Tom eternizado em nós
APARECIDA TORNEROS
Parem a música! Um minuto! Silêncio... Esse janeiro de 2007, no dia 25, tem qualquer coisa fora do Tom... mas vamos cair "dentro" e inundar de saudade e homenagem o Brasil todo, onde ele paira com seu jeito dengoso de "guardião" de cada coração que canta sua música eternizada em nós.
Falo do Tom, sim, o Jobim, esse menino que completaria 80 hoje, mas que nos legou longevidade cancioneira, nos deixou protegidos pela sua bênção artística, nos põe um jeito cálido de cantar "imagina", sua primeira composição.
Se todos fossem iguais a você, Tom, nem dava para sentir saudades de um tempo em que o amor era verdade. "Imagina", sua composição mais antiga, que Chico Buarque completou com letra perfeita: "Hoje à noite a gente se perder". O maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim faz 80 nesse janeiro. Sua obra é motivo de orgulho para todos os brasileiros, que aprenderam a incorporar nas suas vidas a melodia das suas criações, além do legado de um conteúdo que ultrapassa as fronteiras da geografia dos sentidos.
Tom nos deixou mais de 300 composições, gravadas em todos os cantos do mundo por diversos intérpretes, tal a sua capacidade de exportar brasilidade, desde aquela apresentação com Frank Sinatra cantando a "girl" de Ipanema. Aliás, sobre as "mulheres" do Tom, quem não se lembra da Tereza da praia, imortalizada pelas vozes de Dick Farney e Lúcio Alves? Depois vieram Luíza, Lígia, Ana Luíza, Ângela e tantas outras. Com cada "parceirinho", como gostava de os chamar carinhosamente, ele dava o tom exato do momento musical. Tom esteve sempre cercado pelos compositores e letristas que bebiam do seu talento, somavam com ele verdadeiros primores de uma época áurea da produção nacional de música popular. Como não reverenciar a sensibilidade de quem cantou os pássaros, pelos nomes todos? Costumava dar bom dia aos "macucos", no Jardim Botânico. Nem dá para conter o nó de emoção na garganta ao ouvir as águas de março, em que ele e Elis Regina traduzem a tropical paisagem das chuvas do fim do verão, como se fora um desfile de emoções.
Foi ele que encantou o Rio com o samba que lhe conferiu, merecidamente, virar nome de aeroporto internacional. Um aeroporto com nome de compositor, cujo Samba do Avião tornou quase impossível para um carioca não cantarolar "minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro, estou morrendo de saudades" a cada regresso à cidade maravilhosa. O homem de olhar e sorriso doces, voz mansa, dedos dançarinos ao piano, de chapéu de panamá, além de bela figura, tinha o carisma dos iluminados, ao encantar-se com as mulheres mais lindas , mais cheias de graça, que passam a caminho do mar. Deixou essa imensa saudade que nos faz mais felizes porque podemos reencontrá-lo na sua arte.
Por favor, "parceirinho", "imagina", que, no dia 25, todos estamos cantando um "Parabéns pra você", com um coro de milhões de brasileiros, acompanhados por trilhões de pássaros.
(este artigo está reproduzido no livro "A mulher necessária")
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