Ótimo artigo, parabéns ao BP, ao Patrick e ao Vitor. Um Nobel traz sempre o estigma da reverência, e embutida nela, o reconhecimento de trabalho “feito”. Talvez o mérito maior do Obama tenha sido o “tsunami” de esperança que provocou na humanidade ocidental, e a representatividade “marketeira” e oportuna em que os gestores do Prêmio Nobel parecem ter embarcado. É como se fosse a concessão de crédito a um líder em cujas costas pesa o desafio de reverter um quadro perverso tão bem descrito neste texto. Vamos torcer pelo melhor, afinal, a era Obama está apenas começando e ele ficou tão surpreso quanto todos nós, com a premiação, o que lhe impõe maior responsabilidade nas negociações e atitudes tomadas em busca da conquista real, efetiva, necessária, possível e até “mágica”, da tão sonhada PAZ mundial!
Cida Torneros
Patrick Brock: O Nobel da Paz e o dilema do Afeganistão
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Bahia em Pauta estende neste sábado, 10, reluzente tapete vermelho para receber direto de Nova Iorque o jornalista Patrick Brock como seu mais novo colaborador.Ex-intergrante da editoria Internacional, do jornal A TARDE, Partrick sempre se destacou como um dos mais brilhantes repórteres de sua geração na Bahia, além de contista de texto criativo, fora do trivial e sempre intrigante.
Inquieto, olhar atento e cabeça antenada, Patrick detesta acomodamento e gosta do risco no trabalho jornalístico, como o que o levou um dia a se ver metido nas ruas e favelas do Haiti em conflito. Há mais de três anos mora em Nova Iorque, onde começou trabalhando no Wall Street Journal, biblia da economia americana. Agora é copidesque e tradutor e faz mestrado na CUNY. Em seu primeiro texto para BP ele encara um tema candente, polêmico e atual: O Nobel de Obama e a o dilema americano no Afeganistão.
Uma honra tê-lo agora neste site-blog baiano de sonhos cosmopolitas.
Chega mais Patrick!
(Vitor Hugo Soares )
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Afeganistão:tragédia se alastra
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OPINIÃO / MUNDO
A hora de Obama
Patrick Brock
A batalha no Campo Keating começou na sexta-feira, uma semana antes de o presidente americano Barack Obama ser agraciado com o Prêmio Nobel da Paz. Até 350 rebeldes atacaram a pequena base, que fica aos pés de duas montanhas na Província do Nuristão, na fronteira com o Paquistão. Os rebeldes usaram as montanhas para atacá-la com lança-foguetes e artilharia, provocando um incêndio. Encurraladas, as tropas tiveram de pedir reforço aéreo. Chad Bardwell, natural de Liman, no Estado de Wyoming, pilotou um dos helicópteros Apache envolvidos na batalha e disse a uma repórter da rede ABC News que ficou chocado quando chegou ao local e viu a maior parte da base em chamas, com insurgentes ultrapassando o perímetro de proteção. Os americanos finalmente abandonaram a base no domingo passado, após contabilizar 8 mortos e 24 feridos. Entre os insurgentes, de 100 a 150 mortos, disse um porta-voz do Exército americano. Siga este link
(http://abcnews.go.com/video/playerIndex?id=8758970) para ver imagens da batalha feitas pela ABC News.
Não foi divulgado o número exato de soldados americanos em Keating, mas já estava acertado que a base seria abandonada, de acordo com a estratégia do general Stanley A. McChrystal, escolhido por Obama para comandar a guerra no Afeganistão. Diante da escalada de ataques rebeldes e a instabilidade nas cidades, McChrystal optou por abandonar as áreas mais remotas do país e se concentrar em garantir a segurança das cidades. Difícil de ignorar o paralelo com a guerra do Vietnã nos anos 70. O relatório confidencial de McChrystal para o presidente sobre a guerra no Afeganistão vazou no “New York Times”, no melhor estilo “Pentagon Papers”, e não é nada animador. O general disse que a coalizão pode perder o controle do país se não enviar pelo menos mais 40.000 soldados.
Enquanto isso, no Reino Unido, na Itália e nos EUA, continuam a chegar os caixões embalados em bandeiras. O presidente americano tentou mostrar humildade ao aceitar o prêmio, mas a situação da guerra no Afeganistão pode forçá-lo a sacrificar mais vidas no conflito. Diante do número crescente de mortos e a perda de territórios para os guerreiros do Talibã, e do fracasso das eleições, claramente fraudadas pelo governo do atual presidente, Hamid Karzai, ultimamente o único sucesso americano em sua incursão militar na região tem sido os ataques com aviões teleguiados contra líderes rebeldes.
Obama foi indicado para o Nobel 12 dias depois de eleito. O arcebispo da África do Sul, Desmond Tutu, ele próprio agraciado com o prêmio em 1984, disse que a decisão do comitê em Oslo mostra que se espera grandes feitos de Obama, e reconhece seus esforços de tentar dialogar com o mundo árabe depois de anos de hostilidade durante o governo de George W. Bush. Já o líder sindical e ex-presidente da Polônia Lech Walesa disse que foi cedo demais. “Ele não fez nenhuma contribuição até agora. Só agora começou a agir”. Walesa ganhou o prêmio em 1983. Talvez o comentário mais significativo do dilema enfrentado por Obama, que chegou ao poder com uma mensagem restauradora de esperança e diálogo, seja o comentário do porta-voz do Talibã, Qari Yousef Ahmadi: “Obama só fez aumentar a guerra. Suas mãos estão sujas com o sangue do povo afegão”. Chegou a hora de Obama mostrar que não é só carisma e fazer merecer a honra de ser escolhido como um símbolo da paz, encontrando a solução para acabar com mais essa herança sangrenta da era Bush.
Patrick Brock, 30 anos, trabalha há três anos como copidesque e tradutor em Nova York e faz mestrado em Literatura Inglesa na CUNY.
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