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quinta-feira, 18 de março de 2010

Mulheres ampliam participação política no Brasil


Por Fernanda Pompeu, especial para o Yahoo! Brasil ( reprodução)

Quando, nos anos 20 do século passado, algumas sufragistas subiram num teco-teco para atirar panfletos pró-voto feminino sobre o Rio de Janeiro, então capital da República, houve reboliço nas mentes e vozes conservadoras: "Hoje, as mulheres querem votar. Amanhã vão querer ser prefeitas, governadoras e até presidentes do Brasil." Foi uma profecia.

A conquista desse direito básico teve que quebrar resistências de rocha. A própria inventora da democracia, a Grécia Antiga, excluía as mulheres, ao lado dos escravos, da expressão política. Elas não podiam escolher aqueles que tomariam decisões que mexeriam em suas vidas. No século 20, o gesto da mão feminina depositando uma cédula na urna custou muito trabalho e persistente dedicação.


As sufragistas brasileiras, tendo como expoentes a bióloga Bertha Lutz (1894-1976) e a engenheira Carmem Portinho (1903-2001), criaram organizações, polemizaram na imprensa, escreveram discursos e peças de teatro. Segundo Schuma Schumaher, autora do utilíssimo Dicionário Mulheres do Brasil, "aquelas mulheres usaram estratégias de primeira. Mesmo sem direito ao voto, para chamar a atenção da sociedade, criaram o Partido Republicano Feminino. Isso em 1910".

Foi uma luta com idas e vindas pelos labirintos do poder, até que o Colégio Eleitoral de 1932 estendeu o voto às mulheres. Verdade que só para as alfabetizadas. A legislação da época excluía os cidadãos analfabetos, o que deixava muitas mulheres de fora. Antes do Brasil, no continente americano, elas tinham direito ao voto apenas no Canadá, Estados Unidos e Equador.

Eleitas


Agora, votar é uma face da moeda, ser votada é a outra. A primeira brasileira eleita foi a médica Carlota Pereira de Queirós (1892-1982), deputada federal por São Paulo. Foi de sua autoria o projeto para criação de serviços sociais no país. Coincidência?

Nesses 78 anos, a sociedade brasileira avançou muito na questão. Há cotas (30%) para mulheres entre os candidatos a eleições. Temos prefeitas e governadoras. Sendo que algumas prefeitas, pelos grotões do Brasil profundo, têm demonstrado garra e criatividade para minimizar a pobreza.
No Legislativo, a força das deputadas conseguiu vitórias como a criminalização do Assédio Sexual e a Lei Maria da Penha - ferramentas para as mulheres se defenderem da violência sofrida no trabalho e dentro de casa. As senadoras, apesar de serem apenas 12,3% do total, também fazem barulho.
Quando senadora, Heloísa Helena (PSOL) mostrou que com princípios não se brinca e pôs a cara para bater. Já Patrícia Saboya (PDT-CE) presidiu, em 2004, a CPI da Exploração Sexual - um tema sensível às mulheres.

A senadora expôs para o país as infâmias dessa profunda violação dos direitos humanos de muitas meninas e de alguns meninos. Defensora inconteste de crianças e adolescentes: "Eles não votam e não têm direito à voz. São prioridade para candidatos, mas no dia seguinte todos os esquecem", declarou na tribuna, por ocasião da homenagem a Zilda Arns, idealizadora da Pastoral da Criança, morta a trabalho, no recente terremoto do Haiti.
Se pudessem ver, as sufragistas brasileiras estariam com a euforia aos saltos. Neste 2010, duas mulheres, Dilma Roussef (PT) e Marina Silva (PV), concorrerão, em igualdade de condições com os homens, ao cargo de pilotagem máxima do país. Diferenças ideológicas à parte, elas têm em comum uma vida aguerrida. Dilma desafiou a ditadura militar, foi presa e torturada. Marina enfrentou a violência do campo e lutou ao lado de Chico Mendes, assassinado em 1988. Marina foi e Dilma ainda é ministra de Estado.


Mas basta ser mulher para ser boa para as mulheres? Não é bem assim. Basta lembrar de Margareth Thatcher, a dama de ferro, que 'surrupiou' direitos trabalhistas adquiridos. Patrícia Rangel do Cfemea (Centro Feminista de Estudos e Assessoria) pontua: "Não é suficiente que uma candidata nos represente fisicamente, é necessário que ela se comprometa em levar para o debate público as necessidades das mulheres e as propostas de avanços dos direitos."

Como é useiro e vezeiro no cotidiano das mulheres, cada conquista é suada e, apesar das vitórias, ainda não dá para ostentar medalhas no peito. As mulheres são mais da metade da população brasileira, mas, como assinala a ex-prefeita de São Paulo e atual deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP): "Dos 513 parlamentares, apenas 45 são mulheres. Além disso, em quase dois séculos de Legislativo, nunca uma mulher ocupou a mesa diretora da Câmara." Para chegarmos num equilíbrio justo ainda falta espalhar muitas transformações e muita cultura pelo ar.



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