Maracanã

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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Do beijos de carnaval...

A alegria contagia ocarnaval. Sorrisos que cantam as canções da folia. Uma boca que oferece um beijo. Pode ser roubado, sem jeito, de surpresa. Vale a espontaneidade que marca os beijos do carnaval. Não precisam de ensaio. Um desfile de beijos na passarela elimina as diferenças entre raças ou espécies.

A bailarina beija o índio, o kalifa troca a odalisca e oscula a coelhinha, sem falar na oncinha que beija o cigano e a cigana que beija o pirata.
Mistura de classes, idades, cores, brilhos, originalidade à solta, a sensualidade toma conta do povo.


A senhora matrona ganha um beijo do jovem atrevido. O homem maduro se arrisca a roubar o carinho de uma ninfeta saltitante. É carnaval, não me leve a mal, vou beijar-te agora, amanhã é outro dia.

Amores de carnaval surgem e se duram os três dias, são pra sempre nas lembranças. Nada como beijar nos carnavais, com a isenção das letras dos sambas e marchas a embalarem nossas promessas de amor volúvel. Ninguém tem compromisso com o tempo, não há futuro no carnaval. Só o intervalo. Há que se ter prazer de viver, esquecer dos dramas , pensar só muito depois nos problemas do dia-a-dia.

Nos desfiles, na passarela, nos camarotes, no asfalto, nas arquibancadas, os brilhos e coloridos dos olhos e dos sorrisos, sutilezas borbulhantes, que trafegam entre corpos balançantes, pernas puladeiras, pés afogueados, cabeças inquietas, braços nadadores dos ares da ilusão.
Atrás dos trios elétricos, dos cordões de frevos, todos se empurram e pulam, se abraçam e cantam. Nascem a todo momento os beijos entre amigos, amados e estranhos que passam a se conhecer impulsionados pelo clima alucinante que o carnaval suscita.

Vale tentar  conquistar aquele novo bem, que nem bem é um bem duradouro, mas o troféu insano, o beijo que de tão desejado, quando ocorre, já era de gosto antecipadamente sentido.

Nenhum beijo do resto do ano se compara aos beijos do carnaval.É como o desenrolar das serpentinas no ar, como os confetes a se espalharem nos ventos, caindo sobre as cabeças fora de prumo, tem a viagem da loucura que torna cada folião um ser de múltiplas dimensões.
Um beijo dado no carnaval fica na lembrança como um ato de entrega, carinho, como o socorro da respiração boca a boca,  salva o carnaval e dá sabor a vida.

Os beijos do carnaval parecem salvar mesmo a esperança dos vivos, dos seres capazes de sair por aí, dançando a euforia dos amores que se vestem de purpurina, de plumas, de paetês, de tantas cores, tantos iluminados e iludidos movimentos.

Beijos que restabelecem a paixão fugaz, em cada coração de pierrots, colombinas, arlequins, mestre-salas, porta-bandeiras, passistas, rainhas, destaques, reis, bateristas, abre-alas, carnavalescos, puxadores de samba, cabrochas, comissões de frente, baianas, alas de criaturas caricaturadas de emoção, e ainda, nas almas sedentas do eterno carnaval de lábios oferecidos para o prazer, como se fossem a respiração boca a boca que nos devolve a vida ou a esperança dela. 

Aparecida Torneros

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