domingo, 26 de julho de 2009

Eu me apaixonei pela pessoa "errada"...



Minha amiga veio me confidenciar que tinha se apaixonado pela pessoa errada. Fiquei pensando, o que podia eu dizer-lhe que lhe aplacasse aquela angústia aparente, um certo ar de desamparo exposto em seus olhos tristes e a versão acabrunhada de uma mulher que encontrara o paraíso e o inferno ao mesmo tempo?

Preferi calar-me e pedi-lhe que tivesse paciência com seus sentimentos, deixando que o tempo absorvesse as perguntas ainda sem resposta. Talvez o tal certo não fosse tão certo quanto ela imaginava que fosse. Talvez a pessoa errada, concepção extremamente egoísta, representasse, em última análise alguém com muitas diferenças da figura idealizada de ser humano que ela tinha construído em seus sonhos para um dia se apaixonar.

Contive a vontade de lhe falar sobre irreversíveis separações de amantes apaixonadíssimos que sofreriam toda uma vida por não terem voltado atrás e contemporizado mazelas ou questínculas, uma vez que os anos idos, lá vinham os sentimentos adormecidos eclodir como vulcões adormecidos, para fazê-los sentir o arrependimento pelo que não tinham sabido conservar ou viver na plenitude.

Os sonhos interrompidos não valem considerações do gênero atávico, se uma pessoa apaixonada encaixa perfeitamente ou não em nossos ideais de amor, pois o que vale, ao fim e ao cabo, é o sentimento inteiro e profundo que alguém é capaz de nos despertar, independente de todo e qualquer formato pré-estabelecido.

A paixão é paixão pela própria surpresa de surgir e existir dentro de cada um, como um atropelo, um alvoroço, um bólido invasivo que não permite muitas considerações racionais, mas que abre as portas dos sentidos como uma avalancha de percepções embotadas. Eis que aqueles desejos nos tornam vulneráveis e entregues, à mercê do grande momento de estar na companhia do sorriso de alguém, do seu corpo, do seu beijo, do seu abraço, e da sua conversa, mesmo que seja um papo desses de conversa jogada fora.

O apaixonamento é livre de previsões, planejamentos, explicações coerentes, ele acontece por si só, sem muita chance de que se possa medir os parafusos do tal encaixe...as coisas vão se adequando no jeito que der para se encaixarem, a sensação é de que algo nos atrai para o outro ser como um ímã emocional irrecusável.

Aí, deixei que minha amiga percebesse na sua trajetória pessoal, que o auge da paíxão é mesmo um caminho sem volta, é como se transformar num rio corrente e deixar-se desaguar num mar ora revolto e ora plácido.

Apaixonar-se é perder o rumo de si mesmo para encontrar-se em outro corpo, em outro pensamento , no outro, como se este pudesse refletir o espelho da nossa ânsia de sobreviver...

Na paixão pela pessoa certa ou errada, o que conta, enfim, é a capacidade de se viver intensamente e escapar com vida, depois dela, quem sabe, vivendo um grande amor ou uma grande desilusão, tudo é possível...
Cida Torneros

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