domingo, 22 de março de 2009

A bela Itália ( artigo de 2008)

Crônica para a beleza da Itália

Durante décadas, convivi com um fotógrafo, que é pai do meu filho, e que trabalhou por 23 anos na revista O Cruzeiro, atravessando o final da década de 50, a de 60 inteira e o início da de 70. Ele viajava muito, mas o que me chamava a atenção era a quantidade de vezes que ia à Itália. Sempre dava um jeito de incluir uma passada por la´, até quando voltava de Israel, ou da India, e até da China, lembro, em 1972.

Deve ter ido na bela Itália, mais de 15 vezes, não contei, mas vi e revi, muitas vezes, as lindas fotografias, de lugares e pessoas, que ele me exibia, num tempo em que não havia as câmaras digitais, e ele seguia com as máquinas penduradas no pescoço, as teles, aquele troca-troca de lentes, flanelinhas para limpá-las, o sopro, tanto cuidado, a medição da luz, as maletas de couro pelos ombros, e um sem fim de flagrantes publicados nas páginas em preto e branco ou a cores.

E eu via como a Itália é realmente belíssima. Chegava a me parecer estonteante. Sempre pensei que um dia eu iria lá para conferir pessoalmente , com meus próprios olhos tanta beleza fotográfica. O tempo passou, nos separamos há muitos anos, nem sei se ele tem guardadas aquelas imagens da bela e velha Itália, que eu trago na memória, como aquela visão da ponte com anjos, envolta em mistério e arte.

Evidentemente que assisti a muitos filmes retratando recantos da Itália, suas vielas e cidades, aldeias e campos, lembro da Dolce Vitta, do Candelabro Italiano, dos filems de Fellini, do Matrimonio a Italiana, com a maravilhosa Sofia Loren e seu partner deliciosamente falastrão, vivido por Marcelo Mastroiani, produzidos por Carlo Ponti. Tudo naqueles enredos me trouxe uma Itália plena de vida e pulsante de amores, mesmo passando por guerras através da história, desde a Roma antiga até o século XX.

Mais recentemente, o vencedor do Oscar "A vida é bela", trouxe-me a confirmação do poder criativo da mente italiana, o quanto é possivel encher de sonhos o espaço do pensamento e fazer da vida um lugar de imaginação infinda.

Civilização da conquista no Império Romano e berço da arte secular, a península da bota segue sendo lugar de turismo almejado, capaz de engendrar de música romântica qualquer um que busque ali a transmutação do seu papel de terráqueo, seja de que nacionalidade for, não importa, sentir-se italiano é só questão de fazer-se aventureiro, vestir-se de viajante dos mares, singrar velas para o oriente fictício, como fez Marco Polo, como ousou o genovês Cristóvao Colombo, ou como se espalharam pelas américas os milhares de imigrantes a misturar seu sangue e cultura influenciando o futuro de nações inteiras, como Estados Unidos, Brasil, Argentina e tantas mais.

Itália bela, mais que isso, Itália exportadora de idéias e comportamentos, sabores e amores, sensações e ilusões, histórias e sonhos. Imagens da Itália, verdadeiras preciosidades, como ouvi o cantor Luciano Bruno, italiano radicado no Rio de Janeiro, que num show, antes de cantar Torno a Sorriento, nos explicou como o mar visto de determinada janela inspirou o autor da canção, e nos brindou com a magia da tradicional canção romântica italiana, consagrada nos famosos festivais de San Remo, multiplicada na alma humana inquieta e sedenta de amor à moda de Itália, como só os italianos são capazes de amar e cantar sobre esse tipo de amor intenso.

O mar que inspira tanto sentimento, como descreve a letra da música, é o mesmo que cerca a bela Itália e nos extasia com seu azul infinito. Talvez a Itália exista para nos servir mesmo é de ponto de referência. De lá veio a lingua portuguesa. De lá veio o tempero das melhores massas. De lá chegam as deliciosas pizzas elaboradas, e é de lá que me invadem as saudades absurdas de lugares por onde nunca andei, praças onde jamais pisei e paisagens que um dia irei conhecer e reconhecer, tal a sensação que suas lendas me produzem.

Ainda bem que tive um namorado italiano, e isso compensa minha fome de viver à moda italiana, pois ele tem me ensinou muito sobre a alma de um italiano apaixonado pela vida, e essa aula eu não perco jamais.

Melhor que as imagens que meus olhos podem ter da bela Itália, é mesmo o sentido interno, o sentimento intenso, forte, que o coração absorve quando bate apressado, após a transfusão da energia italiana que um grande amor tem o dom de passar.

Aparecida Torneros - RJ

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