sexta-feira, 17 de julho de 2009

A LOBA






Este encontro ocorreu no dia 15 de dezembro, durante a festa dos 30 anos do meu filho Leandro
O ritual das ciganas espanholas...
Fez-se a roda. Elas ali chegaram na pele das mulheres descendentes de uma jovem que emigrara para o Brasil em 1910. Seu nome é Carmen Torneros. Ela paira no éter, sobre as cabeças de filhas,filhos, noras, genros, netos, netas, bisnetos e bisnetas.
A festa era um encontro de muitos espíritos encarnados e desencarnados. Vieram todos. Uma aura de ancestralidade se misturava ao conforto do reencontro. Alguém se predispôs a dançar em conjunto. As roupas foram dispostas em cabides de pé. Xales coloridos, flores para os cabelos, brincos reluzentes e chamativos, saias longas, batom vermelho passando de boca em boca. Veio a música. Elas foram tomadas de certa flutuação eufórica. As mais meninas descobriram passos especiais e em volteios animados, aplaudidas, dirigiam-se ao centro da cabala improvisada. As vozes cantarolavam na língua nativa, e da Espanha vinha a brisa longínqua de tardes seculares. O fogo era sentido no meio do grupo, elas rodopiavam como fadas possuídas de um clamor milenar. Os leques abanavam ao calor dos sorrisos, algumas delas gargalhavam, outras se concentravam em gestos antigos, e as mãos se elevavam aos céus, os braços navegavam pelos ares do enlevo e o amor as unia de repente num canto único. O ritual estava se completando. Todas deixavam vir à tona, através dos corpos e almas, seu destino para a comemoração do grande dia. Afinal, estavam todas ali, em comunhão de paz e felicidade. Espanholitas jovens e senhoras, meninas e moças, sábias e inocentes, ansiosas pelo viver comum do momento glorioso. Cumpriram o ritual, com suor e lágrimas de emoção. Abraçaram-se. Assim foi porque assim estava escrito.



A Loba

Sou doce, dengosa, polida
Fiel como um cão
Sou capaz de te dar minha vida
Mas olha, não pise na bola
Se pular a cerca eu detono, comigo não rola
Sou de me entregar de corpo e alma na paixão
Mas não tente nunca enganar meu coração
Amor pra mim, só vale assim
Sem precisar pedir perdão
Adoro sua mão atrevida
Seu toque, seu simples olhar
Já me deixa despida
Mas saiba que eu não sou boba
Debaixo da pele de gata
Eu escondo uma loba
Quando estou amando eu sou mulher de um homem só
Desço do meu salto
Faço o que te der prazer
Mas ó meu rei, a minha lei
Você tem que saber

Sou mulher de te deixar se você me trair
E arranjar um novo amor só pra me distrair
Me balança mas não me destrói
Por que chumbo trocado não dói
Eu não como na mão de quem brinca com a minha emoção
Sou mulher capaz de tudo pra te ver feliz
Mas também sou de cortar o mal pela raiz
Não divido você com ninguém
Não nasci pra viver no harém
Não me deixe saber ou será bem melhor pra você
ME ESQUECER!

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