primavera em Portugal
Abril chegou com ares florais e pelas ruas era comum sentirmos o perfume misturado dos cravos e rosas ao passarmos sob os balcões a nos convidarem para alguma serenata em louvor aquelas raparigas sonhadoras debruçadas a observar os moços solteiros.
Meus pés me levavam ao encontro das pessoas amigas, nos cafés e nos teatros, tudo parecia ressurgir em energias de luz como se um encanto da primavera inundasse cada mulher ou homem em busca do seu motivo maior, talvez o grande amor ou o melhor dos sentimentos que deviam experimentar.
Lufadas de vento de pouco frio, sacudiram meus cabelos. Ajeitei-os com os dedos, pude escorrer por entre os fios, meu tato acostumado à seda e ao algodão, gostei de perceber a leveza das finas e embranquecidas madeixas, prova cabal da maturidade que me inundava o semblante. Revi meu tempo. Revi o tempo dos amigos e amigas. Foi-me dada a chance de reviver o sentido de um lugar antigo, apesar de novos olhares e novas expectativas.
O homem do meu carinho já me esperava numa das mesas na calçada da rua principal. Tinha no rosto o sorriso mais extasiante para me ofertar a alegria do encontro. Abracei-o com ternura. Sussurrei um elogio ao seu porte galante, senti-me presa ao seu mundo mágico. Nem cogitei em defender-me. Estava ali, de novo, para viver a primavera. Meu coração floriu. Ele me abraçou com firmeza. A emoção nos tomou conta, sabíamos que estava escrito.
A primavera seguiu seu curso. Brindamos naquela e nas muitas noites seguintes ao sentido da existência que nos é dado viver. Em maio, cantarolamos muitos fados nas madrugadas primaveris, estivemos unidos, trocamos afetos.
Nem quisemos pensar que a futura estação traria o veranico de calor e saudade. Saudades combinam com inverno...Saudades no verão, só as que provocadas pelas primaveras tão floridas como aquela em que nos dissemos tudo o que quisemos, sem floreios.
Tivemos uma primavera delicada, porém densa. Provamos da seiva da paixão ao passo que o amor, com famas de traidor, nos prendeu em rede de boa trama.
Depois, foi questão de nos adaptarmos ao adeus, transformá-lo em até breve, providenciar a volta, e , antes da próxima primavera, lá estava eu, novamente, enredada, nos braços dele, em Portugal.
Aparecida Torneros
Luz dos olhos ( em lateralidade...)
Luz dos olhos...
quando abriu os olhos
ela viu que estava viva e radiante
fulgurava na cama, ao lado do seu amor
e o beijou para saudar o bom dia
com olhos fechados sentiu seu toque
não precisava olhar, podia ver com o coração
o quanto ele a amava naquela manhã de maio
havia uma luz nos olhos dele
e tudo era verdadeiro, tanto que a luz
continuou ofuscando a visão que ela tem do rosto dele
ela o pressente e vê, mesmo sem o ver ou saber para onde viajou...
dele vem uma luz que ela enxerga ao longe, a milhares de quilômetros...
chama-se amor , amor, amor...
a luz dos olhos dele é o próprio amor...
por isso, ela jamais dormirá na escuridão...
Cida Torneros
15 de julho de 2009
Solo ( amores que se pierden)
no dia em que o amor bateu na minha porta
eu o recebi com certa inquietude
quem era ele para me inquietar tão de repente?
preferi deixá-lo entrar e descobrir...
então, o tumulto da sua presença me invadiu...
amar, foi tudo que pude
amar, foi sempre o que fiz
amar, foi somente virtude
amar, também me fez feliz
amar, foi cada verdade
amar, foi toda mentira
amar, foi sempre saudade
amar, foi tanta ternura
amar, foi minha vaidade
amar, foi minha loucura
amar, foi tanto desejo
amar, foi tanta ventura
amar, é tudo que vejo
amar, é cada lampejo
amar, é cada lembrança
amar, é cada esperança
de amar de novo, de novo...
No dia em que o amor saiu pela estrada
o vi seguir o caminho e nem acreditei...
Por isso, aqui estou, sozinha, na soleira,
aguardando sua volta, para que entre
e novamente, eu possa abrir-lhe a porta,
dar-lhe o coração e o corpo, ainda inteira,
com saudades dele, bem viva e não mais tão morta...
Cida Torneros
rj, 27/07/09
a canção Ave de Cristal... na minha vida...
A canção Ave de Cristal...na minha vida...
Eu tinha perdido um grande amor, há muitos anos atrás. Meu amigo me dava uma carona de um trabalho em são Paulo, e eu chorava como criança, ao seu lado, no carro.
Ele teve a idéia de colocar essa música , como um presente carinhoso...
Foi uma mensagem importante, naquele momento, senti o quanto era importante entender aquele conteúdo, misto de profecia indígena, de canto lamentoso de tribo que habita a montanha longínqua...
Pedi que me enviasse a música depois, eu queria tê-la comigo, pois sabia que muitas vezes ainda na vida, ia precisar de lembrar da Ave de Cristal que se quebra como no conto andino, pois o amor é frágil e delicado, embora possa parecer forte e presunçoso.
Sua maior verdade se faz de momentos guardados na lembrança de cada amante.
Quando um amor se vái, verdadeiramente, o mundo não se acaba, mas nos deixa marcas, evidentemente, que só o tempo é capaz de cicatrizar.
Essa música me traz a certeza do quanto pode ser sensível o coração de um ser apaixonado...
E me reconforta, sempre...
Cida Torneros
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Manhã ... de espetáculo e paz...
Manhã ... de espetáculo e paz...
Prepara-se o dia...
nalgum lugar a luz se posiciona
a partir do ângulo que se contorciona
sobre a Terra, de rotação em rotação,
a natureza festeja uma manhã a mais...
Os olhos animais se abrem...
em cada olhar de esperança, a vida se renova...
nos campos, nas plantações, nas estradas
há um reavivar apressado da produção,
ligam-se as máquinas agrícolas, todos sabem
que não é possível parar quando o dia recomeça...
O homem deixa o lar, nas cidades, vai em busca do pão,
a luta que se repete, em tempos de paz ou de guerra,
faz de cada manhã o tempo de reconstruir a vida...
Plantar o trigo, colher a fruta, tirar o leite do seio bendito,
acalmar a tensão pela descoberta da morte, a lida,
sim, ao trabalhar repetidamente, gira como o girassol,
nos prados amarelos, brilhantes, buscando a
luminosidade...
A mulher faz do lar o seu reinado, tudo lhe condiciona,
há em cada filho que nasce uma certa religiosidade...
Nada é mais grave do que a manhã no céu da alma
quando o bem vem dizer no ouvido atento que o amor acalma...
...porque , a cada novo nascer do dia, alguém canta um verso ao sol,
algum louco grita bom-dia, sobre a ponte do rio que corre, a voz ao vento,
alguma dançarina ensaia os últimos passos da madrugada apaixonada,
que deixou saudades,
enquanto alguma criança põe-se a correr,
para que todos se lembrem que o destino abençoa a mágica manhã,
esta que aproxima os povos, ainda que na fantasia, abraça o momento,
eterniza a emoção de ver o fogo do vulcão, a força do tufão, a tempestade,
que se amansou, o astro-rei, aí vem ele, nascendo por trás do monte...
... é possível vislumbrar seus raios alaranjados,
desde a janela de casa ou do avião,
é incrível observar sua densidade mutante e sua abrangência tão
volúvel...
... é quando a manhã vem trazer a passageiro sentimento,
de um sol que ama por amar, sem fixar-se num ponto,
passando adiante, com sua luz caminhante...
... é por isso que o amor, como o sol, dorme e acorda, triunfante,
para que, nas madrugadas, se compreenda a brevidade do dia e da vida,
se desperte o espírito do tempo, na manhã que traz um espetáculo a mais...
... é então, nesse instante sol nascente, que cada ser vivente, amante,
se perdoa por ser tão inquieto, e se redime, por ter tanto desejo de paz...
Cida Torneros
Publicação: www.paralerepensar.com.brr 23/09/2006
Caleidoscópio
Caleidoscópio ( crônica para saudar Helô)
Um sonho de segundos, e o colorido vai passando como num mundo mágico, aos nossos olhos, formando figurinhas brilhantes, flores e cabalas, à medida que os pedacinhos de vidro se movem diante da luz, em espectro sonhador. Helô, a eterna hyppie, me mostrava suas criações, naquelas tardes de Búzios, na casa da Cris, quando eu precisava ver mesmo as cores da vida renovada. Saudade de pintar o mundo com a ilusão de um bom caleidoscópio. Ilusão de ótica, olhar de criança encantada, lá iam meus pensamentos enveredando pela alegria que pode ser tão intensa quando se valoriza um ângulo profundamente especial.
É assim que busco ver os momentos todos. Tão efêmeros na sua beleza abundante, enquanto o milagre da vida acontece para que valorizemos os encontros com os sonhos, mesmo acordados para uma realidade que pode ser dura à nossa volta.
No grande caleidoscópio do universo, os elementos vão mudando de lugar, matematicamente ordenados em crescimento eterno. O bing-bang da explosão originária de que tanto falam os cientistas, nos trouxe essa misteriosa luz para nos fazer criaturas extasiadas com o inexplicável, o espaço que continua a se expandir, os mundos que ainda nos são tão desconhecidos, os planos acima e abaixo que devem ser as tais morados da casa do Pai, como um dia se referiu o Mestre Jesus, numa de suas parábolas tão divulgadas pela fé enquanto nossas figurinhas se enroscam em torno de nossos ínfimos umbigos, a nos ligar ao tempo e ao espaço.
Helô, que um dia encontrei em Buenos Aires, é aquela pessoinha de vida migrante, a mesma que conta histórias da Amazônia, do Morro de São Paulo, que confecciona luminárias e micro-oratórios, como o que tenho aqui comigo, do tamanho de uma caixa de fósforo, com um São José segurando o menino Deus, no colo da fantasia, envolto em pedrinhas brilhantes, colocadas meticulosamente pelas mãos da artista, aquela que sabe presentear com delicadeza dos seus dedos cada vez que cria seu mundinho particular e o divide conosco.
Pois é, como a Helô é a única criatura que conheço que ainda produz caleidoscópios, encantando crianças e adultos, ela me provoca vontades infantis de sair correndo pelos campos, cheirar flores e observar passarinhos, admirar borboletas, deixar que o gosto da chuva me ensope a língua, me encha a boca, no descompromisso quase impossível de viver a liberdade de ser.
Saúdo a saudade dela, nem sei onde está agora, talvez na Atafona do norte do Estado do Rio, talvez na casa da filha que vive na Argentina, quem sabe, novamente, produzindo artesanato pelos lados de Búzios, ou ainda, em alguma seresta de fim de tarde, na casa de amigos cantadores.
Helô me deve um caleidoscópio e vou cobrar, aliás, estou cobrando, pois, em certos minutos do meu universo pequeno e rico de perguntas sem resposta, preciso mesmo é de fixar meus olhinhos num artefato tão múltiplo de imaginação e viajar nas imagens lindas que o acaso vai formando, unindo formas, misturando cores, trocando rapidamente o lugar da geometria engenhosa de algum Deus especialista na criação de pequenas verdades, mentirinhas necessárias e brilhos com sabor de eterna infância.
Aparecida Torneros
ps : A crônica foi escrita em 2008 e a Helô me presenteou com o caleidoscópio meses depois, eu o tenho na minha mesinha de cabeceira, gosto de olhá-lo, na contraluz, à noite, muitas vezes, antes de adormecer.
Cida Torneros
Chuva... cai na minha cabeça... inunda minha alma...
Tem uma chuva insistente
caindo sobre a minha cabeça
é uma torrente, à francesa,
molha meu corpo, me esfria,
traz o gelo da saudade,
mata o calor, me desvia
de qualquer caminho,
tira o meu carinho,
por ti, por ti, por ti...
Tem uma chuva tão gelada
me entranhando os ossos,
minha alma se arrepia,
com essa tempestade fria,
onde está o ardor do teu amor,
onde morreu o desejo da tua vida,
em que ponto do caminho,
em que momento da estrada,
mudou entre nós o tempo,
virou entre nós o clima,
fez-se em nós a debandada
dos sentimentos grudados,
para nos deixar enfim,
alagados em rios gelados,
inundados em solidão,
sob a chuva de cada senão,
sob a mais cruel precipitação
que sobre nós desce assim...
Cida Torneros
Master Casa, exposição no Castelo, em Petrópolis
domingo, 26 de julho de 2009
Jeanne Moreau sings India Song
India Song, texts by Marguerite Duras, music by C. D'Alessio. Chanson, Toi qui ne veux rien dire Toi qui me parles d'elle Et toi qui me dis tout Ô, toi, Que nous dansions ensemble Toi qui me parla...
Joana Francesa... por Nara Leão
Joana Francesa
Composição: Chico Buarque
Tu ris, tu mens trop Tu pleures, tu meurs trop Tu as le tropique Dans le sang et sur la peau Geme de prazer e de pavor Já é madrugada Accord' accord accor...
Eu me apaixonei pela pessoa "errada"...
Minha amiga veio me confidenciar que tinha se apaixonado pela pessoa errada. Fiquei pensando, o que podia eu dizer-lhe que lhe aplacasse aquela angústia aparente, um certo ar de desamparo exposto em seus olhos tristes e a versão acabrunhada de uma mulher que encontrara o paraíso e o inferno ao mesmo tempo?
Preferi calar-me e pedi-lhe que tivesse paciência com seus sentimentos, deixando que o tempo absorvesse as perguntas ainda sem resposta. Talvez o tal certo não fosse tão certo quanto ela imaginava que fosse. Talvez a pessoa errada, concepção extremamente egoísta, representasse, em última análise alguém com muitas diferenças da figura idealizada de ser humano que ela tinha construído em seus sonhos para um dia se apaixonar.
Contive a vontade de lhe falar sobre irreversíveis separações de amantes apaixonadíssimos que sofreriam toda uma vida por não terem voltado atrás e contemporizado mazelas ou questínculas, uma vez que os anos idos, lá vinham os sentimentos adormecidos eclodir como vulcões adormecidos, para fazê-los sentir o arrependimento pelo que não tinham sabido conservar ou viver na plenitude.
Os sonhos interrompidos não valem considerações do gênero atávico, se uma pessoa apaixonada encaixa perfeitamente ou não em nossos ideais de amor, pois o que vale, ao fim e ao cabo, é o sentimento inteiro e profundo que alguém é capaz de nos despertar, independente de todo e qualquer formato pré-estabelecido.
A paixão é paixão pela própria surpresa de surgir e existir dentro de cada um, como um atropelo, um alvoroço, um bólido invasivo que não permite muitas considerações racionais, mas que abre as portas dos sentidos como uma avalancha de percepções embotadas. Eis que aqueles desejos nos tornam vulneráveis e entregues, à mercê do grande momento de estar na companhia do sorriso de alguém, do seu corpo, do seu beijo, do seu abraço, e da sua conversa, mesmo que seja um papo desses de conversa jogada fora.
O apaixonamento é livre de previsões, planejamentos, explicações coerentes, ele acontece por si só, sem muita chance de que se possa medir os parafusos do tal encaixe...as coisas vão se adequando no jeito que der para se encaixarem, a sensação é de que algo nos atrai para o outro ser como um ímã emocional irrecusável.
Aí, deixei que minha amiga percebesse na sua trajetória pessoal, que o auge da paíxão é mesmo um caminho sem volta, é como se transformar num rio corrente e deixar-se desaguar num mar ora revolto e ora plácido.
Apaixonar-se é perder o rumo de si mesmo para encontrar-se em outro corpo, em outro pensamento , no outro, como se este pudesse refletir o espelho da nossa ânsia de sobreviver...
Na paixão pela pessoa certa ou errada, o que conta, enfim, é a capacidade de se viver intensamente e escapar com vida, depois dela, quem sabe, vivendo um grande amor ou uma grande desilusão, tudo é possível...
Cida Torneros
Homenagem ao dia dos avós: conto "Suas orelhas ainda queimam"
Um dia, ela pensou que, na velhice, iria descansar de tanta luta. Tinha tido, durante toda a vida, muita lida, com a dureza do dia a dia, os serviços de casa, a cozinha, as crianças crescendo, o marido reclamativo, a louça se acumulando na pia. Bem, por que lembrar disso agora, passados tantos anos?
Tudo tinha ficado para trás. Os filhos já são quase avós agora, com sua prole em torno dos 20 anos, menos o temporão, o Tavinho, seu netinho mais encantador. Como ela poderia imaginar que veria seus próprios netos na mocidade, tentando entender seus comportamentos incrivelmente estranhos para os conceitos de vida que ela aprendera a valorizar? Ela tenta se adaptar aos novos tempos e procura não ser uma avó desagradável, com incompreensões.
Clarinha, por exemplo, sua netinha de 15, está infestada de peircings. Pelas orelhas, nariz, língua, umbigo, e , só Deus sabe, onde mais. O Bruno, um rapaz de aparência forte e dentes lindos, enfeitou-se com tatuagem no braço, como aqueles antigos marinheiros, e sapecou uma robusta serpente de língua comprida pronta para o bote. Mas, a doce Luana, essa sim, lembra as meninas do passado, tem olhos tranqüilos e gestos calmos. Toca piano, é plácida, romântica e só tem 12 anos. Talvez mude, e disso ela tem medo. Como proteger a frágil menina do mundo agressivo que tem pela frente?
Hoje, morando sozinha, ela, com seus 70, se acha vigorosa ainda. Tem fôlego para ouvir os filhos, tantas queixas e lamúrias. São os telefonemas noturnos, quando eles se lamentam e ela ouve, consola, tenta fazê-los sorrir um pouco. Dá força e convida sempre, filhos e netos para comerem seu bolo de chocolate. Não há tristeza deles que ela não cure com a sua especialidade coberta de calda. Seu maior prazer é ver quando eles vão se acalmando, enquanto saboreiam a gulodice saciando de doçura seus corações inquietos.
Também, nas manhãs de sol, ela caminha para desenferrujar as juntas e aproveita o tempo para rezar por filhos e netos. Ora com freqüência e com saudades, pela alma do marido "reclamão". Se ainda o tivesse por perto, teria, pelo menos, um ombro amigo, na calada da noite, para recostar, quando as orelhas estivessem quentes.
Um dia, ela tinha sonhado com isso, reuniria toda a família em torno de um grande bolo de chocolate para o seu "bota-fora". Era chegada a hora da viagem dos seus sonhos: ia à Grécia, depois de economizar a vida inteira. Finalmente esse dia chegou. Luzia está bonita, produzida, os cabelos alinhados em coque, o terninho bem cortado a transforma em senhora elegante. Prepara-se para a tal viagem. O bolo foi providenciado pelo telefone. Permitiu-se encomendar a goluseima e dispensar-se do forno desta vez.
Os preparativos foram tantos, os filhos e netos se sucederam na fila das encomendas, das recomendações, dos pedidos. Ela iria de táxi, combinou com todos que não queria ninguém no aeroporto. Seu grito de liberdade. Uma mulher vivida e sozinha que parte para a viagem sonhada. Muitos beijos, abraços, promessas de telefonemas, Luzia seca as lágrimas e parte.
Horas mais tarde, a bordo do avião, com a cabeça recostada, tentando acomodar-se à nova realidade, suas orelhas ainda queimam. Tavinho, o neto caçula, não pediu nada, nem um brinquedinho, mas encostou sua boquinha melada de menino de três anos bem no ouvido direito da avó e disse assim, em tom pedinte e choroso: - Vó, o bolo de chocolate que você me deu agora tá muito ruim Tudo bem ,eu entendo, você tava com pressa de viajar, não é? Volta logo dessa tal de "Gréchia" e aprende de novo a fazer aquele bolo que eu adoro!
sexta-feira, 24 de julho de 2009
VIVA SANTIAGO APÓSTOLO, DIA 25 DE JULHO!!
Oração a Santiago
Ó meu Santo Padroeiro,
Meu Santiago Patrono,
Santo dos Peregrinos,
Dos eternos viajantes,
Dize-me o que vem primeiro,
Se o ardor dos amantes
Ou os amores meninos...
Mostra-me justo caminho
Para somar, acrescentar,
Na vida daquele mocinho,
Por quem hoje tenho paixão...
Ajuda-me a ajudá-lo,
Nos momentos de enfermidade,
Nos instantes de saudade,
Nas agruras da divisão...
Protege-o, eu imploro, sim,
Eu prometo agradecer, amá-lo,
Para sempre amor sem fim...
Ó meu santo dos Caminhantes,
Salva meus pés, leva meus passos,
Conduze-me no rumo certo,
Mostra-me a luz, um céu aberto,
Sem fugas, sem sofrimentos,
Permanece-nos bem atentos,
No respeito, na paciência...
Santiago, santo digno e forte,
Abençoa-nos até a morte,
Guarda-nos na obediência,
Dá-nos a força dos ventos
Para empurrarmos os dias
E o equilíbrio do fogo,
Para aquecermos as noites...
Sê em nós a razão de tudo,
Leva-nos ao Deus supremo,
Toma conta dos nossos corações,
Envolve nossos corpos em preces.
Tem compaixão dos nossos senões,
Fraquezas humanas, revoltas, regressões,
Entende que nossas intenções
São as melhores, boas e doces.
Ó santo dos questionadores,
Daqueles que buscam amores,
Além de encontrarem as dores,
Mas que insistem em prosseguir...
Somos teus seguidores, somos,
E no teu dia, somos a alegria,
De encontrar-te nas flores,
De rever-te nos gnomos,
De saber-te companheiro,
Das nossas andanças, cobranças.
Te ofertamos, em versos,
Nossa oração, a intenção
De honrar-te na fé que guia.
Cida Torneros
Camille Claudel, a paixão por Rodin
se a paixão enlouquece, o amor cega
se o amor cega, a saudade adoece
se a saudade adoece, o abandono definha
se o abandono definha, a distância corrói,
se a distância corrói, a lembrança mata,
se a lembrança mata, a arte ressusctia,
se a arte ressuscita, o reconhecimento refaz,
se o reconhecimento refaz, a piedade destrói,
se a piedade destrói, o isolamento desumaniza...
assim aconteceu com Camille, louca e isolada,
artista e esquecida, amante e apaixonada,
enclausurada e injustiçada, prisioneira e incapaz
de reagir, ela se entregou à dor nas curvas da vida,
e dali não mais saiu,não conseguiu deixar para trás,
sua alma se fez vagante, sua arte sublimada e sofrida...
Camille, cuja paixão por Rodin foi doentia e além da medida...
Descansa, menina, que o teu amor é além e não se desfaz,
Camille, ouve a canção que vem do tempo, ainda é tua a vida,
ainda é tua a arte, ainda é tua a luta insana pela felicidade...
Camille, anjo, deixa que te admiremos pela obra e por teu meigo ser
nada foi em vão, tuas emoções e tua história todos querem saber...
Cida Torneros
Camille Claudel
“Pior ainda foi sua inércia com o destino da irmã do poeta Paul Claudel, Camille, que foi sua assistente e amante. Ele tinha 43 anos, ela 19. Enquanto Rodin se cobria dos louros, Camille foi internada no hospício do Mondevergues, de onde só saiu para a cova, 30 anos depois. Hoje seu valor é reconhecido, seja através de exposições ou do filme Camille Claudel, estrelado por Isabelle Adjani”.
(Mauro Trindade)
Paris, século XIX.
Uma mulher decide quebrar os laços com sua classe social, com a moral vigente e com as normas de conduta bem aceitas em sua época. Foi considerada louca, internada por 30 anos num hospital psiquiátrico – até sua morte – depois de entregar-se furiosamente a sua arte e a um mau amante, escultor abastado e famoso. Ele, o imperecível Auguste Rodin. Ela, a intuitiva e talentosa escultora Camille Claudel, personagem de filmes, razão de poemas, mulher arrasada, infeliz e mal compreendida. Ingredientes que tornam a sua biografia fascinante aos olhares curiosos. Tudo o que se acrescente como condimento de frescas novidades sobre esta escultora – vitimada mais pela sociedade que pela loucura – exerce, talvez por isso, um encanto hipnótico e avassalador.
Não se sabe porque cargas d’água uma certa “intelectualidade” sente prazer irresistível pela tragédia moral e exalta como ponto de virtude o sofrimento do artista. Ao que parece, quanto mais estilhaçados melhor; quanto mais dolorido, mais doce (veja-se o caso da pintora mexicana Frida Kallo, que atualmente tem suas obras em altíssimas cotações no mercado de arte). O que importa em Claudel; aliás, o que deveria importar num momento em que se faz a revisão de sua obra, seria destacar o seu alto valor estético, sua ruptura com uma manifestação escultural adormecida e que era já, depois de um certo tempo, construcção oficial das formas em Rodin. Deveriam ser exaltadas estas coisas, não sua desgraça.
Não se pode negar o gênio a Rodin, mas deve-se questionar o quanto de preconceito e de sua postura como inverso de mestre prejudicaram um talento manifesto. Que não era mais florescente apenas, mas que exigia ar e aparecimento: ela, Camille. Ela, que num sopro poderia ser, sim, mais do que ele. E isso lhe era insuportável.
Camille era pouco conhecida do público. O reconhecimento de seu talento ficava restrito a artistas e intelectuais, mas mesmo entre eles o seu comportamento incomum assumia feições de desvario. Sua família era rica, mas a adolescente apaixonada pela escultura não se deixava ficar entre rapapés, na condição de mulher passiva e obediente, à espera de um marido bem aquinhoado e cordato, largada das coisas impuras da arte. Muito pelo contrário. Desde menina fugia de casa para extrair barro para suas esculturas. A mãe, no entanto, se opunha à ambição de ser artista da pequena Camille. A sociedade francesa, preconceituosa e machista, também colocava muros à sua frente. Ela tentou passar por todos eles. Era mulher, e a escalada se tornava ainda mais difícil. O lance crucial de sua vida ocorreu quando decidiu empregar-se no estúdio do escultor Rodin, com quem pouco tempo depois passa a conviver na condição de amante.
A união marginal atiçava os comentários. Uma jovem impetuosa e um homem rico, famoso e mais velho, convivendo sem casar oficialmente... Mas o fator determinante para os transtornos que se seguiriam a essa união não partiram exatamente daí. Tratava-se, no fundo, de um embate de natureza artística entre a intuição criativa de Camille e o apuro conquistado em anos de estudo pelo escultor oficial do governo francês, Auguste Rodin .
O rompimento entre os dois era a única saída para a sobrevivência criativa da jovem aluna que abalara de forma tão radical o universo artístico de seu mestre. Rodin não admitia as diferenças de potencial criativo entre ele e Camille. Quando a artista percebeu estar sendo usada por Rodin, veio o rompimento.
Camille ficou só. O irmão Paul Claudel, poeta, viajara para os Estados Unidos e lhe faltava mais esse amparo. Passou a criar obsessivamente; percebia-se, contudo, que perdia a sanidade. O golpe final veio quando, durante uma exposição, não conseguiu vender nenhuma escultura. O fracasso, o álcool, e agora o descrédito, somados às suas muitas decepções, fizeram-na indignar-se a tal ponto que, em dado momento, destrói as peças que havia criado.
Acaba interna como louca.
CAMILLE
Ave para recolher os dons de Fênix, estrela que encontrou de vez na sombra e no oceano – e que esteve entre o sol e a poeira, na maciez do barro enfim ressuscitado.
Ela esteve no mar, depois na praia descoberta, e no final do túnel, vão da escada, amor-derrota bem próximo à janela.
Seu corpo exaltava exílio e ostras, o coração pulsava como um incêndio, as mãos tocando chama e desespero com inigualável horror.
O corpo tombava como o touro tomba na arena só, prostrado.
A voz – a mesma que calou ao pronunciar Rodin – jamais conteve o astro.
C'EST MA VIE - SALVATORE ADAMO
Salvatore Adamo - C'est Ma Vie
Notre histoire a commencé
Par quelques mots d'amour
C'est fou ce qu'on s'aimait
Et c'est vrai tu m'as donné
Les plus beaux de mes jours
Et je te les rendais
Je t'ai confié sans pudeur
Les secrets de mon cœur
De chanson en chanson
Et mes rêves et mes je t'aime
Le meilleur de moi-même
Jusqu'au moindre frisson
C'est ma vie, c'est ma vie
Je n'y peux rien
C'est elle qui m'a choisi
C'est ma vie
C'est pas l'enfer,
Mais c'est pas l'paradis
Ma candeur et mes vingt ans
Avaient su t'émouvoir
Je te couvrais de fleurs
Mais quant à mon firmament
J'ai vu des nuages noirs
J'ai senti ta froideur
Mes rires et mes larmes
La pluie et le soleil
C'est toi qui les régis
Je suis sous ton charme
Souvent tu m'émerveilles
Parfois tu m'oublies
C'est ma vie, c'est ma vie
Je n'y peux rien
C'est elle qui t'a choisi
C'est ma vie
C'est pas l'enfer,
Mais c'est pas l'paradis
J'ai choisi des chaînes
Mes amours, mes amis
Savent que tu me tiens
Et devant toi, sur scène
Je trouve ma patrie
Dans tes bras, je suis bien
Le droit d'être triste
Quand parfois j'ai l'cœur gros
Je te l'ai sacrifié
Mais devant toi j'existe
Je gagne le gros lot
Je me sens sublimé
C'est ma vie, c'est ma vie
Je n'y peux rien
C'est elle qui m'a choisi
C'est ma vie
C'est pas l'enfer,
Mais c'est pas l'paradis
C'est ma vie, c'est ma vie
Je n'y peux rien
C'est elle qui m'a choisi
C'est ma vie
C'est pas l'enfer
Esta letra foi retirada do site www.letrasdemusicas.com.br
quinta-feira, 23 de julho de 2009
Mona Lisa Nat King Cole
Nat King Cole - Mona Lisa
*Mona Lisa, Mona Lisa, men have named you
You're so like the lady with the mystic smile
Is it only 'cause you're lonely they have blamed you?
For that Mona Lisa strangeness in your smile?
Do you smile to tempt a lover, Mona Lisa?
Or is this your way to hide a broken heart?
Many dreams have been brought to your doorstep
They just lie there and they die there
Are you warm, are you real, Mona Lisa?
Or just a cold and lonely lovely work of art?
instrumental interlude
Do you smile to tempt a lover, Mona Lisa?
Or is this your way to hide a broken heart?
Many dreams have been brought to your doorstep
They just lie there and they die there
Are you warm, are you real, Mona Lisa?
Or just a cold and lonely lovely work of art?
Paris, maio, 2009
Fazia frio naquele maio, primavera de 2009.
Marie deslumbrou-se com tudo o que pôde ver e tudo o que lhe foi dado sentir.
Sabia que estava chegando a Paris, com pelo menos 40 anos de atraso.
Mas, tudo bem, pensou, antes tarde do que nunca... e foi viver seu sonho, com a inquietude própria da juventude que resgatou nos dias em que ficou na capital francesa, bebendo da fonte de tantas histórias que lhe embalaram a vida, nascidas ali, entranhadas em sua memória de observadora das gentes e dos fatos.
Quando alguém sussurrou no seu ouvido aquelas frases de amor, Marie reconheceu tantas cenas de tantos filmes que já assistira que ficou difícil distinguir a que momento cada uma delas se referia. Marie as colocou todas juntas num caldeirão de perplexidade, preferiu vivê-las, sem questionar demais de onde vinham e para onde iam...
Meses depois, de volta ao Baasil, Marie identificou pelo menos uma delas, do film Um homem uma mulher, dos anos 60, justamente a frase do desencontro, da despedida, do amor que não vingou, entre o casal protagonista do enredo, pais viúvos de duas criancinhas que se conheceram na porta da escola onde seus filhos estudavam,e, por causa de uma carona até Paris, envolveram-se num lindo e inesquecível romance...
Marie sentiu-se então como a própria Mona Lisa, sorriso indefinido, sem saber se tudo tinha sido tão bom ou tão mau... fez-se a dúvida... rir ou lamentar a história de amor vivida em Paris?
Marie voltou a olhar suas fotos com precisão, tinha no olhar um fogo qualquer em meio aquele frio todo... havia uma luz brilhante em cada pupila e um sorriso satisfeito lhe enfeitava o rosto... impossível chorar de vez...ia só chorar mais um pouquinho, de saudade, e abreviaria o tempo para não prantear mais algo que estari bem localizado num museu, como homenagem, a escultura do sentimento, tal qual a do pensador, de Rodin, ideal dos que transmutam sensações em arte, e vice-versa.
Para a doce Marie, ali estava a solução de tudo...Paris é mesmo um lugar para se amar a arte com a sensação dos sonhos...
Cida Torneros
Paris : Marie, como bonequinha de luxo!!
Paris: Marie, como bonequinha de luxo!!
Mais uma vez, Marie reproduz alguma cena de um filme. Aquela bonequinha de luxo , vivida por Audrey Hepburn, no Breakfast in Tiffani's, protegida por um apaixonado, buscando carinhosamente conversar com seu gatinho de estimação ( Marie agora tem A.BB, um pretinho e branco, pequenino e experto ,que lhe faz companhia), a menina se entusiasma com o enredo, mas diz ao seu analista que tem pedaços que quer esquecer.
O experiente terapeuta acompanha um momento de lamentação e presencia as lágrimas que ela tenta prender, mas não consegue, ao sussurrar: - eu queria mesmo era esquecer essa história... entretanto o médico, que a acompanha, há alguns anos, vai dizendo baixinho com frases em tom seguro:
Marie, há uma parte desta história, que você não precisa e não vai esquecer, é o seu lado capaz de vivenciar o amor além do aspecto cronológico dele, sabendo que o sentimento que se apresentou em você não foi um filme de ficção simplesmente, mas uma realidade. A outra parte, entendo, sobre o fim do enredo, terá é que aceitar, sem entretanto mutilar em seu caminho essa propriedade tão sua, a de viver com intensidade cada dia e cada momento.
Para a entendiada e triste Marie de hoje, talvez ainda seja difícil imaginar-se voltando às suas sonoras gargalhadas, mas observa atentamente o caminho de volta, saindo do consultório, na manhã invernal carioca, com o sol lhe presenteando cores sobre o verde mar. Ela se encanta com a paisagem do Pão de Açúcar, a enseada de Botafogo, o céu claro, as pessoas e os barcos, o movimento das ondas, sua cidade em contraponto a Paris, onde viveu um sonho que acabou. Volta-se para dentro no intuito de escutar seu compasso sensitivo, sabe que ao estudar a lingua francesa comprometeu-se a visitar outra vez aquele lugar, mas será de outro jeito, disso tem certeza.
Prepara-se então para o fim de semana, viagem que fará com um grupo de amigos, na Serra, onde irá participar de encontro feliz, campeonato de cavaleiros e amazonas, esporte e competição, alegria e bons papos, boa mesa e boa bebida, o mundo do luxo para uma bonequinha extenuada.
O sol ainda brilha, Marie compreende, um amigo a procura por telefone avisando que está atento e preocupado com ela. Sua resposta é breve, mas firme: estou remando o barco devagar, amigo, não vou desistir...
Disso ela tem certeza, deve esquecer o que a magoa e lembrar sempre do que a fez ou faz feliz. Se viveu tantas coisas boas, merece continuar vivendo cada uma delas, a seu tempo, e com sua intensidade, de acordo com os novos sonhos que irão surgindo.
Para Marie, o tal filme da Audrey é fundamental como referência , já que no mundo, os sentimentos não devem se confundir com elementos de consumo. Há que preservar os bons sentidos e não misturá-los jamais com desilusões. Estas, como no roteiro encenado pela Audrey, ficaram para trás. E no filme vivido por Marie, em Paris, coincidentemente, o final é feliz, porque ela só lembrará de editar, inteligentemente, os melhores momentos, para reproduzir tão gratificante produção cinematográfica, daquelas que o público não se cansará de rever e relembrar. Ela também!
Cida Torneros
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Essa moça tá diferente... uauuuuuuuuuuuuuuu
Ela era eu, e eu era ela, em 69, vendo o astronauta descer na lua, saindo em 70, pra dançar na rua, em Copacabanha, quando o Brasil ganhou a copa. Tanto copo, tanto samba, tanta lua, tanta rua, a moça era eu, magicela, saltitante, cercada de gente, na areia, na maré cheia, em noite de lua branca, éramos um bando de meninos e meninas caminhando na madrugada, o Chico saltando de banda, soletrávamos a banda que passava, víamos o mundo passar e virar de cabeça pra baixo, o país se escondia no subterrêneo da torturada juventude, da torturante ditadura, nós éramos eles e eles eram todos os que nos perseguiam, dedos em riste, a praia vazia nos dias de chuva, os ventos soprando nos dias de agosto, o amor disposto, aquele que crê, amor de gente nova, de moços e moços, pobres criaturas sonhadoras, com direito a se encantar pra desancantar depois, dando guinadas no futuro, deixando de ficar na janela, descendo para o asfalto, ganhando as calçadas, desfilando de minis, fazendo parte da história, na passeata, no ato, no protesto, no sexo, no envolvimento, no engajamento, da tomada de lugar, marcando posição, defendendo a liberdade, gritando questões de ordem, desordenando tudo, uma geração inteira, de hippies e guerrilheiros, de gente esfusiante, desafiante, corajosa, em verso e prosa, eles eram elas e elas eram eles, os barcos embarcando canções, festivais, composições, prêmios, viagens, novos rumos, novos baianos invadindo os templos boemios cariocas, os meninos do Rio, os morros que nao tinham vez, e que buscaram voz, que se favelizaram, as comunidades somos nós e os instintos são de todos...as fotos e os filmes em preto e branco, a revelação, o processo, no escuro, a imagem de um tempo, ela era eu, eu era ela, ele nem sabia se era o meu bem, eu nem sabia lhe dar o meu amor, éramos assim, a medida de um momento em que o mundo parecia simples de ser encarado e resolvido, e ela era prá-frente, e ele estava prá-lá-de-marraqueshi, baseando-se na previsão do tempo, em Woodstok, sem destino, sem lenço , sem documento,ela nem se importava com o cílio postiço, tinha blindagem e maquiagem, usava a pílula, era moderna, misturava os hálitos, os hábitos, os duas peças, os monoquinis, biquini cavadão, o asa delta, o puro sangue de trote vencedor, lá ia ela , e eu era a própria alegria de ser, naqueles anos de 69 e 70, por sentir o amor, enquanto ela era a própria tristeza de ver, naqueles anos de 69 e 70, por ver a dor dos presos políticos, ela e eu nos confundíamos, nos alternávamos, nos desentendíamos, nos questionávamos, nos enturmávamos, nos acostumávamos a ser ora ela e ora eu...
agora ela tá diferente de mim e eu tó diferente dela, só no tempo, porque na carinha de hoje, ambas, reproduzimos a de anteontem, ainda bem...
Cida Torneros
terça-feira, 21 de julho de 2009
Samba do grande amor... mentiraaaaa, como será o amanhã...
Grande Chico, no seu samba do grande amor, desafiando as marcas do sonho desfeito do grande amor, aquele em que a gente investe, aposta e encosta na proposta de vida. Tem gente sonhando com ele dos 8 aos 80, e, se ele nao vem nunca, ou se chega nos enganando, só resta cantar para afogar as mágoas...
A Gal completa o momento especial, interpretando essa música que remete ao mundo particular das desilusões de um amor que não deu certo, e deixou um coração empedrado, que nao pertence mais a um sonhador, de peito derretido pela paixão.
Aí, Djavan dá o seu na dor do amor que não vingou, aquele amor que ficou no desejo e na imaginação, o fim da fidelidade, o casamento que nao aconteceu, a volta que se levou de alguém que mentiu, ou a promessa que não foi atendida, por quem se viu confiando numa flor que lhe deu ânsias de realização que não passaram de vazias projeções.
O Samba do grande amor explica, sinteticamente, como a amargura se instala na alma daquele que ama ou amou esperando o que não acontece, não vingou e não vai ser realidade nunca...
Melhor dar risada, zombar dos sentimentos sinceros e exigir respeito pela decisão de nunca mais amar... um grande amor...melhor amar os pequeninos, os amores de ocasião, os amores descartáveis...e nunca mias mergulhar no trampolim da mentira...ou será melhor acreditar que o amanhã nos fará felizes, de alguma maneira, com um destino de cores e luzes, ainda que não tenhamos certeza de nada, quando se achar que é o grande amor a nos envolver, melhor duvidar dele, duvidar sempre...pode ser mais uma mentiraaaaaaaaaaaaa....
Cida Torneros
AMIGOS PARA SEMPRE...A LISTA...REFLEXÕES , EM TEMPO...
Reflexões sobre a amizade, em tempo...
A cada ano, toda vez que chega o dia do amigo, tenho refletido muito sobre a presença de amigos e amigas em nossas vidas. Sua importância enquanto soma ou subtração, de todos os modos, aqueles com quem dividimos bons ou maus momentos, permanecem na nossa lista ainda que a morte e as distâncias físicas ou emocionais os levem para lugares da saudade e das muitas lembranças.
É possível sempre, sorrir de novo, quando rememoramos episódios vividos ao lado de pessoas que nos fizeram rir, nos ouviram , nos compreenderam, nos apoiaram, nos repreenderam, ou até nos extenderam mãos e nos deram colo e ombros para nossos lamentos e nossas dores. Alguns se cansam mesmo e vão renovando suas amizades, o que é saudável, pelas circunstâncias da vida, entretanto, nos corações dos amigos , sem pre fica um lugarzinho para cada um que nos cruza o caminho porque todo ser a quem devotamos carinho e paciência em determinada fase, certamente tem seu grau de importância e merece respeito pela consideração a nós devotada.
Há que rir com os brincalhões, os piadistas, os festivos, os eternos amigos de adolescência, ou os que são mesmo e para sempre, adolescentes, que nos enchem de vivacidade e saltitante entusiasmo permanentemente. Mas, há os brigões, os esquentados, os rancorosos, os desconfiados, os ciumentos, e não escapamos de ser ou exercer tais lados transversos, nós mesmos, que somos, também criaturas humanas, eventualmente acometidas de ataques, desequilíbrios, e outros "pitis", que só mesmo os verdadeiros amigos para aturarem, perdoarem, e, um dia, pacientemente, ao nos reencontrarmos ( já aconteceu comigo) nos perguntamos:
- Por que foi mesmo que deixamos de falar há tantos anos?
Sonoras gargalhadas nos reaproximam, pois o clima da amizade latente e salutar permanece, além de tantos contratempos e principalmente, através do velho e traiçoeiro tempo, que nos faz olhar cada amigo ou amiga, vendo-o como menino ou menina, jovem, mesmo que se tenham passado 20 , 30 ou 40 anos, isso nao conta, o que conta é a sensação feliz de tê-los por perto em carne e osso, ou em alma e coração.
Em nosso dia-a-dia, os amigos nos acompanham, alguns são mais presentes, telefonam, viajam conosco, vão a festas, barezinhos, cinemas, nos visitam e nos convidam. Outros, nos amam e são retraídos, pouco expressam do seu sentimento, mas é possível perceber seu carinho através de olhares, pequenos gestos, e em ocasiões inesquecíveis. É preciso aceitar e retribuir de modo especial e sui-generis cada manifestação de amizade, pois toda e qualquer uma delas, significa desejo de cuidar do sentimento que nos une a alguém para seguir juntos por estradas que ora se cruzam e ora se afastam, mas que compõem o grande labirinto da estrada da vida.
Também, é gostoso quando conseguimos transformar amores em amizades, desfrutando da companhia dos ex e das ex, sem preconceitos, com carinho extraído dos bons tempos em que estivemos ou namorando, ou casando ou nos apaixonando... e perceber que há uma linha tênue que junta homens e mulheres em prol do seu crescimento e aprendizado de como viver a vida, de como fazer alguém feliz por perto e até bem longe, quando o mundo gira e tudo se transforma em energia positiva para seguirmos em frente.
Daí, que gosto das duas versões musicais deste post...
Amigos para sempre...e A lista, boas reflexões, no dia seguinte ao dia do Amigo
Cida Torneros
My dear friends, we are the world!!
MENSAGEM DA MINHA PRIMA-IRMÃ-AMIGA MARIA CARMEN:
" Quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro." Quero que você saiba que é muito importante para mim ter a sua amizade. Que a nossa amizade seja sincera e duradoura.Parabéns pelo dia do amigo!!! Beijos , CARMINHA