Maracanã

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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Copacabana me chama...






http://www.paixaoeromance.com/40decada/copacabana47/hcopacabana.htm



... a areia afundou meus pés meninos, foi amor à primeira vista
eu, menina suburbana, senti-me presenteada com o glamour dos guarda-sóis

... coloridos, espalhados em labirintos entremeados de seres peculiares
eu, jovenzinha magricela, atrevendo-me a usar o primeiro duas peças,
confeccionado pela costureira do bairro, com a medição dos dedos maternos,
para que o umbigo fosse apenas insinuação da reentrância do ventre...

... mas, o calor daquela gente misturada, nos anos 60, já era o mistérrio,
como sobreviver sem voar nos sonhos, aquele lugar era a magia, enebriava...

eu, desejosa de paixão, inventora de amores lúdicos, descobri a variedade
um desfile de personagens incomuns, militares marchando nas manhãs,
jovens mães e babás passeando com bebês sorridentes, cães encoleirados,
artistas, dançarinos, malabaristas, batuqueiros, blocos carnavalescos,
banhos à fantasia, o desenho em petro e branco, ondulante, pela orla,
mais tarde viraria o calçadão, a praia seria aterrada, ganharia mais espaço
para milhares de corpos se estenderem em calmaria,brilhando as peles..

eu, adepta das modas, usando chapéus extravagantes ou bonés discretos, jogando buraco, frescobol, peteca, vôlei, crescendo junto com a garotada...

...lá ia eu nos fins de semana da adolescência pra casa dos meus padrinhos,
sacolas com roupa de praia, antes das havaianas, usava-se os tamancões,
saídas de praia longas, rendadas, óculos de aros coloridos, sacolas de palha,
era o tempo do rayto de sol contrabandeado, das fórmulas bronzeadoras...

eu, caricata com relação à formação das tribos, me deixava influenciar,
mas sabia que me faltava um toque mas copacabanense...a transgressão...

...aí, eu e minhas primas moradoras de lá, experimentamos as batidas de fruta
com teor alcóolico comedido, feitas por mestres do Bip Bip, começar as noites
nos sábados em que íamos a tres ou quatro festas em apês de amigos,
nas madrugadas em que fugíamos como cinderelas nas meias noites,
voltando pra casa, antes que virássemos abóboras com a bronca dos pais...

eu, deslumbrada nas sessôes de cinema, salas imponentes, som estéreo,
a companhia de tantos novos amigos, as primeiras idas a boates, ao beco,
a bossa nova assimilada em ouvidos roqueiros, ou o som da batucada,
ali, na Copacabana daqueles tempos, comemorando Copas do Mundo,
aprendendo a ser mulher, me enfeitar, ida a salões, a auto-escola,
iniciando a universidade, me dando conta da importãncia turistica do bairro...

... agora, Copacabana, que já não me enganas, agora que já és reduto
da idade avançada, onde o maior número de mulheres e aposentados te transformaram na Florida carioca, vejo-me tentada a mudar-me para alguma moradia que fique numa das tuas ruas transversais, para que o barulho
da tua vida vinte e quatro horas me permita ao menos dormir por instantes...

...eu, que preciso resgatar o sonho da juventude, pegar jacaré, conversar com os pescadores do posto 6, esperar o amanhecer no Leme, beijar o amor do Ano Novo com os pés na água, se a loucura dos fogos nos der espaço...

na Copacabana dos meus fins de semana mais recentes, tem a caminhada tranquila, o compasso do direito adquirido, para quem já tomou muto café da manhã no Copacabana Palace, com a turma, em bando, voltando de festa, meninas de branco longo, sapatos prateados na mão, e meninos de skoking preto, paletós às costas, devorando as mesmas iguarias que os gringos...

eu, agora que me proponho a voltar e ficar mais assídua, só quero a paz, se houver, de uma tarde que me resgate aquele olhar de alguém que passou,
num conversível cadilac, verde água, me lembro bem, me piscou um olho atrevido, fez-me sentir importante, e sumiu no asfalto, cantando pneus, para se exibir como um playboy dos cafagestes, sem contudo, apagar da minha memória, o sentido de desafio para a menina que não aceitou a carona, viveu tanto tempo fora do bairro e hoje quer voltar...

a princesinha do mar tem seu encanto, isso é verdade, tem seu misterioso cheiro de marezia misturado aos perfumes parisienses e paira ainda nos ares de Copacabana, o odor de alguma apaixonada, que se prepara todos os sábados, para não desperdiçar a noite que promete...um bom lugar à beira mar, para se amar...só mesmo Copacabana...
aparecida torneros

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