Maracanã

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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O Meu Amor é sentimental...

O Meu Amor é sentimental...

Envia-me músicas pelo computador...

São canções de afeto, afinal...

Cuidadoso na escolha de cada flor...

Ele sonha com meu carinho, minha saudade...

Sentimental sou eu, também, sem vaidade,

sei que há entre nós a união das almas,

aquelas nuances de cores calmas,

um certo pudor de sermos remanescentes,

de um tempo romântico, floreado e antigo,

muitas vezes eu me contenho e nem lhe digo

o quanto me agradam seus segredos indescentes,

entremeados de frases óbvias de paixão e entrega,

ele vai me abrindo o coração e me deixando cega

pois consigo ver seus olhos na manhã onde parei

minha vida para seguir a dele, e não me reencontrei

sequer no dia ou tarde de algum outono manso,


é porque ele me alimenta de primaveras e sonhos,

ele é tão sentimental que me emociona e cala,

que se afasta, me observa tão distante e me chega

numa noite qualquer de um verão escaldante,
para me infernizar num caldeirão de promessas,
como um escritor vadio, talvez um peregrino louco,
ou quem sabe, ele é um arauto do sentimento puro,

porque mantem em mim o desassossego rouco

da garganta engasgada que tenta gritar de prazer

em meio ao silêncio morto duma madrugada dessas
O meu Amor é tão sentimental
que parece um cântico
a cada gesto seu, no infinito,
ressoa do animal um hurro
a cada palavra sua,
nos ares retumba o claro alvorecer,
ele me sintoniza o universo em música,
prosa e verso,
mostra-me a colheita em canções,
acorda-me com beijos,
é um ente pródigo de pulsão de vida
em piso adverso,
pois me faz flutuar, sem chão,
sem teto, sem anteparo,
ele me conduz sem que eu o veja ou ouça,
vou pelo faro,
sinto-lhe o rastro,
penetro-lhe a aura,
percebo sua inquietude,
absorvo seu pranto,
fico tensa, espetam-me seus lampejos...
envolvo-me no seu clima parisiense,
ele é feito de reticências e gracejos...
tem sabor de café com creme, croiassant,
é recheado de romance ainda adolescente...
O meu Amor é tão sentimental
que vive além do tempo,
em mim, ele perpetua cada instante,
reberbera sua inspiração,
respira no meu pescoço,
expira no meu ouvido, é ilusão,
é um eterno e envolvente ser de luz
que me alimenta,
nem me importo
de onde manda sua mensagem lenta,
tampouco me alucina mais
sua mudez ou intenção,
pois nas linhas da vida,
nas entrelinhas da caminhada,
nos subterrâneos do inconsciente,
em lugar da retirada,
o que ele insiste em me oferecer
é bem maior que tudo,
é seu sentimento forte,
sua capacidade de sonhar comigo,
o que faz dele um homem tão especial ,
mais que um amigo,
mais que um parceiro,
além de um amante ocasional,
bem além,
o meu amor, de tão sentimental,
passou a ser meu doce,
meu eterno, meu reconfortante,
meu definitivo e único abrigo....

Cida Torneros

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