Maracanã

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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Artigo do Estadão sobre a candidata Dilma desvenda a bola de cristal?


Artigo do Estadão desvenda bola de cristal?
 "Dilma, prepare-se. A candidata pode ser você."


Quando assisti o filme Lula, o filho do Brasil, uma frase subliminar, aliás, em forma de pensamento, não me saía da cabeça. Lembrei-me da minha avó, espanhola, de origem cigana, que sempre repetia: "as pessoas nascem com estrelas sobre a cabeça, e algumas vão brilhar mais, muito mais, que as de outras, não tem jeito e nem tem lógica". Com isso, não quero desmerecer os predicados de vencedores, de líderes, e nem tenho lastro para tal, sou apenas uma observante da comunicação, da imagem construída, da mídia avassaladora e ondulante, através dos seus altos e baixos, nos oferecendo retalhos que vamos costurando e juntando. No fim, surgem imensas mantas de aparentes verdades, acobertadoras de invernos gélidos, os que certamente acontecem nos porões de cada história como a relatada no artigo em questão.


Bem escrito, bem conduzido, acredito que bem apurado, o texto nos passa um conto, e como quem conta um conto, aumenta um ponto, não era só a minha avó que dizia, todos sabem disso, a Dilma, filha também do Brasil, como todos nós, mesmo sem saber ao certo a hora do seu nascimento ( ela nasceu dois anos antes de mim, que, por casualidade, sei a hora, mas nunca fiz mapa astral), segue seu caminho de mulher, mãe, quae avó, administradora, ministra, política e agora candidata a presidenta do país.


Tem méritos, sabe muito sobre energia, questão fundamental para a sobrevivência do Planeta, tem história pessoal que a credencia como sobrevivente das mazelas que a ditadura legou aos torturados e perseguidos, é centrada, tem certo carisma que pode crescer, segundo as pesquisas, aprendeu a sorrir mais francamente, passou a usar muito mais o colorido, carregando no vermelho, depois de alguns percalços de saúde, venceu com a saúde de uma postulante a um cargo que exige preparo físico e como diz o título do artigo: preparou-se. Ou melhor, ainda se encontra em fase de franca preparação.


Lula observou-a, mulher dedicada até altas horas ao seu trabalho, ele vislumbrou nela não só as luzes da madrugada que permaneciam acesas enquanto ela se debruçava sobre números, estatísticas, planilhas, o Brasil traduzido em possibilidades, projeções, desafios, o Programa de Aceleração do Crescimento, nos idos de 2006 e 2007 sendo gestado, mas Lula viu o brilho da tal estrela, semelhante à dele, talvez, mas com um destaque para a feminilidade em moda para as lideranças no mundo moderno.


Seu sorriso de "coelhinha", com todo o respeito, é um dado metafórico, já que sua fala é tão produtiva quanto sagaz, e seu discurso cresce à medida que é aconselhada, é boa aprendiz, se faz ouvinte de políticos experientes em eleições que a cercam e protegem, enquanto deixa sobressair marcas pessoais ainda esmaecidas que provavelmente emergirão com maior intensidade a partir de agora, que é candidata já oficializada ao pleito nacional.


Filha de pai búlgaro e mãe mineira, é descrita no artigo como um "produto", criado, produzido, trabalhado, para ser posto no mercado marketeiro eleitoreiro, e seus preparadores, incluindo-se nomes citados, profissionais gabaritados, experts talhadores de imagens esculturalmente apropriadas, revezam-se, nesse meio tempo, em constatar o que está dando certo desde que o presidente Lula a observou, escolheu, sugeriu e avalizou.


Coincidência ou destino, sabe-se que a Bulgária, país dos seus ancestrais paternos, conta com um expressivo número de ciganos, ainda perseguidos, e hoje organizados em ONGs que postulam melhores condições de vida para seus pares.


Dados que pincei na internet, revelam que os ciganos constituem na Bulgária a segunda maior minoria do país, correspondendo a 4,7% da população. A zona de Stolipinovo, em Plovdiv, conta com uma das maiores concentrações de ciganos. Organizações Não Governamentais (ONG) alegam que os ciganos são objecto de discriminação, enquanto outros comentadores dizem que o sentimento de antagonismo entre os ciganos e a população maioritária da Bulgária resulta mais de uma relutância dos ciganos em se integrarem na sociedade moderna.O grupo mais comum de ciganos na Bulgária são os ciganos locais ou yerlii, divididos em ciganos búlgaros (Daskane) e ciganos turcos (Korhane), embora também haja outros grupos. Pensa-se que os ciganos chegaram à Bulgária no início do século XIII e em especial nos séculos XIV e XV, com a conquista otomana. A Bulgária é um dos 12 governos europeus onde as minorias ciganas participam na Década da Inclusão dos Ciganos que tem como objectivo melhorar a situação socioeconómica e a inclusão social dos ciganos nas sociedades e que recebe financiamentos tanto da Europa como internacionais.



A Dilma que ora se lança candidata, que busca, segundo o artigo do Estadão, desvendar seu mapa astral, tem grandes probabilidades de trazer correndo nas suas veias, uma parcela, ainda que seja ínfima, do sangue cigano, um sangue de gente que enfrenta discriminação e perseguição mas não desiste, muda de casa, de lugar, de partido, de cidade, de posto, de estratégia, o que for necessário, mas segue sendo um povo bravo.


Parece que a bola de cristal prestes a ser desvendada pelo artigo do Estadão, relata fatos como o presente "um bambolê cor de rosa", instigando-a a ter mais jogo de cintura, fala ainda dos patuás, usados como oferendas baianas, pra dar sorte e contra o mau olhado, etc.


Mas, para quem tem sangue cigano, e sabe disso, o que não falta, é a cadência persuasiva e conquistadora dos volteios que as ancas femininas são capazes de articular, metaforicamente falando, pois a intuição é forte, o regimento está treinado, o comandante afinado com sua tropa, os "generais" da equipe, Palocci e Dirceu, ainda não se retiraram para a reserva e se colocam, inteligentemente, nos bastidores das afinações para a o campo de batalha.

Enquanto isso, a Dilminha, assim chamada carinhosamente pelo experiente Lula, pega carona no brilho da estrela do filho do Brasil, mas, vide artigo do Estadão, ela sempre foi política ( seu ex marido ratifica que chamá-la só de técnica é tentativa de desqualificá-la), ela sempre foi guerreira, tem energia e entende do setor, não é mulher de fala mansa, chegou onde tantos homens sonharam chegar, está no páreo, tem ciganidade por ancestralidade, tem mineirice e matreirice por seu lado materno, é gaúcha por adoção, o que o artigo parece querer desvendar é mesmo a bola de cristal de alguma cigana búlgara.


Talvez uma trisavó da candidata tenha previsto isso, uma descendente a comandar um país distante, algum dia, em meio a trovoadas, tempestades, invejas mil, histórias a serem contadas por ótimos articulistas, alvoroço na mídia nacional e internacional, altos e baixos nas pesquisas eleitorais e, a tal estrela, quem poderia prever até onde alcançará seu brilho.



Só o futuro dirá, ou o mapa astral, se Dilma Rousself descobrir a que horas veio ao mundo, há 62 anos atrás, para que desvende tal mistério.


Aparecida Torneros - jornalista, RJ



'Dilma, prepare-se. A candidata vai ser você!'

Estado de SP, domingo, junho, 2010, artigo assinado por Vera Rosa


Coube a Márcio Thomaz Bastos, em 2007, avisar à então ministra da Casa Civil que era ela a escolhida de Lula para disputar a sucessão. Começou aí a operação para construir sua imagem


13 de junho de 2010
9h 10


Vera Rosa / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo






A pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, durante a Convenção do PMDB


Ávida por descobrir o que o futuro lhe reserva, Dilma Rousseff quer encomendar um mapa astral e tenta de todo jeito saber a hora exata de seu nascimento, ausente da certidão. Depois de infrutíferas entrevistas na família, a candidata do PT à Presidência mandou buscar a informação no arquivo do hospital São Lucas, de Belo Horizonte. Não encontrou a resposta até agora, mas a persistência em busca do horário perdido revela o quanto rejeita o veredicto "impossível".


"Também isso foi há 62 anos, não é?", justifica ela, não muito resignada. "Minha mãe diz que eu nasci antes da meia noite e minha tia, que foi um pouco depois. Como é que eu vou saber? O que sei é que sou sagitariana."


Nascida em 14 de dezembro de 1947, a mineira Dilma tem mais essa "semelhança" com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pernambucano, dois anos mais velho do que ela. Lula nunca soube a hora de seu nascimento. Nem mesmo o dia. A mãe contava que era 27 de outubro, mas o menino foi registrado pelo pai como sendo do dia 6. Para o presidente, a conjunção dos astros conspirou a seu favor por "pura sorte".


Seis e 27 de outubro foram as datas dos dois turnos da eleição de 2002, quando Lula chegou pela primeira vez ao Palácio do Planalto, derrotando José Serra (PSDB), hoje adversário de Dilma. Quatro anos depois, reeleito após atravessar uma sucessão de crises e quase ser apeado do poder com o escândalo do mensalão, em 2005, ele encasquetou com Dilma, a ministra da Casa Civil.


Começou ali, na transição do primeiro para o segundo mandato, o planejamento do que parecia impossível: a construção da candidatura de Dilma, uma cristã nova no PT. Com os herdeiros naturais abatidos por escândalos e a cúpula do PT dizimada, Lula tomou uma decisão solitária sobre o seu espólio. Apenas o círculo mais íntimo de auxiliares percebia os sinais emitidos por ele.


No fim de 2006, o Palácio do Planalto abrigou várias reuniões reservadas para a discussão dos rumos do novo governo. "Eu sempre tive medo de que o segundo mandato caísse na mesmice", revelou Lula ao Estado.


Gerente da equipe, Dilma teve papel destacado nesses debates, com ênfase em desenvolvimento, distribuição de renda e educação. Nos encontros, com a participação de um seleto grupo de ministros, foram gestados o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), lançados em 2007.


"Antes de deixar o governo, em março daquele ano, eu avisei: "Dilma, se prepare que a candidata em 2010 vai ser você!"", conta o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos. "Ela respondeu: "Imagine, não posso! O meu trabalho é muito absorvente.""


Com recursos de R$ 503,9 bilhões em sua primeira edição, o PAC logo se transformaria no carro-chefe da campanha petista. Lula, porém, estava longe de falar com a titular da Casa Civil sobre o assunto.


"Um dia, caminhando com ele até a sua sala, ouvi a seguinte frase: "Estou pensando cada vez mais sério em fazer a Dilminha candidata"", descreve Gilberto Carvalho, chefe de gabinete da Presidência. "Levei um susto."


O publicitário João Santana, responsável pelo marketing político de Lula na campanha de 2006, foi escalado para dar consultoria à ministra da Casa Civil no ano seguinte. "Se a gente trabalhar direito, elege a Dilma", dizia o presidente.


Conhecida por seus métodos pouco ortodoxos de treinamento, que incluem até arte marcial japonesa, a jornalista Olga Curado também foi recrutada para preparar Dilma antes de entrevistas, palestras e debates.


Na primeira pesquisa feita pelo PT, em 2007, ela apareceu com 3% das intenções de voto. A lista dos ministros mais conhecidos do governo era encabeçada pelo cantor Gilberto Gil, da Cultura. Dilma estava lá embaixo. Desânimo geral.


Foi duro o trabalho para transformar a técnica sisuda na candidata sorridente que terá o nome homologado hoje, em convenção do PT. Filha de pai búlgaro e mãe mineira, com sobrenome de difícil pronúncia, Dilma começou a ser chamada de "Vilma do Chefe" em 2008, quando Lula passou a levá-la a tiracolo nos palanques. A simbiose foi comemorada pelo comando da campanha.


Pesquisas encomendadas por Santana mostraram que a imagem de Dilma tinha de ser cada vez mais associada à de Lula, um presidente popular, e aos programas sociais do governo, como o Bolsa Família e o Luz para Todos. Assim foi feito. "A força inicial do lançamento é determinante para saber a altura do voo", argumentava o marqueteiro. Pilar dessa estratégia, o programa Minha Casa, Minha Vida, de 2009, foi planejado sob medida para a eleição.


"Essa história de dizer que Dilma é técnica embute uma tentativa de desqualificá-la", afirma o advogado Carlos Franklin Paixão de Araújo, seu ex-marido e companheiro em organizações de extrema esquerda, como a Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares (VAR-Palmares), no fim dos anos 60 e início dos 70. "Então uma pessoa que é presa aos 22 anos, torturada, sai da prisão e ajuda a organizar um partido, o PDT, é técnica? Ela sempre foi política."


O PT prepara antídotos para combater o ataque à participação de Dilma em grupos que pregavam a luta armada. Além da vinculação de sua biografia à do líder sul-africano Nelson Mandela, pacifista, a ideia é apresentá-la como uma espécie de heroína do movimento contra a ditadura, uma mulher que sempre defendeu a democracia. "Dilma nunca deu um tiro", reforça Araújo, pai de sua única filha, Paula (33 anos), a quem ela chama, até hoje, de "meu bebê".


O tiro de Lula, porém, deixou muita gente boquiaberta. Na noite de 30 de outubro de 2007, ao voltar de Zurique, ele fez um diagnóstico sobre a própria sucessão. "São Paulo não vai eleger o próximo presidente nem que a vaca tussa", previu, em conversa no avião com o ministro Orlando Silva (Esporte) e Marta Suplicy, então titular do Turismo. Era uma terça-feira e a comitiva retornava da viagem de apresentação da candidatura do Brasil à sede da Copa de 2014.


O argumento de Lula, que àquela altura já vislumbrava a candidatura de Serra, era um só: São Paulo se portava como locomotiva "divorciada" do Brasil. Na sua avaliação, um candidato paulista não agregaria tanto apoio quanto a desconhecida Dilma.


Ela entrou no governo em 2003 pelas mãos de Antônio Palocci, hoje um dos principais coordenadores de sua campanha. Ex-secretária de Energia do governo Olívio Dutra (PT), foi convidada por Palocci a integrar a equipe de transição. Egressa do PDT de Leonel Brizola, tinha menos de um ano de filiação ao PT.


Sem papas na língua, ela logo comprou briga com Luiz Pinguelli Rosa e Ildo Sauer, os dois pesos-pesados que preparavam o programa do PT para um novo modelo energético, mas encantou Lula. Foi assim que virou ministra de Minas e Energia, desbancando o PMDB.


José Dirceu, então presidente do PT, negociava a entrada do PMDB no governo, mas foi logo avisado de que aquela vaga seria de Dilma. "Essa moça conseguiu conter a crise de energia no Rio Grande do Sul. O ministério está reservado para ela, não vai para indicação política", esbravejou Lula.


A poucos dias de assumir a Casa Civil, Dirceu foi obrigado a desfazer um acordo fechado com o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), hoje candidato a vice na chapa de Dilma. "Eu só fui conhecê-la muito tempo depois", diz Temer.


Dirceu e Palocci disputavam os rumos do governo. O ministro da Casa Civil caiu com o escândalo do mensalão, em 2005. Cinco meses depois, em novembro, teve o mandato de deputado cassado pela Câmara. "Quando sobreveio a crise e a queda do Zé, o presidente logo falou: "Eu tenho um nome"", lembra Carvalho. "Era a Dilma."


Sob intenso cerco político, o governo precisava mostrar resultados rápidos para reagir ao terremoto. Com fama de durona, Dilma se encaixou no figurino idealizado por Lula. Não tinha litígios políticos nem almejava o poder.


Nas palavras do presidente, "era de uma dedicação a toda prova". Ficava até altas horas no Planalto e de manhã integrava o grupo que batia ponto às 8 horas para monitorar as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs).


No auge da crise, auxiliares mais próximos de Lula chegaram a sugerir a ele, em reunião no Palácio da Alvorada, que não concorresse à reeleição. Era a saída para acalmar os adversários do PSDB e do DEM, que, assim, dariam uma trégua ao governo. Dilma foi contra a ideia.


Lula chegou a convidar Palocci, em julho, para ser o candidato do PT em 2006, sob o argumento de que não queria um segundo mandato. "Não existe essa hipótese. Você vai ser candidato", devolveu o ministro da Fazenda. Mesmo antes da queda de Dirceu, o nome preferido do presidente para a sua sucessão sempre foi o de Palocci.


Furioso ao saber que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso havia pregado sua renúncia à disputa como forma de restaurar a ética no País, Lula não se conteve. Entre um e outro palavrão, disse que não apenas entraria de novo no páreo como venceria a peleja. "Essa gente não conhece minha ligação com o povo", reagiu.


Implacável nas cobranças, Dilma ganhou a confiança do chefe. Os gritos da ministra, famosos no Planalto, não assustavam Lula. Não eram raros aqueles que deixavam a sala dela, no quarto andar, para reclamar no gabinete dele, no terceiro. Palocci figurou nessa lista.


Em novembro de 2005, o ministro da Fazenda se queixou porque Dilma - chamada por ele de "a tia" - classificou o ajuste fiscal de longo prazo como "rudimentar", numa entrevista ao Estado. Para Dilma, o efeito do corte de gastos, com os juros altos, era o mesmo que "enxugar gelo".


Reconduzido ao poder, Lula ainda acalentava o sonho de fazer Palocci o sucessor, agora em 2010. Foi obrigado a desistir do plano em março de 2006. Envolvido em acusações de quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, reveladas pelo Estado, o homem forte da Fazenda caiu.


Sem os dois generais do primeiro mandato, Lula se antecipou em três anos às previsíveis cotoveladas entre as correntes do PT para a indicação de seu herdeiro no inventário e passou a testar Dilma. Soltava o nome vez por outra, como balão de ensaio. Não foi só Gilberto Carvalho quem tomou susto.


O PMDB torcia o nariz para a ministra. "Achávamos que ela era muito técnica, muito dura", resume o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). As divergências aumentavam na temporada de negociação dos cargos cobiçados pelo PMDB.


Eram 17 horas de uma segunda-feira, em janeiro de 2008, quando um bambolê cor de rosa aterrissou no Planalto. Comprado por R$ 1,99, o "presente" foi despachado por Alves para o gabinete de Dilma. "Foi a forma que encontramos de dizer que ela precisava ter mais jogo de cintura", admite Alves.


Nas fileiras do PT e do PSB, os muxoxos sobre a preferência de Lula também se fizeram ouvir. "Ela não tem militância nem vínculo partidário", bradou Tarso Genro, à época ministro da Justiça, com a autoridade de quem conhecia Dilma desde o Rio Grande do Sul. "É um grave erro político o lançamento de um único candidato da base aliada", protestou o deputado Ciro Gomes (PSB-CE). Sem contar Tarso e Ciro, que não escondiam a intenção de concorrer à cadeira de Lula, várias alas do PT também já se assanhavam.


Dirigentes da tendência Construindo um Novo Brasil - como foi rebatizado o antigo Campo Majoritário, grupo de Lula - punham na roda o nome do ministro do Desenvolvimento Social, o mineiro Patrus Ananias. Discípulos de Marta achavam que, se ela saísse vitoriosa da eleição para a Prefeitura, em 2008, poderia assumir a tarefa. Não emplacou.


Patrus comandava o Bolsa-Família, a grande aposta do governo, mas, na opinião do presidente, tinha "personalidade tímida", característica vista como problema para uma campanha plebiscitária contra o PSDB. Além de não ser da corrente de Lula, Tarso causava receio por seu estilo polêmico.


Ainda em 2007, na manhã de 8 de novembro, outro sinal dado por Lula não deixou dúvidas de que Dilma era a favorita. A bordo do avião que conduzia a comitiva de ministros ao Rio, o presidente só ali contou aos passageiros o motivo da viagem: a Petrobrás havia descoberto um "bilhete premiado", a camada de pré-sal.


E quem faria o anúncio da boa nova? Dilma Rousseff, a candidata.


"A descoberta do pré-sal não podia vazar, por causa das ações da Petrobrás", atesta o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Além de Dilma e Bernardo, formavam a comitiva os ministros Guido Mantega (Fazenda), Nelson Hübner (Minas e Energia), Franklin Martins (Comunicação Social), Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) e Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia).


Dias depois, ao cruzar com Dilma nos corredores do Planalto, Clara Ant abriu um sorriso. "Dilma, você é o nosso pré-sal!", exclamou a assessora de Lula.


A transformação de Dilma, no entanto, começou a aparecer apenas em meados de 2008, ano de eleições municipais. Com miopia de oito graus, ela trocou os pesados óculos por lentes de contato, contratou um "ghost writer" para pôr uma pitada social em seus discursos cheios de números e subiu em palanques de candidatos às prefeituras.


Perto do Natal de 2008, Dilma fez uma plástica no rosto que suavizou as olheiras e a fisionomia. Retomou as atividades após as festas de fim de ano com novo visual. Sua exposição no balanço do PAC foi mais objetiva, com tempo cronometrado, resultado do treinamento com João Santana.


A falta do convite oficial de Lula, porém, virou piada nas reuniões semanais da coordenação de governo. "A essa altura, ele já falava com todo mundo sobre a candidatura, menos com ela", recorda Carvalho.


O baque veio em abril do ano passado, quando Dilma descobriu que estava com câncer no sistema linfático. A notícia da doença vazou 24 horas depois de Lula ser informado por ela e Franklin Martins sobre o assunto. O presidente, ministros e dirigentes do PT conversaram com médicos. Todos garantiram que a chance de cura era alta, já que o tumor fora detectado em estágio inicial. "Vá lá e dê uma entrevista. Esclareça tudo, se não vão pensar que estamos escondendo as coisas", recomendou Lula.


Sentada ao redor de uma mesa no restaurante italiano Magari, no Itaim Bibi, Dilma almoçou com Thomaz Bastos e Martins, após a entrevista no Hospital Sírio Libanês. Pediu salada e nhoque com cordeiro. O tema da conversa era a campanha.


"Falamos sobre a importância de organizar um grupo de confiança, para discutir política com ela", relata Thomaz Bastos, hoje consultor jurídico do comitê petista. "Em nenhum momento a doença foi posta como fator impeditivo." Amigo de Dilma, o ex-ministro passou a integrar esse núcleo, ao lado de Martins, Carvalho, Palocci, do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e do então presidente do PT, Ricardo Berzoini. As reuniões, sempre às terças-feiras, fazem parte da rotina até hoje, com novos integrantes.


Lula abortou as especulações sobre um Plano B para substituir Dilma. Em São Bernardo do Campo (SP), porém, dirigentes do PT chegaram a se reunir duas vezes para examinar alternativas, caso ela não pudesse levar adiante a candidatura. Nos encontros foi sugerido o nome do recém-eleito prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT). O presidente desautorizou a articulação.


Foi somente depois que Dilma terminou o tratamento de quimioterapia para combater o câncer, em julho, que Lula teve uma conversa séria com ela sobre a montagem do comando de campanha. "Chegou a hora de trabalhar mais profissionalmente", avisou. "Você chama o Pimentel que eu chamo o Palocci."


Em 16 de setembro, o presidente organizou um jantar para ela, no Palácio da Alvorada. Convidou Pimentel, Palocci, Carvalho, Martins, Berzoini e Santana. "Bom, Dilma, agora é oficial. Eu vou falar na frente deles o que me cobraram todos esses anos. Você está sendo escolhida a nossa candidata", disse Lula, provocando gargalhadas.


Um segundo jantar no Alvorada, já com o novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, eleito em novembro, sacramentou a estratégia. A portas fechadas, a cúpula do partido avaliava que era necessário correr riscos, mesmo levando multas por campanha eleitoral antecipada, para tornar Dilma conhecida.


Até agora, Lula já tomou cinco multas, aplicadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que somam R$ 37,5 mil. A punição foi calculada, mas ninguém imaginava um novo dossiê no meio do caminho.


Depois da trapalhada produzida por um "bando de aloprados", como Lula definiu o grupo de petistas que tentou comprar um dossiê contra tucanos, em 2006, outra rede de intrigas envolve a campanha do PT.


Suspeitas de espionagem contra Serra, fogo amigo e disputas de poder rondam o comitê de Dilma. Com a alegação de que é vítima de "armadilha", o PT desafiou o rival para a briga na Justiça.


Disposta a afastar o mau olhado, a candidata exibe, no pulso esquerdo, uma pulseira de ouro com olho grego, presente da primeira-dama da Bahia, Fátima Mendonça. Reza a lenda que se trata de poderoso talismã para combater a inveja e dar proteção.


Enquanto não faz o mapa astral, Dilma recorre à superstição "na medida certa", como diz. Ela não crê em bruxas, "pero que las hay, las hay".









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