segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Resposta ao Tempo !!!







Amigos vários...
aproximo-me da data em que completarei 60 anos...2 de setembro...
decidi não comemorar...
já fiz muitas festas de aniversário, as mais recentes, deliciosas, a dos 55 ( na ABI), a dos 57 ( ainda com meu paizinho do lado), a dos 58 ( em casa, cercada de amigos), e a dos 59 ( na livraria Arlequim, lançando meu livro A mulher necessária)...
revi textos que escrevi sobre aniversários, reflexões...( coloquei abaixo)
no balanço que a vida me propõe fazer agora, sinto-me em paz, realizada, feliz e agradecida por tantas coisas boas que pude e posso ainda viver, e pelas pessoas de bem que me cruzam o caminho.
só espero daqui para a frente poder realmente usufruir da experiência de vida, amar com docilidade e aconhego, ter paz interior, e poder me doar com carinho aos que me cercam, aos que precisam de mim, a quem eu possa fazer feliz, com doação e entrega plena de humildade( o que não é fácil, mas tb não é impossível)
é um exercício, sim, a vida nos faz praticar e treinar muitas vezes para atingirmos pontos de equilíbrio e bem-estar.
nem sempre fica fácil, faz parte sobreviver na montanha russa, entre altos e baixos, sem contudo perdermos de vista os objetivos maiores...nossa felicidade é o conjunto de bons momentos que proporcionamos a outras criaturas e que elas tb nos oferecem ou compartilham conosco.
chego aos 60 com a consciência do quanto tenho sido feliz e do quanto amo a vida, do muito que sou grata pelas chances boas que a mim tem sido oferecidas...
pais honrados e de bons exemplos, filho de boa índole e meu amigo, irmão , cunhada e sobrinhos muito carinhosos, amigos e amigas que me provam diariamente o quanto é saudável cultivar sua companhia, e ainda, algum amor inesquecível, para me manter a sede de viver atenta aos prazeres da alma e da pele, sem lamentar nada, só relembrando maravilhosos instantes de alegria e bons encontros.
assim, compartilho com vc e todos, um muito obrigada imenso a Deus, que me dá a oportunidade de renascimento constante, ao completar mais um aniversário, este então, especialíssimo, por me tornar oficialmente, uma sexy-agenária...rs
beijos
Cida Torneros

55 mais 3 !!!
Aos 55, mais 3, eis-me aqui, sentindo-me inteira, mesmo aos 58... por ironia e destino, troquei os algarismos, e aos 85, lá se foi meu paizinho para o reino desconhecido dos céus, levando com ele, a história de uma amizade que transcende, entre um pai e uma filha que realmente se entendiam bem.
Releio a crônica abaixo, escrita na ocasião, em que comemorei também, em festinha na ABI, meus 35 de profissão. Resposta ao tempo, arrepio-me ouvindo Nana Caymi nesta canção tão profundamente observadora da zombaria que os anos nos fazem sentir. Aqui estou. Eis-me relutando em deixar o luto, apesar dos comprimidos milagrosos receitados pelo psiquiatra e das conversas fortes semanais com o analista, tenho uma lista de pequenas saudades que, somadas, formar um vazio absurdamente fundo. Mas, mesmo assim, voltei a fazer a Biodanza, terapia que me une a um grupo de seres interessados, como eu, em tirar proveito da felicidade que a vida pode dar, e ainda, tento enamorar-me de novo de alguém que me toca o coração, com a mesma 'pegada' que me aperta as curvas do corpo. É sim, uma tentativa válida, porque a cada canção que ele me presenteia, ou se o faz para todos, ou se o canta para si mesmo, pouco me importa, o que conta, afinal, é o som que ressoa lá no meu interior, na minha percepção de tentar ainda ser muito feliz e fazer quem me acompanha também pleno de realização ou de esperança renovada.
Eis-me sonhando com viagens, para conhecer outros povos, enquanto dedico esta crônica ao meu grande amigo Theo, ele mesmo, o publicitário que virou poeta, ou terá sido o poeta que nas horas vagas, há mais de setenta anos, faz publicidade? Com ele, aprendi muito e aprendo sempre. Dele, guardo lições de vida, cujo teor me situa como gente num mundo tão desigual. Se, por outro lado, há 3 anos, eu me baseei na crônica do Joa para me recontar em idade e história, hoje, depois de chegar aos 58, gosto de pensar que o Theo é meu ponto de referência humana, neste momento, como alguém que me induz a perseguir a criação e o sonho, como bandeiras de luta. Não fosse ele o cara que me ensinou a tomar undemberg, ou que me apresentou sonetos recem criados como se fossem pequenas pérolas que fomos juntando num fio de prata, a formar o colar dos anos que se esvaem...
Pois, aos 58, sinto-me namoradeira das estrelas, da lua, do sol , do mar, das flores, dos bichos, das crianças... Namoro os idosos que jogam cartas nas praças assim como flerto com os automóveis que correm tanto em procissão reveladora da perdição do tempo que se transformou em tesouro recôndito em algum lugar por tantos piratas dos sentimentos.
E, se os 58 me chegaram assim, tão sofridos, embora plácidos, tão bem vividos, tampouco em vão, é porque o lugar dos poetinhas parece ser mesmo a ilusão das estradas longas... que podem parecer repetição de paisagens, mas, que se enguiçarmos no meio de algumas delas, teremos a chance, imperdível, de observar tantas peculiaridades, que a surpresa de existir, é isso mesmo, é o desejo renovado de abraçar um novo corpo que nos dê o calor em profusão, ao mesmo tempo em que nos doemos em beijos de boas noites, de oferendas aos santos e anjos, e que agradeçamos ao milagre de estarmos vivos, termos nos encontrado, da sorte de nos reconhecermos em algum instante precioso, irrepetível, no espelho da alma que se redescobre, assim, aos 58, como se só tivesse 18... e nada é possível fazer para apagar os 40 de tão intenso intervalo...
Aparecida Torneros

Aos 55!
(esta crônica homenageia Joaquim Ferreira dos Santos)

Eu li a crônica do Joaquim, sobre a Vera Fisher, onde ele, habilmente, como sói acontecer com seu texto que escorre solto, compôs ode em forma de prosa, tornando mais prosas as mulheres cinqüentonas, que trazem na sua história uma série de conquistas.

Não fosse eu sua ex-companheira de juventude universitária, e não tivesse partilhado dos seus gestos docinhos ao se referir à mulherada, naquela época, quando, na casa dos 20, buscávamos a pílula da liberdade sexual, talvez, o tal artigo me calasse menos.

Não estivesse eu, ainda, por obra do destino, em Blumenau, num concurso de miss onde Vera participava, acho que como jurada, nem lembro bem, a me dar uma entrevista sacana, no meu início de carreira de jornalista. Ela estava vendendo saúde, esbanjando sensualidade que enchia o ar masculino de ilusões, o que me deu a exata dimensão, nos ares catarinenses, do protótipo da fêmea sintonizada com o seu novo tempo. Eu vi a Vera linda e jovem, profetizando um caminho de tentativas e possibilidades, onde veio, como dizia o mestre Chacrinha, para confundir, não para explicar.

Mas, hoje, quando eu mesma completo os 55, sei que todas nós viemos para alvoroçar o mundo antes dominado pelo machismo, que agora é fashion, tão feminino que o macho metrossexual nos imita tentando ser como nós, impregnado de maquiagem e cores.

Geração de mulheres fortes, diria um jovem meu ex-aluno de faculdade, ao confessar sua preferência maduras e tesudas, que, segundo ele, preenchem os sonhos dos meninos, dada a misteriosa e excitante bagagem que trazem no dorso dos anos.

Um certo ar menino e moleque paira sobre nossas cabeças inquietas. As Olgas, Marias Bonitas, Goldas, Indiras, Marylins, aqui e acolá, que nos precederam, nas décadas de 20, 30 ou 40, deviam ter previsto que as que florescessem a partir da década de 50, iam virar mesmo a mesa. E viramos! Jane Fonda saiu na frente, mas nos puxou com seu grito de não-guerra. Olhinhos atentos, seguimos a marcha, e lutamos. Houve um boom de mulherada correndo atrás do seu direito de tornar-se inteirona para viver o mundo novo, que ela mesma ordenou com a bundinha empinada e o dedo em riste.

Hoje, olho a garra das meninas de 15 e 20 , sentindo-me parte do seu direito inalienável de colocar-se na sociedade como arautas de nova ordem de valores éticos, em função da sua solteirice explícita. Palmas pra elas que pegam o bastão da nossa corrida de revezamento e nos incentivam a ousar mais ainda. Numa festa com música funk, recentemente, uma delas, a Camila, de 15, me ensinava a coreografia que acompanhei, ainda que desajeitadamente, ao passo que, no meu coração embalado pelo som estridente, me senti feliz, e consegui berrar: - me explica essa letra! mas, claro, não precisava explicar, ela, num intervalo, me revelou: - Brother, vc já sabe tudo!

Sei do amor e da guerra. Sei da paz e da violência. Sei que a luta pela justiça continua.

Aos 55, sei tudo o que importa para reverenciar o talento do Joaquim, a beleza da Vera , a dança funk da Camila e a felicidade da Cida cinqüentona que ousa ainda reinventar o feminino.

Feliz Aniversário, pra mim!
Rio, ABI, 2 de setembro de 2004

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