Exatamente na hora marcada para que as luzes do Planeta se apagassem em corrente pela economia de energia na Terra, eu estava numa sala moderna de cinema, no Rio de Janeiro, assistindo ao filme sobre Che Guevara. Um épico, com detalhes bem produzidos sobre a guerrilha em Cuba, nos anos 50 e a ascensão do líder argentino em terras latino-americanas, sua luta junto ao povo cubano e sua trajetória de comandante com destino marcado para defender e morrer por ideais anti imperialistas, a produçao cinematográfica me pareceu bem fiel aos fatos ocorridos em sua realidade que já nos foi contada e recontada, por muitos, ao longo de décadas.
As luzes estiveram bem acesas nas cenas que assisti e às quais me prendi como uma observadora tensa, testemunhando uma guerra de oprimidos contra opressores respaldados por força de combate à custa do sangue dos seus compatriotas e o sonho da liberdade do seu povo. O lendário Che aparece como um símbolo de uma época em que se contestou o capitalismo e se pregou o comunismo como solução para os problemas sociais na busca de melhores condições de vida, com posições igualitárias em que se pudesse oferecer as mesmas oportunidades a todos, sem distinção, vencendo a utopia e atingindo a realidade.
O filme termina quando os rebeldes vencem e derrubam o governo de Fulgêncio Batista e partem para Havana, onde iniciarão, verdadeiramente, a revolução a que se propuseram.
Dali em diante, a história demonstra muitas mudanças na ilha e no pensamento da latino-américa.
Mas, a hora do filme é a hora do Che, da formação da sua liderança, da sua obstinação combatente e do seu discurso representativo na assembléia da ONU, quando apresenta os postulados do pensamento de esquerda que norteiam os objetivos da revolução cubana.
Um Che obstinado e tenaz, disciplinado e coerente nos é apresentado no filme, acrescido de sua filosofia de vida e seu lema revolucionário: PÁTRIA OU MORTE!!
Questionei-me sobre o Planeta e a morte lenta das suas riquezas naturais, sobre os povos e a morte das suas tradições e culturas em detrimento de economias globalizadas e comércio de mercado internacional direcionando suas produções, questionei-me sobre o poder das idéias e o poder do capital, sobre a ilusão da humanidade solidária e a desumanidade refestelada em castelos feudais de concreto e luzes, enquanto os vassalos operários espalhados no mundo, contentam-se com migalhas que sobram do consumo dos poderosos.
A hora do "Che" parecia estar longe do mundo moderno e real , me chegou como lenda através do cinema, ao mesmo tempo em que me vi testemunha de uma época ultrapassada pela máquina do capital selvagem, o mesmo sistema que se apropriou dos fatos históricos para produzir industrialmente, à moda de hollywood, uma película capaz de lotar salas de exibição.
Saí do cinema com a sensação de que assistira a um bom filme, fiel aos fatos narrados, pleno de inserções excitantes, cenas de guerrilha muito bem filmadas, cuidadosos e estudados diálogos escolhidos para perpetuar a lenda do homem que venceu suas dores pessoais em prol de uma América que o sensibilizou e mobilizou até a morte.
O comandante Che talvez seja apresentado às novas gerações como um idealista revolucionário que teve coragem para lutar e sensibilidade humana para protestar, carisma para comandar e talento para enfrentar o gigante norte-americano, em nome do povo cubano, entretanto, até que ponto um contigente de milhões de jovens da geração pós computação, será capaz de assimilar no seu cerne o que foi a inflamada luta do jovem Che, cujo destino foi morrer na guerrilha na Bolívia, como se ainda estivesse recomeçando a mesma marcha que o marcara tanto em Sierra Maestra, ano antes?
A hora do Planeta é a da crise do Capital, como também o é, da crise de valores e da revolução de costumes, em torno de um mundo desordenamente perplexo que vê desmoronar indústrias, despencar moedas, crescer desemprego, e assustadoramente, constata que o efeito dominó da economia globalizada atinge praticamente todos os povos e países que estão sob a mira do capital gerenciado em blocos, de forma gananciosa e espúrea.
Um Che sonhador e guerreiro venceu a revolução do povo cubano. Um mundo que protesta contra a crise mundial não encontra ainda estratégias suficientemente eficazes para combater os efeitos da humilhação por que passam as sociedades nos quatro cantos do planeta para que uma revolução de comportamentos e diretrizes , tanto sociais como econômicas, mas sobretudo de políticas a serem adotadas, os faça sair do processo de afogamento em que se encontram, proporcionando levantar bandeiras e pegar em armas inteligentes.
Enfim , para vencer inimigos reincidentes, verdadeiros polvos com tentáculos assombrosos que lhes exploram almas, corpos, mentes e lhes roubam a consciência, enquanto lhes vendem a ilusão da felicidade consumista e do prazer de ter a mais do que realmente precisariam para viver, quem sabe se o espírito do Che não devesse ressurgir em cada esquina de cada cidade do mundo, onde ainda campeiam a desesperança e a injustiça, estas vestidas com uniformes camuflados de guerra, marchando sobre nossas cabeças, em forma de dívidas e perda de diginidade.
Rio de Janeiro , 28/03/09
Aparecida Torneros
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