aqui tem música, poesia, reflexões, homenagens, lembranças, imagens, saudades, paixões, palavras,muitas palavras, e entre elas, tem cada um de vocês, junto comigo... Cida Torneros
Maracanã
sábado, 4 de abril de 2009
Meu alter-ego paulistano com muito calor num dia de agosto!
Meu alter-ego paulistano com muito calor num dia de agosto!
Que o clima mudou no mundo, disso ninguém tem dúvida, mas, para uma carioca que se acostumou nos últimos 30 anos ir a São Paulo e sentir frio em agosto, eis que me vi no meio de um veranico tórrido e seco, em pleno pretenso e escondido inverno paulistano.
O sol brilhou intenso no dia 21 de agosto de 2008, quando acordei, com minhas amigas Zazá e Sol (ange), no hotel Braston, e, ao abrimos a janela, vimos o milagre: o painel do Portinari, intacto, lindo , magestoso, preservado do incêncio ocorrido no teatro Cultura Artística.
Pensei comigo, enquanto fotografava, algum mistério fez com que tudo virasse cinzas, lá atrás, entretanto, conservando a arte do muralista intacta, magestosa, edificante e brasileira, na paulicéia desvairada e trabalhadora, amante da cultura e força motriz de um Brasil que vai pra frente, depois de incêncios ou chororôs.
Daí que o calor nos invadiu a alma. Saímos em busca da gare da Luz, estação reformada orgulho que senti ao vê-la tão linda, recuperada, lembrando-me dos tempos em que chegava no Trem de Prata nas manhãs friorentas, para ganhar as ruas do centro da capital e correr atrás do ouro da profissão, por inúmeras vezes.
Em seguida, a visita ao museu da língua portuguesa, minha nossa, o piano onde tocou Chiquinha Gonzaga, a emoção de lembrar toda a história da última flor do Lácio , inculta e bela, a língua que é a nossa Pátria, a unidade nacional mais forte e calorosa, capaz de nos identificar em poesia, letra de música, enredo de escola de samba, literatura, coro de torcida e grito de carnaval.
O dia era corrido, o calor intenso, enfim a Pinacoteca, ai, que sensação maravilhosa, caminhar entre tanta pintura e escultura fabulosa, respirar arte em dose cavalar, vontade de abraçar o povo paulistano que me proporciona essa emoção.
Mas, foi à noite, na Bienal do Livro, que estreei como autora, com o livro A mulher necessária, compilação de artigos e crônicas, muito mais um ajuntamento de palavrinhas modestas para organizar meu referencial de escrita jornalística e/ou pessoal.
Bem, o calor permaneceu, fomos encontrar a Dal, almoçamos na tarde que avançava no La Table e Co. , na Bela Cintra, em clima mediterrâneo, comida deliciosa, lugar de jardim para aquietar o frenesi do verão fora de hora que assolou a capital.
Enquanto degustava o saboroso prato, lembrei meu primeiro dia em sampa, em 1969, na praça da República , com a turma da faculdade, vinda do Rio para ver a Bienal de Arte, no Ibirapuera. A ida à feira dos hippyes que infestavam a praça, uma alegria desmedida de juventude transbordante. São Paulo entrou-me então, pelas veias, como vício que iria cultivar pela vida afora. Depois, tantas visitas, trabalhos, moradas, estadias prolongadas e passadas rápidas, numa alternância namoradeira com essa cidade provocadora.
Não há como esconder que a mudança de clima contribui para me aproximar mais da paulicéia que me fez sentir um calor quase carioca, em pleno agosto. Entretanto, o que mistura mesmo meu ego a esse lugar de boa comida e cultura mix preservada, é realmente a sua gente, também um mix de migração constante, onde fiz e faço amigos e amigas com frequência e esses sim, infestam-me de festa, calor humamo, alegria de viver e admiração por sua luta e garra.
Aparecida Torneros
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