sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Por que amo Paris?

Amor não se explica. Ou não se deveria tentar explicá-lo. Amor tem a ver com sentimentos misteriosos que misturam razão com histórias, ou dissociam realidades de sonhos, ou pode ser que amor seja mesmo um portal que nos faz passar para outras dimensões, aquelas cujas decifrações talvez nos cheguem depois da própria morte.

Amar alguém é soberbo, sublime, indizível, incontável, indescritível, pois, no auge do amor, aquele ser pelo qual nos caímos de cega paixão...parece não ter nenhum defeito...por algum tempo, quiçá pela vida toda, ele é perfeito aos olhos do seu amante.

Amar lugares é metáfora solene, mas não foge à verdade, ainda que seja exacerbada a comparação, é possível apaixonar-se por uma cidade, em sonhos, em visitas, à primeira vista, em saudades, acumulando lembranças, revisitando pequenos souveniers que guardamos no fundo de almas viajantes.

Paris, para mim, foi um sonho distante, por mais de 40 anos. Quando lá cheguei aos 59 anos de idade, tive a certeza de que lá sempre estivera, desde os meus 18, nas barricadas de 68, ou de antes, das aulas do professor Pereira Reis, quando ele teatralizava a Revolução Francesa. Também, o cinema e a música francesa tinham se encarregado de me conduzir a um amor intenso, nobre, verdadeiro, por uma cidade diversamente cultural à minha, o meu Rio de Janeiro, onde nasci e cresci.

Pois em 2009, cheguei a Paris, de trem, procedente de Barcelona, na companhia de duas velhas amigas, de infância, e da filha jovem, de uma delas. Tudo era tão aconchegante. Paris amanhecia. 'As sete horas da manhã, os cafés preparavam suas calçadas para os clientes que iam chegar e ler seus jornais. Um bailado nas ruas, gente atravessando calmamente, um frio de primavera, era maio, um chuvisco a me saudar, o som antigo de uma Piaf que eu lhevava dentro do coração e a expectativa do momento máximo que o tal amor antigo por Paris me doaria a qualquer instante.

Pois foi assim mesmo. Paris me deu amor de verdade. Tive tudo que alguém sonha ter naquela cidade. Bons momentos, paixões pelas ruas, pelas praças, pelos museus, uma mistura de sentimentos tão fortes que ao voltar ao Brasil, matriculei-me correndo numa escola para aprender a língua francesa.

Dois anos depois, em maio de 2001, peguei um avião na companhia de outra grande amiga, e fomos a Paris para cumprir novo roteiro. A emoção foi de quem reencontra um grande amor. Senti-me entranhada ali, era preciso respirar fundo, não devia perder um só momento. Pude conhecer Regina, amiga que mora nos EUA e que estava em Paris pela primeira vez. Nossa tarde de conversas foi uma passada a limpo de vidas irmãs, ambas curtíamos nosso amor a Paris. 

Os dias se seguiram corridos. Fiz tantas fotos ( mais de 1000) , voltei ao Café de Flore, brindei a Paris, meus olhos se encheram dágua... eu sabia que ia voltar...tinha certeza disso.


O ano novo se aproxima. Em 2012, programo minha viagem a Paris, como uma amante que vai rever seu grande amor, primeiro pensei em maio, mas ando enrolada com muitas coisas...adiei para agosto, penso em ir no finalzinho, e comemorar meu aniversário (2 de setembro), na cidade-luz...

Já tenho dentro de mim uma lista de coisas novas a fazer em Paris, além de sentar no Jardim de Luxemburgo e olhar as pessoas passando, simlesmente.

Por que amo Paris? Deve ser pelo mesmo motivo que amo o homem dos meus sonhos. Paris é inesgotável. Tem recantos e segredos que vamos desvendando a cada reencontro. Ele é assim também. Camufla-se em tantos rostos, e tantas falas, mas está ali, e sei que me espera. 

Um dia, quem sabe, vou morar em Paris, e não dormirei em camas de hotel. Vou acordar, abrir a janela, gritar Bonjour Paris! Depois, desço as escadas e alcanço a rua. Caminho devagar, sei que meu amor dura muito mais que 50 anos, sei que é amor eterno. Vai sobreviver a mim, vai me ultrapassar, é amor compartilhado, é amor de prazer absoluto, é amor pela possibilidade de deixar gravada na memória humana, nos museus, nas praças, nos telhados, nos transportes, o gosto de beijos, a placidez dos barquinhos a deslizar no Senna, o brilho da torre Eiffel na noite de uma cidade amante, uma cidade onde cada amor é especial.

Tenho um amor em Paris, tenho grande amor por Paris, tenho minha alma ligada a Paris. E amor, convenham, não se explica, apenas se sente, amor é pra viver e só.

Cida Torneros 


   
 

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