Maracanã

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terça-feira, 28 de abril de 2009

A equação da vida


A equação da vida


Maria Aparecida Torneros da Silva

Ela ainda não encontrara o grande amor da sua vida... parecia ter certeza disso, pois os homens se sucediam com seus defeitos e qualidades, ora entusiasmando-a, ora decepcionando-a . Bem, provavelmente, ela tinha provocado neles as mesmas reações, pois, lembrava, muitas vezes do seu semblante questionador e perplexo diante das histórias de paixão e abandono que lhe relatara. Tiveram momentos de profunda sintonia, mas, como tudo na vida passa, aqueles instantes se perderam no passado, acrescidos de imagens embaçadas e saudades anestesiadas. Certa vez, cruzaram-se, por acaso num aeroporto. O destino se encarregou de fazer com que as pedras do jogo de xadrez se esbarrassem em dado segundo, para surpresa de ambos. Mantiveram a lucidez, portaram-se civilizadamente, com educados cumprimentos , apertos de mãos, olhares inquisidores sobre sorrisos de emoção contida. Havia tempo para um cafezinho no balcão, e aquele seria um encontro ímpar em suas vidas, tal e qual era única cada lembrança que traziam de tempos distantes, quando se amaram com intensa paixão. Enquanto saborearam o café com gosto de saudade desvanecida, um e outro se alternou em frases ainda desconexas. Não conseguiram manter um diálogo coerente, confundiram-se atordoados pelo desejo de saldar uma dívida de olhares que se deviam há tantos anos. Olhando-se nos olhos, ele e ela evitaram deixar que a hipnose os retivesse para sempre um dentro do outro. Despediram-se, também com civilidade. Afastaram-se com aparente desejo de se evaporar cada um no seu próprio éter, tentando solucionar a equação da vida. Ela pensou: um amor que não deu certo, ele nunca foi meu de verdade. Ele concluiu: um amor que podia ter dado certo, ela nunca soube me compreender. Acho que até hoje não sabe o quanto a amei.

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