segunda-feira, 16 de março de 2009

O guerrilheiro e a escritora ( esboço do décimo capítulo)

Presto homenagem ao Zé Dirceu, hoje, dia 16 de março, seu aniversário.

Décimo capítulo:


De dois em dois anos, as eleições...

Com isso, ele já se acostumara, depois de tantas décadas. Temporada de eleições, como um velho cacique, lá ia ele ouvir e ser ouvido, opinar sobre coligações e parcerias, dobradinhas de candidatos, responder a correligionários e até adversários que lhe vinham pedir auxílio ou voz de comando. Formara-se um hábito, quem sabe, tal o acúmulo da sua experiência nas lides partidárias, mas, sobretudo, o que se podia deduzir é que sua presença era tão marcante hoje como fora antes, apesar das perseguições e da cassação. Continuava exercendo o papel forte do capitão de time, mesmo no banco dos reservas, e jogadores exponenciais, o buscavam para engendrar ataques, armar jogadas, sentir suas chances através da fala mansa e decidida do guerrilheiro. No fundo, ele se orgulhava disso. Era um patrimônio seu, cujo preço pagava alto, diga-se de passagem, não tinha um minuto de folga, e em ano eleitoral, a coisa o atropelava não importando mais se ele não era o candidato, ele passara a ser o conselheiro da tribo.

Nessa posição de lhe ser facultado agir por trás das câmeras, na coxia do teatro da vida, o personagem lembrava o “fantasma da ópera”, por isso, com justiça ou sem justiça, muitas vezes os fatos mais estapafúrdios ou comuns aconteciam, e o nome dele surgia com uma interrogação incomodativa. A mídia impiedosa passou a ter um constante assédio sobre seu nome, e, por detrás das cortinas, atribuiu-se ao guerrilheiro tal grau de periculosidade que na frente dos holofotes, ele, agora, poderia mostrar que a maior parte deles era uma lista de especulações e calúnias. Por isso, quando um período eleitoral se sucede, o homem põe-se atento, arregaça as mangas, dedica-se ao trabalho pessoal, o que lhe sobrou para sobreviver, e , se não nega ajuda a amigos e companheiros de luta, por outro lado, não se faz de rogado ao sustentar opiniões sinceras sobre os meandros da política brasileira, e sua postura é firme, impressionantemente firme, tal a avalanche de intensos tiroteios que seus inimigos lhe desferem nesses períodos.

Para a escritora, ele economizou palavras ao revelar suas mágoas, ou melhor, sempre fez questão de dizer que não as tinha. Como se vestisse uma armadura medieval, mas, no fundo, foi possível sempre, detectar, para a escrita deste livro, que o ser humano por mais que se encape em defesa e segurança emocional, deixa escapar no viés do seu olhar, algo mais sobre sua alma peregrina. E é por esse olhar de soslaio que ele observa a si mesmo, enquanto abre espaço para que alguém lhe seja confiável o bastante para recontar sua vida.


( o livro O Guerrilheiro e a Escritora está em fase de criação, é a história romanceada de José Dirceu de Oliveira e Silva, na visão da jornalista Aparecida Torneros, sem previsão de lançamento ainda)

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