quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Chico Buarque, o compositor, o cantor, o escritor, o autor de teatro...



No meu aniversário, ganhei do meu irmão Paulo um DVD do Chico Buarque, em que ele apresenta somente as músicas que compôs para peças de teatro. Ele é mesmo um artista múltiplo. Esse trabalho é imperdível, maravilhoso, um registro importante de uma de suas facetas mais expressivas. Dele, tenho muitos CDs e DVDs, mas ainda não li todos os seus livros. O CD "Carioca" inspirou-me um artigo, que foi reproduzido no seu próprio site, e do qual me orgulho muito. Vou postar aqui, para relembrar:





CHICO BUARQUE NO GLOBO
Cantando as coisas do Rio
Por Aparecida Torneros em 25/4/2006




Não foi um domingo qualquer, era o Dia de São Jorge, santo 
cultuado nos arredores suburbanos, em terreiros de macumba
 e igrejas cariocas, que protege com seu cavalo branco e a 
lança sobre o dragão vencido a luta do povo – e homenageado
 por Chico Buarque em seu novo disco, intituladoCarioca.
À meia-noite de sábado para domingo, a cidade ouviu fogos

 como se fosse o Ano-Novo. De manhã, os jornaleiros distribuíram
 o exemplar do Globo com a entrevista que fez o povo, 
que estava à-toa na vida, parar e ver o Chico passar cantando 
as coisas do Rio. Na edição da revista dominical do jornal,
 o compositor-escritor-cantor estava na capa, 
pousado em frente à Central do Brasil,
 lugar de onde partem os trens que levam ao coração do Rio
 suburbano e a sua periferia.
 Nas respostas, Chico fez questão de destacar a canção Subúrbio, 
dizendo: "Percebi que o Rio era muito presente no disco
 e era mesmo a idéia central". 
Os ritmos que ele classifica de bem "cariocas",
 como choro, canção, bossa nova, samba bem brasileiro,
 samba-canção abolerado e até, segundo ele conta,
 um toque da música americana 
que se ouvia no Rio dos anos 1950, 
fazem parte do espírito do disco.
"O Rio de Janeiro tá ferrado", 

ele desabafa, classifica os políticos do estado
 como os piores do Brasil, lamenta a má qualidade do futebol,
 mas defende os favelados, fala da tensão muito grande,
 do fato de a população da cidade viver em alerta constante,
 e conclui, com seu jeito franco: 
"Eu não tenho a fórmula da salvação do Rio de Janeiro".
Renascimento da cidade
Mas o carioca Buarque, dos olhos de farol que emitem azul 
refletindo decerto o céu e o mar do Rio de Janeiro,
 corajosamente vai revelando 
que considera este um bom momento 
para se afirmar carioca. 
Chico tem a genialidade e a arte.
 Tem a ginga, tem o sangue que corre com o humor 
que ele atribui à natureza exuberante do Rio:
 "Com a paisagem carioca, 
até o engarrafamento fica agradável".
O moço carioquíssimo, talento reconhecido por unanimidade,

 aqui e acolá, lembra de sua querida Mangueira 
e discorre sobre o subúrbio de hoje.
 Este é o Chico que libera a fala da Penha, 
de Irajá, Olaria, Acari, Vigário Geral, Piedade, 
Maré, Madureira, Pavuna, Inhaúma, Cordovil,
 Pilares, Encantado, Bangu, Realengo, Meriti, 
Nova Iguaçu, Paciência.
 Fala! Ele canta e incita.
O gênio da canção se antena ao clamor 

de um povo que ele identifica como renascente,
 não nostálgico, bem atual, 
que usa a música para falar, gritar, denunciar.
 Chico declara em alto e bom tom que
 não acredita no fim da canção. 
Avisa que não se acomodou e nem se aposentou
 – o que seria a tristeza geral da nação brasileira, evidentemente.
Taí um Chico ressurgente, que se mostra atualizado

 e tão presente no domingo da cidade, no dia de São Jorge,
 parando as esquinas, as bancas, 
com a sua carinha de menino-carioquíssimo, 
a relembrar Noel Rosa, Mario Reis, Sinhô, 
Donga, Chiquinho, Silas de Oliveira
 e o compadre Vinícius, padrinho da sua filha Silvia, 
rememorando sua parceria de presente em Gente humilde,
 que o poetinha lhe ofereceu para terminar alguns versos.
"Quero falar da Lapa, do renascimento do samba na Lapa. 

Esse é o meu Rio, o Rio da Central do Brasil,
 um Rio que quer vencer a violência e viver em paz." 
A entrevista despertou a vontade de sair correndo e comprar o disco.
 Quem há de resistir e não parar para ouvir o Chico passar 
cantando as coisas do Rio inteiro, muito além da Zona Sul? 







 

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