segunda-feira, 29 de junho de 2009

A escritora francesa Catherine Millet esta´ na FLIP



Entre os aguardados autores estrangeiros que estarão na FLIP, nestes próximos dias, em Parati, estão confirmados o americano GayTalese, um dos fundadores do new journalism, modalidade que utilizatécnicas da literatura no jornalismo, e a francesa Catherine Millet, que ganhou notoriedade em 2001, com o relato autobiográfico A vida sexualde Catherine M.

Sonhando acordada

Autobiografia da escritora francesa Catherine Millet discute o ciúmes
Comecei a folhear minha vida desde os primeiros anos partilhados com Claude. Levei para a vida ativa de adulta o método usado durante o período de espera da infância e que não havia me decepcionado, e adquiri o hábito de intercalar o desenrolar de meus dias com constantes e elaborados sonhos diurnos. Eles participam a tal ponto do meu equilíbrio que estou convencida, por exemplo, de que minha inaptidão para aprender a dirigir carros se deve a uma vontade instintiva de dedicar aos sonhos esses momentos tão perfeitamente apropriados que são os deslocamentos nos transportes em comum. Passivo, cativo, o corpo fica tão perfeitamente abandonado quanto durante o sono, enquanto reservamos à inconsistente representação de nós mesmos, com a qual o substituímos, uma posição quase sempre melhor, mais bem controlada do que nos sonhos noturnos. Aliás, quem, ao sair de um sonho ruim, nunca tentou prolongá-lo, para poder corrigir a impressão nefasta, com o happy end de um devaneio consciente ou semi-inconsciente? Todos aqueles que compartilham comigo essa tendência sabem o prazer que tiramos das janelas abertas, na altura do metrô de superfície, e que nos mostram sem pudor flashs de intimidade, das fachadas, com seu reverso secreto, ao longo das quais deslizamos quando atravessamos de carro uma cidadezinha do interior, das conversas entre nossos vizinhos no compartimento de um trem, nas quais nos intrometemos fingindo que estamos dormindo. Por mais breve que tenha sido a visão, por mais fragmentada que seja a percepção de nossos companheiros de viagem, uma minúscula porção de nós mesmos também é arrancada e, como essas câmeras de televisão indiscretas, que fingimos serem manipuladas por um operador invisível, continua penetrando no interior do apartamento parisiense, da casa do interior, da briga familiar no banco ao lado. O sonhador difrata sua vida. O mundo desenrola diante de seus olhos tantas imagens atraentes, ou perigosamente curiosas, que ele gostaria de refletir todas, e coloca-as em perspectiva, isto é, aprofunda-as e enriquece-as. Uma teatralização espontânea faz com que, em alguns segundos, ele vá morar naquele apartamento, naquela casa, mesmo que eles sejam o extremo oposto de seu gosto; "Faço parte da vida dessa família", ele gosta de imaginar, percorrido por um arrepio, se a discussão entre essa última revela valores dos quais ele sempre fugiu. De certo modo, os pais de uma criança sonhadora têm razão de temer que mais tarde ela não tenha personalidade, porque o que se entende geralmente por isso é "personalidade única", e, de fato, o sonhador prefere ser várias pessoas, viver várias vidas, muitas das quais têm a mesma consistência e a perenidade de um grão de poeira que uma corrente de ar deixou por acaso na entrada de uma casa. Por outro lado, estamos enganados ao acreditar que aquele que devaneia se afasta do mundo, pois quase sempre suas outras vidas o colocam, pelo contrário, em empatia com ele.

Certos devaneios, é natural, são eróticos, e mergulhei neles muito antes de saber em que consistiam exatamente os atos sexuais, quando eu ainda os assimilava apenas aos beijos na boca e às carícias nos seios. Aliás, é provável que minha natureza sonhadora combine com minha tendência à masturbação. Desde jovem, acompanho minhas sessões de masturbação com construções fantasiosas, a maioria delas longas e muito elaboradas. Elas são recorrentes e vão se tornando complexas e se ramificando ao longo do tempo, às vezes durante anos, como essas novelas que não acabam nunca e cujo roteiro é improvisado de acordo com a inspiração dos autores. Eu não saberia atingir o orgasmo sem elas. No entanto, os devaneios eróticos não estão todos ligados ao ato da masturbação.

Os protagonistas de meus filmes pornográficos mentais têm traços físicos e morais ao mesmo tempo estereotipados e compostos de registro amplo. No interior de categorias - o dono ganancioso de bar ou de clube, o homem de negócios apressado, o bando de jovens desocupados, o estrangeiro que diz obscenidades numa língua que não compreendo, etc. -, vario as idades e os tipos físicos. Excepcionalmente, eles endossam a personalidade de homens reais que fazem parte do meu círculo ou com os quais cruzei por acaso, e nem mesmo se parecem com os astros de cinema que me faziam desmaiar quando eu era adolescente. Se há muitas analogias entre circunstâncias e ações que pude viver e aquelas que são elaboradas pela minha imaginação, se essas últimas prefiguraram surpreendentemente as primeiras ou delas se inspiraram, por outro lado, nem meus parceiros na vida, nem meus amigos, nem simples conhecidos penetram nesses devaneios. Uma dessas fantasias masturbatórias é incestuosa. É facilmente compreensível que, nesse caso, o tabu seja suficientemente poderoso para que eu substitua a lembrança da figura de meu pai por um corpo bem diferente do dele e inconstante. De um modo geral, porém, chego a ponto de me não me permitir apelar para um desconhecido que eu tenha visto na rua. É claro que não posso compor meus personagens de outro modo que não seja a partir de traços de pessoas reais, colhidos aqui e ali, mas essas referências são negligenciáveis, ou dissimuladas, ou inconscientes. Não é possível nenhuma identificação com uma determinada pessoa. Mesmo quando senti, com toda a lucidez, um forte desejo por um homem, sem que esse desejo pudesse ser satisfeito a longo ou curto prazo, ou mesmo fosse possível, nem por isso compensei a frustração realizando-o na fantasia. A constatação é curiosa: o espaço dos meus devaneios é tão impermeável, tão radicalmente proibido a qualquer pessoa que tenha a meus olhos a mínima identidade, que, embora eu pudesse acolher essa pessoa sem muita hesitação na intimidade da minha vida sexual real, se houvesse finalmente essa oportunidade, ela passaria a ser excluída dos meus devaneios eróticos. Posso fantasiar histórias elementos distintos, num nas quais me vejo na companhia desse homem; tenho um encontro com ele, invento nossa conversa, mas a fabulação pára por aí, antes das palavras e dos gestos de luxúria. Sou incapaz de erguer dessa maneira o obstáculo ou a proibição que o real me impõe e ter prazer nessa transgressão mental. Para partir com toda a liberdade, minhas fantasias sexuais têm que soltar as amarras, e é bem provável que o terrível capitão a quem entrego o leme nesse momento não gostasse de ver surgir, num ínfimo sobressalto de consciência, no meio da tripulação, uma figura conhecida que lhe lembrasse as leis da terra firme.

Muitos encontros feitos ao longo da minha vida amorosa e sexual tiveram um tratamento semelhante a essa maneira de folhear a vida e o sonho. Talvez seja exatamente porque blocos de sonhos se intercalam entre as camadas da vida que eles sedimentam, mas com as quais não se confundem, que a própria vida acaba se constituindo como uma estrutura laminada. Tive a sorte de ter minha vida logo sustentada por um eixo sólido, fornecido de um lado pelo meu trabalho, principalmente na art press, cujos objetivos sempre foram claros para mim, e reforçado, por outro lado, pela vida de casal com Claude que, pelo fato de que nós éramos, de certa forma, solidários no nosso começo de vida social, e também porque ela não era um entrave para a nossa liberdade sexual, não tinha porque ser questionada. Então, durante anos, paralelamente a esse eixo, segui segmentos de diversas outras vidas, entre as quais algumas correspondiam a relações longas e profundas. Escrevo "vidas" e não "aventuras", porque um ritmo, regras, ritos específicos caracterizaram cada uma dessas relações. Elas representaram várias oportunidades de me transportar para outros palcos, de explorar, como fazem as atrizes, diferentes modulações: eu era boêmia, vadia ou burguesa, de acordo com o nível daquele que freqüentava - e que ele me atribuía, os amigos que me apresentava, os restaurantes onde me levava para jantar, as atividades e o trabalho para os quais nos encontrávamos. Ignorando muitas contingências, assim como na maioria das ligações para as quais os parceiros só reservam uma parte do seu tempo, como nos adultérios quando são breves, essas vidas paralelas tinham para mim um charme próximo ao dos devaneios; tinham uma textura intermediária: davam consistência às imagens mentais sem a aspereza do real corriqueiro. Foi assim que visitei países, freqüentei certos ambientes, encontrei personagens, ou ainda dormi em casas, usei vestidos, aproveitei certas facilidades das quais meus sonhos podiam me dar vagamente uma idéia, e pouco me importava que todas essas vantagens não correspondessem nem a um modo nem a um estilo de vida permanente. Aliás, sempre fui bem indiferente às marcas sociais, e não é porque eu havia provado os legumes do Moulin de Mougins que deixaria de comer com apetite o primeiro cuscuz que aparecesse, nem seria porque eu tivesse participado de uma orgia no sétimo distrito parisiense que eu não me sentiria à vontade numa festa de casamento, num vilarejo no interior da Úmbria. O sonhador só contabiliza bens imateriais e só atribui uma relativa importância ao fato de que um objeto de seus sonhos, que por sorte tenha se concretizado, volte ao estado imaterial como lembrança. De qualquer maneira, ele não duvida da reversibilidade do processo.

*
"A Outra Vida de Catherine M."
Autora: Catherine Millet
Editora: Ediouro
Páginas: 200
Quanto: R$ 39,90
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou na Livraria da Folha.

Aguns poemas...


Com o pouco que sobrou...

Maria Aparecida Torneros da Silva


... com o coração aos pulos em busca do grande amor...
...sobrou pouco, concluiu...
daquela menina de saias curtas e penteado à maria chiquinha...
talvez tenha sobrado o sorriso de canto da boca, a linguinha de pontinha de fora...
sobretudo, sobrou o brilho do olhar quando intenso fica ainda, ao imaginar a chegada dele...
...mas, como ele se camufla sempre, se veste de prateado, se ilumina e foge,
ela já se acostumou a não mais reconhecê-lo, a duvidar que ele exista de verdade...
... do pouco que sobrou, uma sensação adolescente teima em ser tema recorrente...
é quando o coração aos pulos, frenético e enganoso, busca no homem imaginário
o exemplo sonhado do grande amor que se esconde nalgum canto do universo...
aí, ela promete a si mesma, juntar o pouco que sobrou e transformar-se num grande tesouro...


Relação amorosa

tu és minha
eu sou teu...

prometeram-se

tu és meu...
eu sou tua...

desejaram-se

tu e eu
eu e tu

abraçaram-se

eu em ti
tu em mim

amaram-se

tu meu céu
eu teu sol

queimaram-se

eu tua luz
tu meu mel

inundaram-se

tua alma em mim
minha voz em ti

completaram-se

teu caminho é meu
minha estrada é tua

confundiram-se

tu estás distante
eu estou tão longe

procuraram-se

tu partiste
eu fiquei

eu me fui
tu ficaste

lamentaram-se

eu te lembro
tu me chamas

sou tua sombra
és minha saudade

buscaram-se

eu te quero
tu me buscas

reencontraram-se

sou teu porto
és minha âncora

casaram-se

eu te amo
tu me amas

somos tudo
se estamos juntos

assinaram um acordo
e viveram felizes para sempre...

( esse poema poderia chamar-se casamento,
mas batizei-o de "relação amorosa)
Aparecida Torneros




Amor desidealizado

Façamos um trato,
nada de amor idealizado,
este é o novo fato,
amor é só um ato
de uma grande peça
cuja estréia é imprevisível
cujo enredo é questionável,
e o ápice tem interrogações à bessa...
Façamos assim, com respeito,
pelo jeito de cada um de nós,
pelas histórias incompletas,
pelos desejos não realizados,
por cada senão que precede as metas,
porque amar com muito planejamento
pode parecer piegas, é só argumento...
Nada de esperar o óbvio ou antever o amanhã,
por mais que possa parecer que haverá,
depois não me importa, na verdade,
o que conta, realmente, é o momento...
O meu momento é de paz,
o seu, se não for de tormento,
pode até combinar com o meu...
Façamos amor como meninos aprendizes,
saboreemos o gosto dos nossos dedos,
não deixemos que se acelerem alguns dos nossos medos,
apenas soltemos tantos grilhões tão antigos,
não esperemos nem príncipes e nem cinderelas,
somos mulher e homem complicados
descompliquemos, pois,
fiquemos só nós dois,
em pelo,
com zelo,
tão nus quanto no nascimento
nus de alma,
nus de preconceitos
nus de expectativas...
Se nada acontecer que nos acrescente sentimentos
caso não nos permitamos abrir nossos descondicionamentos
pelo menos
teremos tentado
e tentar
já é um grande começo
isso não tem preço
amar sem idealizar
somente amar
ou por sexo
ou por nexo
de sentir-se
bem
bem melhor
bem com a presença do outro
bem porque sua risada soa felicidade
bem poquer seu olhar aquece em lealdade
e seu abraço rejuvenesce
pode não ser pra sempre
mas é tão bom
hoje e agora, aqui na nossa pele...
Façamos um acordo sem papel
um pacto sem sangue
tenhamos um descompromissado encontro
com o melhor de nós mesmos
para trocar boa energia
por sermos quem somos
livres e resolvidos
inteiros e destemidos
vamos evoluindo
um junto do outro
até quando for possível,
quando for tão forte e tiver sentido
nos vermos mais vezes
ou nos tocarmos mais profundamente
ou nos entregarmos nossas mãos
uma dentro da outra
e nossas bocas
perderem o dom da palavra
para que nossos corpos e almas
falem sua própria linguagem...
Façamos uma boa parceria
sem cláusual pétrea
revogável
a qualquer instante...
aí... tenhamos sorte...
disso sim,
vamos precisar...
e se a tivermos,
façamos um castelo
sem sonhos
mas com realidades
minhas e suas
sei que eu o quero
tanto quanto você me quer,
recomecemos do zero,
e seja o que o Diabo quiser...
Cida Torneros , 8 de junho de 2008

Salve Raul Seixas, nascido hj em 1945!

Salve sim!! Raulzito, figura carismática e ser à frente do seu tempo, baiano bom e arretado, brasileiro criativo e polêmico, artista único e insubstituível!! Salve o moço que nos fez inquietos com a mosca da sopa e nos tornou compreensivos com os malucos-beleza! Só o Raul pra nos lembrar que o que a vovó dizia: Quem não tem colírio
Usa óculos escuro
Quem não tem filé
Come pão e osso duro
Quem não tem visão
Bate a cara contra o muro!




O amor me pegou ( Caetano Veloso, por Cassia Eller)



O amor me pegou
Eu não descanso enquanto não pegar
Aquela criatura
Saio na noite à procura
O batidão do meu coração na pista escura
Se pego ui me entrego e fui
Será que ela quererá será que ela quer
Será que meu sonho influi
Será que meu plano é bom
Será que é no tom
Será que ele se inclui
E as gatas extraordinárias que
Andam nos meios onde ela flui
Será que ela evolui
Será que ela evolui
E se ela evoluir será que isso me inclui
Tenho que pegar tenho que pegar
Tenho que pegar essa critura
O amor me pegou
Tenho que pegar tenho que pegar
Tenho que pegar tenho que pegar
Tenho que pegar tenho que pegar

Esta letra foi retirada do site www.letrasdemusicas.com.br

O amor me pediu uma poesia...



O amor me pediu uma poesia...

Maria Aparecida Torneros da Silva


O amor me pediu uma poesia
ele a queria forte, profunda, incisiva e clara...
mas a poesia escondeu-se nas palavras,
veio mansa, fugidia, elevada e vadia...
o amor equivocou-se no pedido, pensei...
porque uma poesia para viver o amor, é postulante...
uma poesia, para externar o amor, é redundante...
uma poesia, para homenagear o amor, é estonteante...
uma poesia, para camuflar o amor, é extenuante...
o amor pensou que a poesia era múltipla e abrangente,
achou que por causa dele toda poesia seria alucinante,
supervalorizou sua ação na alma da poeta vagante,
e, sem mais nem menos, solicitou poesia planejada..
A poesia, mais experta que ele, veio bem organizada...
A poesia chegou plena de si, com cabeça erguida,
não se deixou dominar pela métrica do amor, tão vivida,
nem se encantou com sua falta de lógica, esmaecida,
ela abraçou o sonho, pôs em si mesma um tempero,
de mágico brilho sobre olhos encantados, o esmero,
a poesia resplandeceu entre raios de luz tão faiscantes,
eu tentei responder ao amor pra explicar os impasses,
quis dizer a ele que a poesia tem mil formas e faces,
deixei-o imaginar a razão do poema amoroso e significativo
aquele em que me ponho de expectadora com certo motivo
para aprisionar o mel do amor, e resposta ao seu pedido.
O amor não tendo mais o que fazer, quis esse poema comprido,
bateu-me o coração em descompasso apressado e sôfrego,
fez-me produzir um texto doido quase que de um só fôlego,
e, ao concluir o feito, eis-me aqui, sem poder dara a ele um jeito,
de poesia de amor, para o amor que ma pediu, e ma tirou-a do peito..
Aparecida Torneros

Cartas a um jovem poeta ( Rainer Maria Rilke )


CARTAS A UM JOVEM POETA
"PRIMEIRA CARTA"
"Paris, 17 de Fevereiro de 1903


Prezadíssimo Senhor,

Sua carta alcançou-me apenas há poucos dias. Quero agradecer-lhe a grande e amável confiança. Pouco mais posso fazer. Não posso entrar em considerações acerca da feição de seus versos, pois sou alheio a toda e qualquer intenção crítica. Não há nada menos apropriado para tocar numa obra de arte do que palavras de crítica, que sempre resultam em mal entendidos mais ou menos felizes. As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. Menos suscetíveis de expressão do que qualquer outra coisa são as obras de arte, - seres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera.

Depois de feito este reparo, dir-lhe-ei ainda que seus versos não possuem feição própria somente acenos discretos e velados de personalidade. É o que sinto com maior clareza no último poema, "Minha Alma". Aí, algo de peculiar procura expressão e forma. No belo poema "A Leopardi" talvez uma espécie de parentesco com esse grande solitário esteja apontando. No entanto, as poesias nada têm ainda de próprio e de independente, nem mesmo a última, nem mesmo a dirigida a Leopardi. Sua amável carta que as acompanha não deixou de me explicar certa insuficiência que senti ao ler seus versos, sem que a pudesse definir explicitamente. Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem - usando da licença que me deu de aconselhá-lo - peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, - ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite:"Sou mesmo forçado a escrever?" Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde. Não escreva poesias de amor. Evite de início as formas usuais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece; relate tudo isso com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas de seu ambiente, as imagens de seus sonhos e os objetos de suas lembranças. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, essa esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações? Volte a atenção para ela. Procure soerguer as sensações submersas desse longínquo passado: sua personalidade há de reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar-se numa habitação entre lusco e fusco diante da qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar. Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está o seu critério, - o único existente. Também, meu prezado senhor, não lhe posso dar outro conselho fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de onde jorra a sua vida; na fonte desta é que encontrará a resposta à questão de saber se deve criar. Aceite-a tal como se lhe apresentar à primeira vista sem procurar interpretá-la. Talvez venha significar que o senhor é chamado a ser um artista. Nesse caso aceite o destino e carregue-o com seu peso e sua grandeza, sem nunca se preocupar com recompensa que possa vir de fora. O criador, com efeito, deve ser um mundo para si mesmo e encontrar tudo em si e nessa natureza a que se aliou.

Mas talvez se dê o caso de, após essa descida em si mesmo e em seu âmago solitário, ter o senhor de renunciar a se tornar poeta.

(Basta, como já disse, sentir que se poderia viver sem escrever para não mais se ter o direito de fazê-lo). Mesmo assim, o exame de consciência que lhe peço não terá sido inútil. Sua vida, a partir desse momento, há de encontrar caminhos próprios. Que sejam bons, ricos e largos é o que lhe desejo, muito mais do que lhe posso exprimir.

Que mais lhe devo dizer? Parece-me que tudo foi acentuado segundo convinha. Afinal de contas, queria apenas sugerir-lhe que se deixasse chegar com discrição e gravidade ao termo de sua evolução. Nada a poderia perturbar mais do que olhar para fora e aguardar de fora respostas a perguntas a que talvez somente seu sentimento mais íntimo possa responder na hora mais silenciosa.

Foi com alegria que encontrei em sua carta o nome do professor Hoaracek; guardo por esse amável sábio uma grande estima e uma gratidão que desafia os anos. Fale-lhe, por favor, neste sentimento. É bondade dele lembrar-se ainda de mim; e eu sei apreciá-la.

Restituo-lhe ao mesmo tempo os versos que me veio confiar amigavelmente. Agradeço-lhe mais uma vez a grandeza e a cordialidade de sua confiança. Procurei por meio desta resposta sincera, feita o melhor que pude, tornar-me um pouco mais digno dela do que realmente sou, em minha qualidade de estranho.

Com todo o devotamento e toda a simpatia,

Rainer Maria Rilke"

Esta Primeira Carta do livro "Cartas a um jovem poeta", foi traduzida por Cecília Meireles, retirados da edição : "Cartas a um jovem poeta e Canção de Amor e morte do porta-estandarte Crsitovão Rilke", ed. Globo, 1983




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Que cantan los poetas andaluzes de ahora?



ESTE É O PRÓLOGO

Federico Garcia Lorca

Deixaria neste livro
toda a minha alma.
este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.

Que pena dos livros
que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam !

Que tristeza tão funda
é olhar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta !

Ver passar os espectros
de vida que se apagam,
ver o homem desnudo
em Pégaso sem asas,

ver a vida e a morte,
a síntese do mundo,
que em espaços profundos
se olham e se abraçam.

Um livro de poesias
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,

e a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes incute nos peitos
- entranháveis distâncias.

O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchas
de chorar o que ama.

O poeta é o médium
da Natureza
que explica sua grandeza
por meio de palavras.

O poeta compreende
todo o incompreensível
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chamas.

Sabe que as veredas
são todas impossíveis,
e por isso de noite
vai por elas com calma.

Nos livros de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristes
e eternas caravanas

que fizeram ao poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.

Poesia é amargura,
mel celeste que emana
de um favo invisível
que as almas fabricam.

Poesia é o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
corações e chamas.

Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
sem rumo a nossa barca.

Livros doces de versos
sãos os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
suas estrofes de prata.

Oh ! que penas tão fundas
e nunca remediadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam !

Deixaria neste livro
toda a minha alma...

( tradução: William Agel de Melo )

Samba e carta para os poetas...



CARTA

Meu caro poeta,

Por um lado foi bom que me tivesses pedido resposta urgente, senão eu jamais escreveria sobre o assunto desta, pois não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa. A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar. O poema, não; descreve uma parábola tracada pelo próprio impulso (ritmo); é que nem um grito. Todo poema é, para mim, uma interjeição ampliada; algo de instintivo, carregado de emoção. Com isso não quero dizer que o poema seja uma descarga emotiva, como o fariam os românticos. Deve, sim, trazer uma carga emocional, uma espécie de radioatividade, cuja duração só o tempo dirá. Por isso há versos de Camões que nos abalam tanto até hoje e há versos de hoje que os pósteros lerão com aquela cara com que lemos os de Filinto Elísio. Aliás, a posteridade é muito comprida: me dá sono. Escrever com o olho na posteridade é tão absurdo como escreveres para os súditos de Ramsés II, ou para o próprio Ramsés, se fores palaciano. Quanto a escrever para os contemporâneos, está muito bem, mas como é que vais saber quem são os teus contemporâneos? A única contemporaneidade que existe é a da contingência política e social, porque estamos mergulhados nela, mas isto compete melhor aos discursivos e expositivos , aos oradores e catedráticos. Que sobra então para a poesia? - perguntarás. E eu te respondo que sobras tu. Achas pouco? Não me refiro à tua pessoa, refiro-me ao teu eu, que transcende os teus limites pessoais, mergulhando no humano. O Profeta diz a todos: "eu vos trago a verdade", enquanto o poeta, mais humildemente, se limita a dizer a cada um: "eu te trago a minha verdade." E o poeta, quanto mais individual, mais universal, pois cada homem, qualquer que seja o condicionamento do meio e e da época, só vem a compreender e amar o que é essencialmente humano. Embora, eu que o diga, seja tão difícil ser assim autêntico. Às vezes assalta-me o terror de que todos os meus poemas sejam apócrifos!

Meu poeta, se estas linhas estão te aborrecendo é porque és poeta mesmo. Modéstia à parte, as disgressões sobre poesia sempre me causaram tédio e perplexidade. A culpa é tua, que me pediste conselho e me colocas na insustentável situação em que me vejo quando essas meninas dos colégios vêm (por inocência ou maldade dos professores) fazer pesquisas com perguntas assim: "O que é poesia? Por que se tornou poeta? Como escrevem os seus poemas?" A poesia é dessas coisas que a gente faz mas não diz.

A poesia é um fato consumado, não se discute; perguntas-me, no entanto, que orientação de trabalho seguir e que poetas deves ler. Eu tinha vontade de ser um grande poeta para te dizer como é que eles fazem. Só te posso dizer o que eu faço. Não sei como vem um poema. Às vezes uma palavra, uma frase ouvida, uma repentina imagem que me ocorre em qualquer parte, nas ocasiões mais insólitas. A esta imagem respondem outras. Por vezes uma rima até ajuda, com o inesperado da sua associação. (Em vez de associações de idéias, associações de imagem; creio ter sido esta a verdadeira conquista da poesia moderna.) Não lhes oponho trancas nem barreiras. Vai tudo para o papel. Guardo o papel, até que um dia o releio, já esquecido de tudo (a falta de memória é uma bênção nestes casos). Vem logo o trabalho de corte, pois noto logo o que estava demais ou o que era falso. Coisas que pareciam tão bonitinhas, mas que eram puro enfeite, coisas que eram puro desenvolvimento lógico (um poema não é um teorema) tudo isso eu deito abaixo, até ficar o essencial, isto é, o poema. Um poema tanto mais belo é quanto mais parecido for com o cavalo. Por não ter nada de mais nem nada de menos é que o cavalo é o mais belo ser da Criação.

Como vês, para isso é preciso uma luta constante. A minha está durando a vida inteira. O desfecho é sempre incerto. Sinto-me capaz de fazer um poema tão bom ou tão ruinzinho como aos 17 anos. Há na Bíblia uma passagem que não sei que sentido lhe darão os teólogos; é quando Jacob entra em luta com um anjo e lhe diz: "Eu não te largarei até que me abençoes". Pois bem, haverá coisa melhor para indicar a luta do poeta com o poema? Não me perguntes, porém, a técninca dessa luta sagrada ou sacrílega. Cada poeta tem de descobrir, lutando, os seus próprios recursos. Só te digo que deves desconfiar dos truques da moda, que, quando muito, podem enganar o público e trazer-te uma efêmera popularidade.

Em todo caso, bem sabes que existe a métrica. Eu tive a vantagem de nascer numa época em que só se podia poetar dentro dos moldes clássicos. Era preciso ajustar as palavras naqueles moldes, obedecer àquelas rimas. Uma bela ginástica, meu poeta, que muitos de hoje acham ingenuamente desnecessária. Mas, da mesma forma que a gente primeiro aprendia nos cadernos de caligrafia para depois, com o tempo, adquirir uma letra própria, espelho grafológico da sua individualidade, eu na verdade te digo que só tem capacidade e moral para criar um ritmo livre quem for capaz de escrever um soneto clássico. Verás com o tempo que cada poema, aliás, impõe sua forma; uns, as canções, já vêm dançando, com as rimas de mãos dadas, outros, os dionisíacos (ou histriônicos, como queiras) até parecem aqualoucos. E um conselho, afinal: não cortes demais (um poema não é um esquema); eu próprio que tanto te recomendei a contenção, às vezes me distendo, me largo num poema que vai lá seguindo com os detritos, como um rio de enchente, e que me faz bem, porque o espreguiçamento é também uma ginástica. Desculpa se tudo isso é uma coisa óbvia; mas para muitos, que tu conheces, ainda não é; mostra-lhes, pois, estas linhas.

Agora, que poetas deves ler? Simplesmente os poetas de que gostares e eles assim te ajudarão a compreender-te, em vez de tu a eles. São os únicos que te convêm, pois cada um só gosta de quem se parece consigo. Já escrevi, e repito: o que chamam de influência poética é apenas confluência. Já li poetas de renome universal e, mais grave ainda, de renome nacional, e que no entanto me deixaram indiferente. De quem a culpa? De ninguém. É que não eram da minha família.

Enfim, meu poeta, trabalhe, trabalhe em seus versos e em você mesmo e apareça-me daqui a vinte anos. Combinado?

Mario Quintana

Muitos amores...



na descida da ladeira, naquela cidade mística, sob o reflexo do sol, atrás da vidraça de um café, em pleno século XXI, Marie observou que um homem, contritamente, escrevia uma carta.
ela parou para contemplar a criação que mais parecia a volta aos velhos tempos, numa atitude solitária e romântica. para quem ele dirigia seus sentimentos naquele momento? seria uma carta de amor?
o missivista parecia envolvido de tal modo com seu gesto que nem percebia a mulher que estava parada, ali fora, envolvida com o clima etéreo da imaginação que corria solta... o homem grisalho, rosto que lembrava um dos seus muitos amores, Marie entendeu que podia ser uma projeção do seu pensamento, vontade que tinha de entender as palavras de alguém que lhe escrevesse uma carta para contar que os sentimentos não se perdem, porque eternizam os sonhos dos amores que chegam e depois se vão...
a mulher deixou que seu pensamento voasse, o mundo lhe trazia dimensões inesperadas, de vez em quando, como aquela, quando era possível entender que alguém pudesse organizar idéias e colocá-las num papel, à moda antiga, para depois, certamente, dobrar com cuidado as folhas recem escritas, aconchega-las num envelope e deixar que seguissem seu caminho para serem lidas nas mãos de um outro ser, bem longe daquele lugar.
Marie sabia que havia lugares ainda tão distantes do seu coração e da sua alma, por onde passaria brevemente, e onde, teria que reencontrar seus sentimentos mais profundos, para trocar de bem com seu próprio coração, ultrapassar os limites dos medos que a angustiavam, nos últimos meses.
dar de cara com a cena do homem que escrevia a carta, foi, para Marie, um aviso de simultaneidade dos amores que se acham perdidos nos caminhos dos peregrinos inquietos, daqueles que buscam achar as razões mais profundas para seus sentimentos mais superficiais. ela era uma dessas criaturas, fazia parte da legião dos que sabem reconhecer amores e não os renegam, apenas os vivem, em sua plenitude, aceitando suas efemeridades e suas eternidades, se assim estava escrito...
Marie foi interrompida por uma amiga, que a tocou com sensibilidade, lembrando-a que devia prosseguir a caminhada em direção àquele templo onde ia orar pela redenção de tantos amores sepultados e por um novo amor em fase nascente...
ao descer a ladeira, sem olhar para trás, Marie guardou nos olhos a imagem do homem que escrevia sua carta em contrição, desejou que a tal carta chegasse ao seu destino e levasse uma linda mensagem de amor, um libelo de reencontro, uma notícia bondosa para alguém que a estivesse esperando, por muito tempo, como um prêmio.
os olhos de Marie denunciaram sua emoção, ela chorou baixinho, sem entender ainda que os amores, muitas vezes, fazem chorar, quando se aproximam da tal felicidade e do tal grande encontro com que todos sonham durante suas peregrinações pelo caminho místico da busca do verdadeiro e único amor, o tal amor definitivo, o tal amor maior, o grande amor das nossas vidas...o dela, ela já sabia, a esperava, do outro lado daquela cidade, nem tão longe e nem tão perto, questão de caminhar mais um pouco e chegar até Antoine, que lhe abriria os braços para amparar a viajante cansada de tantos amores...
Cida Torneros

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Os refugiados do amor...


Os refugiados do amor...

Um bando de refugiados formou-se nos últimos tempos, buscando emigrar dos seus próprios sentimentos. É bem verdade que tiveram ajuda humanitária do modo de vida consumista, um anestesiante de ação efetiva, que os afasta da realidade, dando-lhes uma plena sensação de satisfação extemporânea, um estado de “nem quero mais pensar nisso que me aflige” ou aquela pitada de desfaçatez própria do cinismo aparente. Os refugiados do amor, em constantes arroubos justificativos para o seu comportamento, apregoam aos quatro ventos que não estão nem aí para suas histórias afetivas profundas e seguem vivendo pequenos enredos sem laços mais fortes. Preferem provar dos amores descartáveis, os tais encontros de “ficantes”, sem vínculos comprobatórios, do tipo “não haverá amanhã”, que, segundo eles, os deixam à vontade, descompromissados, livres para voar, no seu dia-a-dia, ou melhor nas suas noites após noites.

Nada sabem esses fugitivos do amadurecimento que paira sob os olhares antigos de gente que cultiva um grande e sólido amor. Sequer conseguem redimensionar a felicidade de um beijo repetido cujo gosto varia de sabor, por décadas, entre pessoas que aprendem a incorporar seus parceiros como se fossem ares para sua respiração e que não se vêem no mundo sem as presenças de figuras que os complementam. Casais assim, poderiam ser chamados de “os encontrantes”, cada vez mais rareados, mais escassos no sistema produtivo capitalista, pois não os junta nem a conta bancária, tampouco a ambição pelos bens de um ou de outro. O que os une é a alegria do aconchego, a paz do lado-a-lado, o sono acompanhado, as mãozinhas dadas, os olhares para a mesma direção do arco-íris que ilumina seu caminho comum.

Quanto aos refugiados do amor, sua legião cresce com as novas gerações, especializaram-se em sobreviver de encontros superficiais, casamentos-relâmpagos, viagens rápidas pelas paixões esquecíveis, e, o que é pior, desconstruíram em si mesmos o dom de iludir, sim, o melhor dos dons, o da ilusão a dois.

Sem o sonho do dia seguinte, sem a magia do futuro feliz, sem o nirvana do amor eterno,
lá se vão os peregrinos do mundo moderno, de aeroportos em aeroportos, trocando de aeronaves, voando sobre suas próprias cabeças, certos do incerto, convencidos do exercício do supérfluo, anotando em suas agendas eletrônicas os nomes que logo serão deletados, num troca-troca alucinante, confusão de bocas, olhos, cheiros, quiçá de gostos misturados.

Em algum lugar do universo, encontrarão, quem saberá, o refúgio para um exílio seguro depois de tanta fuga. E aí, será que o amor volta? Será que seus corações reaquecidos poderão renascer em paixões que os arrefeçam? Melhor imaginar que suas almas serão sábias para conduzi-los ao lugar onde a fuga cesse, o abrigo do maior amor os acolha e a eternidade os faça acordar um dentro do outro, juntos, fiéis, e para sempre. Sem mais fugirem de si mesmos!

Aparecida Torneros


Amar-se e não se arrepender...

Amar-se ...perder-se... nos infernos
do fogo forte, ir-se sem rumo, encantar-se...
Doar-se, sem medir consequências...
Seguir o sentimentos, desejos eternos...

Amar-se... confundir-se, completar-se...
Da força do Amor, pecar-se nas querências...
Fugir dos apedrejadores, juízes infelizes,
cruéis defamadores dos corações aprendizes...

Amar-se, como Maria Madalena, encontrar-se
santificar-se na eternidade das almas delirantes
eternizar-se no carinho das vidas reencarnantes,
não se arrepender do bem querer a multiplicar-se...

Amar-se e alcançar os céus, pelas dores do Amor,
por caminhos transversos, redimir-se, perdoar-se
saber-se humano, sentir-se capaz de viver o ardor
de um coração abrasado pela paixão, entregar-se...
Aparecida Torneros
23/04/07


Confusos amores


Confusos amores

Ainda que não pudesse, mesmo que não tentasse, apesar das desistências, a par das reticências, em detrimento dos adiamentos, considerando os contratempos, ainda assim, ele, o amor, insistia em renascer.

Ele brotava tão verde quanto os galhinhos atrevidos em troncos de árvores vividas, e brilhava com jeito especial, ao mostrar-se capaz de fazer reviver sentimentos adormecidos...

Era só mais um amor...dentre tantos amores confusos, já vinha este, novo e especial, a lhe fazer arder as entranhas, aquecer as ancas, entumescer as extremidades, secar-lhe a bôca, tornando-a ávida de abrir-se à idéia de reconhecer, em outro ser, a sensação da busca que se faz entrega , do sonho que se faz real.

Não lhe valiam mais, nesse momento, os argumentos baseados em histórias vividas, em lembranças marcantes de amores intensos com despedidas passionais, isso já nem contava mais agora, porque , a cada final de conto, ela, decididamente, acrescentava um ponto... de interrogação...e agora?

Ainda que não quisesse, mesmo que não se permitissem, apesar das diferenças, de mundos, idades ou crenças, em detrimento dos sofrimentos, considerando os desencantos, ainda assim, ela, esse amor...viveria...


Aparecida Torneros

Te quero e não me perguntes por que...‏



querer-te
palavra única
nela se resume tudo
o que sinto por ti
nem me perguntes
o porque do que sinto
nem me questiones
se há regras ou motivos
só existe o que me fazes sentir
nada é maior do que o desejo
de estar contigo, de ser tua...
querer-te
e ficar assim, em ti, contigo aqui,
dentro de mim, sem distância,
sem impedimento, sem despedida,
com reencontro, com mil beijos,
com mil abraços, fazendo o nosso amor
crescer, crescer, crescer, pra sempre...
de Marie
para Antoine

Tinha que ser você!


-"Tinha que Ser Você": um romance com personagens maduros

SÃO PAULO (Reuters)
Em meio à temporada de filmes voltados para o público infanto-juvenil repletos de mutantes, exterminadores indestrutíveis e carros que viram robôs, o drama romântico "Tinha Que Ser Você" é um oásis para o público adulto que busca mais do que explosões, tiroteios e correrias quando vai ao cinema.

Protagonizado por Dustin Hoffman ("A Primeira Noite de um Homem") e Emma Thompson ("Harry Potter e a Ordem da Fênix") - ambos indicados ao Globo de Ouro pelo filme - "Tinha que Ser Você" estreia em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Hoffman é Harvey, um compositor de jingles nova-iorquino que está prestes a perder o emprego, mas precisa ir a Londres para o casamento de sua filha, Susan (Liane Balaban), que mora na capital de Inglaterra. Emma é Kate, uma mulher solitária, que aspira ser escritora mas trabalha como pesquisadora no aeroporto. Além disso, cuida da mãe (Eileen Atkins, de "Ao Entardecer"), com quem deixou de dividir a casa há muito tempo.

O destino parece conspirar a favor de Harvey e Kate. Ela tenta aplicar um questionário nele, assim que o norte-americano chega na Inglaterra - mas, estressado como está, é grosseiro com ela. Num outro momento, ela entra num táxi do qual ele acabou de sair, mas eles nem se notam. Mais tarde, quando se encontram novamente e travam um diálogo, Harvey já passou por diversas frustrações.

No casamento de sua filha, ele descobre que a moça prefere o padrasto (James Brolin) para conduzi-la ao altar. Como Harvey deve voltar aos Estados Unidos logo, ele não pode ficar para a festa. Ao chegar ao aeroporto, recebe um telefonema e descobre que foi demitido de vez. Desnorteado, Harry senta num café quando se depara com Kate, lendo um livro ao seu lado.

Se num primeiro momento ela é resistente a ele que, aliás, tenta desculpar-se pela grosseria passada, com o tempo Kate cede ao charme e carisma de Harvey. Os dois iniciam uma amizade que tem tudo para caminhar para algo mais sério.

As andanças dos dois personagens por Londres, passando longe dos pontos turísticos mais famosos, fazem lembrar "Antes do Amanhecer" (1995) e "Antes do Pôr-do-Sol" (2004), numa versão com personagens mais maduros. A forma como o diretor e roteirista Jon Hopkins trabalha essa interferência de um na vida do outro e as consequentes mudanças é o que traz charme e verdade a "Tinha que Ser Você".

Uma subtrama envolvendo a mãe de Kate e um vizinho que ela desconfia ser um assassino adiciona um pouco de leveza ao filme.

Por mais forçadas que sejam algumas situações, é fácil perdoar qualquer pieguice, dada a honestidade que Emma e Hoffman imprimem a seus personagens.

Harvey e Kate são duas pessoas deslocadas em suas próprias vidas que, um com a presença do outro, tornam-se capazes de encontrar a si mesmas. No fundo, a mensagem do filme pode ser simplista, mas não deixa de ser verdadeira - às vezes, só os outros podem nos mostrar o que há de melhor em nós mesmos.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

Tinha que ser você ( filme)



Amores e mudanças
CONTARDO CALLIGARIS

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Como esbarrar num amor que nos transforme? O filme “Tinha que Ser Você” dá uma dica preciosa

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QUANDO A VIDA da gente está emperrada (o que não é raro), será que faz sentido esperar que um encontro, um amor, uma paixão se encarreguem de nos dar um novo rumo? Provavelmente, sim -no mínimo, é o que esperamos: afinal, o poder transformador do encontro amoroso faz o charme de muitos filmes e romances.
Os especialistas validam nossa esperança. Jacques Lacan, o psicanalista francês, dizia, por exemplo, que o amor é o sinal de uma “mudança de discurso”, ou seja, na linguagem dele, de uma mudança substancial na nossa relação com o mundo, com os outros e com nós mesmos. Claro, resta a pergunta: o que significa “sinal” nesse caso?
Duas possibilidades: o amor surge quando está na hora de a gente se transformar ou, então, é por amor que a gente se transforma. Não é necessário tomar partido: talvez as duas sejam verdadeiras.
Seja como for, volta e meia, alguém me pede uma receita: como esbarrar num amor que nos transforme? A resposta trivial diz que os encontros acontecem a cada esquina: difícil é enxergá-los e deixar que eles nos transformem, ou seja, difícil é ter a coragem de vivê-los. Aqui vai um exemplo.
O filme “Tinha que Ser Você”, escrito e dirigido por Joel Hopkins, além de ser uma pequena dádiva, oferece uma “dica” preciosa sobre as condições que fazem que um amor “engate”. É a história de um encontro ao qual os protagonistas tentam dar uma chance -a chance de transformar suas vidas.
Parêntese. Harvey (Dustin Hoffman) está na casa dos sessenta, e Kate (Emma Thompson) na dos cinquenta. É possível ver no filme uma parábola em prol da ideia de que nunca é tarde demais para deixar que um amor nos dê um novo rumo.
O título original, “Last Chance Harvey” (última chance Harvey), iria nessa direção: é agora ou nunca. Pode ser, mas talvez toda chance que a vida nos dá seja mesmo a nossa última.
Fora isso, o filme começa nos mostrando que a vida de Harvey é tão emperrada quanto a de Kate. Em ambos, há uma certa decepção por não conseguir (ou não ter conseguido) aventurar-se a viver seus sonhos -ser pianista de jazz para Harvey, e romancista para Kate. Os dois estão sozinhos e conformados com uma certa mediocridade afetiva: Kate se encaminha para ser a filha que cuidará para sempre da velha mãe, e Harvey já desistiu de ser o pai da filha de quem ele se distanciou, muitos anos antes, no divórcio que o separou da mãe dela.
Em suma, Harvey e Kate estão precisando de uma mudança.
Por que o encontro de Harvey e Kate teria mais sucesso do que os encontros às escuras que Kate se permite, de vez em quando? Por que eles não balbuciariam apenas a estupidez inibida que é habitual nesses casos? Simples, mas crucial: a conversa deles começa com uma sinceridade quase cínica. A “cantada” inicial de Harvey é o oposto do fazer de conta que é a regra das relações sociais, pois Harvey se apresenta confessando o fracasso de sua vida.
Logo, Harvey e Kate passeiam por Londres discorrendo e se conhecendo. Os espectadores descobrirão se eles saberão dar uma chance ao encontro ou, então, voltarão cada um para seu “conforto”.
O passeio pela cidade evoca dois filmes de Richard Linklater, que estão entre meus preferidos, “Antes do Amanhecer”, de 1995, e “Antes do Pôr-do-sol”, de 2004.
No primeiro, Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) encontram-se, passam um dia nas ruas de Viena e, enfim, separam-se. No segundo, eles se encontram de novo, em Paris, nove anos depois, e, também passeando, imaginam, de alguma forma, a outra vida que poderia ter sido a deles se, no fim daquele dia em Viena, eles tivessem apostado no futuro de seu encontro.
Aqui, uma recomendação prosaica que emana dos três filmes: se você procura um grande encontro amoroso, sempre use calçados confortáveis, porque nunca se sabe por quantos quilômetros se estenderão suas deambulações amorosas.
Brincadeira à parte, os filmes de Linklater talvez sejam mais tocantes -entre outras coisas, porque eles conferem uma beleza melancólica a uma desistência que é muito parecida com as renúncias às quais nos resignamos a cada dia. Mas o filme de Hopkins, “Tinha que Ser Você”, é mais generoso, porque ele nos deixa com uma sugestão: o diálogo que leva ao amor, que dá a cada um a vontade de se arriscar, não surge da sedução e do charme, mas da coragem de nos apresentarmos por nossas falhas, feridas e perdas.

A anja Farrah Fawcett



A anja Farrah

Estávamos nos anos 70, o seriado das Panteras fazia sucesso na televisão e todas as jovens de 15 a 30 anos cortavam o cabelo como Farrah Fawcett. As mechas alvoroçadas, a febre dos descolorantes em camadas diferenciadas, luzes nas cabeças de uma geração espremida entre o pós-guerra, a misteriosa guerra fria e o arrocho ditatorial brasileiro.

Eu não escapei, usei madeixas como a pantera loira do Charlie, e incorporei até o perfume Charlie's, de uma grife famosa da época.

Ela, a atriz, não nos indicou somente o modismo da série televisiva, valores comerciais ou cortes de cabelos, ela nos passou identidade de mulher do nosso tempo, amante assumida dos seus amores, e foi das primeiras mães solteiras hollywoodianas a assumir publicamente amor e maternidade, sem casamento e sem divórcio.

Há duas semanas, quando seu estado de saúde se agravou, a bela Farraw, em noticiário constante, foi pedida em casamento pelo pai do seu filho, o não menos famoso ator Ryan O'Neal , e nem deu tempo de sabermos se aceitou a proposta. O que sabemos é que ela lutou contra o câncer, bravamente, em meio a infortúnios e desgostos, acompanhando problemas constantes do filho herdeiro envolvido com prisões e drogas.

A guerreira Farrah nos lembrava mesmo a saga das garotas do Charlie, anjos lutadores em favor da lei. Ela demonstrou, muitas vezes, sua performance atlética nas produções cinematográficas, em meio a sorrisos grandiosos, olhares profundos, posturas próprias de mulheres que dizem ao que vieram, que não fogem da raia e nem tampouco se escondem sob subterfúgios inconsistentes.

Hoje, ao descansar seu corpo do embate inglório, a angelical Farrah nos dá o exemplo da fêmea contemporânea, ocidental, modelo e atriz, aquela que posou para a Playboy, andou metida em questões judiciais em função de quebra de contrato comercial, cumpriu papel como detetive na fantasia televisiva e chegou a vender 1 milhão e trezentos e cinquenta e um mil exemplares na edição das suas fotos sensuais. Foi o segundo recorde da publicação norte americana. Também, durante a amargura da doença, produziu um documentário corajosos sobre abordando o tema, de frente, exemplarmente, servindo de referência para o público feminino do mundo inteiro.

Farrah Fawcett foi casada com Lee Majors (da série "O Homem Biônico"). Nessa altura adotava o nome de Farrah Fawcett-Majors. Depois de se separar de Lee Majors, Farrah teve um romance com o ator Ryan O'Neal que durou 17 anos e com quem teve um filho. Esse caso fez com que Ryan tivesse um sério atrito com sua filha atriz Tatum O'Neal, que não aceitou essa relação. Estiveram separados por 13 anos e voltaram a se relacionar recentemente.

A atriz americana, nascida no Texas, tinha 62 Anos e enfrentou um câncer anal desde setembro de 2006. Em outubro do mesmo ano, Farrah se submeteu a uma cirurgia para retirar um tumor do intestino grosso e fez sessões de quimioterapia e radioterapia durante seis semanas. Quatro meses depois, a atriz recebeu um diagnóstico de que estava curada. No entanto, em maio de 2007, ela anunciou que o tumor havia voltado.

Farrah, cujo nome verdadeiro é Mary Farrah Leni Fawcett, estudou microbologia na Universidade do Texas, mas sempre quis ser atriz. Estreou na televisão em 1965 na série Jeannie é um Gênio. Nos anos seguintes, participou de The Flying Nun (1967) e The Partridge Family (1970). O grande sucesso veio após ser convidada pelo produtor Aaron Spelling para atuar no seriado As Panteras (Charlie Angel's), em 1976, ao lado de Kate Jackson e Jaclyn Smith.

Ela nos deixa sob o real impacto da identificação de mulher da nossa geração. Imagem forte, com expressivo rosto da modernidade, a bela Mary viveu com intensidade, carreira e vida pessoal, e agora, a expontaneidade do seu sorriso nos faz entender que anjos são mesmo assim, fortes, femininos muitas vezes, e , trazem um brilho que faz bem aos nossos olhos e à nossa imaginação, envolto por cabelos iluminados, que ficarão pra sempre esvoaçando em torno dos nossos corações.
Cida Torneros

Poesia ( minha ) variada

Te lo juro, amor mío...

eres mi espejo negro, un dibujo en el cielo de mi alma...
tan lindo que me hace feliz muerta o viva...
ya no me importa...
Te lo juro, amor mío...

gracias por tu fuerza después de tanto tiempo
los años se fueron, mis pelos están blancos,
mi cuerpo cansado, mis ojos ya no pueden verte bien,
pero siento que tú caminas a mi lado, como una sombra,

Te lo juro, amor mío...

por tu presencia en mi nueva vida
por tu cariño en mi pecho
por tu beso en mi boca
es posible revivir
del sueño que tu me dejaste aún...
Te lo juro, amor mío

Te lo juro
todavía,
amor mío
que es posible renacer
en tu sonrisa cuando tú vuelvas

Te lo juro
Te lo juro
dulce amor mio
cuando las noches se van
y solamente tengo tus recuerdos en mi piel
te lo juro
que vivir es como morir
los dos son la misma cosa...
pues...como puedo vivir sin tenerte ahora?
y, como es fácil morir sin tenerte tampoco acá en mis brazos...
Te lo juro
todavía,
amor mío
que es posible renacer
en tu sonrisa cuando tú vuelvas
por tu presencia en mi nueva vida
por tu cariño en mi pecho
por tu beso en mi boca
es posible revivir
del sueño que tu me dejaste aún...
gracias por tu fuerza después de tanto tiempo
los años se fueron, mis pelos están blancos,
mi cuerpo cansado, mis ojos ya no pueden verte bien,
pero siento que tú caminas a mi lado, como una sombra,
eres mi espejo negro, un dibujo en el cielo de mi alma...
tan lindo que me hace feliz muerta o viva...
ya no me importa...
Cida Torneros

Inventei palavras

Maria Aparecida Torneros da Silva


Inventei palavras tao frágeis, que, embora, pensei, fossem ágeis, se perderam no tempo, se diluíram, nas saudades infindas, de tardes tão lindas, de noites bem-vindas, quando a vida nos juntava, em abraços sinceros, eu acreditava, em beijos marcantes, eu achava, em prazeres eternos, eu sei agora, porque já que é pra sempre, se adora a lembrança, a memória, se escreve a história, de nós dois, de um casal de namorados amantes, um canal das palavras, dos sonhos e dos desejos: nao viverei jamais sem receber seus beijos, só viverei porque os apanho cada dia, no vento que sopra daí pra cá, pela via do pensamento, da nossa eterna sintonia... Inventei palavras... como se inventa a vida... acho... e me escondi entre elas... me achei deveras... em priscas eras... nos sons e significados... descobri estados... ora líquidos... ora gelados.. sólidos... gasosos... ares... cantares... ciganos sentidos... inventei gemidos... criei sustenidos... compus sinfonias... encontrei noites vadias... como a de agora, da cheia lua... renasci com luz que incendeia.. iluminei minha alma na tua... inventei o amor até... cadeia... e me prendi para sempre nessa teia...
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Poeminha curtinho...

Poeminha curtinho...


Nada é maior do que teu olhar
profundo... intenso... forte...
Nada é menor do que meu tempo...
porque corre tão depressa
que não me deixa ter-te mais:
menos fugaz...
não mais efêmero,
quer dizer, eterno...
quer dizer, para sempre...
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Thursday, February 21, 2008
Na minha menina dos olhos

Na minha menina dos olhos
Maria Aparecida Torneros da Silva



Na minha menina dos olhos Tem você na minha menina tem você que me fascina na minha menina dos olhos tem sua frase gentil na minha boca, um céu anil me deixa com gosto de Brasil, quando penso que tem você no meu carinho, tem você no meu caminho, tem um ninho de aves raras, nas minhas muitas caras, as que mando do meu coração sozinho... acho que tem tanto você no meu juízo que se o pego de jeito e falho fico só no prejuízo...
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Preciso dizer a Boa Nova!
Maria Aparecida Torneros da Silva


Preciso dizer a Boa Nova! Trombetas a postos! Arautos, nos postos! Senhores, bem altos, os sons, os tambores! Senhoras, contraltos, cantando aos amores! Povo do meu quintal, gente da minha rua, duendes da minha lua, bruxas do meu astral, almas do meu céu anil, irmãos do meu Brasil, pessoas do meu caminho, amigos do meu carinho, preciso contar porque é sufocante estar assim, amando e amante no melhor momento da vida crendo que é possível, na chegada da primavera, no meio do outono da idade, contra até a minha vontade, por mais que seja incrível, quando já não acreditava talvez por ter me esquecido ou ter pensado que era passado esse reaquecido estado de ter meu coração de novo: completamente apaixonado!!!
Aparecida Torneros
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Minha emoção...

Minha emoção
Maria Aparecida Torneros da Silva

Minha emoção
Maria Aparecida Torneros da Silva


Minha emoção ... fidedigna lua digna de louvores sois quem sois para aqueles de ontem mesmo agora brilhas nos meus olhos emocionados... ... imagem amada do homem do meu caminho vem trazendo arrepio em meu genital o carinho do beijo borrado, o cio... ... querido macho do lugar onde deito meu cansaço e velo cada respiraçao, cada luar e me emociono tanto que me pélo.. ... escalpelada minha tez se treme em delirio de prazer solto gemido de gozo antes preso porque teme a liberdade de não ser mais meu... e me emociono... minha emoção me anestesia minha emoção me agonia minha emoção me angustia minha emoção me traz teu hálito... minha emoção me faz infinitamente dependente do amor de outrora... nada será além da sua própria hora de chegar e de partir, com o destino... e cada emoção de menina ou menino refaz em nós o desejo de amar somente... _________________________________________________________
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Infinitas estrelas....não me arrependo de nada...


Infinitas Estrelas

Maria Aparecida Torneros da Silva



Infinitas Estrelas Há, no Universo, meu Anjo, infinita quantidade de estrelas... Há, no Amor Imerso, meu Doce, Infinita possibilidade, de percebê-las... Há, no verso disperso, meu Amor, Infinita saudade de lugar nenhum, que em ponto algum nada será que não seja apenas a hipótese... Há, no Fim Disperso, do Mundo Adverso, Meu Mel, Minha Luz, a incerteza mais certa, aquela que me aperta, além dos calos, o coração e o depois... Já que não Há depois, de tantos milhões de luzinhas, de tantos bilhões de pontinhos brilhantes, de tantos trilhões de presentes e passados, de infinitesimais pedacinhos de luminosidade, no céu dos amores irrecuperados...
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Salve "ELE"

Salve "ELE"
Maria Aparecida Torneros da Silva


Salve "ELE" acordei pensando... onde ele está agora? ele quem? pensei..tanto ele por aí... tem "ele" risonho e sincero... tem dele o tipo : não quero... tem um "ele" que fica de fora... enquanto outro dele entra brincando... dentro dele tem muitos "eles" mentindo que fica difícil saber qual deles buscar na manhã...descamando peles... tinha um que eu amava, justo aquele bem, o tal "ele" dizia que me amava, sorrindo... bem, eu acreditava, me fazia muito bem, era um "ele" especial, um mágico alguém que me iludia com enredo lindo... acordei pensando: onde estará aquele "ele", especialmente aquele que "ele" fabricou para mim? quero de volta aquele... bem aquele...só aquele... porque "ele" me deu o paraíso que não tem princípio, me ofereceu a graça do amor de anjo do precipício, que caiu no mundo, do céu ao inferno, burlando o fim... agora, compreendo, sensação de paz, que "ele" está aqui, pra sempre, dentro de mim... Salve "ELE"... voltou, enfim.... (Aparecida Torneros, poema escrito em 25/06/05)
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Com o pouco que sobrou...

Com o pouco que sobrou...
Maria Aparecida Torneros da Silva


... com o coração aos pulos em busca do grande amor...
...sobrou pouco, concluiu...
daquela menina de saias curtas e penteado à maria chiquinha...
talvez tenha sobrado o sorriso de canto da boca, a linguinha de pontinha de fora...
sobretudo, sobrou o brilho do olhar quando intenso fica ainda, ao imaginar a chegada dele...
...mas, como ele se camufla sempre, se veste de prateado, se ilumina e foge,
ela já se acostumou a não mais reconhecê-lo, a duvidar que ele exista de verdade...
... do pouco que sobrou, uma sensação adolescente teima em ser tema recorrente...
é quando o coração aos pulos, frenético e enganoso, busca no homem imaginário
o exemplo sonhado do grande amor que se esconde nalgum canto do universo...
aí, ela promete a si mesma, juntar o pouco que sobrou e transformar-se num grande tesouro...
Aparecida Torneros

Outono com sorvete

Quero ver-te
sim, quero muito
preciso disso
é um compromisso,
aqui, o outono,
aí, a primavera,
vai ver que era
para ser mesmo assim
tu estás longe de mim
mas te ponho num trono
faço-te meu rei
vou ver-te, eu sei,
na cidade da liberdade,
onde o mundo se encontra,
a capital do capitalismo
mas, em nós, o socialismo
de dividirmos a nova vida...
Quero pedir-te, novo amor,
que ao nos encontrarmos
possamos sorver...com ardor,
que coisa boa, gostoso sorvete...
vou sorver-te, ah, vou decidida...
quero lamber teus medos,não vou só ver-te,
vou lambuzar teu coração, molhar tua alma,
manchar teu corpo, sugar tua boca,
chupar teus olhos, abocanhar teu sonho,
engolir tua proposta, degustar tuas costas,
provar tua língua, outonar teus dias,
preparar-te para o inverno,
ao meu lado, vem, encosta,
sente que há um calor a derreter-te
como se derrete um sorvete
quando os anos passam, envelhecemos,
os cabelos embranquecem, e ficamos assim,
juntinhos, derretidos, com olhar terno,
mãos entrelaçadas, caminhando, no Hide Park,
e, nas noites, um calor nos sobe, nos aquece,
porque vamos outonar e encalorar, fogosos,
em pleno inverno, em cada noite, "no more dark",
somente a luz das nossas almas, corpos amorosos,
e aí vou eu, ver-te, sorver-te, meu sorvete...

Cida Torneros

Da suavidade do seu sussurro...

Da suavidade do seu sussurro... Sibilando que nem vento morno, como se fora um aconchego, um xamego brando, um sentido solto, como aquele ronronar de gato manhoso em almofada fofa, sua voz mansa resvalou como pluma no meu ouvido calmo... Sintonizando a leveza de um encanto, um algodão, um toque sentido e lento na alma enebriada, eis que seu sussurro me adentrou em ondas de carinho, de sentimento, de amor e doação... Solfejando a música do espírito domado pela paz veio até mim sua palavra doce, e me tornou sua refém... Uma penumbra ocultou de mim a causa... Aí, entreguei-me ao efeito e soletrei baixinho: amém....


Também te adoro...
também

sabes tu

sei eu

sabes de mim

sei de ti

também

te adoro

tu me adoras

adoro tua voz

teu sorriso manso

o furo do queixo

meu remanso

para descansar a língua

depois de cada beijo...

também te adoro

quando te queixas da vida

do trabalho excessivo

com teu jeito distante e lascivo

pois sei que trabalhas para depois

me encontrares, me teres e me adorares...


Põe um chapéu na cabeça...


Põe um chapéu na cabeça
até que a mente se arrefeça
e faça de ti uma enchapelada
ainda que descabelada e sóbria
pois as figuras que irão surgindo
são a tua imagem arrebanhada
de desenhos sólidos ou de traços vários
apenas são uma nova impressão de ti
talvez um pouco mais e amiúde os sacrários
do que abençoas em ti mesma, teu olhar gris..

Põe de cores variadas, de acordo com o humor
de cada dia, varia em tons e formatos, capricha
na feição do rosto emoldurado sob a cabeça coberta...

Amanhã, onde estiveres, serás lembrada pelos chapéus
fantasias e adornos da tua cara de gente experta
de mulher alegre, de sensível caricata da vida,
mas, se não tiveres mais tempo, usa só os véus...

Cobre o semblante com a diáfana rede da dúvida,
enquanto teus olhos buscarem no mundo a partida
ou a chegada para toda a proteção dos céus...

Protege a cabeça dos maus pensamentos, cobre a testa,
esconde as madeixas, enfeita as faces, valoriza a festa...

E, ao encontrares o divino mestre das andanças do universo,
só para ele, bem seja dita a verdade santa, no espírito submerso,
só para ele, com respeito, tira o chapéu e dá a ele teu último verso...

Aparecida Torneros

Um novo amor ( um conto do livro "O contra ataque do amor")

Um novo Amor...


Eles nem se conheciam até pouco tempo... Talvez tivessem cruzado alguma vez, em lugar incerto. Como podiam não ter visto um ao outro, antes? Na memória, de ambos, pairava a sensação enevoada de que já teriam se falado, ou será que isso acontecera nos seus sonhos? Eles se atraíram repentinamente, como coisa que surgiu do nada, e lá estão suas mãozinhas se entrelaçando pelo caminho. Coça daqui, beija dali, olha bem no fundo dos olhinhos, sorri à-toa, o casal de pombinhos se mostra sob o encanto. Eles se desejam a cada momento novo.

Parece arte de feiticeira do além. Juntou os dois como se junta pedras de um jogo, andam se abraçando para prolongar o efeito do calor delicioso que seus corpos emanam. Nada quebra a magia das suas falas recheadas de ternura, quando se tratam por apelidos carinhosos, e sussurram frases nos ouvidos atentos. Quando adormecem, grudam as peles, enroscam as pernas, beijam estalando os lábios cada pedacinho, lambendo o gosto um do outro. Quando acordam, constatam que ainda estão colados, respiração soprada no pequeno espaço que se abre entre suas presenças. Estas, confundidas entre os lençóis, se aconchegam na querência de não mais se afastarem um do outro, dizem baixinho, nunca, jamais.

Então, se ao menor despontar do medo absurdo de se perderem, detectam a efemeridade sempre ameaçadora que se instaura nos corações apaixonados, perseguem a razão que os conforta com a certeza de que esse novo amor, finalmente, é o eterno. Prometem voltar. Juram esperar-se um ao outro, todos os dias, enquanto puderem viver. Nos seus semblantes, denunciam o brilho da paixão sem motivo certo, como também deixam entrever a luz do encontro resplandescente. Estão em estado de graça. Isso custa muito mais que uma simples explicação científica, muito mais ainda que uma compensação emocional, muito mais, indubitavelmente, que qualquer adeus acenado em aeroporto de uma cidade distante.

Mesmo viajando, voando ao encontro de afazeres, eles retornam e matam as saudades, com a grandeza dos seres plenos. Eles voltam. Aprendem, todos os dias, a esperar. Sabem que o novo amor é tudo. Vão a todos os lugares carregando a lembrança dos seus momentos, até que descobrem o exato instante em que já não é mais possível desfazer o laço. Resolvem isso, de estalo, em tão pouco tempo.Ou melhor, não tiveram outra escolha. Teleguiados pelo novo amor, um dia, acordam de manhã e suas escovas de dentes ali estão: juntinhas...Como puderam viver antes, sem ter se conhecido?
Cida Torneros

O "último desejo" de Ritinha e Zé do Brejo

-Eta festa danada de boa! Ritinha pulava que nem cabrita, o rosto avermelhado, a roupa caipira afofada e esvoaçante, cada gritinho de prazer, no compasso risonho da quadrilha, depois de ter bebido uns goles de quentão, a menina se divertia com seu par. Ele era o Zé. Conhecido como Zé do Brejo, um moço caladão, quase não sorria, mas era alto e bonito. Filho de uma família antiga do lugar, o Zé cuidava de gado e da plantação da chácara " Soledade ", e sua fama de bom domador de cavalos corria solta, principalmente quando na cidade tinha rodeio. Vinha gente de todo lado para ver o seu jeito de amansar os bichos brabos.

O rapaz acompanhava Ritinha no compasso, bailando com gosto. Nos momentos em que se abraçavam, por causa das coreografias, Ritinha sentia um bafo quente que ele desprendia, ela se contaminou então de um sentimento que lhe parecia grande novidade. Namoradeira, acostumada a beijar alguns solteiros que a cortejavam, a inquieta Ritinha, se viu envolvida naqueles braços fortes e protetores. Arrepiou-se, piscou os olhos, suspirou fundo.

-Ei Ritinha, tá cansada?
- Não, Zé, tô com sede, isso sim, e também essa dança me deu fome...

Então pararam com o balancê, afastaram-se da quadra, dirigiram-se para uma das barraquinhas de comida e bebida. Zé lhe serviu um pratinho com pedaços de leitão a pururuca e encheu dois copos de vinho tinto, levando-a para um canto onde a som da festa chegava mais brando e a lua iluminava um banco de jardim.

Sentaram para comer e beber, iniciaram uma prosa animada, falando de suas vidinhas e seus desejos, Ritinha contou que pretendia estudar fora dali, queria ser professora numa cidade grande. O Zé ponderou que a vida ali era melhor, mais calma, e que ele nem sonhava largar sua "Soledade".

Fez-se o impasse. Seus olhares cruzados, aquela sensaçãode dever em mudar de planos. Ou ela ficava no lugarejo e se deixava apaixonar por ele, ou ele saía mundo afora, e a encontrava em algum momento para seguir ao lado dela, quem sabe, pelo tempo adiante, para terem uma familia, criar uns menininhos, ora, o pensamento voou. Zé parou e tentou estancar a torrente de futuro que lhe veio à cabeça , assim, tão repentinamente.

Mas, já estavam fisgados pela aura da noite de S. João. Ritinha fizera o seu pedido, acendera velas, atentara o santo para que lhe desse um namorado a mais naquela festa, e o Zé cheirava a capim limão, tinha um jeito manso de chegar tão perto dela, vontade de se deitar no peito dele, ouvir sua voz contando histórias de cavalos domados.

O amor começou naquele dia, quando voltaram ao terreiro, já de mãos dadas, depois de beijos prolongados, sabiam, nunca mais seriam iguais ao que foram antes.

Muitos anos depois, Ritinha e Zé do Brejo, por obra do destino, se desentenderam, e uma traição de um deles, pôs fim ao casamento e desmanchou o encanto.

Zé estava calado. Ritinha, bem mais madura e ainda bonita, chorava baixinho. O sucesso da canção do carioca Noel Rosa tocava na rádio, era 1938, Zé cuidava da "Soledade", Ritinha cuidava dos dois meninos, seu sonho de ser professora tinha ido rio abaixo, mas teve felicidade junto do seu amor, por muito tempo.

Agora, a música a penetrava, na alma, como se fosse uma encomenda. Cada palavra daquela toada dizia tudo da vida deles, já que o fim do seu romance estava próximo, por que não dizer o último desejo?

Ficaram assim, cada qual imerso em seus pensamentos, por alguns momentos puderam recordar a festa de S João de tempos atrás, mas não conseguiram ultrapassar o curso do destino e na manhã seguinte, disseram adeus.

Ritinha partiu cedo, levando os meninos, no trem direto para a cidade grande. O Zé bebeu além da conta e foi dominar uma égua braba, que era o que ele sabia fazer e bem, a vida toda.
Cida Torneros

Último desejo ( de Noel Rosa, por Maria Rita)




Último Desejo
Noel Rosa
Composição: Noel Rosa

Nosso amor que eu não esqueço, e que teve o
seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete,
sem luar, sem violão
Perto de você me calo, tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo mas meu último desejo
você não pode negar
Se alguma pessoa amiga pedir que você
lhe diga
Se você me quer ou não, diga que você
me adora
Que você lamenta e chora a nossa separação
Às pessoas que eu detesto, diga sempre que eu não
presto
Que meu lar é o botequim, que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida que você pagou pra mim

así se baila el tango...




Originariamente, o tango nasce no final do século XIX de uma mistura de vários ritmos provenientes dos subúrbios de Buenos Aires. Esteve associado desde o princípio com bordéis e cabarés, âmbito de contenção da população imigrante massivamente masculina. Devido a que só as prostitutas aceitariam esse baile, em seus começos era comum que o tango fosse dançado por um casal de homens.
Mas o tango como dança não se limitou às zonas baixas ou a seus ambientes próximos. Estendeu-se também aos bairros proletários e passou a ser aceito "nas melhores famílias", principalmente depois que a dança teve sucesso na Europa.
A melodia provinha de flauta, violino e violão, sendo que a flauta foi posteriormente substituída pelo "bandoneón" (espécie de sanfona). Os imigrantes acrescentaram ainda todo o seu ar nostálgico e melancólico e desse modo o tango foi se desenvolvendo e adquirindo um sabor único.
Carlos Gardel foi o inventor do tango-canção. Falecido em 1935 aos 45 anos de um acidente aéreo, ele foi o grande divulgador do tango no exterior. Nos anos 60, porém, o gênero foi ignorado fora da Argentina. Ressurgiu renovado por Astor Piazzolla, quem lhe deu uma nova perspectiva, rompendo com os esquemas do tango clássico.
Hoje em dia o tango vive, não como o fenômeno de massas que o engendrou, mas sem nenhuma dúvida como elemento identificatório da alma portenha e em permanentes evocações espalhadas por todo Buenos Aires.
(extraído do site Mi Buenos Aires querido)

tango...



tango
te trago
ao peito e ao corpo
te engasgo
tango
te escapo
ao jeito e ao dorso
tango
te enfaixo
ao fim e ao cabo
tango
te faço macho
a mim e ao meu lado...

cida torneros

terça-feira, 23 de junho de 2009

soneto ...Luís de Camões

Soneto

Luís de Camões


Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce e é piedoso;
Quem o contrário diz não seja crido:
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens e inda aos deuses odioso.

Se males faz Amor, em mi se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de amor;
Todos estes seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.


Luís Vaz de Camões presume-se tenha nascido em Lisboa por volta de 1524, de uma família do Norte (Chaves). Viveu algum tempo em Coimbra onde, segundo consta, freqüentou aulas de Humanidades no Mosteiro de Santa Cruz onde tinha um tio padre. Regressou a Lisboa, levando aí uma vida de boemia. Em 1553, depois de ter sido preso devido a uma briga, parte para a Índia. Fixou-se na cidade de Goa onde escreveu, de acordo com seus estudiosos, grande parte da sua obra. Regressa a Portugal em 1569, pobre e doente, conseguindo publicar Os Lusíadas em 1572 graças à influência de alguns amigos junto do rei D. Sebastião. Faleceu em Lisboa no dia 10 de junho de 1580. É considerado o maior poeta português, situando-se a sua obra entre o Classicismo e o Maneirismo. Obras: "Os Lusíadas" (1572), "Rimas" (1595), "El-Rei Seleuco" (1587), "Auto de Filodemo" (1587) e "Anfitriões" (1587).


O soneto ora publicado foi extraído do livro "Inês de Castro e O velho do restelo", de autoria de Sylmara Beletti e Frederico Barbosa, Landy Editora - São Paulo, 2001, pág. 39.