postado em 02-12-2011
Arquivado em (Artigos) por vitor em 02-12-2011 22:18
“Dezembros”, Fagner e Zeca Baleiro
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CRÔNICA
Mais um dezembro…
Maria Aparecida Torneros
Toda vez que chega dezembro, a gente acorda: o ano acabou…mais um. Lá se foram os meses corridos em busca de sonhos realizados ou improvisados, correu-se atrás, defendeu-se algum no trampo, engoliu-se algum sapo, tirou-se da reta certo olhar comprometedor ou até, buscou-se nalgum lugar imaginado aquele frescor da manhã de primavera, quando o orvalho goteja pequeninas saudades da madrugada e os amantes ressonam cansados dos arroubos e suspiros, das respirações apressadas, das juras despejadas em ouvidos sedentos por ilusões á toa..
Dezembro tem essa energia inconfundível, hora de arrumar a casa, saldar dívidas de gratidão e de grana, comprar algo que faça a diferença pra si ou para quem se quer lisongear pela presença em nossas vidas. Um sopro de criancice é bem vindo, o riso fácil, os brindes junto de amigos e familiares, as tais festas de confraternização, os repetidos gestos de benemerência, doações de cestas de Natal, visita a asilos e orfanatos, ligações para quem está distante, pensamentos e orações em intenção de quem partiu mas deixou saudades.
Um final de ano é sempre hora de rememorar, comemorar, esperançar, fazer balanço, virar páginas, talvez até começar novo livro na vida, com história inédita, merecidamente aguardada ao longo de décadas. Eis que o shopping fervilha sua trajetória consumista e os papais Noéis contratados enfeitam de emoção a alma infantil, apesar de tudo, há sempre um sorriso de menino ou menina para decorar a descrença de um cético às voltas com sua eterna crise existencial.
Sabe-se lá porque cargas dágua contamos tempo… e delimitamos espaço, já que a física prega por aí que eles nem existem…o que há é um conjunto bizarro de energia cósmica pairante, conspirante, intrigante, misteriosa que fas do universo um lugar de histórias sem fim e sem começo, onde nos inserimos enquanto espécie humana, por uns parcos e meros 80 a 100 anos, ou um pouco menos, uma breve passagem pela maravilha do Planeta Azul, e a incerteza benevolente do quanto é possível amar por algum motivo a própria precariedade do tempo ou o incrível horizonte do perdido espaço.
Cá estamos, é mais um dezembro que começa na vida de todos nós…Este tem o sabor da primavera árabe a locupletar-se com a revolta de povos oprimidos, tem ainda o estigma humano da instabilidade do mercado europeu, sua tentativa de moeda única esbarrando-se nos interesse e conflitos da economia manipulada e ultrajada, mas é dezembro, há que lutar por dias melhores e combater o empobrecimento dos povos, ou a exploração de outros tantos, há que se sonhar com as curas de tantos males físicos e emocionais que ainda assolam os seres viventes, quem nos dera salvar as florestas, sustentar o Planeta, desenvolver reais possibilidades de vidas equânimes, com oportunidades iguais etc…
Não custa sonhar, porque é dezembro. Hora de absorver qualquer magia que nos passe pela alma à prova de toque de fadas e duendes, vamos lá, minha gente, abraçar o tal próximo, encantar-se com os amores possíveis, e até, porque não, aventurar-se em novos amores que podem unir pretos e brancos, ricos e pobres, cristão e mulçumanos, árabes de judeus, flamenguistas e vascaínos, protestantes e católicos, gays e homofóbicos, doentes e sãos, amados e amantes, crentes e descrentes, num instante de luminosidade intensa, talvez num piscar de olhos de um Deus possível ou imaginário, de um Allah real ou inalcançável, mas de uma persistência absurdamente próspera de nos trazer de volta mais um dezembro aos corações e mentes.
Cida Torneros, jornalista e escritora, mora no Rio de Janeiro, onde edita o Blog da Mulher Necessária
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