Maracanã

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segunda-feira, 22 de junho de 2009

Portugal, saudades, lembranças, descobertas...




Sempre me veio ao coração um Portugal que me contaram, através da literatura, do noticiário, dos livros de história, dos relatos de amigos, dos ensinamentos do meu avôzinho Antonio,seus discursos e poemas, e, ainda, de um certo e inquieto sentimento recôndito, que , no fundo de mim, teimava confundir-me em brasilidade portuguesa ou em sentido luzitano de atravessar o tempo e o oceano.

Adiei, por inúmeros motivos e circunstâncias, minha primeira ida à Europa, e nela, incluí uma excursão, por terra,com duração de 8 dias, para conhecer muitas cidades portuguesas. Com a maestria da guia Raquel que nos acompanhou nesta etapa portuguesa, começamos em Porto,onde tive meu primeiro contato positivo com o país. Recebeu-me a Dina Ferreira, na sua livraria Poetria, e conheci também a centenária livraria Lello.

Dali, saímos em direção a Braga, Guimarães, Lamego, alcançamos Lisboa, passeamos por Fátima, Coimbra, Óbidos, e ainda visitamos Marvão, Nazaré, Batalha,vimos as terras do Minho e do Douro, apreciamos o Tejo e o mar, bem onde eles se encontram, tal qual amantes misturando sucos.

De lá, tenho inúmeras recordações, a cada lugarejo, um mixto de identificação e ancestralidade, a volta ao berço da lingua, a emoção de pisar solo abençoado pelos escritores famosos que me formaram o culto à verve em suas expressões comunicadoras.

Na capital, Lisboa, contei com o privilégio de ser ciceroneada pelo amigo João Videira, durante uma tarde que transcorreu inesquecível, quando ele me conduziu a um mini roteiro cultural, dando-me oportunidade de conhecer bares e restaurantes onde andaram Eça de Queirós, Fernando Pessoa, Bocage, entre outros.

Fiquei mais feliz do que "pinto no lixo", usando gíria popular brasileira, senti-me encantada, até, por compartilhar dos sonhos idos, que ainda pairam naqueles ares da cidade lisboeta, respirando a intelectualidade portuguesa, a mesma do legado que admiro e busco para me enternecer ou na poesia, ou na prosa, através dos anos. Estive ao pé da estátua de Luiz Vaz de Camões e ainda, no Convento dos Jerônimos, orei no seu túmulo, ofertando-lhe respeito, humildemente.

Privei da caminhada pelas ruas da antiga Lisboa, transfundindo em meu sangue um pouco da sua manha, do seu fado, da sua misteriosa competência para amar e ser amada, cidade feminina, cidade encantadora, atraente e namoradeira.

Ao tomar a ginja, licor precioso, brindei, sim, com satisfação àquele instante único da minha vida, quando percebi que já sentia saudades antecipadas dos momentos que estavam por vir. E fiz, certamente, uma das maiores descobertas da viagem, cuja revelação não tardaria a emergir, e eu a guardaria a sete chaves, até o dia em que me sentisse pronta para alardear.

Depois que voltei ao Brasil, há cerca de 20 dias, não me canso de repetir : Portugal é maravilhoso! E busquei fazer um balanço de tantos sítios que conheci, em mais dois países, Espanha e França, cada um deles, em diversas cidades também pude me envolver com culturas diferenciadas, artes e arquiteturas peculiares, comidas e tradições.

Fui guardando em mim uma resposta a uma pergunta interior e urgente. Se tivesse que optar por viver um tempo na Europa, qual daqueles pedaços de chão eu escolheria?

Minha origem espanhola por parte de avó paterna é bem forte, senti-me em casa, na Galicia, em Madri e em Barcelona, é bem verdade. Mas, um movimento acolhedor me tomou em lembranças e descobertas.

Portugal seria o escolhido,como meu ponto de apoio, próxima eu ficaria da amada Espanha e da França sedutora, onde mora o meu amor. Ali eu viveria bem, com júbilo de corpo e alma, e me identificaria com o dia-a-dia, com certeza, num toma-lá-dá-cá suficiente para escrever e produzir sob o seu céu, alguns poemas e livros, fazer ali uns bons e novos amigos, relacionar-me com vizinhos e companheiros de trabalho, talvez até misturar-me nas festas pelas aldeotas, banhar-me em praias de seus mares, dançar em folguedos das suas comemorações, participar de passeatas de protestos dos seus ideais, amargar a identidade das dores dos seus lamentos, enfeitar-me nas cores das suas alegrias, e até transcender-me nos rastros incólumes dos seus narradores.

Cida Torneros
RJ- 22 de junho de 2009

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