foto na ABI, 2004, dia em que completei 55 de vida e 35 de jornalismo
Aos 55!
(esta crônica homenageia Joaquim Ferreira dos Santos)
Eu li a crônica do Joaquim, sobre a Vera Fisher, onde ele, habilmente, como sói acontecer com seu texto que escorre solto, compôs ode em forma de prosa, tornando mais prosas as mulheres cinqüentonas, que trazem na sua história uma série de conquistas.
Não fosse eu sua ex-companheira de juventude universitária, e não tivesse partilhado dos seus gestos docinhos ao se referir à mulherada, naquela época, quando, na casa dos 20, buscávamos a pílula da liberdade sexual, talvez, o tal artigo me calasse menos.
Não estivesse eu, ainda, por obra do destino, em Blumenau, num concurso de miss onde Vera participava, acho que como jurada, nem lembro bem, a me dar uma entrevista sacana, no meu início de carreira de jornalista. Ela estava vendendo saúde, esbanjando sensualidade que enchia o ar masculino de ilusões, o que me deu a exata dimensão, nos ares catarinenses, do protótipo da fêmea sintonizada com o seu novo tempo. Eu vi a Vera linda e jovem, profetizando um caminho de tentativas e possibilidades, onde veio, como dizia o mestre Chacrinha, para confundir, não para explicar.
Mas, hoje, quando eu mesma completo os 55, sei que todas nós viemos para alvoroçar o mundo antes dominado pelo machismo, que agora é fashion, tão feminino que o macho metrossexual nos imita tentando ser como nós, impregnado de maquiagem e cores.
Geração de mulheres fortes, diria um jovem meu ex-aluno de faculdade, ao confessar sua preferência maduras e tesudas, que, segundo ele, preenchem os sonhos dos meninos, dada a misteriosa e excitante bagagem que trazem no dorso dos anos.
Um certo ar menino e moleque paira sobre nossas cabeças inquietas. As Olgas, Marias Bonitas, Goldas, Indiras, Marylins, aqui e acolá, que nos precederam, nas décadas de 20, 30 ou 40, deviam ter previsto que as que florescessem a partir da década de 50, iam virar mesmo a mesa. E viramos! Jane Fonda saiu na frente, mas nos puxou com seu grito de não-guerra. Olhinhos atentos, seguimos a marcha, e lutamos. Houve um boom de mulherada correndo atrás do seu direito de tornar-se inteirona para viver o mundo novo, que ela mesma ordenou com a bundinha empinada e o dedo em riste.
Hoje, olho a garra das meninas de 15 e 20 , sentindo-me parte do seu direito inalienável de colocar-se na sociedade como arautas de nova ordem de valores éticos, em função da sua solteirice explícita. Palmas pra elas que pegam o bastão da nossa corrida de revezamento e nos incentivam a ousar mais ainda. Numa festa com música funk, recentemente, uma delas, a Camila, de 15, me ensinava a coreografia que acompanhei, ainda que desajeitadamente, ao passo que, no meu coração embalado pelo som estridente, me senti feliz, e consegui berrar: - me explica essa letra! mas, claro, não precisava explicar, ela, num intervalo, me revelou: - Brother, vc já sabe tudo!
Sei do amor e da guerra. Sei da paz e da violência. Sei que a luta pela justiça continua.
Aos 55, sei tudo o que importa para reverenciar o talento do Joaquim, a beleza da Vera , a dança funk da Camila e a felicidade da Cida cinqüentona que ousa ainda reinventar o feminino.
Feliz Aniversário, pra mim!
Rio, ABI, 2 de setembro de 2004
Aos 55! por Maria Aparecida Torneros da Silva
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