Maracanã

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sexta-feira, 12 de março de 2010

Bacia de Jabuticaba

A bacia de jabuticaba 


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices.
Fico revoltado com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não tenho mais tempo de ouvir essa cambada de políticos corruptos que prometem coisas que nunca serão cumpridas.
Não vou mais perder meu tempo assistindo os comerciais e workshops que ensinam como ganhar milhões usando apenas uma escova de dente e um palito de fósforo.
Não quero que me convidem mais para essas festinhas e outros “get togethers” de fim-de-semana onde tenho que ficar escutando sobre a “maravilhosa” vida do anfitrião e dos convidados que nem sequer tem a gentileza, curiosidade ou a elegância de perguntar um pouco sobre a minha.
Não tenho mais tempo para ficar ouvindo certas pessoas ou de assistir aos medíocres e sensacionalistas programas de televisão.
Já não tenho tempo para aquelas reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos, regimentos internos e outras merdas corporativas.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, continuam imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos a limpo”.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.
Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. Não quero ficar explicando porque gosto de certas coisas. Minha resposta será sempre bem curta:
– Gosto, e ponto final!
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Uma grande verdade! Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Já não tenho mais tempo e saco de explicar aos “intelectuais” que prefiro ver um desenho animado do Tom & Jerry“Código Da Vinci”. de ter que assistir ou ler aquela merda do ...
Já não tenho mais tempo para explicar aos infelizes porque admiro os livros, histórias, filmes e documentários com final feliz onde ninguém morre ou é torturado.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente simples, sincera, feliz, humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, que não se encanta com triunfos, que não têm medo de pisar na lama, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, que não têm medo de admitir que “peidou”, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente ao lado de Deus.
Caminhar perto delas nunca será perda de tempo !!!

Texto de Sofia Haddad, jornalista.

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