domingo, 5 de outubro de 2008

Alda Maria, suas delícias portuguesas e uma tarde em Sta.Tereza











Alda Maria, suas delícias portuguesas e uma tarde em Sta. Tereza





Há sempre o gosto do pecado numa delícia que chega ao céu da nossa boca, contrapondo a moda malignizada pelas dietas que passaram a infernizar as consciências de uns tempos pra cá. Comer e engordar? nem pensar...diria a magricela adolescente, candidata à anoréxica, vaidosa por sonhar com as passarelas onde esquálidas pernaltas da família das lindinhas em modelitos esvoaçantes flutuam equilibrando-se em gravetos bem torneados que um dia, certamente, virarão pernas quando atingirem a maturidade feminina. É evidente que estou a brincar, como diriam os meus companheiros de idioma, os amados portugueses, sabedores das delícias da sua tradicional culinária.
Quem há de resistir a um toicinho do céu, ou um bem casado, ou a uma tortinha de bacalhau, numa tarde enchuvarada, no alto do bairro de Santa Tereza, no centro do Rio de Janeiro?
A companhia agradabilíssima de amigos como a Reja e o Léo ( comemorando 20 anos de namoro), a Rosângela, contadora de histórias que nos brindou com Adélia Prado, a presença da médica paulista Cristiane e sua amiga, grupo que se formou na conversa fiada e brincalhona travada no bondinho, na subida, que virou peregrinação depois do Largo dos Guimarães e nos levou até a casa de comidas luzitanas da Alda Maria.
Foi uma sucessão de suspiros e hummmmssss, muita gostosura para pouco estômago, nem pensar, dizíamos nós, sempre caberia mais um docinho ou pedaço de rocambole, ou um cálice de vinho do Porto, era preciso brindar ao prazer inenarrável do gosto invasivo a nos tornar a tarde um verdadeiro paraíso da degustação anti-silhueta.
Depois, pensa-se no assunto tão em voga, deixem que as moçoilas desfilantes se ocupem dos regimes castradores, porque, senhores, é de sabores que se faz a doce vida, já nos ensinava o filme italiano de décadas passadas.
É preciso saudar Alda Maria, fiel seguidora de bisavós e avós, com receitas exclusivas passando de mãe pra filha, e ela, ali, a nos encantar com a magia dos seus pratos e com a delicadeza do serviço a cargo dos filhos e filha.
Encomendas para casamentos, festas, comemorações diferenciadas, já os menus natalinos anunciados, e os sonhos apetitosos que nos passam pelas cabeças em torno de futuras comilanças de final de ano, com promessas de voltar à simpática e acolhedora casa onde Alda Maria hipnotiza seus clientes, através do seu trabalho criterioso.
Lá, tem o museu do doce vivo, os quadros com as fotos dos ancestrais, a exposição de forminhas antigas, algumas do tempo dos Imperadores, com brasões de família e símbolos de classes sociais.
A toalhas das mesas são as estampas da terrinha de além mar, franjados, coloridos esbanjando alegria que se põe a mesa. É uma casa portuguesa , com certeza, como na canção antiga, mas é bem mais, é um lugar de repensar o grande enigma da alquimia que sai dos fogões , panelas, caldeirões, formas, molhos, caldas, misturas de ingredientes, atenção no ponto das iguarias .
De bandeja, recebe-se o carinho nos temperos, assim como felicidade de agradar ao paladar de quem chega , senta, come e registra para sempre, o gosto salgado ou doce, herança de um passado português trazido por quem não só veio nos colonizar, como nos trouxe os segredos da boa mesa, e do bom viver.
Depois de uma tarde com Alda Maria e suas delícias, melhor programar academias, caminhadas, corridas, projeto seguro para perda de calorias, sem no entanto deixar de incluir a volta a ela, com prudência, equilíbrio e satisfação olímpica.
Medalha de ouro para os sabores portugueses de Alda Maria! Ela merece!
Aparecida Torneros

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