terça-feira, 15 de abril de 2014

repórter dinamarquês se assusta e desiste de cobrir a Copa



Repórter dinamarquês se assusta com problemas do Brasil e desiste de cobrir a Copa

Publicado em Terça, 15 Abril 2014 17:36
Escrito por Redação Comunique-se


Para o repórter dinamarquês Mikkel Keldorf, o sonho de cobrir a Copa do Mundo no Brasil virou pesadelo. No país desde 2013 a fim de conhecer o idioma e os costumes antes dos jogos, o jornalista relata que viu de perto as "consequências" do evento esportivo e, por isso, decidiu ir embora. "Eu não posso cobrir esse evento depois de saber que o preço da Copa não só é o mais alto da história em reais e centavos – também é um preço que eu estou convencido que inclui a vida das crianças", disse.

Em texto publicado em sua página no Facebook, Keldorf contou que, dois meses antes dos jogos, ele decidiu que não ficará mais no país. Entre o que presenciou durante os meses de hospedagem, ele afirmou que viu remoções, forças armadas nas comunidades, corrupção e projetos sociais fechando. "Eu descobri que todos os projetos e mudanças são por causa de pessoas como eu – um gringo e também uma parte da imprensa internacional. Eu sou um cara usado para impressionar".

Ele relatou que, ao conhecer Fortaleza, "a cidade mais violenta a receber os jogos da Copa", descobriu que muitas vezes alguns moradores de rua são mortos em áreas com muitos turistas. "Por quê? Para deixar a cidade limpa para os gringos e a imprensa internacional? Por causa de mim?", questionou.

Veja, abaixo, a íntegra do depoimento de Keldorf

-----jordinamarquesJornalista afirma que não voltará mais ao Brasil (Imagem: Reprodução/Facebook)

Quase dois anos e meio atrás eu estava sonhando em cobrir a Copa do Mundo no Brasil. O melhor esporte do mundo em um país maravilhoso. Eu fiz um plano e fui estudar no Brasil, aprendi Português e estava preparado para voltar.

Voltei em setembro de 2013. O sonho seria cumprido. Mas hoje, dois meses antes da festa da Copa eu decidi que não vou continuar aqui. O sonho se transformou em um pesadelo.

Durante cinco meses fiquei documentando as consequências da Copa. Existem várias: remoções, forças armadas e PMs nas comunidades, corrupção, projetos sociais fechando. Eu descobri que todos os projetos e mudanças são por causa de pessoas como eu – um gringo e também uma parte da imprensa internacional. Eu sou um cara usado para impressionar.

Em Março, eu estive em Fortaleza para conhecer a cidade mais violenta a receber um jogo de Copa do Mundo até hoje. Falei com algumas pessoas que me colocaram em contato com crianças da rua e fiquei sabendo que algumas estão desaparecidas. Muitas vezes, são mortas quando estão dormindo a noite em área com muitos turistas. Por quê? Para deixar a cidade limpa para os gringos e a imprensa internacional? Por causa de mim?

Em Fortaleza eu encontrei com Allison, 13 anos, que vive nas ruas da cidade. Um cara com uma vida muito difícil. Ele não tinha nada – só um pacote de amendoins. Quando nos encontramos ele me ofereceu tudo o que tinha, ou seja, os amendoins. Esse cara, que não tem nada, ofereceu a única coisa de valor que tinha para um gringo que carregava equipamentos de filmagem no valor de R$10.000 e uma Master Card no bolso. Incredível.

Mas a vida dele está em perigo por causa de pessoas como eu. Ele corre o risco de se tornar a próxima vítima da limpeza que acontece na cidade de Fortaleza.

Eu não posso cobrir esse evento depois de saber que o preço da Copa não só é o mais alto da historia em reais e centavos – também é um preço que eu estou convencido que inclui a vida das crianças.

Hoje, vou voltar para Dinamarca e não voltarei para o Brasil. Minha presença só está contribuindo para um desagradável show do Brasil. Um show, que eu dois anos e meio atrás estava sonhando em participar, mas hoje eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para criticar e focar no preço real da Copa do Mundo do Brasil.

Alguém quer dois ingressos para França x Equador no dia 25 de Junho?

Mikkel Jensen - jornalista independente do Dinamarca e correspondente em Rio de Janeiro

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