Maracanã

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sábado, 6 de março de 2010

Amor desidealizado


Amor desidealizado



Façamos um trato,

nada de amor idealizado,

este é o novo fato,

amor é só um ato

de uma grande peça

cuja estréia é imprevisível

cujo enredo é questionável,

e o ápice tem interrogações à bessa...

Façamos assim, com respeito,

pelo jeito de cada um de nós,

pelas histórias incompletas,

pelos desejos não realizados,

por cada senão que precede as metas,

porque amar com muito planejamento

pode parecer piegas, é só argumento...

Nada de esperar o óbvio ou antever o amanhã,

por mais que possa parecer que haverá,

depois não me importa, na verdade,

o que conta, realmente, é o momento...

O meu momento é de paz,

o teu, se não for de tormento,

pode até combinar com o meu...

Façamos amor como meninos aprendizes,

saboreemos o gosto dos nossos dedos,

não deixemos que se acelerem alguns dos nossos medos,

apenas soltemos tantos grilhões tão antigos,

não esperemos nem príncipes e nem cinderelas,

somos mulher e homem complicados

descompliquemos, pois,

fiquemos só nós dois,

em pelo,

com zelo,

tão nus quanto no nascimento

nus de alma,

nus de preconceitos

nus de expectativas...

Se nada acontecer que nos acrescente sentimentos

caso não nos permitamos abrir nossos descondicionamentos

pelo menos

teremos tentado

e tentar

já é um grande começo

isso não tem preço

amar sem idealizar

somente amar

ou por sexo

ou por nexo

de sentir-se

bem

bem melhor

bem com a presença do outro

bem porque sua risada soa felicidade

bem poquer seu olhar aquece em lealdade

e seu abraço rejuvenesce

pode não ser pra sempre

mas é tão bom

hoje e agora, aqui na nossa pele...

Façamos um acordo sem papel

um pacto sem sangue

tenhamos um descompromissado encontro

com o melhor de nós mesmos

para trocar boa energia

por sermos quem somos

livres e resolvidos

inteiros e destemidos

vamos evoluindo

um junto do outro

até quando for possível,

quando for tão forte e tiver sentido

nos vermos mais vezes

ou nos tocarmos mais profundamente

ou nos entregarmos nossas mãos

uma dentro da outra

e nossas bocas

perderem o dom da palavra

para que nossos corpos e almas

falem sua própria linguagem...

Façamos uma boa parceria

sem cláusual pétrea

revogável

a qualquer instante...

aí... tenhamos sorte...

disso sim,

vamos precisar...

e se a tivermos,

façamos um castelo

sem sonhos

mas com realidades

minhas e suas

sei que eu o quero

tanto quanto você me quer,

recomecemos do zero,

e seja o que o Diabo quiser...

Cida Torneros , 8 de junho de 2008


Amor [1]
Jurandir Freire Costa
Amor é uma palavra com muitos sentidos. Falamos de amor aos pais, aos filhos, a Deus, à pátria, ao próximo, à causa etc. Vamos reter, dessas acepções, a de amor como sinônimo de "amor erótico".


Amor erótico ou amor-paixão romântico é um complexo emocional formado por sensações, sentimentos, crenças e julgamentos. Saber o que é amor é poder reconhecer, em si ou nos outros, sensações físicas ou mentais de um tipo específico; atitudes ou disposições para com o objeto amado chamadas de sentimentos; convicções sobre a natureza do objeto amado e do amante e, por fim, julgamentos sobre o valor do amor, isto é, sobre sua bondade, sua beleza ou sua necessária participação na felicidade e no equilíbrio psicológico do indivíduo.


O amor erótico, portanto, não é apenas uma atração sexual acompanhada de sentimentos ternos (enlevo, carinho, preocupação, cuidado, dedicação, devoção etc.) ou violentos (desejos de posse exclusiva, ciúmes, desconfianças, rivalidades etc.). Pensar no amor dessa maneira já faz parte do aprendizado amoroso, pois significa estar convencido de que ele foi sempre o que é hoje, ou seja, uma emoção sem memória e sem história.


O amor romântico, entretanto, é uma emoção recente na história ocidental. Sua gênese é indissociável do enorme enriquecimento da esfera da vida íntima, da repressão à sexualidade e, por fim, da valorização moral da família nuclear e conjugal. Não é surpreendente, assim, que a liberalização da sexualidade, a ruptura com a tradição familiar e a diluição da intimidade na publicidade estejam mudando a face do amor.


Desidealização do amor


Até agora, o amor era um ideal de auto-realização afetiva que acenava para um tipo de felicidade no qual o êxtase da dissolução no outro era compatível com a consciência da individualização do desejo. Esse ideal, é óbvio, não correspondia à prática amorosa efetiva. Consciência de separação e êxtase fusional raramente andam juntos. Mesmo assim, o ideal se mantinha, pelo fato de incitar a realidade a se superar em direção à idealidade.


Atualmente, o amor vem sendo desidealizado e, em consequência, a realidade emocional parece privada daquilo que a empurrava para a auto-superação. Ora, na cultura individualista de nosso tempo, o amor romântico se tornou o reino do maravilhoso, do mágico, da vontade criativa que resistia aos assaltos da razão calculista, instrumental e utilitarista. No amor valia a regra das exceções que a emoção permite. Podíamos ser excessivos sem culpa, generosos sem temor, doadores avarentos, egoístas com boa consciência, rebeldes cientes do valor da transgressão, enfim, podíamos viver afetos ambivalentes e, ainda assim, estar psicologicamente satisfeitos.


Mas, já se disse, o hábito faz o monge. Novos mundos, novos sujeitos, novas emoções. No momento, estamos, pouco a pouco, aceitando que a experiência amorosa é fugaz e seu destino é a provisoriedade. Resta saber, portanto, para onde vai migrar a vontade de ir além do bom senso, o desafio de realizar o impossível ou o ímpeto de vencer a brevidade, em matéria de felicidade emocional. O amor romântico encarnava essas promessas. Em sua ausência, quem ou o que vai se ocupar do sentido da vida de cada dia ou da fantasia da redenção afetiva? Ainda o mesmo amor? Outras formas de amar? Ou outras maneiras de criar um mundo emocional sem a onipresença do romantismo? Difícil de responder; impossível não querer responder; a cada um a tarefa de procurar responder.

[1] Jornal Folha de São Paulo, Caderno Mais!, Milênio para Iniciantes - AMOR, 31 de dezembro de 2000. A convite do Mais!, especialistas discutem, de A de amor a Z de zoologia, 23 questões fundamentais para a humanidade a partir de 2001. Foto disponível originalmente no site www.imoon21.com/modern/sculpture/canova/canovaimg/amor.jpg

Um comentário:

continuando assim... disse...

convite para seguir a história de Alice, lá no
--- continuando assim... ---

bj
bom fim de semana
teresa