O amor me pediu uma poesia
Maria Aparecida Torneros da Silva
O amor me pediu uma poesia
ele a queria forte, profunda, incisiva e clara...
mas a poesia escondeu-se nas palavras,
veio mansa, fugidia, elevada e vadia...
o amor equivocou-se no pedido, pensei...
porque uma poesia para viver o amor, é postulante...
uma poesia, para externar o amor, é redundante...
uma poesia, para homenagear o amor, é estonteante...
uma poesia, para camuflar o amor, é extenuante...
o amor pensou que a poesia era múltipla e abrangente,
achou que por causa dele toda poesia seria alucinante,
supervalorizou sua ação na alma da poeta vagante,
e, sem mais nem menos, solicitou poesia planejada..
A poesia, mais experta que ele, veio bem organizada...
A poesia chegou plena de si, com cabeça erguida,
não se deixou dominar pela métrica do amor, tão vivida,
nem se encantou com sua falta de lógica, esmaecida,
ela abraçou o sonho, pôs em si mesma um tempero,
de mágico brilho sobre olhos encantados, o esmero,
a poesia resplandeceu entre raios de luz tão faiscantes,
eu tentei responder ao amor pra explicar os impasses,
quis dizer a ele que a poesia tem mil formas e faces,
deixei-o imaginar a razão do poema amoroso e significativo
aquele em que me ponho de expectadora com certo motivo
para aprisionar o mel do amor, e resposta ao seu pedido.
O amor não tendo mais o que fazer, quis esse poema comprido,
bateu-me o coração em descompasso apressado e sôfrego,
fez-me produzir um texto doido quase que de um só fôlego,
e, ao concluir o feito, eis-me aqui, sem poder dara a ele um jeito,
de poesia de amor, para o amor que ma pediu, e ma tirou-a do peito..
Aparecida Torneros
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